Minha mãe, até bem pouco tempo, ajudava um hospital-referência no tratamento do câncer, em São Paulo, com contribuições mensais de R$ 20,00 – não lembro se cobradas junto à conta telefônica ou com débito bancário autorizado. Até o dia em que a razão sobrepujou a emoção e a beneficência, ainda que minha mãe desejasse o contrário.
Um telefonema repentino, vindo do respectivo serviço de busca de doações para o hospital, comunicou a ela que seu valor mínimo cobrado sofreria aumento de 20% devido à queda do número global de doadores do programa social.
Por ato intuitivo e natural, no mesmo dia, minha mãe parou de doar sequer os R$ 20,00 e muito menos aceitou o aumento. E se sentiu ofendida nos anseios em ajudar o próximo.
A diretoria do Atlético-PR resolveu, também repentinamente, comunicar aos seus mais de 25.000 sócio-torcedores um aumento de 40% nas mensalidades pagas ao clube.
Obviamente, a medida provocou discussões entre clube e associados. Claro, pois, a não ser que você seja jogador de futebol, técnico, celebridade, ou trabalhe no Senado Federal, ninguém tem rendimentos reajustados nesse patamar de 40% para bancar seus gastos – muito menos com lazer e entretenimento, onde deve ser incluído nosso futebol.
O clube poderia tentar compensar o alegado desequilíbrio financeiro criando outras fontes de receita, e não testando a elasticidade da demanda pelos pacotes ao ponto de ruptura. Muito arriscado.
Apenas para levantar um exemplo possível: aumentar a gama de produtos licenciados, comercializando-os pela internet dentro do conceito defendido no livro “A Cauda Longa”, de Chris Anderson.
Esse conceito prega que, num ambiente de comércio virtual, os custos de manutenção dos negócios para vender produtos de grande procura são equivalentes aos empregados para comercializar uma série enorme de produtos destinados a nichos específicos de consumidores. A cauda longa tende ao infinito em termos de leque de produtos.
Em outras palavras, para o clube, vender em sua loja virtual camisas oficiais ou canecas licenciadas não significa muita diferença em termos de estoques e custos operacionais.
A história sempre me ensinou, nos bancos da escola, que os monarcas que aumentavam tributos, ao invés de aumentarem o número de pessoas que os recolhessem eram impopulares e capitulavam cedo ou tarde – por pressão do povo ou articulação dos adversários políticos, ou a soma dos dois fatores.
Diz a lenda e se lhe atribui a frase à Maria Antonieta, esposa de Luis XVI, rei da França, às vésperas da Revolução Francesa: “Se o povo está com fome e não tem pão, que coma brioche”.
Nesse caso, “se não querem ir ao estádio e pagar os 40% de aumento nas mensalidades, que fiquem em casa assistindo pela TV no pay-per-view”.
Para ambos os franceses, o resultado foi a guilhotina.