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Futebol e mudança

Um das máximas mais limitantes que conheço no futebol é aquela que nos diz que em time que ganha não se mexe. Ter este pensamento como norteador de nossas ações é um primeiro passo para que, após termos conquistado algo, comecemos a conspirar contra o próprio sucesso.
 
Talvez esta idéia seja fruto de nosso conservadorismo e da falta de um melhor entendimento sobre a complexidade humana e social. Diante deste cenário parece que o mais lógico seja mesmo simplificar, não mexer naquilo que está dando certo ou funcionando.
 
Entretanto no futebol como em tantas outras atividades que envolvem seres humanos é preciso entender o caráter dinâmico, transitório e provisório das coisas. Algo pode ser significativo hoje, mas não sê-lo amanhã.
 
Os jogadores que ganham um jogo não são exatamente os mesmos no jogo seguinte. Mudam os humores, os hormônios, a motivação, os sonhos, os relacionamentos. Num jogo também muda-se o clima, as expectativas, o adversário e as dificuldades. A estratégia e a mobilização devem ser reconstruídas em todos os seus detalhes.
 
Isso não quer dizer, contudo, que a mudança seja sempre benéfica ou positiva por si só. Estão aí os clubes sem projetos, sem princípios, sem filosofia e que demitem três, quatro, cinco treinadores por ano, para provar que mudança por mudança em nada contribui para o desenvolvimento do nosso futebol.
 
Procurar compreender o real significado das mudanças parece essencial para os líderes que conduzem seus trabalhos junto aos diferentes grupos, seja este líder um treinador, um atleta, um dirigente ou um médico.
 

A forma como encaramos a mudança vai determinar a qualidade do caminho que traçamos para as nossas profissões e para as nossas vidas.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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Justiça brasileira

Pergunte ao torcedor do Paraná se ele não viveu o clima de uma final de campeonato contra o São Paulo no domingo. Ou, ao vascaíno, se a bola na trave de Leandro Amaral aos 46 do segundo tempo contra o Figueirense não doeu tal qual o famoso gol de Rondinelli contra o Flamengo, na década de 70.
 
A edição de 2006 do Campeonato Brasileiro da Série A terminou com duas finais. Igualzinho ao ano passado. E, também, da mesma forma que em 2004. Na quarta vez que a fórmula dos pontos corridos foi usada, pela terceira vez tivemos ao menos mais de uma partida decisiva na rodada final.
 
Tudo bem, a “final” entre Vasco e Paraná não foi válida pelo título do campeonato, mas decidiu uma vaga na Copa Libertadores. Se não fosse um torneio por pontos corridos, o Paraná não teria a certeza de que estaria nas Américas com um empate contra o São Paulo. Assim como o Goiás, que terminou em oitavo lugar, poderia se classificar para a fase final mesmo tendo tido um desempenho de 46,5%. Uma nota que reprovaria qualquer aluno.
 
A conquista da vaga na Libertadores pelos paranistas mostra como é justo e emocionante um campeonato por pontos corridos. Tudo bem que o Brasileirão perde a sua imprevisibilidade, que coroou o campeonato nacional com mais campeões em todo o mundo. Mas será que o mata-mata na maior competição do país faz justiça?
 
O motivo básico para o sucesso de uma empresa está em seu planejamento estratégico. As pessoas trabalham para que tudo ocorra da forma mais previsível possível e, com isso, a empresa tenha ainda mais lucros ao término da temporada. Assim também funciona num torneio por pontos corridos. O trabalho de um ano inteiro será coroado com resultado dentro de campo da forma mais previsível que há dentro da ilógica do futebol.
 
Foi assim com o São Paulo, que se preparou para ser campeão. Foi assim com o Grêmio, que planejou uma volta à elite de maneira equilibrada e vencedora. Foi assim com o Paraná, que desde o ano passado mantém seu treinador no comando e tenta se virar com uma das menores verbas dentre os clubes da Série A.
 
Imagine se, após a 38ª rodada, começássemos um torneio em mata-mata com oito clubes, como era costume no país. O Goiás estaria entre os finalistas. Enfrentaria o São Paulo no primeiro confronto. Dois jogos de casa cheia, clima de decisão, tensão à flor da pele. Imagine se o Goiás ganhasse esse confronto e fosse campeão ao final das decisões.
 
O esporte é feito pelas grandes viradas, sem dúvida. Mas não podemos permitir que ele continue a ser de grandes injustiças.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br