Diversos estudos foram feitos e publicados até hoje acerca dos impactos da Copa do Mundo da Fifa nos países-sede. De maneira geral, os autores especializados são uníssonos ao defenderem os benefícios que a Copa promove no determinado país.
Tais benefícios são geralmente representados por um aquecimento na economia, por uma melhora na infra-estrutura, segurança, transportes públicos, etc. Também se comenta que a Copa promove uma melhora nos campeonatos locais de clubes, com um maior interesse pela mídia e patrocinadores pelo futebol, entre outros.
Alguns autores também apontam possíveis pontos negativos, como o endividamento causado de maneira geral pela obras realizadas nos preparativos para a Copa e também pela sub-utilização dos estádios ultra-modernos que são construídos, muitas vezes em locais de pouca utilização no pós-Copa.
Diante de tais comentários, muitas vezes genéricos e pré-fabricados, a tendência é esquecer o mais importante: não importa todos esses chavões. É necessário que se analise a situação particular de cada país, para saber, então, quais seriam os impactos possíveis.
No caso da África do Sul, tendo em vista o seu passado recente de conquista da democracia, o principal benefício seria aquele de ordem social e psicológico, ficando todo o legado material um pouco de lado.
A África do Sul, apesar do fim do apartheid, ainda é um país com fortes traços de segregação e exclusão social. Os legados amargos do regime do apartheid ainda estão longe de serem esquecidos e superados. É por isso que um legado psicológico que promovesse um espírito de união nacional entre brancos e negros na África do Sul seria o maior dos feitos que a Copa poderia alcançar.
Muito bem. Até o momento, vemos uma África do Sul em festas, o show das vuvuzelas. Mas uma grande preocupação, que já foi levantada aqui nesta coluna no passado começa a aparecer muito precocemente. O desempenho negativo da seleção nacional da África do Sul.
Aqui mesmo no Brasil esse fenômeno sempre ocorre: o futebol faz as pessoas esquecerem seus problemas e ficarem felizes com a simples vitória do Brasil. Não é à toa que muitos líderes políticos incentivam, e muito, suas seleções.
Com a mais do que possível, ou provável, eliminação da África do Sul na primeira fase, esse efeito de esquecimento dos problemas pode ser invertido, e tornar-se um potencializador dos problemas existentes.
Não acho que o evento da copa será necessariamente prejudicado com a eliminação dos “bafana-bafana”. Mas tenho convicção de que o efeito moral do período pós-Copa será bem diferente em caso de sucesso ou não do time (entenda-se por sucesso um desempenho que dê orgulho ao povo, e não necessariamente a conquista da Copa).
O desempenho na Copa das Confederações, por exemplo, animou a população. Mas a eliminação precoce do time no evento principal, especialmente logo na primeira fase, pode por tudo a perder.
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