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A mídia quer manter a história

“A mídia faz as pessoas se importarem, porque repete, repete, repete e repete a história. Fica batendo até a morte. A mídia quer manter a história”.
 
A frase acima é de Gay Talese, um dos maiores jornalistas da história dos Estados Unidos e do mundo. Nesta segunda-feira, Talese fala no jornal “Folha de São Paulo” sobre o escândalo sexual que derrubou o governador de Nova York. Ferrenho defensor do fim dos bordéis e das casas de prostituição, Eliot Spitzer foi desmascarado pela mídia e revelou-se um freqüentador assíduo de uma casa de prostituição comandada por uma brasileira.
 
Talese analisa, entre outras coisas, o comportamento da mídia em relação ao que era feito há 20 anos. Segundo ele, muita coisa mudou na imprensa. A começar pela noção do que é notícia. Quando questionado sobre o que via de notícia no caso de Spitzer, e se ele daria essa notícia, o jornalista saiu-se com essa.
 
“Não vou dizer que não publicaria, porque, se alguém mais publicar, você tem que publicar. Você não pode fingir que não viu, porque todo mundo sabe sobre isso, está na televisão, nos websites. Se você está no negócio de publicar jornais, tem que publicar o que é considerado notícia. É que hoje em dia tudo é notícia, o que não acontecia 30 anos atrás. É bom ou ruim? Eu não sei. O que acontece é que pelo menos força as pessoas a viverem em coerência com o que dizem”.
 
E o que isso tem a ver com o futebol?
 
Nada. E tudo. Assim como na vida dos políticos, o futebol é esmiuçado até o último final de cabelo pela mídia. O jogador foi ao banheiro, ele foi visto em suas férias numa clínica de repouso, ele foi visto fugindo da concentração, ele tossiu na cara do outro jogador com quem está brigado…
 
O futebol é hoje uma espécie de “Big Brother”. Não o personagem do livro “1984”, de George Orwell, mas o programa de TV. Todos querem dizer o que acontece com quem está envolvido no futebol. Ainda mais se esse alguém é conhecido do público em geral. O sucesso atrai, invariavelmente, a atenção e a overdose de cobertura da mídia.
 
Spitzer caiu nos Estados Unidos por pregar uma coisa e fazer outra na prática. No futebol, muitas vezes assistimos a carreiras destruídas exatamente por isso. A vida particular do atleta, teoricamente, não diz respeito a ninguém. Obviamente que lhe é permitido sair à noite, beber de vez em quando, sair com mulheres, homens e afins. O que não pode é o atleta ter seu rendimento em campo influenciado por causa do que é feito extra-campo.
 
É nesse momento que a mídia cairá matando, que fará de tudo para desmascarar aquele que não cumpre com o dever do bom ofício. Até lá, o atleta pode levar uma vida comum. Mas, se não o fizer, cairá no que prega Talese no início deste texto. A mídia bate na história até as pessoas se importarem com aquilo. E quando isso acontece, o caminho é irreversível.
 

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br