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Adriano, Love e o profissionalismo

Olá amigos!

Hoje, daríamos sequência à discussão levantada na última semana sobre a arbitragem e o auxílio dos recursos tecnológicos. Agradeço a participação de todos com seus comentários e opiniões, e peço licença para prosseguirmos com esse debate na próxima semana, abrindo espaço para outro assunto.

Agora, conversaremos sobre algo que foge às perspectivas tecnológicas do futebol, mas refere-se ao caráter moral e ético do ser humano, colocando este texto como uma indignação pessoal que pode ser a mesma de tantas pessoas, e para outros não fazer sentido.

Discuto aqui, algo que imagino, deveria ser pensado por todos os profissionais que militam no esporte de forma correta, e assim, também, são nas suas vidas fora das modalidades.

Às vezes, juízos de valor são tomados como se fosse possível o ser humano se dividir em subvidas, uma no esporte, uma na política, uma familiar… Não, isso não é possível! O ser humano é único e complexo e, mesmo com toda essa complexidade, não acredito que o caráter e a moral variem de acordo com o ambiente ou cenário.

No último domingo, no programa semanal da Rede Globo, “Fantástico”, foi exibida uma entrevista com o jogador Adriano, do Flamengo, e, também, uma reportagem envolvendo o jogador da mesma equipe, Vagner Love em festas com traficantes armados, no Rio de Janeiro.

Que não se confunda a critica ao clube nem à cidade. O que pretendo é discutir para além do bairrismo, pois esse tipo de situação acontece em muitos clubes, com muitos atletas, em vários lugares o Brasil e do Mundo. Busco, portanto, refletir sobre o ser humano e o papel que ele exerce enquanto atleta.

Perguntado sobre como se relaciona com o álcool hoje, depois de ter admitido problemas com bebidas alcoólicas no passado recente, Adriano disse que não tem problemas, mas que “toma lá” suas cervejinhas, mas nada de mais. A entrevistadora perguntou, então, se ele tomava uma vez por semana, e ele respondeu que de duas a três vezes por semana.

Na outra reportagem, traficantes armados foram filmados fazendo a segurança de Vagner Love, numa festa. A repercussão disso na, última segunda-feira, mostrou que o atacante terá que prestar esclarecimentos. Mas a posição do atleta perante a mídia foi de que é normal isso em festas e que não deixará de frequentar tais locais.

Portanto, convido os amigos a pensarem sobre o quanto o futebol é profissional pensando por esses aspectos.

Uns podem focar seus argumentos na questão da privacidade, que a vida fora do campo de jogo não interessa a ninguém. Mas confesso que ouvir e presenciar essas coisas me incomoda, e muito.

Não consigo separar o atleta do ser humano. Seria como pensarmos que as três vezes por semana que o Adriano afirma tomar cerveja só façam efeito ao corpo do ser humano, mas jamais afetam o atleta Adriano, amparados ainda por alguns estudos e médicos que afirmam que a ingestão de álcool não interfere no rendimento (depende da quantidade, lógico).

Ou ainda imaginar que o círculo de amizades e o ambiente no qual estava inserido Love não interferem nas ações e na vida do ser humano Vagner, e mesmo que exista tal influência, jamais ocasionaria algum mal ao atleta Vagner Love.

Não! Não vejo desta forma. Entendo que o que o jogador faz fora de campo é indissociável do ser humano que ele é e, consequentemente, do atleta que entra em campo.

A discussão pode ir parar na mesa de bar comparando-se eficiência, carisma, história de vida, resultado, mídia, sensacionalismo, ou seja, o que for. Mas, nós que aqui nos dedicamos a ler, buscar informações e nos aperfeiçoar para nossa atuação profissional, não podemos deixar passar o tema como se fosse normal, o famoso “jeitinho brasileiro”, e nos orgulharmos disso.

Ou então deveríamos repensar o que é o tal “profissionalismo”, pode ser que não tenhamos compreendido bem essa ideia.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Informar ou lucrar?

Quase sempre, nas escolas de jornalismo espalhadas por aí, se discute o papel da grande mídia no exercício da profissão de jornalista. Muitos professores adoram dizer que a grande mídia é, na realidade, um grande manipulador da informação em prol de seus objetivos empresariais.

O final de semana esportivo no Brasil revelou a essência dessa discussão acadêmica. Afinal, o objetivo primordial de uma empresa de mídia é informar ou lucrar?

Nas cadeiras acadêmicas, a discussão fica centrada no jornalismo. Aquele da essência, da verdade, do compromisso com a informação. Aposto que, se fosse num curso de administração, muito provavelmente o jornalismo fosse o de menos.

Domingo foi um dia tão cheio de novidades do esporte no Brasil que era quase impossível não comentar sobre tudo o que aconteceu pelo país. No carro-chefe do futebol, clássicos estaduais com grandes resultados já complicaram a diagramação das páginas, o tempo dos noticiários na TV ou as chamadas para as capas dos sites.

Mas a grande reviravolta dos padrões morais para a condução do jornalismo foi nas rádios e, especialmente, na televisão. E o “detonador” desse processo foi o automobilismo.

O final de semana foi marcado pela realização, em São Paulo, da primeira etapa brasileira da Fórmula Indy após mais de uma década. Ao mesmo tempo em que os carros corriam na pista de rua montada na região do sambódromo do Anhembi, lá longe, no Bahrein, a Fórmula 1 dava a sua largada para a temporada, tendo diversas novidades, entre elas a volta de Michael Schumacher, o maior vencedor da categoria.

O que acontece é que a Fórmula Indy é um evento transmitido pelo grupo Bandeirantes, enquanto que a Fórmula 1 tem a Rede Globo como sua grande parceira. E, para desespero dos puritanos do jornalismo, as duas emissoras ignoraram solenemente o evento de sua concorrente.

A Band não falou de Fórmula 1, mesmo tendo os direitos de transmissão, na rádio, das provas da categoria máxima do automobilismo. A Globo mandou apenas uma equipe para a cobertura da Indy em São Paulo, algo totalmente fora dos padrões da emissora para um evento de grande porte que acontece no país. Mas, também, com a clara tarefa de ficar de sobreaviso para produzir material principalmente no caso de um terrível acidente acontecer.

Jornalisticamente, foi ridículo o tratamento dado pelas duas emissoras aos eventos que “concorriam” com aquele que fazia parte de suas grades de programação. Não tem sentido ignorar uma prova da Indy em São Paulo ou a estreia da Fórmula 1 mais imprevisível dos últimos anos. Além disso, a tentativa de repórteres e narradores de promover demais o seu evento, em detrimento do que de fato acontecia, revela outro lado obscuro do negócio.

O que nunca se discute nas cadeiras do jornalismo, é que uma empresa precisa dar lucro para continuar a existir. Seja ela uma fábrica de chocolates ou um veículo de imprensa. Nessa busca pelo lucro, o produto “esporte” traz um alto valor agregado. Aumento de audiência, obtenção de patrocinadores e, no caso da Indy, organização de um evento.

Tudo isso leva o jornalismo para um segundo plano. Informar, para uma empresa de mídia, é menos importante do que lucrar. Até o momento em que todas perceberem que a essência do seu negócio é a informação.

O lucro? Ele é mera consequência da informação bem transmitida ao consumidor.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Declarações pasteurizadas

Na próxima terça-feira a seleção brasileira faz o último jogo antes da Copa do Mundo. Ou melhor, quase todas as seleções fazem seu último desafio antes do Mundial. E, por isso mesmo, o que era para ser um momento de grande exposição dos atletas na mídia se transformou num desfile de declarações pasteurizadas. Mundialmente!

Na semana passada, Cristiano Ronaldo participou de evento da Nike em Londres. Diante de mais de 300 jornalistas do mundo todo, o atacante do Real Madrid e da seleção portuguesa disse que o Brasil é favorito ao título, que o grupo em que Portugal está é o “da morte” (Brasil, Costa Rica e Coreia do Norte complementam a chave) e que ele espera fazer um bom torneio.

No dia seguinte, Alexandre Pato foi o “astro” do evento. Dessa vez, uma entrevista coletiva com jornalistas se estapeando para pegar uma grande declaração do atacante do Milan, provavelmente ausente da Copa do Mundo. Pato disse que espera ir à África do Sul, que gostou da camisa da seleção e que a chuteira nova do patrocinador é muito boa.

Ontem e hoje, jogadores brasileiros desembarcaram aqui em Londres para o último amistoso antes da convocação para a Copa do Mundo. E mantiveram a mesma linha de declarações:

“Vale qualquer sacrifício para o último amistoso”. “Não é porque é amistoso que o jogo não vale nada”. “Entraremos com a mesma vontade do que se fosse a estreia na Copa”. “O Dunga é quem sabe quais serão os 23 convocados, eu só espero dar o meu melhor para estar lá”.

No final das contas, para a mídia que depende do declaratório dos jogadores, a semana em Londres foi praticamente inútil. De pouco adiantou, jornalisticamente falando, a Nike levar jornalistas de dezenas de países para ter contato com os seus patrocinados. Talvez tivesse sido mais eficiente fazer fotos dos atletas com as camisas das seleções e enviarem-nas para as redações. Sem dúvida o custo seria infinitamente menor.

Mas por que isso acontece?

Em 2006, Rogério Ceni disse pouco antes da convocação de Parreira para o amistoso contra a Rússia, o único pré-Copa do Mundo, que preferiria defender o São Paulo na estreia da Copa Libertadores a ser chamado para o banco de reservas de um amistoso da seleção.

O mal-estar foi refeito, Rogério não só foi chamado para a partida, como foi titular e chegou até a Copa do Mundo. Mas também, antes mesmo de embarcar para a Rússia, o goleiro tricolor já tinha usado o discurso-padrão.

“Nunca é roubada jogar pela seleção. É sempre uma honra”, disse o atleta após treinar na Rússia.

Roubada, sem dúvida, é o declaratório pasteurizado de jogadores e treinadores nessa época do ano. O fenômeno é mundial. Afinal, ninguém quer perder a chance de realizar o sonho de jogar uma Copa do Mundo por uma frase infeliz…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br