Como você já bem deve saber, o poder público brasileiro está para sancionar a Lei de Incentivo do Esporte. Se você não sabia disso e não faz a menor idéia do que eu estou falando, leia mais a Cidade do Futebol. Ou, nesse caso mais específico, leia qualquer coisa. Porque qualquer veículo de informação que se preze falou, e bastante, sobre esse fato.
Só pela repercussão da medida, já dá pra se ter uma idéia sobre como as coisas estão fora de ordem. Era pra passar batido, sem alardes. Mas não. Todos acreditamos que, como em um ato de puro altruísmo, as soluções dos problemas do país têm que vir do poder público, e não das nossas próprias mãos. Não importa quantas vezes o Estado tente, muito menos quantas vezes ele fracasse.
A verdade é que, no Brasil, esportes são bens públicos, em todos os seus níveis. O futebol principalmente. Por mais que o país tenha aberto o seu mercado na década de 90 e ingressado de vez na economia global, o futebol ainda se alimenta dos incentivos diretos e fiscais do Estado. Se durante a época do Regime Militar existia o ditado “Aonde a Arena vai mal, mais um time no Nacional”, hoje poderia se dizer que “Não precisa pensar em melhorar o produto, porque no Brasil o futebol é cobrado no seu tributo”.
Ao incentivar o patrocínio esportivo no país através da vinculação dessa iniciativa à redução tributária, o governo adota práticas típicas de mercados fechados, uma vez que será um dinheiro indiretamente público sendo utilizado para beneficiar um setor da sociedade que não necessariamente influencia a todos. Muitas vezes, aliás, organizações esportivas são restritas a um número bastante exclusivo de pessoas.
De qualquer maneira, é o que o governo consegue fazer pra dar um jeito de melhorar as coisas sem alterar aquilo que mais precisa, e que ao mesmo tempo mais lhe fere: a carga tributária. É irreal pensar que um país que possui tamanha incidência de impostos sobre a renda da população, ao mesmo tempo em que não consegue retribuir esse pagamento, consiga ter um mercado esportivo bem desenvolvido. Simplesmente não dá.
Antes de pagar por um ingresso para ir a um jogo de futebol, as pessoas precisam pagar pela escola particular de seus filhos, pelos pedágios das estradas, pelo serviço de segurança da sua casa, pelo seu carro, pelo plano de previdência privado e pelo plano de saúde da sua família. Futebol, acredite, é a menor das preocupações.
Menos para aqueles que acreditam que futebol é mais importante que a própria vida. Que levam o futebol mais a sério do que ele deveria ser levado. Que jogam bomba em alguém só por estar do outro lado da arquibancada.
É por isso que precisa ser financiado.
A coisa mais certa a se fazer pelo governo, ao invés de novas leis de incentivo a qualquer coisa, é reduzir os impostos. Simples, pelo menos de se concluir. Assim, a população terá mais liberdade de decidir onde aplicar o seu dinheiro, e quais as condições mínimas aceitáveis do serviço que lhe será ofertado. Aí aumenta o capital disponível, que aumenta o investimento, que gera receita, que gera mais investimento, e assim por diante.
O único problema é que essas medidas poderiam trazer à tona uma verdade que teima em aparecer, mas que também teima em ser suprimida: que, possivelmente, os brasileiros não gostem tanto de futebol assim. Que se deixasse o dinheiro na mão da população, ela poderia gastar com alguma outra coisa qualquer, que não o futebol. Com cultura, por exemplo.
Talvez, no Brasil, o futebol seja um imposto.
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