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Medidas impopulares

Minha mãe, até bem pouco tempo, ajudava um hospital-referência no tratamento do câncer, em São Paulo, com contribuições mensais de R$ 20,00 – não lembro se cobradas junto à conta telefônica ou com débito bancário autorizado. Até o dia em que a razão sobrepujou a emoção e a beneficência, ainda que minha mãe desejasse o contrário.

Um telefonema repentino, vindo do respectivo serviço de busca de doações para o hospital, comunicou a ela que seu valor mínimo cobrado sofreria aumento de 20% devido à queda do número global de doadores do programa social.

Por ato intuitivo e natural, no mesmo dia, minha mãe parou de doar sequer os R$ 20,00 e muito menos aceitou o aumento. E se sentiu ofendida nos anseios em ajudar o próximo.

A diretoria do Atlético-PR  resolveu, também repentinamente, comunicar aos seus mais de 25.000 sócio-torcedores um aumento de 40% nas mensalidades pagas ao clube.

Obviamente, a medida provocou discussões entre clube e associados. Claro, pois, a não ser que você seja jogador de futebol, técnico, celebridade, ou trabalhe no Senado Federal, ninguém tem rendimentos reajustados nesse patamar de 40% para bancar seus gastos – muito menos com lazer e entretenimento, onde deve ser incluído nosso futebol.

O clube poderia tentar compensar o alegado desequilíbrio financeiro criando outras fontes de receita, e não testando a elasticidade da demanda pelos pacotes ao ponto de ruptura. Muito arriscado.

Apenas para levantar um exemplo possível: aumentar a gama de produtos licenciados, comercializando-os pela internet dentro do conceito defendido no livro “A Cauda Longa”, de Chris Anderson.

Esse conceito prega que, num ambiente de comércio virtual, os custos de manutenção dos negócios para vender produtos de grande procura são equivalentes aos empregados para comercializar uma série enorme de produtos destinados a nichos específicos de consumidores. A cauda longa tende ao infinito em termos de leque de produtos.

Em outras palavras, para o clube, vender em sua loja virtual camisas oficiais ou canecas licenciadas não significa muita diferença em termos de estoques e custos operacionais.

A história sempre me ensinou, nos bancos da escola, que os monarcas que aumentavam tributos, ao invés de aumentarem o número de pessoas que os recolhessem eram impopulares e capitulavam cedo ou tarde – por pressão do povo ou articulação dos adversários políticos, ou a soma dos dois fatores.

Diz a lenda e se lhe atribui a frase à Maria Antonieta, esposa de Luis XVI, rei da França, às vésperas da Revolução Francesa: “Se o povo está com fome e não tem pão, que coma brioche”.

Nesse caso, “se não querem ir ao estádio e pagar os 40% de aumento nas mensalidades, que fiquem em casa assistindo pela TV no pay-per-view”.

Para ambos os franceses, o resultado foi a guilhotina.
 

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Essa é para vocês, traíras!

A frase acima não é para você, leitor. Mas foi a expressão que coroou o título mundial de 1994. Naquela Copa em que todo o Brasil falou mal do time nacional, o desabafo do então capitão Dunga tinha endereço certo: a imprensa.

Tive a oportunidade de conhecer e conviver um pouco mais com o atual treinador da seleção em 2006, na Copa da Alemanha. Mesmo com o claro oba-oba que existia em torno do Brasil, com a série de desmandos e com a clara pressão da imprensa contra isso, Dunga não concordava, na época, que o jornalista falasse mal da seleção durante a Copa do Mundo.

Aquele time apresentava falhas e cada vez menos a cara de uma equipe. Mas, mesmo assim, Dunga não queria saber. No mês do Mundial, para ele era atentado contra a pátria reclamar de qualquer coisa dos jogadores do país. O momento era de ajudar, e não de atrapalhar.

Dunga era, então, comentarista do BandSports no Mundial. Mesmo em outra função, para ele não tinha cabimento fazer críticas ao excesso de confiança que cercava a equipe. Em 1994, como capitão do time brasileiro, a irritação contra as críticas da imprensa (que não foram poucas) era ainda maior. E, desde 2006, quando assumiu o comando da seleção brasileira, essa tempestuosa relação irrompeu de vez.

Dunga conseguiu ser mais político desta vez, apenas reclamando de que críticas foram feitas ao desempenho da seleção sobre a Argentina, mesmo com a vitória por 3 x 1 fora de casa. Mas está claro que, até o final da Copa da África, o relacionamento do treinador com a imprensa estará muito longe de ser amistoso.

Pior será quando começarem os intermináveis 40 a 50 dias de uma Copa do Mundo. Porque é cada vez mais enorme a possibilidade de o Brasil, do jeito que está jogando, seguir a passos largos para a sua oitava decisão de Copa do Mundo. E, no meio desse caminho, Dunga dizer aos “traíras” que tudo isso é para eles.

Tudo poderia ser resolvido se houvesse mais bom senso no relacionamento entre imprensa e treinador da seleção brasileira. Não é preciso que o Brasil dê um show a cada vitória, algo que a imprensa parece sempre cobrar, mas também Dunga não pode esperar somente afagos e compreensão por parte da mídia.

A pressão exercida sobre o treinador é, acima de qualquer outra, gigantesca. A necessidade de vitória é enorme. Ainda mais quando se trata de seleção brasileira. Dunga precisa entender que essa cobrança é parte do trabalho, e que não é um “traidor” aquele que critica. Boa parte das vezes, a cobrança tem como objetivo melhorar um trabalho bem-feito. Mas também a mídia precisa entender que, contra vitórias, é preciso ter bons argumentos.

Sorte a de Dunga que treinador de seleção brasileira não precisa dar entrevista todo dia…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O fator Luiz Felipe Scolari e o desempenho da seleção de Portugal sob o comando de Carlos Queirós

Em 2001, publiquei uma coluna, em um jornal eletrônico para o qual escrevia, apontando qualidades do trabalho do treinador Luiz Felipe Scolari.

Naquele tempo, eu já me dedicava a estudar o jogo de futebol, suas dinâmicas, estruturas, etc. Tinha muito ainda por saber (como agora!), mas me chamava bastante a atenção o trabalho do treinador brasileiro, especialmente pela forma diferente de tratar algumas situações dentro do campo e fora dele. Na época recebi muitas críticas pelo meu texto, de leitores descontentes com a atuação de Scolari na seleção brasileira de futebol.

Pois bem, o resto da história (ao menos de 2002 para frente), todos conhecem.

Recentemente, algumas coisas voltaram a me chamar a atenção, indiretamente, sobre a sua atuação como treinador.

Fazendo uma rápida pesquisa na internet, encontrei mais de 30 menções ao seu trabalho, ou melhor, à comparação do seu trabalho na seleção de Portugal com o de seu sucessor, Carlos Queirós.

O mais incrível é que, tomando como referência os textos publicados em Portugal (em blogs, jornais, etc.), existe maior satisfação com o trabalho do atual treinador, do que com o de Scolari (!?).

Como assim???

O atual treinador da seleção portuguesa tem tido enormes dificuldades para conseguir bons resultados, correndo risco inclusive de não classificar Portugal para a Copa do Mundo Fifa de 2010. Seu aproveitamento até o oitavo jogo das Eliminatórias para a Copa da África do Sul (até o presente momento) é de 54,2% do total de pontos disputados.

Luiz Felipe Scolari teve em toda sua participação pela seleção portuguesa 63,4% de aproveitamento, o que já é melhor do que Carlos Queirós. Porém, se considerarmos apenas o desempenho nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2006, o valor se distancia ainda mais; foi de 83,3% (muito superior ao do atual treinador de Portugal).

O principal argumento para defender que o trabalho do atual treinador de Portugal vem sendo melhor do que o de Scolari é de que agora pode ser observado na equipe portuguesa um “Modelo de Jogo” evidente, com princípios e subprincípios bem definidos, com jogadores bem distribuídos em campo, etc., etc., etc.

E fazer gols, e vencer os jogos, não vale como critério?

No jogo de futebol, especialmente no alto nível competitivo, vencer é a necessidade básica de sobrevivência. Será melhor a equipe que vencer! Será melhor o treinador que vencer!

Quando era treinada por Scolari, a seleção de Portugal, em 12 jogos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo 2006, marcou 35 gols (média de 2,9 por partida) e sofreu apenas cinco (média de 0,4 por partida), conquistando 30 pontos. Atualmente, nas Eliminatórias da Copa de 2010, em oito jogos, a seleção portuguesa tem 10 gols marcados (média de 1,2 por partida), cinco sofridos (média de 0,6 por partida) e apenas 13 pontos conquistados.

Isso quer dizer que, como se não bastasse vencer mais e marcar mais pontos, a seleção portuguesa na “Era Scolari” também fazia mais gols e os sofria menos.

Tenho sempre acompanhado os jogos da seleção de Portugal e torço muito para que ela conquiste uma vaga para a próxima Copa. Mas realmente nas próprias estatísticas dos jogos e nos “scouts” que realizo fica difícil de entender como o trabalho atual pode ser melhor do que o do treinador anterior (que eu também analisava profundamente).

Minha impressão, interpretando o que vejo, é que com Scolari a equipe portuguesa buscava mais intensamente o cumprimento da “Lógica do Jogo”, e que hoje com Queirós, o que parece buscar, e acaba por apresentar nos seus jogos, é tornar mais sólido um “Modelo de Jogo” (consistente, bem estruturado, etc.).

Um “Modelo de Jogo” só faz sentido se for construído para cumprir a “Lógica do Jogo”!

Alguém mais insatisfeito com as minhas colocações pode até dizer: “é, mas no Chelsea ele não foi bem“. Realmente, mas mesmo assim o seu aproveitamento na equipe inglesa também foi melhor do que vem tendo a seleção portuguesa no momento atual (Scolari, no Chelsea, teve 68,3% de aproveitamento).

Por fim, Portugal, com Luiz Felipe Scolari, não só foi melhor nesse sentido (o que se reflete em seu aproveitamento em pontos e gols feitos), como também, “de lambuja”, ainda venceu duas vezes a seleção brasileira de futebol (o atual treinador jogou uma vez, e sua equipe perdeu por 6 a 2).

Precisa de mais algum argumento?!

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A coragem de Nelsinho: uma lição a ser trazida ao futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Mais uma vez, neste espaço, vamos tratar da tão importante manutenção e preservação da verdade desportiva em prol da credibilidade e sobrevivência do esporte. O doping, as apostas ilegais, o anti-jogo, a falta de fair play, entre outros, contribuem para danificar a imagem do esporte, afastando torcedores, mídia, patrocinadores e investidores, tão importantes para o cumprimento da função social do esporte e também para garantir a viabilidade financeira das organizações desportivas (clubes, federações, ligas, etc).

Ontem, acompanhamos em Monza, o depoimento de Nelsinho Piquet sobre a farsa do acidente que contribuiu para a vitória do seu ex-companheiro de equipe, Fernando Alonso. Segundo o brasileiro, aquele acidente teria sido premeditado pela equipe para beneficiar o piloto espanhol na sua trajetória para a conquista do título mundial de Fórmula 1.

Neste episódio, temos dois fatos a serem abordados, de igual importância e relevância para a questão levantada no primeiro parágrafo desta coluna. Tais fatos podem e devem servir de exemplo para qualquer outro esporte e, principalmente, para o nosso futebol.

Em primeiro lugar, houve uma ordem da equipe para que o piloto praticasse um ato contrário ao princípio basilar do esporte, segundo o qual todos os competidores, sem exceção, devem entrar no torneio para vencê-lo.

Uma ordem dessa natureza pode ter várias motivações. No caso em comento, havia uma preocupação em favorecer outro piloto. Mas existem outras motivações clássicas no futebol, por exemplo, que poderiam acarretar em uma ordem dessa natureza: ajudar ou atrapalhar os planos de outro clube, manipular resultados para fins de apostas desportivas, ou mesmo para favorecer o próprio clube em fases subsequentes da competição.

Independentemente da motivação, temos que repudiar com todas as forças uma ordem dessa natureza. Vale lembrar que cada corrida, cada jogo, cada disputa, individualmente considerados, têm o seu valor, que é literalmente pago por torcedores, mídia, patrocinadores, etc. Esse valor individual não pode ser desconsiderado em prol de toda uma competição. Um torcedor, por exemplo, que vai assistir um jogo de seu time, que está em primeiro lugar, não gostaria de saber que naquele jogo específico o time não vai entrar para ganhar.

Temos que examinar também o cumprimento dessa ordem. No calor dos acontecimentos, os atletas, pilotos, etc, ficam muitas vezes à mercê dessas ordens manifestamente irregulares por conta de pressões de todos os lados, inclusive financeira (e.g. risco de perder o emprego). Sabemos que o ideal seria que essa ordem não fosse cumprida pelos atletas. Mas entendemos também a situação difícil deles, de forma que, apesar de não podermos isentá-los, temos que reconhecer que a culpa mais grave está com quem emite a ordem viciada.

O segundo momento importante desse episódio que gostaríamos de comentar é a posterior denúncia de Nelsinho Piquet. Esse fato (a denúncia) tem um contexto psicológico semelhante ao ato de obedecer ou não a ordem dada. Mas nesse caso, a confissão a posteriori permite que o atleta ouça conselhos de seus assessores, amigos e familiares, e possa tomar uma decisão com mais tempo e calma.

Não é nada fácil abrir o jogo, mesmo porque os atletas sabem que, anos depois, serão eles os mais lembrados pelo ato equivocado, e, eventualmente, os únicos a serem efetivamente punidos.

Nesta medida, temos que incentivar os atletas para levarem a diante tais denúncias, promovendo, na medida do razoável, a redução de pena para o atleta confesso. O importante é cercar o mal, e cortá-lo pela raiz, ou seja, punir e eventualmente eliminar as pessoas que costumeiramente emanam tais ordens contrárias à natureza do esporte, bem como punir os atletas envolvidos, mas garantindo a eles a possibilidade da justa reinserção no esporte.

É por isso que esta coluna é dedicada ao Nelsinho Piquet. E que ele sirva de exemplo para todos os outros atletas. Não por conta do seu envolvimento no acidente alegadamente forjado. Mas pelo ato corajoso de trazer a verdade à baila e permitir que os culpados sejam devidamente punidos.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Roleta II

Na semana passada eu sugeri que a retração do mercado de transferências europeu pode ter criado um problemão para os clubes brasileiros e apontei as causas para essa retração. Também prometi que iria dizer quais seriam as possíveis consequências dessa retração para o mercado nacional. E não fui nada otimista.

Eu, que sou um homem de palavra, vou tentar explicar essas conseqüências, as razões para o pessimismo e, quem sabe, o título dessas duas colunas.

Como você sabe mais do que eu, há um forte processo de retorno de jogadores brasileiros ao seu mercado natal em andamento. Vagner Love, Edu, Rochemback, o outro Edu, e por aí vai. Clubes como Grêmio, Corinthians, Palmeiras e Inter estão reforçando suas equipes com jogadores que, teoricamente, ainda tem mercado em outros países, principalmente da Europa.

Parte do processo pode ter sido iniciado com o retorno do Ronaldo. Ronaldo! Ao mesmo tempo em que atletas de fora se sentem mais propensos a voltar para o país pelo fato do jogador estar disputando o campeonato e adicionar certo glamour à competição, os clubes rivais ao Corinthians também se sentem mais propensos a adquirir um jogador de status. Se o Corinthians pode, eu também posso.

O atleta que está fora do país pode ser convencido na base do argumento da saudade de casa ou por acreditar que o mercado brasileiro oferece mais chances de um eventual retorno à seleção. Mas nada disso adianta sem dinheiro. E os clubes, aparentemente, estão pagando, e bem, por esses atletas. Se o rival se reforça, você tem que se reforçar também. Se não, você vai ficar para trás. E o clube é muito grande para ficar para trás. Tem que arranjar dinheiro. Não sei de onde. Se vira, mas acha. Não pode ficar para trás. Depois a gente paga. A torcida precisa de satisfação. O conselho está em polvorosa. Está todo mundo cobrando. Tem que dar um troco no rival. A pressão está grande. Tem que dar um jeito. Se vira, rapaz.

A questão é: de onde vem esse dinheiro?

Já há relatos que alguns clubes estão rolando a dívida com credores para contratar atletas de fora. Isso é, obviamente, um problema de grandes proporções. A dívida pode demorar a ser paga, mas um dia ela será paga, e com juros. Os clubes sofrem hoje pela enorme bola de neve de débito criada pela irresponsabilidade fiscal presente desde a metade do século XX. Não fosse essa bola de neve, parte significativa dos problemas do futebol brasileiro poderia estar resolvida. E, ao invés de aproveitar a nova grana do contrato de televisão para diminuir a bola de neve, os clubes estão aumentando-a. O problema, então, ficará para o próximo.

Adicione-se a isso o outro problema da não venda do jogador e a consequente necessidade de se aumentar o salário do atleta que fica no país, uma vez que, a partir do momento em que o clube opta por não negociar um jogador, ele impede que o atleta tenha acesso a uma gratificação das luvas da transferência, a um salário possivelmente maior, e, por que não, a uma parcela da transferência, já que muitos jogadores são donos de uma porcentagem dos seus direitos. Como o clube não quer vender o jogador, o clube tem que oferecer alguma coisa em troca ao atleta. E essa coisa, normalmente, é aumento de salário, o que implica em mais custos.

Com mais custos e menos receita, a equação não fecha. A aposta, aparentemente, é que os novos jogadores vão gerar mais dinheiro e acabarão se pagando. Porque, com eles, o clube se classificará para a Libertadores, será campeão brasileiro, essas coisas.

O problema é que só um clube vai ganhar o campeonato. E, talvez, nem seja o clube que contratou tantos jogadores. Não vai dar certo. Não deu certo em um monte de clubes durante toda história. Mas ninguém aprende. O risco é estupidamente alto, que diga o Palmeiras e o Pierre.

A lógica desse tipo de pensamento de geração de receita é tão boa quanto a lógica de ficar rico apostando na loteria. Você só vai ganhar se você gastar. E quanto mais você gastar, mais você vai ganhar. E se ganhar, você vai ser o rei do mundo. Você só esquece que o risco é gigante, e que a chance de você quebrar também é enorme. Igual a um cassino. Igual a uma roleta.

Sacou?

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Ajuda divina

Torcedores do Fluminense, no fim de semana, antes do jogo da rodada, protagonizaram uma cena, no mínimo, caricata e altamente simbólica do nosso futebol ao se reunirem nos pés do Cristo Redentor para rezar e pedir aos céus que o clube não seja rebaixado. O Globo Esporte mostrou o ato ecumênico-esportivo com destaque.

Mas o teor da reportagem foi sério demais. Para mim, deveria ter sido mostrado no Pânico ou no Casseta e Planeta.

O povo brasileiro, historicamente, sempre foi acostumado e se acostumou a descarregar as tensões e problemas sociais na esperança de contornos religiosos, de que o amanhã será sempre melhor que o hoje.

A famosa transferência de responsabilidades que, nesse contexto, podemos resumir no famoso “Se Deus quiser”…

Reputam-se todos os males que se nos ocorrem ao alheio as nossas ações e ao aleatório. Nunca a nossa omissão ou falta de discernimento para tomar decisões de forma coerente e implementá-las. Razão e religião costumam vir no mesmo pacote, para consumirmos misturadas.

Afinal, não foi um movimento lógico e possível de mercado a contratação de Kaká pelo Real Madrid junto ao Milan. Segundo sua esposa, Deus colocou o dinheiro do mundo em crise nas mãos do clube espanhol para contratá-lo.

A Fifa, por outro lado, apressa-se para coibir manifestações religiosas excessivas nas competições oficiais organizadas pela entidade. A Associacao Dinamarquesa de Futebol emitiu nota oficial reclamando do fervor religioso da comemoração de nossa seleção na Copa das Confederações deste ano.

A mim, não resta dúvida: se olharmos para o microcosmo social que é nosso futebol, Deus é brasileiro, mesmo!

Eis uma pequena história, já bem antiga, para ilustrar como nosso futebol precisa de mais razão e menos religião: 

Em um dia de tempestade, um padre estava em sua igreja temendo que alagasse tudo, e começou a rezar e a pedir: “Deus, por favor, me ajude! Não me deixe morrer se ocorrer uma enchente… O Senhor bem sabe que eu não sei nadar!”.

Um pouco depois, dois homens apareceram num carro e um deles pergunta:

– Padre, quer uma carona? Acho que vai alagar tudo por aqui!

– Não, meu filho, obrigado… Deus vai me salvar! – responde ele.

A chuva começou a aumentar e o padre, confiante, permaneceu no mesmo lugar.

Um pouco mais tarde, quando já estava quase tudo alagado, um homem apareceu com uma lancha, e falou para o padre: 

– Padre, vamos sair daqui! Está tudo alagado, e o senhor pode até morrer!

– Não, meu filho, ficarei aqui. Deus vai me salvar – responde o padre insistentemente.

A chuva não parava. O padre resolveu ir até o telhado da igreja e viu um helicóptero de resgate. O piloto gritou:

– Ei padre, venha rápido! A igreja vai desmoronar com a enchente! Mas o padre, muito confiante, respondeu-lhe: 

– Não, ficarei, meu filho. Vá, pois Deus irá me salvar!

Não deu em outra! A enchente aumentou, a igreja desmoronou e o padre morreu. Quando o padre chegou ao céu, deu de cara com Deus, e Lhe perguntou:

– Meu Senhor, por que não me salvastes?

E Ele respondeu:

– Ora, Eu tentei! Mandei homens te buscar de carro. Depois, mandei um homem de barco, e por fim, mandei um rapaz te pegar de helicóptero, e você não quis ser salvo…

Muitos barcos já passaram e continuam passando para tentar salvar nosso futebol. A saída escolhida pelos dirigentes, até agora, é subir no telhado e rezar.

Para o Fluminense e muitos outros clubes do Brasil, a tábua da salvação deve ser mais gestão e menos religião.

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O primeiro turno do Brasileirão-09: um pouco além de números…

Ao apresentarmos os números do Brasileirão-09 na última semana, era esperado que viessem críticas e elogios. A previsão se concretizou. E isso só nos instiga a continuar o debate como forma de mostrar pontos de vistas e possibilidades que decorrem da análise do jogo, e neste caso mais especificamente sobre os números das ocorrências, de forma quantitativa.

Pelo lado daqueles que elogiaram, tivemos os argumentos de que:

 A comparação com outros anos pode indicar algumas possibilidades e tendências de análises;
 A comparação (tão rechaçada pelos profissionais do meio) com o uso do scout em outras modalidades demonstra certo atraso da mentalidade do futebol quanto ao seu uso.

Pelo lado dos críticos tivemos o seguinte ponto focal:

 O número não significa nada fora do contexto do jogo;
 O número pode mascarar o que de fato aconteceu.

Vale relembrarmos o último parágrafo da coluna passada:

“Importante extrapolarmos o discurso comum de que números simplesmente não trazem informações. Mas sim, que possamos, a partir deles, criarmos mecanismos de especulação. Na próxima semana, definiremos o que é esse tal mecanismo”.

Sem o menor receio de ser tachado de um bom e velho “em cima do muro” concordo com as duas visões.

Conceitualmente a análise do jogo, seja ela denominada, scout, seja chamada de estatística, ou de análise notacional, enfim, com as características e diferenciações que cada um destes termos possuem,  tem como princípio estar orientada sob algumas dimensões de observação:

1. Histórica: baseada no histórico de ocorrências, padrões apresentados ao longo das partidas, da temporada, ou da carreira.

2. Espacial: vinculada com regiões do campo, caracterizando as ações em função da localização como, por exemplo, a discriminação entre um passe errado na área defensiva ou ofensiva.

3. Temporal: avaliada com base no desenvolvimento do jogo, na relação com o período, na qual podem ser consideradas, variáveis físicas, influência dos minutos em jogo na capacidade de organização das jogadas e ações.

4. Situacional: considera momentos específicos do jogo, seja ela uma superioridade numérica ou uma triangulação. Situações que caracterizam a combinação de fatos, ou ainda, de duas ou mais dimensões de observação.

5. Sequencial: analisa a construção da ação em virtude de sua origem, desenvolvimento e conclusão. Foco na estruturação da ordem dos fatos que contribuem para determinada ocorrência.

Seja em forma quantitativa ou qualitativa, a análise do jogo deve basear-se em alguns pontos:

 Experiência e conhecimento de futebol por parte daquele que interpreta;
 Conhecimento dos conceitos e definições da metodologia utilizada nas observações (o que é um passe, o que é uma triangulação, etc;
 Especulação baseada nos dados e informações.

Dentre outros itens, gostaria de parar nesse para, num próximo texto, continuarmos a aprofundar o tema. Isso porque entendo esse último ponto levantado como um dos primordiais para quem pretende fazer um bom uso do scout no futebol.

Sem, ele podemos cair no “senso quase comum” de que os números não dizem nada sobre o jogo.

Seja analisando números, sequência de jogo, perfis de atletas ou padrões de jogo, o scoutista (termos que particularmente utilizamos para quem faz a análise do jogo) deve especular sobre o que os dados podem dizer.

Ao observar o número de ocorrência de faltas, por exemplo, deve-se, sem receio de coibir nesse momento um possível equívoco, levantar o máximo de interpretações.

Se o time que mais faz falta é líder do campeonato, deve-se atentar o que isso pode trazer de especulação: fazer falta é o caminho? Onde são cometidas essas faltas? O que as faltas dessa equipe têm de diferente? A quantidade de faltas é determinante? Quem faz essas faltas, o atacante ou o volante?

E nessa linha, prossegue-se com especulações, geram-se questionamentos. Com essas e outras formas de análises somadas ao conhecimento e à experiência do scoutista, se consegue aperfeiçoar e aprofundar a análise.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Obrigado, seo Rui!

Quem gosta de tênis é obrigado a conhecê-lo. Em 1976, o Brasil assistiu à primeira final de Wimbledon. Numa época em que nem se pensava em TV a cabo, uma emissora abrir espaço para exibir um jogo ao vivo de tênis era algo de outro mundo. Mas ele sempre foi de outro planeta.

Hoje, infelizmente, acordamos com a notícia de que, aos 79 anos, Rui Viotti nos deixou.

Ele não era apenas o dono de uma das vozes mais deliciosas da televisão nacional. Para quem não lembra, Rui Viotti foi quem narrou – com uma emoção desproporcional, mas sem deixar de lado a técnica e a lucidez na transmissão – aquele que até hoje foi o momento máximo do tênis do Brasil, a vitória de Guga sobre Brugera em 1997. Sim, jogo transmitido na TV aberta, para todo o país, com picos de audiência que chegaram aos 16 pontos naquela manhã de domingo na TV Manchete.

Foi a partir daquele dia que me tornei fã do seu estilo de narrar tênis. Sabendo respeitar os limites da transmissão equilibrada, mostrando conhecimento da técnica do esporte e, principalmente, dos talentos e falsos talentos que apareciam nas quadras. De fã, tive o privilégio de me tornar colega de trabalho, nos últimos anos, dentro do BandSports. Oportunidade mais do que única, que revelou o quanto Rui Viotti, mais do que um brilhante narrador, foi um cara espetacular em todos os sentidos.

Inclusive foi um gênio para algo que pouco se fala, mas que felizmente conseguimos resgatar recentemente na Revista Máquina do Esporte. Poucos sabem a importância que Viotti teve para massificar o tênis no Brasil. Sim, Guga foi fundamental para fazer com que o esporte deixasse de ser um mito restrito à elite. Mas muito desse trabalho também se deve a “seo” Rui.

Nas emissoras por onde passou, Viotti sempre fez questão de tentar levar a transmissão do tênis. Mesmo numa época de vacas magras como a de hoje, em que o Brasil não vinha tão bem, ele acreditava que a TV aberta só tinha a ganhar exibindo partidas ao vivo, mesmo que não se soubesse quanto tempo aquele jogo iria durar. Tanto que, sempre por onde passou, seo Rui fez com que a emissora comprasse os direitos para exibir os grandes torneios de tênis do mundo.

Viotti também foi o criador do “Esporte Espetacular”, na TV Globo, programa que está há mais de 30 anos no ar e que é importante para ajudar a promover o esporte em todas as esferas.

O Brasil perdeu, hoje, um dos maiores incentivadores do esporte e especialmente do tênis. Fica sempre aquela sensação de vazio, mas sem dúvida fica o exemplo para nós de continuar trabalhando em busca do sonho de poder ver o Brasil ser, de fato, um país do esporte.

Obrigado, seo Rui!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Menos finalizações, mais gols: a intenção na ação e a lógica do jogo

Em uma partida de futebol, uma equipe tem em média 90 sequências ofensivas a seu favor. Somando as sequências ofensivas de duas equipes, em um jogo, em média, existirão 180 sequências ofensivas (em algumas divisões e países a média é de 160 sequências).

Se levarmos em conta que historicamente em campeonatos brasileiros (e tantos outros pelo mundo), a média de gols por partida está abaixo de três gols (muitas vezes bem abaixo), poderemos inferir que, no jogo, em menos de 1,67% das vezes o sistema ofensivo de uma equipe sobressai efetivamente sobre o sistema defensivo da outra (que é o “gol”).

O êxito ou fracasso final de uma seqüência ofensiva concentra-se integralmente na ação da finalização. Podemos dizer que sendo a finalização dependente de inúmeros fatores (e que qualquer alteração em um desses fatores pode comprometer por completo a sequência ofensiva), ela apresenta padrões caóticos.

Muitos estudos têm mostrado em quê faixas de tempo há maior incidência de gols em jogos de diversos campeonatos pelo mundo. Apesar de algumas pequenas diferenças é comum a todos eles a constatação de que a maior parte dos gols em uma partida tem ocorrido no segundo tempo.

No entanto, estudos Brasil a fora, incluindo alguns desse que vos escreve, têm constatado na grande maioria das vezes que a maior parte das finalizações em um jogo ocorre no primeiro tempo da partida – apesar de grande parte dos gols ocorrer no 2º tempo (abaixo podemos ver a incidência de finalizações ao longo de jogos, nacionais e internacionais, escolhidos aleatoriamente – mais informações a esse respeito estão disponíveis também na dissertação de mestrado que defendi em 2004).

Muitas hipóteses e muitos palpites podem ser levantados a partir dessa constatação (de que o aproveitamento no 2º tempo do jogo é melhor do que no 1º). O fato é que o futebol é transdimensional e apontar esse ou aquele fator para explicar esse ou aquele acontecimento simplifica demais em relações de causa e efeito algo que não se estabelece assim – o jogo de futebol é complexo!

A questão é que, independentemente dos gols acontecerem mais no 1º ou no 2º tempo do jogo, eles são escassos no futebol. A defesa sobressai ao ataque, e muito!

Como já escrevi em outras oportunidades, quase todas as equipes de futebol vão para o jogo para não sofrer gols, e depois, também, para fazer gols. O pensamento, ou melhor, a intenção, devia ser sempre a de fazer gols, e ponto.

O objetivo máximo do jogo é fazer gols, e não, não sofrê-los; e isso é mais difícil de se entender e de se aceitar do que parece.

Como a intenção das equipes se choca com o objetivo máximo do jogo, o que temos é “o que temos”… pouquíssimos gols! Mas quando as equipes precisam se arriscar mais, por motivos diversos (necessidade de se arriscar que se expressa e se consolida muitas vezes no 2º tempo dos jogos, quando se está perdendo, quando se necessita de algum resultado específico, etc.), os gols também acontecem mais.

Isso quer dizer, em outras palavras, que a intenção coletiva da equipe faz com que ela se comporte de maneira diferente no jogo. Infelizmente, muitas vezes a intenção de treinadores e das equipes bate de frente com aquilo que o jogo necessita, e o pior, se dá pouca importância a isso.

A lógica do jogo (aquela que leva para a vitória) está aí e pode ser vista por quem quiser enxergá-la! Para uma equipe dominá-la, poucas coisas precisam mudar no nosso atual cenário paradigmático, mas essas poucas precisam mudar muito!!!

(…) “A inteligência segue o caminho inverso da ação. E é somente isso que a torna inteligência. Começando do ponto ao qual se deseja chegar, evita-se o comportamento errático e desordenado a que se dá o nome de tentativa e erro“. (RUBEM ALVES, “Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e a suas regras”. São Paulo: Edições Loyola. 2008. p.36)

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O necessário equilíbrio entre os clubes

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Apesar de falarmos exaustivamente neste espaço que o futebol já deve ser considerado como um verdadeiro ramo de atividade econômica, sempre esclarecemos que a competição entre clubes no futebol não pode ser comparada à competição existente entre empresas concorrentes em outros segmentos.

O futebol tem sua especificidade e isso deve ser sempre ressaltado por legisladores e também por pessoas ou organizações que dirimem litígios na área desportiva. Os clubes rivais dependem um do outro. Quanto mais competitivos forem os jogos, maior será o potencial sucesso dos clubes conjuntamente considerados.

Tendo isso em vista, é preciso que as autoridades competentes (com o apoio de todos os clubes, especialmente os grandes), passem a adotar medidas que visem diminuir o “gap” existente entre os principais clubes, que são poucos, e os demais clubes pequenos que são, em última análise, aqueles que formam os nossos melhores jogadores.

Os primeiros têm grande responsabilidade no mercado do futebol, já que reúnem as maiores torcidas e viabilizam as grandes transferências internacionais. Mas os últimos também têm sua função de promover a competição interna e de descobrir e formar bons jogadores. Todos eles, assim, devem ter sua importância reconhecida e, principalmente, recompensada.

Nesse sentido, é preciso que mecanismos sejam criados para que haja algum equilíbrio, principalmente entre as receitas desses times dentro de uma mesma divisão. Com isto não queremos sugerir que haja uma distribuição equivalente entre todos os clubes. Mas, ao menos, que haja um mínimo de proteção e cuidado com clubes pequenos (principalmente com aqueles que fazem bem as suas lições de casa), propiciando uma distribuição de receitas que, proporcionalmente, seja mais justa.

Essa aliás, é uma preocupação manifestada pela Fifa explicitamente há, pelo menos, um par de décadas. Uma série de medidas vem sendo adotadas, tais como a criação das indenizações por formação, e o desenvolvimento do conceito de estabilidade contratual. Essas medidas acabam por proteger, em última análise, os clubes pequenos e formadores, que, por vezes, perdem seus jogadores antes do término de seus contratos por propostas financeiras irrecusáveis.

A decisão proferida pelo Dispute Resolution Chamber da Fifa, no recente caso envolvendo o clube inglês Chelsea, o clube francês Lens, e o atleta francês Gael Kakuta, vem ao encontro dessa tendência protecionista. Por suposta rescisão antecipada de contrato, sem justa causa, entre as duas partes francesas, levaram a uma série de punições tanto para o atleta como para o Chelsea. Dentre tais punições, a que chamou maior atenção foi a do Chelsea, que deverá ficar duas temporadas sem poder registrar novos jogadores nacionais ou internacionais (contra essa decisão, cabe ainda recurso ao CAS).

Esperamos, assim, que os grandes possam ver os pequenos como aliados dentro de uma disputa desportiva (dentro e fora de campo) sadia, o que trará um benefício coletivo a todos aqueles que atuam no meio do futebol.

Muito progresso já pode ser notado no comportamento de dirigentes de alguns clubes grandes. Porém, muito ainda temos que avançar para alcançarmos uma situação ideal.

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