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Sol entre nuvens

O Brasil ainda não se acostumou à disputa por pontos corridos. 

Não vai dar nem tempo de respirar e, no próximo final de semana, em meio à ressaca de jogos decisivos pelos Estaduais, pela Copa do Brasil e pela Copa Libertadores, vamos entrar na disputa do Campeonato Brasileiro.

E, até agora, ninguém falou nada sobre o principal torneio do ano. Ou, se não for tão importante quanto uma Libertadores, pelo menos é o mais longo.

Sim, eu sei, é muito chato, no meio de uma grande festa, você ficar olhando para o que ainda nem começou. Mas o fato é que o Brasileirão é uma espécie de sol entre nuvens para o torcedor e, especialmente, para a imprensa no país todo.

No Rio e em São Paulo, os dois principais mercados do país, ganharam as duas maiores torcidas do Brasil, as de Flamengo e Corinthians. Títulos que reforçam a hegemonia estadual de ambos, mas que também mascaram muito a realidade que os dois terão pela frente.

Ambos têm elencos reduzidos, com poucos jogadores em condição de serem titulares. E isso, num campeonato que dura oito meses, é fatal. São muitos jogos, muitas viagens e, também, muitas lesões que se aproximam no torneio por pontos corridos. Se um time não estiver com jogadores à altura no banco de reservas, não conseguirá chegar tão longe.

Já se vão seis anos de Brasileirão em pontos corridos. Em 2009, entraremos na sétima edição de repetição da fórmula. E, no país todo, só podemos apontar São Paulo, Inter e Cruzeiro como times que poderão ver o torneio de maneira ensolarada.

Os três sabem que é importante disputar a competição em alto nível desde o começo. E que, para manter o nível, é preciso ter mais do que 11 jogadores e outros 15 reservas. É preciso ter cerca de 15 a 20 atletas em condições de ser titulares. E, ao longo da temporada, mesclar esses jogadores para não “estourar” o time. 

Desses três, Cruzeiro e Inter ganharam seus estaduais de maneira invicta. Mesmo jogando Libertadores e Copa do Brasil simultaneamente. Sinal de que seus rivais diretos não estão no mesmo nível. 

Nesta semana virão as sempre prováveis escolhas de favoritos ao título. Não duvide que muitos dos campeões estaduais entrarão nessa lista. Mas também não pense que os jornalistas estarão de olho na capacidade aeróbica desses times para um torneio que começa em maio e vai até dezembro…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Barcelona vs Chelsea: covardia, retranca ou estratégia?

Ainda que muita gente acredite no contrário do que vou dizer, vou “contradizer o contrário”.

Em jogo válido pelas semifinais da Uefa Champions League 08/09, as equipes do FC Barcelona e do Chelsea FC se enfrentaram na Espanha, em uma partida que despertou uma série de comentários e teorias.

No “papo de arquibancada”, o de sempre: “o Barcelona dominou o jogo e merecia a vitória; o Chelsea foi uma equipe covarde que só quis se defender“; e ainda: “também se o Chelsea fosse tentar sair para o jogo não teria a menor chance“.

Antes de qualquer coisa, vou me expor à primeira polêmica. Se o Barcelona tivesse dominado o jogo não teria ele vencido a partida?

Vou esclarecer.

Há alguns anos (talvez muitos!) antes das tão midiáticas lutas de MMA (Mixed Martial Arts) lembro-me dos primeiros “combates” internacionais entre faixas-pretas que tive oportunidade de assistir (o que na época era chamado de “vale-tudo”).

Recordo-me de uma luta do brasileiro Rickson Gracie contra um “gigante” que realmente não consigo lembrar o nome. Já com algum tempo de “combate”, quando o brasileiro aparentemente dominado pelo seu oponente (apesar de uma duvidosa expressão de tranquilidade) estava, segundo o “narrador”, prestes a ser derrotado; o inesperado: seu adversário “bateu” pedindo para o árbitro interromper a luta antes que Rickson Gracie quebrasse o seu braço.

O aparentemente dominado brasileiro vencia a luta; sem precipitação, sem desequilíbrio, com um controle e um domínio sabido somente por ele.

Pois bem, voltemos ao FC Barcelona vs Chelsea FC.

O FC Barcelona é a equipe com maior número de gols feitos, menor número de gols sofridos e melhor aproveitamento em pontos de toda a Espanha até o momento em que escrevo esse texto (e dificilmente terá deixado de ser até sua publicação).

Além de rápida circulação da bola, com valorização de sua posse e constantes progressões ao gol (especialmente nas transições ofensivas), a equipe espanhola tem se destacado por uma transição defensiva extremamente intensa com referências bem definidas para imediata recuperação da posse da bola.

Como enfrentar essa aparente máquina, no seu terreno de jogo habitual? Como evitar a rápida circulação da bola e as constantes progressões ao gol nas transições ofensivas? Como evitar perder a bola depois de sua recuperação e minimizar tanto a eficiência da transição defensiva espanhola como a posterior transição ofensiva a partir de regiões perigosas do campo de jogo?

Com referências de ação bem definidas, a equipe do Chelsea conseguiu manter boa intensidade de concentração quase que em todo o jogo e fez aquilo que não parecia ser possível.

Para evitar a rápida circulação de bola do FC Barcelona, a equipe do Chelsea FC povoou, por vezes com 10 e por vezes com 11 jogadores seu campo de defesa. Com grande número de jogadores concentrados nessa região, a equipe espanhola não conseguiu realizar passes rápidos em direção ao gol – tendo então que circular a bola horizontalmente bem longe da meta defensiva da equipe inglesa.

Para evitar perder a bola próxima ao seu gol defensivo, a equipe do Chelsea FC fez a opção por um jogo de passes longos com imediata progressão ao campo de ataque quando da recuperação da posse da bola, primando mais por não tornar a perdê-la em regiões próximas a sua meta de defesa do que por “evitar perdê-la”.

Vejamos alguns dados do jogo:

É notório o fato de que o Chelsea FC abdicou de ficar com a bola. Com isso, trocou poucos passes. Como optou por um jogo de rápida progressão a sua meta ofensiva, teve mais passes longos em profundidade do que seu advsersário; com isso também errou mais.

O fato de o FC Barcelona ter ficado mais tempo com a bola – levando a equipe inglesa a “correr atrás dela” (coma fora anunciado por um “especialista”) – não teve reflexos na distância total percorrida pelas equipes no jogo.

Quando analisamos as finalizações, podemos observar que o volume da equipe espanhola foi aproximadamente seis vezes maior do que o da equipe inglesa (com boa parte delas dentro da “grande área”).

Vejamos:

Podemos extraopolar conclusões a partir desses dados e das observações do jogo na direção que nossos argumentos permitir – entendendo inclusive que o FC Barcelona levou mais perigo do que o Chelsea FC (é só olhar para as finalizações).

Eu prefiro, honestamente, dizer que quem cumpriu melhor parte dos seus objetivos foi a equipe inglesa e não a espanhola; afinal, olhando para as finalizações, eu diria que proporcionalmente ao número delas, foi o Chelsea que teve mais eficiência em chegar dentro da área, e que dado o grande número obtido pelo FC Barcelona foi essa equipe a menos competente em traduzir suas ações em gols.

Obviamente que a partir desses dados não posso convencer ninguém que o FC Barcelona não teve nem controle, nem domínio do jogo. Tão pouco que o Chelsea FC controlou a equipe espanhola. Mesmo assim, me arrisco: o jogo foi zero a zero, e apesar de ninguém ter “batido” pedindo o final do combate, o que vale mesmo é o placar final; e nesse caso para mim, foi o Chelsea que se aproximou mais dos seus objetvos…

Esperemos pelo próximo jogo.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br