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Roleta I

A janela de transferências fechou. Uma das janelas mais sem-graça dos últimos anos, como já tinha sido adiantado a você aqui nesse espaço. Também tinha sido dito que quem movimentaria a janela seria o Real Madrid e o Manchester City, que foi o que acabou acontecendo. Não tinha previsto o Barça nem a Inter de Milão, que se mexeram um pouco, assim como a Juventus. O Lyon também fez uma ou outra coisa, mas nada de muito espetacular. Nada de última hora. Nada muito revolucionário.

Sobra, é claro, pro Brasil. A saída de jogadores no meio da temporada foi minguada, tirando o Cruzeiro, que já é tradicionalmente um dos clubes que mais vende jogador no país. Outro clube que tradicionalmente vende é o Atlético-PR, que, nesse ano, ficou a ver navios. O São Paulo, a mesma coisa.

O Brasil é um mercado exportador nos mais diversos setores. Ele produz muito, mas não há atratividade no consumo interno. Portanto, ele exporta. No futebol é igual, como você já bem sabe. O mercado interno é fraco e a produção de jogadores é alta, daí a naturalidade da exportação. Não exportar pode ser um risco. As consequências podem ser graves.

Vamos antes, porém, às possíveis causas da baixa movimentação da janela.

A primeira, e mais óbvia, é a grave crise financeira européia, que impede que bancos emprestem dinheiro para operações tão arriscadas como a aquisição de um jogador de futebol. Isso não se aplica, é claro, em casos que ou o dono tem muito patrimônio pessoal para dar de garantia ou o clube é intimamente ligado ao poder público e futebolístico. Os dois casos se aplicam ao Real Madrid, daí a razão pela qual o clube conseguiu pagar tão caro nas contratações. Mas a maioria dos clubes não possui esse poder, portanto, o mercado esfria. O efeito cascata das contratações do Real Madrid e o Manchester City também não foi muito forte porque alguns clubes preferiram fazer planos de contingência com a receita, que é o evidente caso do Arsenal, que ganhou uma bolada com o Adebayor e o Touré, mas achou melhor segurar o dinheiro. Uma atitude sábia de um clube que tem como técnico um cara que tem mestrado em economia.

A segunda razão pela qual poucos jogadores saíram do Brasil no meio desse ano pode ser a melhora da situação do país. O fortalecimento do Real em relação às moedas estrangeiras diminui a atratividade de clubes de fora, principalmente, porque o grosso das transferências é feito para times médios ou pequenos, que não podem arcar com salários líquidos mais altos. Os altos impostos aplicados em países como Bélgica e França reduzem significativamente a receita do atleta e diminuem o incentivo de mudar de clube.

A terceira razão pode ser uma descrença no modelo de negociação envolvendo jogadores de ponta no Brasil. Pelo menos quatro jogadores saíram daqui com valores europeus, digamos assim. Foram eles: Denílson, Robinho, Pato e Breno. Tirando o Pato, que pelo menos é titular, nenhum dos outros três justificou, por enquanto, o valor da contratação. O Denílson não tem mais chance. O Robinho tem alguma. O Breno ainda tem tempo. Mas mostra o risco. Além do mais, os grandes jogadores brasileiros em destaque hoje na Europa surgiram pela porta de trás. O melhor brasileiro na Inglaterra é o Denílson, não o supracitado, que já foi inclusive chamado de ‘o meio-campista perfeito’ pelo jornal The Guardian. Denílson chegou ao Arsenal novo e quase de graça. Na França, o destaque é o Michel Bastos, que saiu do Figueira sem que ninguém desse muita bola e passou um bom tempo no Lille até chegar ao Lyon. Situação semelhante ao Grafite, na Alemanha. Na Espanha, o destaque é o Kaká, que você conhece muito bem. Assim como conhece o Diego, grande destaque brasileiro na Itália, que demorou certo tempo até conseguir encaixar no futebol europeu. Tirando o Kaká, que já era destaque antes, todos os outros jogadores precisaram fazer pelo menos uma ponte para conseguir destaque. O que certamente implica em grandes clubes europeus ficando avessos ao risco e evitando fazer compras direto da fábrica, o que joga os valores das negociações para um patamar inferior.

A quarta razão: pode ser que o mercado brasileiro sentiu o impacto da entrada dos grupos de investidores como Traffic e Dis. Com esses grupos, a negociação sai da mão do clube e passa para a mão do investidor, que tende a estabelecer patamares maiores de valor, uma vez que ele já fez uma aplicação anterior. Digamos que um jogador X valesse, para o clube formador, cinco milhões de euros. O investidor Y chega no clube e adquire 60% do jogador X por 2,5 milhões de euros. O clube concorda, porque além de receber o dinheiro imediatamente, consegue manter o jogador no clube por mais um tempo, apesar do preço ser um pouco desvalorizado. Só que o clube também imagina que o jogador X que antes valia cinco milhões, na mão do investidor passa a valer pelo menos oito milhões, uma vez que o investidor tem maior poder de barganha financeira na hora da negociação com o clube de fora. E com 40% de oito milhões, o clube ganhará 3,2 milhões de euros, que somados aos 2,5 milhões de euros já recebidos, totalizam 14% a mais do que o clube estimava pelo jogador. E o investidor Y, nessa mesma brincadeira, ganha 2,3 milhões de euros, quase 100% do valor que tinha sido investido inicialmente. Seria uma matemática perfeita em que o clube e o investidor ganham, mas apenas aplicável se o mercado de fora realmente estivesse disposto a pagar os oito milhões de euros pelo jogador. O que não parece ser o caso.

A inflação do preço por conta da entrada de investidores e da melhora da situação financeira do país, aliadas à possível diminuição da demanda por conta da crise econômica e da perda de atratividade de jogadores brasileiros provenientes diretamente do país de origem, acabam travando as negociações.

Essas razões são, pelo menos, algumas das causas para o enfraquecimento da janela. E as consequências desse enfraquecimento são graves. Por isso que essa coluna terá duas partes. Semana que vem eu tentarei analisar essas consequências. A princípio, a análise não é nada otimista.

Até lá, sinta-se livre para enviar a sua análise sobre as causas, caso ela seja diferente daquelas aqui expostas. E pode enviar também a sua análise sobre as consequências da janela para o futebol brasileiro. Eu certamente não sei sobre todas elas.

E espero que a próxima coluna consiga dar pelo menos um sentido ao título escolhido.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Janela de transferências

Você já ouviu falar em Peter Kenyon?

Durante muitos anos, ele foi CEO do Manchester United. Roman Abramovich, o magnata russo que bancou o posicionamento do Chelsea no mercado da bola, o contratou a peso de ouro para comandar os rumos estratégicos do clube.

Rodrigo Caetano foi o responsável pelas categorias de base do Grêmio por um largo período, antes de se tornar diretor de futebol do clube. Realizou um excelente trabalho em ambas as áreas, até que se transferiu para o Vasco.

Professor Marquinhos, treinador do sub-20 do Atlético-PR, vice-campeão da Copa São Paulo de Juniores 2009 vinha desempenhando elogiado trabalho no clube e, adivinhe, agora trabalha para o maior rival, o Coritiba.

Felipe Ximenes foi o coordenador das categorias de base do Fluminense no CT de Xerém. O trabalho conduzido por ele revelou talentos do quilate de Arouca (São Paulo) e Thiago Silva (Milan), além dos gêmeos Fábio e Rafael (Manchester United). Hoje em dia, Felipe é gerente de futebol do Coritiba.

Ricardo Drubscky ocupou o posto de diretor de base do Cruzeiro, além de exercer funções semelhantes nos rivais Atlético-MG e América. Foi contratado pelo Atlético-PR, em 2008, para ser o coordenador da formação dos jovens jogadores.

Muito provavelmente, você não ouviu falar em nenhum desses profissionais – exceto se você for torcedor de algum dos clubes citados. Talvez o PVC saiba. Mas acho difícil que acompanhe esta coluna.

Os exemplos citados servem para evidenciar que existe um mercado de “transferências” de profissionais de um clube para outro, não exclusivo aos jogadores.

Entretanto, ainda é um fenômeno muito tímido e, praticamente, limitado aos departamentos de futebol dos clubes. Não se vê o mesmo acontecer com departamentos de marketing, medicina, financeiro, ou executivo, pois esse nicho ainda não está preparado para abrigar e, conseqüentemente, proporcionar a movimentação dos profissionais de um clube a outro.

E por que isso ocorre? Porque os clubes, em sua maioria, não abrem espaço para novos profissionais em sua hierarquia, capacitados para exercer funções executivas. Essas posições, normalmente, são políticas, não técnicas.

Isso dificulta o aperfeiçoamento e desenvolvimento do mercado de trabalho no futebol, pois não se abrem oportunidades como se deveria. De nada adiantará a proliferação de cursos de graduação e pós-graduação esportiva se o mercado não absorver, minimamente, as pessoas que se dedicam a fazer do esporte sua profissão.

Triste realidade. Mas, se o futebol seguir copiando os exemplos do Senado – e/ou o Senado copiar os exemplos do futebol – ao se contratar o namorado da neta do presidente para acomodar interesses pessoais, ambos (o Brasil e o futebol brasileiro), farão referência a um futuro distante, que jamais chegará, pois o presente já está comprometido na raiz.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O primeiro turno do Brasileirão-09: por enquanto só números…

Olá pessoal.

Hoje, aproveito para deixar algumas informações no ar e, conforme venho dizendo, o dado só transforma-se  em informação depois de alguém interpretá-lo.

Para tanto vou apresentar alguns dados hoje e por questões de espaço e tempo de reflexão debateremos na próxima semana. Aguardo seus comentários, combinado?

As tabelas são baseadas nos dados da ScoutOnline, apresentados aqui apenas em sua dimensão numérica. Com certeza a inserção das dimensões espacial, temporal, sequencial e situacional do scout, acrescentariam muitas possibilidades, mas vamos por partes, ok?

Os dados referem-se ao primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2009 da série A, e estão apresentados em média por jogo, daquilo que cada equipe realizou nesse período analisado.

Vamos lá:

Em azul, as equipes que se situam acima da média geral do campeonato, em vermelho as equipes que estão abaixo dessa média. No inicio de cada tabela, em fundo verde apresenta-se a média da competição.

Dados sobre distribuição e circulação de bola

Dados sobre finalização

Dados sobre desarmes, reposição, e faltas

E aí, o que é possível e impossível dizer?

Importante extrapolarmos o discurso comum de que números simplesmente não trazem informações. Mas sim, que possamos, a partir deles, criarmos mecanismos de especulação. Na próxima semana definiremos o que é esse tal mecanismo.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br