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São Paulo, naturalmente

O estado de São Paulo tem cerca de 40 milhões de habitantes, o que significa aproximadamente 20% de toda a população brasileira. De acordo com a Wikipédia, é a terceira unidade administrativa da América do Sul, perdendo apenas para a Colômbia e para o próprio Brasil. Seu PIB total é de aproximadamente 550 bilhões de reais, equivalente a cerca de um terço do PIB brasileiro. Fosse o estado de São Paulo um país, ele estaria entre as 25 maiores economias do mundo.
 
A cidade de São Paulo, por sua vez, é a cidade mais importante do Brasil e da América Latina. Com um PIB de 160 bilhões de reais, é a décima nona cidade mais rica do mundo e responde por cerca de 10% do PIB nacional. É uma cidade global e cada vez mais se destaca como um dos grandes pólos econômicos do mundo.
 
O grande desenvolvimento paulista contrasta fortemente com o subdesenvolvimento do resto do país, em especial das regiões mais próximas à linha do equador. Entretanto, mesmo quando comparado aos estados do Sul e do próprio Sudeste, o poderio econômico do estado de São Paulo é esmagador.
 
Não é surpresa alguma, portanto, que os representantes paulistas dominem o futebol brasileiro. Afinal, considerando um sistema onde a importância dos clubes é a mesma para os seus respectivos públicos, é natural que os clubes da região tenham mais capital disponível para aplicar em performance do que outros, ainda mais os clubes da cidade de São Paulo.
 
Como bem se sabe, nos últimos anos a fórmula de disputa adotada para o campeonato nacional foi a fórmula dos ‘pontos corridos’, que diminui substancialmente a importância do acaso no macro-resultado da competição. Dessa forma, a possibilidade de um campeão brasileiro vir da parcela de clubes com mais capital disponível é quase absoluta. Daí a dominância de títulos paulistas nas últimas 4 competições, contando a atual, que teve seu campeão por fim definido na noite de ontem.
 
A conquista do campeonato pelo São Paulo foi irretocável, mas também bastante previsível. Afinal, o São Paulo Futebol Clube vem da região mais rica do país e de uma das cidades mais ricas do mundo. Tem, portanto, uma enorme vantagem competitiva em relação à maioria dos outros clubes do país.
 
Os únicos clubes que racionalmente poderiam exercer concorrência ao título do São Paulo seriam os clubes que dividem a mesma região geográfica e, portanto, a mesma disponibilidade de capital. Aí, porém, entra a diferença da estrutura administrativa.
 
Se um clube de futebol tem como objetivo vencer o maior número de jogos e de campeonatos possíveis, o papel administrativo do clube é conseguir formar os melhores times para alcançar esse objetivo. Como melhores times vêm com melhores jogadores e melhores jogadores vêm com mais dinheiro, é papel do clube conseguir maximizar a receita disponível pelos seus torcedores para reverter o montante em pagamento a jogadores e, consequentemente, em performance.
 
Não conheço a estrutura do São Paulo tão a fundo para poder afirmar que eles fazem um bom trabalho na maximização das receitas. Exemplos como a parceria com a Warner e o trabalho de comercialização da marca indicam que sim, mas o novo projeto do Morumbi indica que talvez não. De qualquer forma, o São Paulo, pelo menos por uma perspectiva afastada como a minha, não oferece muitos empecilhos no fluxo da transformação entre receita e performance. Ou seja, o clube está estruturado administrativamente de tal forma que consegue reverter a receita em performance sem que o capital tenha um aparente obstáculo ou desvio de rota no meio do caminho.
 
O desvio do direcionamento receita-performance, conforme foi publicamente explícito nos últimos meses, é um grande problema que afeta o Corinthians, talvez o único clube que conseguiria fazer frente ao poderio econômico disponível para o São Paulo. Afinal, ambos têm grande torcida – que talvez seja o problema do Palmeiras – concentrados na cidade que é de longe a mais rica do país. No Corinthians, entretanto, o dinheiro que entra no clube aparentemente acaba tomando rumos escusos e não sendo revertido diretamente em performance, o que evidentemente diminui, e muito, as possibilidades do time conquistar vitórias e títulos.
 
Dessa forma, é natural que o São Paulo tenha conquistado o campeonato brasileiro. Também é natural que ele tenha sido bicampeão. E não será nenhuma surpresa se ele se sagrar tri, ou quem sabe até tetracampeão.
 
Com a disponibilidade de receita existente e com uma aparente decência administrativa, não existe clube no Brasil que racionalmente conseguirá competir com o time do Morumbi. Só haverá uma mudança nesse cenário caso os outros clubes que dividem a mesma área geográfica de disponibilidade de capital se estruturem de maneira mais eficiente, ou se os clubes de outras regiões consigam maximizar as suas receitas a ponto de conseguir exercer um mínimo de competitividade.
 
Ou seja, se os clubes não evoluírem administrativamente ou o país não tornar a sua economia geograficamente melhor distribuída, o São Paulo continuará a ganhar campeonatos.
 

No final das contas, quando o Campeonato Brasileiro estiver mais competitivo, certamente estaremos vivendo em um país melhor.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br