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Diário de viagem – Parte 2

Parafraseando muitos dos célebres discursos do atual presidente do Brasil, Lula, defendo que todo torcedor brasileiro deveria ter o direito de, pelo menos uma vez na vida, assistir a um jogo em um estádio moderno e confortável como é o do Arsenal em Londres.

Não só o jogo em si, mas toda a experiência e a atmosfera que o envolvem. Transporte, policiamento, segurança privada, marketing, acessibilidade, alimentação e civilidade.

Tudo bem que a partida era amistosa, entre Brasil e Irlanda, e não possuía componentes que costumam dar ebulição ao futebol, especialmente no que tange campeonatos disputados por rivais históricos, bem como o público foi de 40 mil pessoas, para um local com lotação máxima de 60 mil.

Menos do que comentar sobre o jogo, é preciso mencionar temas que, inevitavelmente, já fazem parte das discussões no Brasil quanto a nossa organização da Copa do Mundo em 2014.

Optamos por ir ao jogo pelo excelente sistema de metrô londrino, pela linha Piccadily, rumo à estação Arsenal – isso mesmo, o transporte e o estádio estão integrados.

Fundado em 1863, o metrô de lá possui 11 linhas e 270 estações espalhadas pela cidade e arredores. São 400 quilômetros de uma malha que serve a milhões de passageiros. O headway (intervalo de tempo entre trens) é de três a cinco minutos.

Em outras palavras, funciona muito bem.

Na chegada, policiamento atencioso e cordial, orientando, agil, e que sabe lidar com a multidão. São 50 metros da saída do metrô até a entrada do estádio.

Sem gente pedindo dinheiro para ajudar na compra de ingressos. Sem cambistas ostensivamente oferecendo bilhetes. Nas paredes fora do estádio, de fato, cartazes afixados pelo clube reforçam que a atividade de cambista é crime passível de prisão.

Chegamos faltando 15 minutos para o início da partida, marcada para as 20h05. Não houve problema para contornar parte do estádio, acharmos o nosso setor e entrarmos pelos portões com catracas automáticas e detectores de metais. Sem policiais ou seguranças fazendo revista. E, ainda, deu tempo para comprar a revista do Matchday Programme, cuja qualidade gráfica e editorial não existe em nosso futebol.

Os acessos têm elevadores e escadas. Tudo é muito limpo e bem sinalizado. Painéis luminosos, dentro e fora, não só embelezam como também comunicam.

Antes da partida, perfilamento das equipes. Mas observar o estádio do conforto das cadeiras estofadas e com costado alto é o melhor antes do pontapé inicial. Não há faixas de torcidas organizadas escondendo, entre um anel e outro, a indicação dos anos que lembram as principais conquistas e troféus do Arsenal. Os telões, enormes, passam imagens, com impressionante nitidez, sobre notícias e iniciativas do Arsenal, mesmo sendo jogo de convidados internacionais.

Em uma palavra: impecável.

Uma das pessoas que nos acompanhava foi repreendida por um dos seguranças, pois bebia cerveja na arquibancada e isso só pode ocorrer na área de alimentação. Não sem antes soltar, cordialmente, um excuse me, sir, para abordá-lo e acompanhá-lo.

No intervalo, na área de alimentação, talvez o maior gargalo. Muita gente com pouco tempo pra comer e beber, gerando filas que diminuem a agilidade do serviço.

Ao final do jogo, a multidão se dispersa rapidamente. E, mesmo para voltar pelo metrô, organização total da polícia inglesa, com cavaletes que orientavam a fila. E ninguém ousou furar.

Totalmente diferente do que entendemos por espetáculo no futebol brasileiro. Faz parte da simbologia histórica por aqui, polícia, confrontos, ônibus lotado na ida e na volta, brigas, violência, arquibancada de cimento, sob sol e chuva, poluição visual dentro do palco.

A Copa de 2014 será uma grande lição para o Brasil e para a indústria do futebol. Ou um grande pesadelo.

E, ainda que duvidasse que o jogo começaria, precisamente, às 20h05 horas, começou mesmo! A pontualidade britânica resumiu, para mim, o nível de evolução do futebol inglês.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br