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A fisiologia da tática: ganha quem corre mais ou quem joga mais?

Diversas são as investigações científicas que buscam compreender a fadiga do jogador de futebol durante as partidas.

Em geral, tem se tentado associar uma possível queda de desempenho dos jogadores a fatores que vão desde o estado nutricional dos atletas até a melhor distribuição de cargas de treino ao longo dos dias de trabalho.

Um dos vilãos mais comumente apontados pela literatura especializada é o decréscimo nas reservas de glicogênio nos músculos envolvidos nas ações dos jogadores no jogo. Os principais argumentos para sustentar essa idéia (do vilão glicogênio) agrupam-se em análises que quantificam o glicogênio muscular pré e pós-partidas (e ainda intervalos dos jogos) e em rastreamentos que buscam apontar a diminuição das distâncias percorridas durante os jogos em “sprints” e em volume total.

Segundo Reilly, Drust, Clarke (2008), diversos estudos têm concordado que comparado ao 1º tempo de uma partida, o 2º tempo tem uma distância média percorrida pelos jogadores, menor. Os pesquisadores Mohr, Krustrup, Bangsbo (2003), por exemplo, apontam que em jogos analisados no seu estudo a distância percorrida pelos jogadores no 1º tempo foi em média 160 metros maior do que no 2º tempo.

Em acordo com esses dados podemos observar ainda alguns números dos jogos semi-finais (ida e volta) da Uefa Champions League 08/09:


Exceto no último jogo entre as equipes do Chelsea FC e do FC Barcelona em Londres, todas as demais partidas tiveram uma diminuição na distância total percorrida pelas equipes do 1º para o 2º tempo. Notemos que em média a variação dessa distância esteve em torno de -3.94%, tendo seu maior valor alcançado pela equipe do Manchester United em sua segunda partida contra a equipe do Arsenal FC (-9.04%).

Vale a pena destacar, porém, que estatisticamente as pesquisas científicas que têm investigado as distâncias percorridas pelos jogadores em partidas de futebol no mundo todo não têm encontrado diferenças significantes (sob o ponto de vista estatístico) entre os valores obtidos nos 1º e 2º tempos dos jogos.

Quando observamos a diferença entre as distâncias percorridas em alta intensidade, a variação percentual entre os dois tempos da partida de futebol aumenta. Com base em Barros et al (2007) que observou jogos entre equipes brasileiras, ela chega a -15.73% para corridas entre 19 km/h e 23 km/h, e aproximadamente -10.82% para sprints com velocidade igual ou superior a 23 km/h.

Concomitantemente a esses fatos, estudos têm demonstrado que comparada as condições iniciais, a quantidade de glicogênio muscular de jogadores após partidas de futebol tem uma diminuição significante; cerca de -43.20% na média.

Com diminuição tão acentuada na quantidade total de glicogênio muscular, com o fato de que seu restabelecimento dar-se-á através do consumo de carboidratos e que o preenchimento total dos estoques nos músculos pode levar mais do que 72 horas (algumas pesquisas apontam 48 horas, mas estudos específicos com jogadores de futebol têm demonstrado que esse tempo é maior após o desgaste de um jogo de 90 minutos), deveríamos acreditar realmente que a escassez nesse “combustível” por parte de uma equipe a levaria a drásticas consequências em uma partida de futebol.

Mas vamos aos fatos. A outros fatos.

Em 1982, os jogadores da seleção de futebol do Kuwait, então dirigido por Carlos Alberto Parreira, por ocasião do Ramadã, mergulharam em períodos de jejum total durante a Copa do Mundo da Espanha, sendo mais problemático o realizado entre o 2º jogo (contra a França) e o 3º jogo (contra a Inglaterra) da 1ª fase da competição. Desgastada pela sequência de partidas e já em seu último confronto, os kuwaitianos em jejum enfrentaram a seleção inglesa, em um jogo em que por diversos motivos (inclusive o jejum) as apostas apontavam para um “passeio” (massacre, atropelo, etc.) dos ingleses. O resultado do jogo: Inglaterra 1 vs 0 Kuwait; e nada de passeio.

Como seria possível que o kuwaitianos tivessem jogado – sem desconsideramos suas outras limitações – em “bom nível físico”?

Obviamente, como já disse anteriormente, a fadiga de jogadores em partidas de futebol não está associada a um motivo exclusivo. O que ocorre é uma associação de fatores que juntos contribuem para a queda de performance das equipes em jogos de futebol.

Medir a performance a partir de “distância total percorrida”, “distância percorrida em alta intensidade” ou “número de sprints” durante jogos, e ainda, associá-la a este ou aquele fator, única e simplesmente, é desconsiderar por completo a essência complexa do jogo.

O “correr sem significado” não tem o mesmo desgaste do “correr com significado”; o “correr sem significado”, no âmago das coisas, não é nem de longe parecido com o “correr com significado”.

O “correr sem significado” é movimento sem sentido, enquanto que o “correr com significado” é ação com jogo.

Olhar para dados referentes às distâncias percorridas em jogo numa perspectiva complexa é entender que eles são sintomas de um jogar, e não causa do jogo.

Enquanto acreditarmos que eles são causa, continuaremos acreditando que dados relativos as distâncias percorridas em jogo e números de sprints são reflexos de uma performance ingenuamente chamada de “física”, influenciada diretamente pelos níveis de glicogênio nas fibras musculares.

Quando entendermos que eles são sim sintomas de um jogar, aí… Bom aí pode ser que já tenhamos errado o planejamento e perdido o jogo.

Textos científicos mencionados nessa coluna:

BARROS, R.M.L. et al. Analysis of the distances covered by first division Brazilian soccer players obtained with na automtic tracking method. Journal of Sports Science and Medicine, v.6 p. 233-242, 2007.
MOHR, M. KRUSTRUP, P. BANGSBO, J. Match performance of high-standard soccer players with special reference to the development of fatigue. Journal of Sports Science, v. 21, p. 519-528, 2003.

REILLY, T., DRUST, B., CLARKE, N. Muscle fatigue during football match-play. Sports Medicine, v. 38, p. 357-367, 2008.

Para interagir com o colunista: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Orquestra controlada

Imagine que você está no estádio assistindo a uma partida do seu time. O estádio é bacana, novinho, confortável. Cerveja à vontade, cantoria e pão com salsicha.

Aí seu time faz um gol.

Você grita de alegria. O gol foi do astro do seu time.

Digamos que ele se chame João da Silva e vista a camisa 10.

Aí entra um locutor que se pronuncia nos altos falantes do estádio.

Ele grita: “Goooooooooool!”.

Você se emociona.

O locutor pergunta empolgado: “E o autor do gol foi João…”.

E você, juntamente com toda a torcida, responde: “Da Silva!”.

Mais uma vez: “João…”, “Da Silva!”.

E, novamente, o locutor grita: “Número…”.

E todos, inclusive você, respondem: “Dez!”.

Mais uma vez: “Número…”. “Dez!”.

E, para finalizar, o locutor diz: “Muito obrigado”.

E você responde, em alto e bom som, junto com todo o estádio, igualzinho a quando saiu o gol: “De nada!”.

Estranho, não? Também acho.

Mas esse é o comportamento padrão da liga que é a menina dos olhos da Europa no momento, a Bundesliga. A Liga Alemã.

Então, imagine todo aquele diálogo acima em alemão. Fica ainda mais esquisito.

Mas isso acontece, pode reparar. É só sair um gol que sai tudo de acordo com o script acima. Tudo organizadinho. Assim como todo o futebol alemão. Afinal é a Alemanha.

A Bundesliga não é a liga que mais arrecada dinheiro na Europa. Perde, por uma margem significativa, para a Premier League inglesa. Mas é a que mais lucra. Disparado.

De acordo com seu relatório anual, as receitas da Primeira Divisão ficaram um pouco maiores do que 1,5 bilhão de Euros em 2007/2008, e conseguiu obter um lucro, coisa rara no futebol mundial, de cerca de 2 milhões de Euros. Dos 18 clubes que disputaram a Bundesliga na temporada passada, 15 apresentaram lucro operacional.

Por conta grande capacidade e da recente renovação dos seus estádios, a Bundesliga é a liga com maior número de torcedores de toda a Europa, tendo chegado à média de praticamente 39 mil torcedores por jogo na última temporada, sendo que a média da atual temporada é superior a 42 mil torcedores por jogo, extra-oficialmente.

A melhoria dos estádios, porém, tem um custo. A dívida total dos clubes da Bundesliga supera 500 milhões de Euros, ainda que tenha sido reduzida em cerca de 50% em três anos. Tudo isso por conta de um grande aperto fiscal e controle de custos.

E controle de custo, no futebol, significa menos salário pago a jogadores. Os clubes alemães, tirando o Bayern de Munique e uma ou outra exceção, não compram ou retém astros do futebol europeu, porque não competem com os salários pagos pelos principais clubes da Espanha, Itália e Inglaterra.

Como forma de segurar o nível de salários para baixo, o futebol alemão também aumenta a oferta de jogadores. Lá não existe cota para estrangeiros. Se um clube quiser ter um time com 22 marroquinos, ele pode. Nada impede. Dessa forma, não se criam restrições no mercado de jogadores, o que amplia a oferta e joga o valor dos salários lá para baixo. Isso leva o futebol alemão ser hoje a menina dos olhos dos empresários de futebol do mundo inteiro.

E como o futebol alemão não segura seus astros, ele sofre as conseqüências. Há tempos os clubes alemães perderam a representatividade que antigamente possuíam na Europa. Um clube alemão dificilmente vai conseguir fazer frente às outras potências continentais.

Com estádios bacanas, o espetáculo orquestrado e um campeonato competitivo, a torcida alemã aparentemente não tem dado bola para o sucesso continental. O problema pode ser na hora que ela mudar o humor e passar a exigir maiores títulos de seus clubes.

É aí que será possível ver se a Bundesliga é mesmo forte ou não.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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A responsabilidade científica do futebol

Já o Sporting tinha sido excluído da Champions League, por duas derrotas descomunais e o Benfica, ainda na fase de grupos, sofrera igual tratamento porque mostrou, sem margem para dúvidas, que se encontrava corroído por uma espécie de cancro de que não se conhece a origem e eis que por causa de um erro do árbitro Lucílio Batista, na final da Taça da Liga, o mundo lisboeta do futebol rompeu em sanhudos debates, sustentando os sportinguistas que o árbitro os “roubara” propositadamente e os benfiquistas que a Taça lhes coube, em clara honradez de processos.

Entretanto, o F.C. Porto assiste do pódio de campeão, piscando um olho discreto e vencedor, à conversa azeda entre os dois principais clubes da capital, que parecem viver em clima de marasmo, derrotismo, de verdadeira confusão mental.

Com efeito, o que é a Taça da Liga? No âmbito europeu muito pouco! No âmbito nacional, é uma prova que serve, à maravilha, para o Sporting e o Benfica esconderem a sua gritante incapacidade à conquista do Nacional de Futebol e para se afirmarem no futebol europeu.

Não ponho em causa as poucas e lúcidas páginas que justificam a Taça da Liga. O que está aí, à vista de toda a gente, é que os principais clubes, ou olham para ela com um olhar lateral e sem interesse, ou fazem o que os actuais Benfica e Sporting (e digo actuais porque já os conheci, quando escreveram páginas imorredoiras, na história do nosso futebol) parecem ser especialistas: legarem à posteridade um retrato onde se surpreendem os tiques e os ridículos de uma macrocefalia que se fez acéfala.

E, no entanto, há no Benfica e no Sporting funcionários e técnicos (incluindo os de saúde) de eloquente competência e honestidade. Uma boa parte deles conheço-os, há largos anos. Alguns muito me ensinaram, quando foram meus alunos. O que se passa então, no futebol sénior destes clubes, que se encontra confuso e envolto em sucessivos falhanços, mascarados por longas disputas e cansativas parlengas?

Há poucos dias, um daqueles técnicos, que não teme cotejo com o que de melhor apresenta, na sua área, o futebol inglês, ou o italiano, ou o espanhol, confessava-me, derramando uma sentida tristeza: “Professor, no campo da avaliação dos índices de fadiga e do controlo de treino e da recuperação física e da prevenção das lesões etc. e até no da observação e análise de jogo, estamos ao nível do que melhor se faz na Europa e por isso lhe pergunto: o que nos falta, no seu entender, para sermos uma equipa vencedora?”. Tinha o rosto carregado de ansiedade e prosseguiu: “Lembro-me, com frequência, do que nos ensinava nas aulas e muitas vezes dou comigo a repetir: é preciso saber mais do que futebol, para se saber de futebol. Professor, estou rodeado de gente que sabe de futebol e a prestação da equipa, que tem jogadores de classe, é um rosário de insucessos”.

Sempre tive receio de falar do que nunca fiz. Se bem que razoavelmente informado, designadamente no que à filosofia das ciências diz respeito, sou um modestíssimo filósofo. No entanto, não posso esconder que levo uma vida de convívio fraterno com treinadores desportivos de excepcional relevo, como o Mário Moniz Pereira, o José Maria Pedroto, o Mário Wilson, o José Mourinho. Leio, atentamente, os livros do Jorge Castelo, um teórico sem par no futebol europeu, do Jorge Araújo, que realiza um incomparável (entre nós) trabalho interdisciplinar desporto-gestão, do José Neto que não se cansa de apontar-me os pontos mais salientes da vasta problemática do futebol. Escuto o que o Jorge Jesus me relata do seu dia-a-dia de treinador perspicaz e diligente. Acompanho, mesmo com entusiasmo, o futebol português e o internacional. Não me escusei, por tudo isto, à resposta que o meu interlocutor me solicitava:

Se todos sabem muito de futebol e a equipa, mesmo com jogadores de grande valia técnica, não é eficiente, a organização, que transforma um conjunto em sistema, não funciona.

Repito: é a organização que une e transforma os elementos em sistema. Mas esta união é mais qualitativa do que quantitativa. Um conjunto de bananas não faz um sistema. O conjunto é sistema, quando é corpo e alma, ou seja, quando o jogador corre e remata e defende e luta… porque acredita! Quando o seu desempenho, a sua atitude ganhadora resultam de uma totalidade que não se desmorona porque objectivos bem nítidos e fundamentados a informam. Um dos mais notáveis biólogos de todos os tempos pode ser ouvido, neste passo: “o que define uma máquina são as relações (…). A organização de uma máquina implica matéria, mas esta matéria não entra enquanto tal na definição de máquina” (Francisco Varela, Autonomie et Connaissance. Essai sur le vivant, Seuil, Paris, 1992, p. 128).

Agora, meu querido amigo, sou eu a perguntar-lhe: todos os jogadores do seu clube acreditam no treinador e naquilo que ele determina ou propõe?… Redarguiu, sem dificuldade: “Nem todos”. E eu muito lépido: assim, as relações estão inquinadas e a máquina funciona mal, inevitavelmente! Os jogadores até podem ser muito profissionais, mas só se é vencedor quando se é mais do que profissional, quando se é, digamos a palavra: crente! Resumindo: quando, sem rejeitá-lo, se ultrapassa o próprio raciocínio lógico e dedutivo.

Na alta competição, o futebolista é, em todos os momentos, interpelado, convocado a dar uma resposta complexa, total às solicitações do jogo e da própria vida. A responsabilidade do futebolista (como do praticante de qualquer outra modalidade, em alta competição) é humana, bem antes de ser futebolística.

“Que hei-de eu fazer, professor?”. E a interrogação ficou a ressoar, expectante, na boca do meu antigo aluno. Respondi-lhe: leia os dois últimos livros de Edgar Morin, publicados pela Editora Piaget. Leia, sem receio, criticamente. O que embrutece não é a falta de instrução, mas a convicção da inferioridade da nossa inteligência. São duas obras de reduzida dimensão e, depois, voltamos a falar. A responsabilidade social do futebol reside aqui: em dizer ao mundo em que vivemos que nada se resolve só com especialistas, com a neutralidade do positivismo, mas com peritos que o são porque também conhecem o todo.

Como bem o mostrou Michel Serres, no seu livro La traduction. Hermes III (Minuit, Paris, pp. 81-83), o perito, à maneira antiga (e há uma praga desta gente, nas altas instâncias do futebol) tem um discurso parcial, limitado, reduzido a uma única problemática. Como se tudo não estivesse em rede com tudo! Ocorre-me o Imbelloni, ao tempo treinador do Braga, a sustentar que no futebol tudo estava inventado. Desconhecia o antigo jogador argentino que, numa compreensão complexa da realidade, a inércia é impossível, dado que tudo é processo, tudo se encontra em devir histórico. No desporto, a competição é tentativa de superação é movimento! E o que é o progresso senão mudança contínua?

As crinas brancas das ondas emergiam à superfície da paisagem em que o nosso olhar se perdia. Almoçávamos tranquilamente, na Costa da Caparica…

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal

Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br

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De faca na Liga

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Empresa-clube

Um dos principais projetos do Corinthians para 2009-2010, de acordo com o vice-presidente de marketing do clube, é a formatação de um grupo de investimentos, composto por 50 corintianos, voltado ao financiamento das operações do seu departamento de futebol.

Em outras palavras, o clube reconheceu sua incapacidade de financiar diretamente suas atividades envolvendo compra e manutenção de bons atletas e irá recorrer ao mercado para, em troca deste aporte financeiro, realizar lucros aos investidores.

O núcleo central da idéia não é inédito. Dentre outras iniciativas, as mais conhecidas e que exaltam os grandes players do mercado incluem a “cesta de atletas” e o acordo com a Traffic Marketing Esportivo, no Palmeiras; o Grupo DIS Sonda, cujos acordos principais têm como parceiros Santos e Internacional. O Botafogo também dispõe de um acordo com uma empresa investidora em seu futebol.

Além da já batida evidência da falta de fôlego financeiro dos clubes como causa deste fenômeno, pode-se abordar algumas conseqüências.  

Costuma-se afirmar que a realidade sempre chega antes do Direito. Nesse caso, na prática, a discussão oriunda da Lei 9615/98 (Lei Pelé) sobre a obrigatoriedade jurídica dos clubes de futebol de se transformarem em empresa resta sobrepujada nos seus antigos argumentos. 

Muitos desses relacionamentos são exemplos de empresa-clube, onde o principal objetivo é revelar jovens jogadores para gerar e distribuir lucros – em especial, para as empresas.

Muito embora os clubes, pela sua natureza jurídica, não possam perseguir o lucro em suas operações, parte dele – em geral, minoritária – voltará aos seus cofres, após vultosas transferências de jogadores. 

Por outro lado, aspectos positivos emergem desta realidade, que pode ser transitória para os clubes rumo a um patamar mais estruturado e planejado em termos de gestão e suposta auto-suficiência de recursos.

O relacionamento com a iniciativa privada cobra, ainda que colateralmente, a adoção de melhores práticas de gestão e respeito aos contratos.

Esses acordos podem servir de aprendizado para os clubes no relacionamento comercial, privado, de um mercado que não tolera rompimentos injustificados e repentinos.

Bem ao contrário do histórico de calotes, viradas de mesa em campeonatos, perdões de dívidas e complacência do poder público com os clubes, os “mercados” do futebol também não costumam perdoar desatinos administrativos.

Se o ambiente de negócios num clube não é favorável, profissional e transparente, o investimento migrará para outro.

Nesses casos, investidores privados mexendo no bolso dos clubes podem impulsionar sua profissionalização.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Sports Technology Journal: periódico especializado em tecnologia esportiva

Olá, amigos.

Hoje abro espaço para divulgar um importante periódico em consolidação, especializado em tecnologia no esporte. Lançado no ano passado, de atuação global, com centros editoriais e comercias nas Américas, Europa, Ásia e Oceania, o Sports Technology Journal traz em sua proposta o estreitamento de relações entre os profissionais do esporte com o objeto tecnológico, por meio da aproximação da pesquisa cientifica com as inovações da indústria esportiva.

A seguir, os tópicos que o periódico sugere:

·         Design esportivo e inovações estratégicas
·         Desenvolvimento de produtos esportivos
·         Tecnologia esportiva e o homem
·         Tecnologia esportiva e sustentabilidade
·         Ciências do esporte e engenharia
·         Modelos esportivos e simulação
·         Medidas e mensurações no esporte
·          Análise de desempenho esportivo
·         Lesões esportivas e estratégias de prevenção
·         Aerodinâmica esportiva
·         Biomecânica esportiva
·         Biometria esportiva
·         Bioinformática esportiva
·         Material e processos esportivos
·         Equipamentos esportivos, padrões e normas de segurança
·         Arquitetura de estádios
·         Tecnologia para esportes adaptado
·         Sistemas de gerenciamento esportivo
·         Legislação esportiva relacionada à tecnologia
·         Pesquisas em tecnologia esportiva aplicadas na educação
·         Cases da indústria esportiva

Muitos tópicos ainda podem derivar desses sugeridos, mas o importante é ressaltar o surgimento de um espaço
destinado à divulgação e discussão, em padrões científicos, das tendências e inovações neste segmento.

Até o presente momento, foram divulgados 40 artigos, e para nós, que defendemos a inserção e ambientação do futebol no universo tecnológico, apenas dois tiveram relação com nossa adorada modalidade. Ambos sobre absorção do impacto da grama, vinculado à política de segurança da Fifa.

Pouco, é verdade! Mas está aberto o espaço. A exemplo de outras tantas modalidades que lá aparecem sendo discutidas e testadas do ponto de vista das inovações tecnológicas, como o snowboard, o beisebol, o golfe, o alpinismo, entre tantas outras, servem de estímulos para que possamos, cada vez mais, procurar por  possibilidades aplicadas ao futebol.

O surgimento desse veiculo corrobora com aquilo que estamos discutindo recentemente sobre a necessidade de desenvolver as habilidades e competências do profissional do esporte frente aos novos recursos tecnológicos. 

Com certeza uma gama de assuntos presentes em alguns desses artigos não serão fáceis de compreender e, em muitos casos, nem será necessário o profissional aprender o processo de desenvolvimento e quais materiais, equações e processos foram utilizados em determinada tecnologia. Mas, sem dúvida, estar atento às mudanças, às inovações, e, sobretudo, aos quesitos resultados e impactos que possam ter no desempenho da equipe ou dos jogadores é primordial para que se mantenha a atualização tecnológica.

No próximo texto da série sobre Teoria da Tecnologia Esportiva, exploraremos um pouco das capacidades e habilidades do profissional para que consiga realizar essa atualização tecnológica.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Interditemos a Conmebol

A solução parece ser uma só. Interditar a Confederação Sul-Americana de Futebol, ou como eles mesmos gostam de ser chamados, a Conmebol. Entidade máxima do futebol da América do Sul, a Conmebol pode, sem qualquer dúvida, ser chamada de cérebro mínimo da gestão esportiva na América do Sul. 

Pelo menos no futebol.

A lambança que foi feita pela entidade na condução do processo envolvendo os jogos de times mexicanos nas oitavas-de-final da Libertadores é daquelas de fazer corar qualquer criança que um dia já quis organizar um campeonato de futebol de botão em casa.

Indefinição, insegurança, conflito de interesses, falta de pulso, falta de tato, falta de responsabilidade.

Uma lista interminável de erros e trapalhadas que acabaram deixando o principal campeonato de futebol das Américas mais mal organizado do que muito jogo de várzea por aí (o que, em se tratando de futebol na América do Sul, não é nenhuma grande novidade).

Chivas e San Luís não poderiam ter continuado na disputa da Libertadores. Infelizmente, por conta de uma epidemia de um vírus da gripe que pode até matar, não poderia. 

Todo ano acontece isso? Não.

Esses times seriam prejudicados? Sim.

A culpa é da Conmebol ou dos clubes? Não.

Infelizmente, era a decisão a se tomar. Automaticamente, os clubes que tinham ficado em terceiro lugar nas chaves dos dois times mexicanos se classificariam em seus lugares. E, no ano que vem, Chivas e San Luís estariam assegurados na disputa da Libertadores, que excepcionalmente teria duas equipes a mais em 2010.

Em 2003, a Fifa viu-se em dilema parecido, com o vírus do Sars a castigar especialmente a Ásia. Isso era o início do ano. Em setembro, a Copa do Mundo de futebol feminino seria jogada na China. A sete meses do evento, a Fifa mudou a sede do torneio para os Estados Unidos, postergando a sede chinesa para 2007.

É o mesmo caso. E com dimensões mais complexas, já que envolve Copa do Mundo e zilhões de dólares em contratos comerciais e venda de direitos de transmissão. 

O bom gestor precisa tomar sérias decisões. Mesmo que desagrade a muitos. Por isso mesmo, as entidades esportivas não podem ter, em seus tomadores de decisões, pessoas meramente políticas, como é o caso de Nícolas Leoz, há mais de duas décadas politicamente no comando da Conmebol…

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Chelsea vs Barcelona, o segundo confronto: a beleza do jogo, a ingenuidade de Nuno Amieiro e a minha

O futebol é arte e ciência. Uma arte que, abstrata, é bela de maneira diferente a cada olhar que a penetra. Uma ciência que não é exata, porque nem toda ciência é exata – e nem por isso deixa de ser ciência.

Como diria o professor Alcides Scaglia (aqui espero não ser traído pela minha memória para poder ser exato e fiel a sua fala) para apreciar o futebol de hoje não podemos observá-lo com os mesmos olhos e pressupostos de ontem; para entender sua beleza precisamos avançar a novos paradigmas.

Olhar o jogo de futebol como fenômeno complexo não é trivial. Insistentemente, grandes partidas e circunstâncias do jogo são analisadas sob a perspectiva dos óculos do ontem, que contribuem muito pouco para o entendimento da complexidade do jogo do hoje.

Para avançar a essa discussão e compartilhar um pensamento, aqui nesse ponto, passarei a falar do segundo jogo entre as equipes do Chelsea FC e do FC Barcelona, válido por uma das semi-finais da Uefa Champions League 08/09 (dando sequência então a uma idéia que iniciei no texto anterior a esse).

Antes, lembro que a primeira partida entre as duas equipes (na Espanha – e que terminou em zero a zero) foi motivo para diversas ondas de comentários. Algumas criticando o comportamento tático da equipe inglesa, desenhando-o como covarde, feio, o anti-futebol.

Jorge Valdano expôs o seguinte no jornal “A Bola” (de 2 de maio):

Foi surpreendente a quantidade de opiniões favoráveis que teve a estratégia do Chelsea: com perseguições individuais, centrocampistas de grandíssimo nível que não pisaram a área contrária, interrupções frequentes para interromper o ritmo do Barcelona… O negócio saiu-lhes redondo porque encontraram o 0-0 que procuravam. Só por isso, para certa crítica, já obtiveram a patente de equipa inteligente. O que me parece incrível é a pouca generosidade que temos para com as equipas que assumem o risco, o jogo, futebol grande. Só ganham o elogio quando ganham o jogo. Ao invés, os espectadores aplaudem os empates ainda que seja à custa de varrer o espetáculo“.

O futebol é surpreendente e ainda que possa passar despercebido, talvez seja esse o aspecto do jogo que faça brotar nas pessoas, dos apaixonados aos especialistas, discursos em diferentes direções ao se referirem a um mesmo jogo.

Além do abismo sempre presente entre a interpretação de uma partida de futebol aos óculos dos especialistas comparada aos óculos do senso comum, há ainda uma inadvertida distância (muitas vezes tão grande quanto a anterior) entre o que passa pelas lentes daqueles que observam o jogo e descarregam seus argumentos amparados pelo discurso científico.

Mesmo pautadas na complexidade do jogo, muitas observações acabam por, sem perceber, promover análises simplificadas de fenômenos “não-simples“, em uma dimensão que, por não ser compreendida por alguns nichos, se mascara como uma visão complexa (pseudo-complexa!) do jogo.

Ainda sobre o primeiro jogo entre o FC Barcelona e o FC Chelsea, Nuno Amieiro (um dos autores do livro “Porque tantas vitórias – sobre o trabalho de José Mourinho”) faz as seguintes colocações em seu blog:

Para mim, o lado táctico tem a ver com o jogo todo e, nessa medida, o primeiro elogio a ser feito teria de ser dirigido à equipa de Guardiola. Para mim, falar de táctica é falar de intenções e de interações e, neste sentido, o jogar do Barça mostrou (e tem vindo a mostrar, por vezes de forma excepcional) maior riqueza e complexidade táctica. Foi, por isso, aos meus olhos, muito mais táctico do que o do Chelsea. Basta ver o modo como a equipa responde, perto e longe da bola, à progressão com bola de Piqué pelo corredor central. Ou o modo como ocupa o espaço a atacar e faz a bola circular. Ou o modo como «acampa» no último terço e mete a bola a correr, rente à relva, na procura do espaço e do momento certo para tentar finalizar. Ou o modo como recusa cair na tentação do pontapé longo ou do cruzamento cego para dentro do «aquário». Ou o modo como responde à perda da posse de bola e, desse modo, poucas vezes é obrigado a «desmontar as tendas». Tudo isto revela critérios. Tudo isto é construção (táctica) do treinador.

Por isso, sim. Também acho que o Barcelona-Chelsea foi um jogo muito táctico. Mas, sobretudo, pelo que nos mostrou o Barça. Sabem como jogou? Então sabem do que falo, sabem o que é a Táctica para mim. Ela é o fio invisível que faz emergir aquilo que reconhecemos como traços marcantes do jogar de uma equipa“. 

A riqueza de um jogo está na interação complexa entre as referências que tornam o jogar resposta eficaz para o cumprimento da lógica do jogo. 

Ainda que algumas vezes, em aparência, treinadores e equipes adotem estratégias para cumprir objetivos intermediários, que estão menos próximos da lógica do jogo e mais íntimos de evitar o seu cumprimento por parte do adversário, não podemos perder de vista jamais que a busca de uma equipe é pelo jogar bem, e que isso não garante necessariamente a vitória.

É claro que a falta de clareza sobre o cumprimento da lógica do jogo leva jogadores e equipes ao “jogar bem estratégico” e não a um “jogar bem superior”, em que os méritos pelo desempenho estão no alcançar metas menores dentro do jogo e não no cumprimento de sua lógica.

Pois bem. Cheguemos ao segundo jogo entre as equipes do Chelsea FC e do FC Barcelona, agora na Inglaterra.

A equipe Londrina controlou boa parte do jogo (como no primeiro jogo, ainda que divirjam alguns especialistas). Um controle sem bola que deu permissão ao FC Barcelona ter um comportamento típico, mas em regiões não típicas ao seu “habitue” no campo de jogo. Em outras palavras a equipe espanhola manteve a posse de bola, circulando-a de uma lado ao outro, mas sem se aproximar de seu “alvo” ofensivo.

O Chelsea por sua vez apostou em transições ofensivas rápidas, com jogo vertical alongado, abrindo mão da posse da bola. Mas, diferente do jogo anterior a equipe inglesa teve mais êxito na progressão em direção ao campo ofensivo nas jogadas agudas de contra-ataque (especialmente por ter conseguido recuperar mais bolas em regiões mais adiantadas do que no primeiro jogo e por ter atacado efetivamente com um número maior de jogadores).

 

Vejamos alguns números do jogo:

Os padrões se aproximam bastante dos do primeiro jogo, em Barcelona. As mudanças de uma partida para outra estão principalmente nas referências de ocupação de espaço (bem como sua estruturação) utilizadas especialmente pela equipe do Chelsea FC, e pela mudança de comportamento operacional da equipe espanhola – contrária a seu comportamento habitual – nos minutos finais do jogo (e que ainda que para muitos tenha ganhado toques de “estratégia de desespero”, “ausência de tática” ou “coração na ponta da chuteira”, foi para esse que vos escreve mudança tática que deveria ter ocorrido desde os primeiros minutos de jogo).

Outra mudança com relação ao primeiro jogo é que as alterações estratégico-operacionais proporcionaram um maior número de finalizações por parte da equipe do Chelsea FC quando comparadas ao jogo na Espanha, com grande parte delas ocorrendo dentro da área penal (grande área) – ao contrário da equipe do FC Barcelona que teve nesse segundo confronto a maioria das finalizações fora da área penal.

Vejamos no campograma que se segue, as regiões das finalizações:

Certamente, muitas pessoas (dos especialistas ao senso comum) dirão que houve “justiça” no resultado do jogo, afinal, classificou-se para a final da Uefa Champions League 08/09 a melhor equipe; aquela que melhor jogou futebol nos dois confrontos da semi-finais.

Eu prefiro dizer mais uma vez, que a equipe do FC Chelsea foi a equipe que controlou melhor os dois jogos. Não venceu porque controlar não significa dominar, nem influenciar, e, portanto, não garante vitória. Insisto, devemos tomar cuidado para não adequarmos teorias e construtos científicos à conveniência dos nossos argumentos quando deveríamos, ao contrário, apoiarmos nossos argumentos aos construtos e teorias científicas.

O que sei ao certo, é que não existem verdades absolutas, e buscá-las pode ser um caminho, mas jamais um desfecho. Então, prefiro ver a beleza do jogo não com os óculos do passado, mas com aqueles que me permitam apreciá-lo, avançando a paradigmas que insistem em permanecer fincados nesse mesmo caminho; porque o presente não foi ontem.

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Conclusões

Existem duas conclusões possíveis de extrair da final da Champions League entre Manchester United e Barcelona.

A primeira é que clubes de ponta que trabalham com a base começam a apresentar resultados mais concretos. Os dois clubes finalistas são, possivelmente, as principais forças do mundo a aliar formação com aquisição. Boa parte do time dos dois clubes é proveniente das suas respectivas academias, o que mostra a consolidação de um modelo de formação que pode atrapalhar o principal canal de receita dos clubes brasileiros. 

A partir do momento em que clubes acreditam que podem formar bons atletas internamente, eles passam a (1) evitar comprar jogadores já formados e, portanto, encarecidos e (2) comprar jogadores mais jovens, logo, mais baratos. 

Esse tipo de manifestação restringe parte do mercado de maneira geral, mas certamente abre outras frentes. É uma tendência que está um pouco longe ainda de criar maiores efeitos no mercado de forma geral, porém pode ser o início de alguma coisa.

A segunda conclusão é que o juiz foi grosseiro, o que sugere que (1) o nível da arbitragem européia também não é dos melhores ou que (2) há uma preocupação da Uefa em evitar uma segunda final seguida com os mesmos clubes do mesmo país, em especial da Inglaterra, que é o único país com uma liga em condições de rivalizar mercadologicamente com a confederação continental.

As duas conclusões, o fortalecimento do trabalho de base e a grosseria do juiz norueguês, são fatos. O que as motiva e os seus efeitos são especulações que podem gerar algum efeito posterior.

O que exatamente, eu não sei. Não cheguei a nenhuma conclusão sobre isso.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Bastidores do poder

O São Paulo FC é o “top of mind” entre os clubes do futebol brasileiro quando se fala de gestão profissional.

O clube, em seu histórico de administração, em especial a partir da construção do estádio do Morumbi, primou pela formação de seus quadros administrativos com profissionais gabaritados para conduzir o seu dia-a-dia.

Entretanto, nem só de profissionalismo vive um clube. Ele também vive de política, ao longo dos mandatos exercidos por seus associados eleitos e, principalmente, às vésperas dos pleitos que renovam ou mantém o poder.

Sabiamente, ao que tudo indica, o clube sempre blindou esse tema e não deixou que as discussões internas atingissem as notícias. Até 2004.

Numa discussão já em âmbito jurídico, situação e oposição debatem a validade do estatuto do clube em vigor. 

A situação se baseia no artigo 217 da Constituição Federal, que prevê autonomia administrativa para as associações em sua organização e funcionamento e respalda mudanças em seu teor sem a necessidade da concordância da Assembléia Geral dos sócios. 

A oposição invoca o Código Civil, cujo teor dispõe de soberania à Assembléia Geral dos associados do clube em casos de alterações no estatuto, inclusive no que tange a duração do mandato – núcleo central da briga.

Enquanto a briga não se resolve no STJ e STF, situação e oposição articulam compor os interesses, ainda que momentaneamente, para evitar prejuízos à instituição.

Esperneios jurídicos à parte, vê-se que a política e os processos eleitorais sempre são assuntos delicados para os clubes de futebol, e no mais das vezes, condicionam ou são condicionados pela gestão profissional. Dependerá do clube e de suas circunstâncias…  

Fatos como esse costumam ser positivos para a evolução das instituições. Ainda que por vias traumáticas, a política e a gestão podem sofrer processos de depuração rumo à maturidade.

Pude vivenciar de perto um grande exemplo dessa maturidade. Em 2006, em viagem de negócios a Madrid, bem no meio da corrida eleitoral do Real Madrid. Havia quatro chapas, com quatro comitês com infra-estrutura e localização de dar inveja aos maiores partidos políticos brasileiros, disputando a eleição num período que durou três meses. Não houve negociatas, acordos ou coligações de bastidores. Ao final, venceu a chapa de Ramón Calderón por uma diferença de 268 votos para um dos concorrentes.

Informação importante: todo candidato a presidente do Real Madrid deve apresentar, dentre outros requisitos, idade mínima de 40 anos e um aval bancário de 15% sobre o orçamento anual do clube. Nas eleições recentes de 2009, isso correspondia a 52 milhões de euros. Prova irrefutável que demonstra que o sócio do clube não está interessado em ganhar dinheiro da instituição, mas dedicar sua experiência profissional e política para a sua administração.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Teoria da Tecnologia Esportiva III: processo digestivo do impacto tecnológico

Dissemos, em outra ocasião, que tecnologia deve ser compreendida não como sinônimo de perfeição, e sim, de otimização, de aperfeiçoamento e melhoria para atingir os objetivos de forma mais eficaz. E requer uma “intimidade” com os recursos até a transição necessária para a intervenção prática.

Essa familiarização é parte do investimento pessoal que o profissional pode fazer no desenvolvimento de suas habilidades e competências nesse setor. Aliás é imprescindível que seja investido tempo nesse processo. Afinal, a chegada de novas perspectivas interfere nos valores e paradigmas que estamos habituados e quase sempre gera incomodo.

Lima (2000, pág. 12) traz algumas frases famosas sobre a chegada de novos recursos ou ainda de momentos nos quais se fazia uma leitura inicial sobre um novo impacto tecnológico. Eis algumas:

“Pessoas bem informadas sabem que é totalmente impossível transmitir vozes através de um fio, e mesmo que isso fosse possível, esse tipo de ação não teria nenhum valor prático”.
Editorial do Boston Post (1895)

“Eu penso que o mercado mundial só tenha condições de absorver cinco computadores”.
Thomas Watson, presidente da IBM (1943)

“Computadores, no futuro, talvez cheguem a pesar não mais do que uma tonelada e não menos do que meia”.
Popular Mechanics – Forecasting the Relentless March of Sciencie (1949)

“Não existe nenhuma razão prática para que as pessoas desejem ter um computador em suas casas”.
Ken Olson, presidente fundador da Digital Equipment Corporation (1977)

O autor comenta a seguir que dadas situações não devem ser encaradas como falta de competência ou visão por parte dessas pessoas, apenas uma percepção baseada nos paradigmas daquele momento.

“Estas pessoas, que tinham experiência e conhecimento em seus segmentos de atuação. Faziam afirmações como estas, não porque estivessem desinformadas ou porque tivesse algum tipo de preconceito relativo à tecnologia. Muito provavelmente suas afirmações fossem fruto do que denomino ‘processo digestivo do impacto tecnológico'”. (LIMA, 2000, pág. 13)

Esse processo digestivo do impacto tecnológico proposto pelo autor é, sem dúvida, um dos fatores preponderantes para que o profissional desenvolva a sua atualização profissional, pois, sem o planejamento prévio para absorver e compreender as novas relações de produção e interação com o mundo tecnológico, seria muito complicado para desenvolver, a partir disso, a sua intervenção.

Ainda existem outros elementos pertinentes à atualização profissional, os quais configuram-se como pré requisitos para  o desenvolvimento  das capacidades e habilidades. Afinal, assim como em outras disciplinas deve-se compreender e aprender a lidar com os recursos tecnológicos, suas contribuições e limitações na prática do futebol.

Daremos seqüência no próximo texto com mais algumas competências tecnológicas do profissional do futebol tendo como “pano de fundo”, a idéia que já havíamos apresentado no texto do dia 9 de dezembro de 2008, intitulado “Atualização tecnológica: mão dupla”.

“A atualização tecnológica depende muito do profissional, deve ser uma busca constante daquele que pretende se diferenciar no mercado, mas também, devemos cobrar e alertar as entidades envolvidas de que elas precisam criar mecanismos de capacitação dos profissionais para lidar com os avanços que hoje a ciência e a tecnologia trazem para o esporte”.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br