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Paixão, não!

Hoje é Dia dos Namorados, como você deve bem saber. Afinal, são inúmeras mensagens te avisando sobre isso, sejam elas sendo emitidas pelas lojas, pelos shopping centers, pelas empresas de telefonia móvel ou pela sua mãe que não pára de te ligar falando que ta mais do que na hora de ela ter uma nora, ou um genro, de verdade.
 
E o que faz o Dia dos Namorados ter importância para esta coluna em questão e, mais especificamente, para o futebol? Aliás, o que é que o namoro tem a ver com o futebol?
 
A resposta é até meio óbvia. Ambos, dizem, são movidos pela paixão. É a paixão que serve como o combustível principal de uma relação amorosa, principalmente na sua fase mais frágil e irresponsável, o caso do namoro. Quando a paixão acaba, o namoro se esfacela. Afinal, ainda não vieram os filhos, as pensões e as divisões de bens, então não há muito com o que se preocupar quando a relação é rompida.
 
No futebol, dizem que o combustível essencial da relação entre o clube e o seu torcedor também é a paixão. É ela que faz com que os torcedores cometam loucuras pelo seu time, que chorem, que gritem, que esperneiem e que comprem produtos, seja lá quais esses forem.
 
Toda vez que alguém fala sobre alguma coisa de anormal no futebol, o discurso de justificativa tende a ser “Ah… Isso é a paixão do futebol…”. Aí, quando um clube vai trabalhar o seu público, dizem que ele precisa saber explorar a paixão do torcedor, que ele precisa conseguir capitalizar esse sentimento tão nobre.
 
O problema é que a referida paixão é só uma nomenclatura que simplifica diversos outros laços entre o torcedor e o clube de futebol. Ninguém é apaixonado por uma equipe. A paixão verdadeira, o sentimento amoroso desencadeado por reações químicas, inexiste na relação clube-torcida. O que há, de fato, são outras tantas variáveis psico-sociais que fazem a intermediação do processo. Estudos sérios enumeram diversas, que passam por sentimentos de identidade, de idolatria e de cultura familiar. A paixão não é citada em momento algum.
 
Enquanto clubes e torcidas acreditarem que a relação se resume à paixão apenas, os clubes terão dificuldades em ativar o seu público e seus torcedores não terão suas reais necessidades supridas.
 
Nenhuma relação entre clube e torcida deve ter sua sustentação baseada na paixão. Aliás, nem um namoro deve funcionar dessa forma.
Portanto, compre um presente.

Para interagir com o autor: oliver@cidadedofutebol.com.br