Escrevo depois da final da Copa Libertadores, que – como você bem sabe numa hora dessas – foi conquistada pelo Boca Juniors.
Nenhuma surpresa, aliás. Afinal, o Boca Juniors é sempre favorito a conquistar campeonatos sul-americanos, principalmente depois que Maurício Macri chegou à presidência do clube, em 1995. Macri, aliás, é uma figura interessantíssima. É possivelmente o maior presidente que o Boca Juniors já teve, e foi o grande responsável por tornar o clube, hoje, em uma das mais reconhecidas marcas da Argentina.
Em 2003, Macri se candidatou a Chefe de Governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires. Ganhou no primeiro turno, perdeu no segundo. Acabou, no fim das contas, se elegendo deputado federal de Buenos Aires em 2005. Em 2007, saiu novamente candidato a Chefe de Governo. Por isso, dizem alguns, preocupou-se tanto em reforçar a equipe do Boca para a disputa da Libertadores. O sucesso no gramado seria essencial para o sucesso nas urnas. Muitos atribuem a estranha vinda de Riquelme para o time no começo do ano a uma manobra política de Macri para conseguir ainda mais popularidade. Aparentemente deu certo. No primeiro turno das eleições pra Chefe de Governo, Macri ficou com 45% dos votos. Ontem, o Boca foi campeão da Libertadores. A votação do segundo turno é neste sábado. Alguém tem alguma dúvida do resultado? Também não deve ser nenhuma surpresa.
Surpresa, porém, foi o Grêmio ter chegado à decisão da Copa Libertadores. Quer dizer, pra quem acompanha o futebol brasileiro regularmente, nem é tanta surpresa assim. Dizem que o time é bom e que o técnico também. Porém, é sempre bom lembrar que dois anos atrás o Grêmio estava disputando a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
O fato de o Grêmio ter conseguido ser promovido para a primeira divisão em um ano e no seguinte conseguir se classificar à Libertadores já é, por si só, um feito digno de nota. Seria um caso impensável em alguns outros mercados, mas é algo que vem se tornando corriqueiro no Brasil. Basta lembrar que o Palmeiras havia disputado a segunda divisão em 2003, mas nos dois anos seguintes terminou em quarto lugar da primeira divisão.
O Grêmio, porém, fez mais. Não só se classificou pra Libertadores como chegou à decisão do principal campeonato do continente, dois anos depois de estar na segunda divisão do campeonato nacional. Para se ter uma idéia de como isso soa estranho para os ouvidos de quem não está muito acostumado com a dinâmica do futebol sul-americano, seria mais ou menos a mesma coisa que o Treviso, time italiano que foi promovido para a primeira divisão na temporada de 2004/2005 da Itália, tivesse sido o campeão da Champions League desse ano, e não o Milan.
O feito do Grêmio é comparável ao feito do São Caetano, que quase foi o campeão continental em 2002. A diferença é que o São Caetano vinha de um campeonato brasileiro disputado com as finais em mata-mata, o que sempre favorece a imprevisibilidade, ainda que o time tenha acabado em primeiro na fase classificatória.
De qualquer maneira, são fenômenos não muito incomuns por aqui. A capacidade da América Latina de produzir elementos-surpresa em campeonatos é impressionante – Grêmio, São Caetano, Once Caldas, e assim por diante.
Os fatores que contribuem para esses fenômenos são diversos, e passam por contratos de curta duração, pouca responsabilidade fiscal, mercado voltado para exportação e todas essas outras coisas que você já deve bem saber. E isso tudo acaba criando uma aura de possibilidades em que boa parte dos clubes, independentemente da sua condição, acredite que tenha chance de vencer o campeonato.
Foi isso que permitiu ao Grêmio chegar à decisão e acreditar, novamente, em ser imortal, visto a remota possibilidade de vitória depois do primeiro jogo contra o Boca.
Imortal, também, será Daniel Filmus, se conseguir vencer o Macri na eleição de sábado. Mas aí o resultado é bem mais previsível.
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