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Quem quer centroavante?

Você pode torcer pelo Romário Futebol Clube e ainda ficar lamentando a ausência de um camisa nove. De um “matador”. Goleador. Artilheiro. Centroavante. Pivô. Referência de área. Um comandante de ataque. Um fazedor de gols. Aquele grosso que empurra a bola para dentro com qualquer parte da anatomia. Aquele jogador que não faz o gol quando a bola passando pela área. Aquele pé que falta para balançar a rede.

Você sabe de quem estou falando e sonhando. Mas, na boa: é realmente preciso sempre ter um centroavante para ser feliz?

Para ficar em um só ótimo exemplo da história do futebol brasileiro: o São Paulo multicampeão de 1991 a 1993 não tinha centroavante: jogassem três à frente (Muller, Macedo e Elivélton) ou duplas de atacantes ou meias (Muller e Elivélton; Macedo e Muller; Cafu e Muller; Palhinha e Muller), não havia um nove típico no ataque são-paulino bicampeão sul-americano e mundial. O Telêcolor do Morumbi virou referência de time a ser reverenciado por não ter a tal de referência de área. Um time que funcionava e chegava a encantar. Sem centroavante.


Telê não tinha um centroavante típico no time campeão mundial

(Não foi a primeira vez que Telê Santana “revolucionara” na genial carreira de boleiro e técnico; em campo, nos anos 50, ele foi um ponta-que-não-era-ponta; no banco, em 1982, instituiu inspirado rodízio de craques pela ponta direita brasileira na Copa da Espanha, apesar da birra da imprensa de então, e até de um personagem do Jô Soares).

A França-98 ganhou de um Brasil de Ronaldo com um atacante de área. Ou pior: com um camisa nove nota zero: Guivarc’h tinha alguma noção do que deveria fazer com a bola, mas jamais entendeu que aquele retângulo branco defendido por um goleiro com uniforme diferente do dele era para ser molestado. A França ganhou o mundo metendo três gols no Brasil com um centroavante medíocre. Para ser gentil.


Guivarc’h era o centroavante campeão mundial. Era mesmo?

Equipes boas têm artilheiros como o incansável Túlio Maravilha, que será o goleador da Série B, e deverá levar o Vila Nova de volta à primeira divisão nacional. Mas um time já foi rebaixado no Brasileirão mesmo fazendo o artilheiro da competição: no BR-07, Josiel, hoje centroavante do Flamengo, fez 20 gols pelo Paraná. E não conseguiu salvá-lo da segunda dos infernos.

Mesmo os campeões nem sempre consegue fazer os artilheiros: Dario (Atlético-MG, 1971), Roberto Dinamite (Vasco, 1974), Flávio (Inter, 1975), Dario (Inter, 1976), Zico (Flamengo, 1980 e 1982), Careca (São Paulo, 1986), Túlio (Botafogo, 1995), Paulo Nunes (Grêmio, 1996), Edmundo (Vasco, 1997) e Romário (Vasco, 2000). Apenas 11 campeões fizeram os goleadores do Brasileirão, desde 1971. Neste século, nenhum time conseguiu. Ainda.

Nem por isso eles podem ser desprezados. Artilheiros como os veteranos Kléber Pereira e Alex Mineiro (campeões brasileiros pelo Atlético Paranaense, em 2001) fazem ótimo BR-08 por Santos e Palmeiras. Promessas como Keirrison e Guilherme (mais um meia-atacante que um goleador) desempenham muito bem. São nomes fortes de mercado e objeto de consumo imediato. Mas não são premissas básicas para grandes campanhas. O Grêmio faz um campeonato além da encomenda com Perea e Marcel na frente, que não arrancam suspiros nem dos professores das pranchetas.

Mas não é preciso ter um Evair ou um Jardel para brigar por títulos. (Embora fosse muito mais fácil explicar os canecos nas galerias).

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

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O canto da Iara

A lenda amazônica diz que a Iara é aquela sereia do canto irresistível. Sedutora, seu canto atrai o caçador que, ao se deixar levar pela beleza da voz de Iara, é atraído para uma armadilha mortal. 

Pois parece que Robinho deve ter visto que estava caindo no canto de Iara desde a sua polêmica transferência para o Real Madrid, em 2005. Semana passada, acredito até que, sem o devido alarde da imprensa, o jogador anunciou o rompimento de seu contrato com o empresário Wagner Ribeiro.

Considerado um “herói” na negociação do atacante com o Real Madrid, Ribeiro perdeu seu encanto com a malfadada ida de Robinho para o “saco de pancadas” Manchester City. O atacante tinha espaço de sobra em Madrid e poderia continuar a pedalar pelo Santiago Bernabéu. Só que a simples especulação da imprensa sobre a contratação de Cristiano Ronaldo fez com que Ribeiro decidisse tirar Robinho do Real, clube que então “não o merecia”.

Foi mais ou menos o mesmo enredo da transferência de Santos para Madrid. Recém-conquistado o título da Copa das Confederações pela seleção, Robinho foi convencido pelos amigos Roberto Carlos e Ronaldo de que seu ciclo no futebol brasileiro havia chegado ao fim. 

Na volta da seleção, ele decidiu parar de treinar. Nesse meio tempo, Wagner Ribeiro tentava acertar os detalhes da transferência para o Real Madrid. Demorou mais do que o esperado, até por insistência do Santos de que não precisava vender seu maior astro desde Pelé. Robinho teve de voltar a treinar e jogar. Até para que não ficasse 30 dias fora do clube e caracterizasse, assim, abandono de emprego.

Mas no fim Robinho conseguiu ir para Madri. No último dia da janela de transferências internacionais, o jogador custou 30 milhões de euros aos cofres do Real. À época, Ribeiro foi visto com o maior articulador dessa jogada. Pouco se discutiu o que ele fez com os 7 milhões de euros a que teve direito com a negociação.

Agora, três anos depois, o filme se repete. Robinho não é liberado para disputar as Olimpíadas com a seleção e a imprensa começa a dizer que Cristiano Ronaldo deve desembarcar no Santiago Bernabéu. É a senha para que Iara comece de novo o seu canto. O Real passa, de uma hora para outra, a significar um clube que não merece Robinho. O destino mais especulado do astro é o Chelsea, já que Felipão agora está por lá.

Assim como no episódio Santos-Real, a transferência demora a se concretizar. As negociações se arrastam e, por fim, se concluem. Mas com o inexpressivo Manchester City, clube figurante na Inglaterra e recém-adquirido por trilionários (sim, trilionários!) dos Emirados Árabes. Ou seja, clube em que gastar dinheiro não é problema algum. Por quase 100 milhões de euros, Robinho deixa o Real Madrid e vai para o lugar que, pretensamente, lhe “merece”.

Parece que, na semana passada, Robinho percebeu o canto de Iara em que havia se metido. Talvez por ver que não adianta só ter ele, Elano e Wright Phillips dentro do time. Ainda mais numa liga de time estrelares, como o Manchester United, de Cristiano Ronaldo, que deveria ter colocado Robinho no banco do Real Madrid…

De fato Iara cantou mais uma vez. E embolsou outros milhões de euros com mais uma saída conflituosa de Robinho do antigo time. Se o Santos havia projetado Robinho para o futebol, o Real ajudou-o a se tornar jogador de renome internacional. E o canto de Iara fez o atacante deixar de lado toda essa relação com os dois clubes e suas duas torcidas por um punhado a mais de dinheiro. 

Mas agora Iara deve ter desafinado no canto. Resta saber se não é tarde demais.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br