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O 4-4-2. Do senso comum aos conceitos comuns

Quatro jogadores de defesa, quatro jogadores de meio-campo e dois atacantes. É assim que Jens Bangsbo e Birger Peitersen iniciam suas ponderações sobre o 4-4-2 no livro que escreveram no ano 2000 (“Soccer Systems e Strategies”). Ainda que não seja necessário ser especialista sobre o assunto para descrever didaticamente a estrutura desta plataforma de jogo, saliento que a partir dela é possível fazer uma boa discussão em torno do 4-4-2.
 
Muito conhecido de nós brasileiros, aprofundado e defendido por Parreira como parte importante da cultura tática do futebol no Brasil, o 4-4-2 tornou-se muito comum em diversos países dos diferentes continentes e diferentes estilos de se jogar futebol no nosso redondo planeta.
 
E ainda sendo o mesmo 4-4-2, fora ao longo dos anos ganhando novos formatos e identidades, adquirindo características peculiares a forma de jogar de equipes e suas “nacionalidades”.
 
Tornou-se muito comum em alguns países sul-americanos o 4-4-2 em linha (por vezes com estruturas de marcação individual, por vezes em zona) – anunciado de “boca cheia” pelos nossos especialistas como esquema de “duas linhas de quatro”. Na Inglaterra, foi o 4-4-2 em linha zonal, com uma estrutura bem definida e desenhada, que o fizera famoso no Liverpool, no Arsenal e no Manchester United.
 
E ainda que se diga que o 4-4-2, o 4-3-3 ou qualquer outra plataforma de jogo sejam apenas representações numéricas e fotográficas do jogo, e que portanto nada mais são do que números, é necessário se destacar que pequenas alterações nos formatos dessas plataformas podem possibilitar variadas e dinâmicas alternativas na forma de se jogar.
 

Então o 4-4-2 que pode ter na sua “linha de defensores” uma real disposição de linha, pode também ter um zagueiro mais recuado com relação a linha de jogo dos seus companheiros de defesa. Na “faixa” de meio-campo, que pode ser mesmo uma linha, também podem se apresentar formatos de triângulo, quadrado, losango ou trapézio (também chamado de arco).

Alguns livros e alguns treinadores remetem a idéia de que é necessário, para se formar tal plataforma, jogadores com características específicas. Tal idéia pode facilmente ser contestada e derrubada pelo fato de que a compreensão da lógica do jogo e da dinâmica da plataforma que se escolhe utilizar, transcende a necessidade de jogadores com características específicas (em outras palavras as características dos jogadores devem guiar as dinâmicas do modelo de jogo a partir da lógica do jogo, de acordo com qualquer plataforma escolhida).

 
No Brasil, o 4-4-2 muitas vezes, pela típica marcação individual – com foco no jogador e não na posição da bola – acabou muitas vezes por fazer recuar um jogador de meio-campo (em geral o “volante”) para marcar um dos atacantes adversários, fazendo com que um dos zagueiros pudesse se posicionar como “sobra”.
 
Tornou-se também muito comum o recuo do “volante” diretamente para fazer “a sobra” dos zagueiros (quase como um terceiro zagueiro), e aí o 4-4-2 acabara quase que se configurando em um 3-5-2 (contestado e criticado 3-5-2!). Como nossos “especialistas” têm dificuldade para enxergar essa pequena sutilidade, continuam a criticar o 3-5-2, mas não percebem que o 4-4-2 pode por vezes acabar assumindo características do tal; mas como é 4-4-2, não é criticado e massacrado como “esquema defensivista”.
 
Muito comum em tempos não muito distantes, que no 4-4-2 a “subida” dos laterais fosse sincronizada de forma inversa. Quando o da esquerda subia ao campo de ataque, o da direita permanecia em espera fechando a defesa; quando o da direita subia, o da esquerda se recolhia. E como essa subida sincronizada fora mais um daqueles paradigmas que sobreviveram (ou ainda sobrevivem) muito tempo no futebol; em algum momento também desataram a “cair”. Então hoje é possível notar em alguns jogos a liberação dos dois laterais ao mesmo tempo e a contenção de dois volantes (um para “sobrar” e um para o balanço defensivo).
 
E aqui é bom que se diga que o já outrora criticado Parreira, em 1994 na seleção brasileira, chegou em algumas partidas liberar os dois laterais brasileiros ao mesmo tempo sem necessariamente “prender” os dois “volantes”.
 
Então, em suma, seja qual for a plataforma, mais vale uma dinâmica inteligente que a conduza do que ela mesma, a plataforma em si. Mais vale o entendimento da complexidade do jogo e suas possibilidades do que as “altivas” ponderações dos nossos famosos especialistas esportivos e as suas “tortas” opiniões que formam opinião…
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br