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O desastre em longo prazo

Caros amigos da Universidade do Futebol,

 

fechadas as janelas de transferência de jogadores de verão, as diversas questões que cotidianamente circundam o futebol profissional voltam a ser o objeto das diversas reuniões de comitês, conselhos e grupos de trabalho das autoridades competentes na Europa.

 

Uma delas, que gostaríamos de aqui tratar, é a cada vez mais precoce saída de talentos de seus clubes formadores, e a justa indenização a ser paga àqueles clubes que despendem seus preciosos recursos na formação desses jovens jogadores.

 

Como sabemos, a distribuição solidária de recursos entre clubes profissionais de futebol é uma necessidade não só para os clubes menores, que precisam de ajuda para sobreviver, como também para os grandes e poderosos clubes, que precisam de competição para atrair torcedores, patrocinadores e mídia.

 

Dessa forma, a saída “hostil” de jovens talentos de clubes formadores pode parecer um grande negócio para os grandes clubes. Mas no longo prazo, é um desastre, por não valorizar a sustentabilidade de todo o sistema.

 

A grande preocupação é que muitos dos que lucram com essas transferências não estão de fato preocupado com a manutenção a longo prazo do sistema. E é nessa medida que as autoridades desportivas, com a prerrogativa da legitimidade da auto regulação, devem intervir.

 

Algumas soluções já estão sendo implementadas. Na França, por exemplo, acaba de sair o novo regulamento da liga nacional, que obriga o jovem jogador a assinar seu primeiro contrato de trabalho com o clube formador. Foi um ato bravo por parte da Liga Francesa, mas que, como toda iniciativa pioneira, vai servir de cobaia para as demais. Alguns pontos fracos já podem ser vistos:

 

Em primeiro lugar, como o regulamento francês aplica-se tão somente a clubes daquele país (como não poderia deixar de ser), essa obrigatoriedade poderá ter como consequência prática o êxodo desses jogadores a outros países (aplicando-se, então, tão somente o Artigo 19 dos Regulamentos do Estatuto e Transferência de Jogadores da FIFA relativamente à proibição de transferências internacionais de menores de 18 anos).

 

Além disso, temos que observar que essa obrigatoriedade, caso seja levada ao judiciário francês poderá não ser exequível, pelo simples fato de que o sistema legal não admitir que seja válida uma disposição que obrigue qualquer pessoa a assinar contrato de trabalho com um determinado empregador.

 

Isso nos leva a crer que as soluções devem, em um futuro próximo, soluções devem ser alcançadas de forma conjunta pelos diversos países, através de seus representantes continentais ou mesmo internacionais. Para combater o mal pela raiz, somente ações com grande força máxima serão eficazes.

 

Pela proximidade com a sede da FIFA e a consequente facilidade no diálogo, as organizações sediadas européias sempre começam a apresentar as primeiras soluções. A UEFA, por exemplo, com a sua regra de home-grown player e a própria FIFA com o 6+5 são provas disso.

 

Temos que observar com atenção essas movimentações, e tropicalizá-las no Brasil. Isso porque se o problema existe no resto do mundo, no Brasil os reflexos são diretos. A qualidade da nossa competição nacional está em jogo.

 

Temos que manter os jovens jogadores no Brasil por mais tempo. O nosso futebol agradecerá, e os jogadores também. É claro que exceções vão sempre existir, e serão inevitáves. Mas a regra tem que ser outra. Menores de 18 anos, para dizer o mínimo, devem permanecer no Brasil.

 

Quem não for a favor dessa proposição, certamente não está preocupado com a sustentabilidade e perpetuação do nosso “beautiful game”.


Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br