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Vias metabólicas aplicadas ao futebol: do clássico ao contemporâneo

O corpo humano obtém energia de praticamente duas vias metabólicas (aeróbica e anaeróbica) e cinco tipos de combustíveis (adenosina trifosfato – ATP; creatina fosfato – CP; glicose – GL; lipídeos – LP e proteínas – PR). Os que trabalham anaerobicamente são ATP, CP e GL e os que trabalham aerobicamente são GL, LP e PR (aminoácidos).

Nas décadas de 1960 e 70, criou-se um modelo sequencial de metabolismo (figura 01), o qual sustentou por um bom tempo toda a base teórica da Fisiologia do Exercício e norteou muitos modelos de prescrição de treinamento.


 

Por este modelo tradicional, todas as atividades, caso se iniciem com ATP, passam por CP e depois por GL anaeróbica até a fadiga. Depois, para se manter em atividade, a intensidade então é diminuída e passa-se a utilizar GL pela via aeróbica. Havendo, então, aumento da duração (>20 minutos), utiliza-se LP (20min a 60min), e se a atividade perdurar por ainda mais tempo e sem reposição de GL, passa-se a usar os aminoácidos. Com isso, foram estabelecidos os períodos de tempos onde cada substrato (combustível energético) pode ser utilizado (tabela 01).

Embora este modelo tenha sido utilizado por muitos anos, a visão mais contemporânea admite que o metabolismo só será “sequencial” se, em todas as tarefas, as intensidades forem máximas. Neste caso, a tabela 01 estaria bem representada, porém, em atividades como o futebol, que exigem esforços intermitentes, o modelo proposto por Gastin (2001) se torna mais interessante (figura 02).


 

Um dos primeiros estudos (Gaitanos 1993) a investigar a participação metabólica (aeróbica/anaeróbica) e energética (substratos) em atividade intermitente verificou que: em 10 tiros máximos com 6s de duração e recuperação de 30s entre cada tiro, a partir do terceiro tiro houve aumento da participação da CP e da via aeróbia na produção de energia, fato que seria impossível pelo modelo tradicional.

O fato é que pelo modelo contemporâneo, alguns marcadores como frequência cardíaca, consumo máximo de oxigênio e lactato – utilizados tradicionalmente em atividades contínuas de intensidade e duração pré-definidas – poderão não se aplicar às tarefas com característica intermitentes (futebol) e, caso sejam utilizados sem critérios, poderão trazer informações desnecessárias ou inúteis.

Mas isso já é assunto para outro dia…

Até quinta!

Referências bibliográficas

Gaitanos GC, Williams C, Boobis LH, Brooks S. Human muscle metabolism during intermittent maximal exercise. J Appl Physiol. 1993 Aug;75(2):712-9.

Gastin PB. Energy system interaction and relative contribution during maximal exercise. Sports Med. 2001;31(10):725-41.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br 

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A lição de Craven Cottage

Brasil e Gana duelaram em amistoso na última segunda-feira (5/9) no simpático estádio do Fulham, o Craven Cottage, com capacidade para pouco mais de 25 mil pessoas. E é da casa do tradicional clube que nasce a inspiração para esta coluna.

Em 2008 eu tive a oportunidade de conhecê-lo em um jogo entre o Fulham e o Arsenal válido pela Premier League e fiquei admirado com a simplicidade e funcionalidade do local, mantendo em seus traços características de um típico estádio inglês.

O estádio está encravado em uma área completamente residencial, cercado ainda por um rio, que passa atrás de uma das arquibancadas. No caminho até o local, a pessoa custa a acreditar que encontrará um estádio de futebol naquela vizinhança.

          
 

Por manter uma estrutura antiga, a cobertura é sustentada por pilares que, de alguma maneira, atrapalham a visibilidade completa do campo de jogo. Assim, a valor do ingresso é balizado pelo percentual de visibilidade que se tem do gramado, ou seja, um bilhete pode variar, mesmo em assentos lado a lado, por ter ou não pilar à sua frente (os famosos pontos cegos, tão comuns em estádios brasileiros) – e isso pode ser identificado e visualizado no ato da compra pela internet, com imagens claras da posição do espectador no estádio.

    
 

A proximidade do gramado é outro dos fatores que chama a atenção, característica que, aliás, é comum em estádios europeus, onde se trata torcedor como cliente e não como marginal.

O que o Fulham faz nada mais é do que criar uma atmosfera única em torno de sua casa, enfatizando de maneira ampla a experiência que os seus torcedores possuem em se relacionar com a marca do clube. O espírito de pertença é claramente observado ali, onde os torcedores se sentem de fato em casa, em seu próprio reduto.

Para o Brasil, a lição que se passa é que os dirigentes não precisam pensar (e sonhar) com nada estratosférico, devendo ser apenas adequado à realidade de cada entidade. Os 25 mil assentos de Craven Cottage cabem perfeitamente no porte do clube e do torcedor do Fulham.

Serve também para esclarecer que a cultura tupiniquim de colocar uma arena ao lado de avenidas largas e com estacionamento amplo só é necessária pelo reconhecido descaso com o transporte público, uma vez que a grande maioria das pessoas chegou de metrô ou ônibus até Craven Cottage, coisa que é quase impossível de se imaginar no Brasil se pensarmos nos quesitos segurança, conforto e pontualidade.

Depois que prezar pelo conforto e transparência com seu torcedor/consumidor, ao facilitar a ele a compra de ingressos e esclarecer a visão do assento adquirido (para não frustrá-lo posteriormente), nada mais é do que respeitar a forma de consumo das pessoas, previsto inclusive em legislação própria no Brasil.

Enfim, isso não quer dizer que não devamos fazer arenas modernas e amplas para os grandes clubes do futebol brasileiro. Serve apenas para mostrar que, com um mínimo de bom senso, sem a necessidade de investimentos exorbitantes, é possível trabalhar localmente, fortalecer a marca do clube na sua região de abrangência e gerar dividendos importantes para o clube, sem ficar chorando por que ninguém os “ajuda”.

Ah, vamos destacar uma última informação para finalizar: a média de público do Fulham no seu estádio foi na ordem de 25 mil pessoas por jogo, com taxa de ocupação média de 97% na temporada 2010/11, quando ficou em 8º no campeonato e não alcançou classificação para a Liga dos Campeões da Europa ou Liga Europa; no mesmo período, na temporada 2010, a média de público do Fluminense, campeão Brasileiro, foi de 24,8 mil pessoas/jogo, com apenas 50% de ocupação no Estádio Olímpico João Havelange, sendo a 2ª maior do campeonato (que teve média geral de 14,8 mil e 30% de ocupação).

É preciso dizer mais alguma coisa?

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br 

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Rogério Ceni, 1000

Você que ainda não tem 18 anos sabe quanto tempo demooooora para chegar à tal da maioridade.

O mundo hoje é mais rápido. Mas ainda assim demora mais do que deveria para você, na teoria, fazer quase tudo que quer. E saber que nem tudo se pode, nem tudo se quer – e nem tudo é preciso querer e poder. Até os 18, a gente quer ter 18. Quando chega lá, quer ficar eternamente com 18. Vida complicada a nossa.

Agora, essa vida imensa que leva até os 18 anos, imagine ficar jogando pelo clube que você ama e é correspondido. Imagine ganhar quase tudo que você jogou. Imagine defender suas três cores e ainda o verde e amarelo campeão mundial. Imagine ser respeitado por tudo que você defende. E ainda marcar de falta e de pênaltis gols. Mais que qualquer outro goleiro na história. Mais gols até que os companheiros tricolores em duas temporadas. Inclusive naquela que você ganhou São Paulo, a América e o mundo, em 2005.

Sei, garoto, que parece a eternidade chegar aos 18 anos. Mas, para poucos, 18 anos jogando pelo clube desde a estreia, em 1993, é realmente uma eternidade. Ser titular há 14 anos de um colosso desse tamanho, uma honra.

Imagine, então, no clube onde você é atleta há 21 anos, ter a felicidade de entrar em campo com 311 companheiros por mil vezes.

Mil jogos.

Você, garoto são-paulino, já sonhou pelo menos um minuto na vida jogar ao menos um segundo no Morumbi ou em qualquer casa com o seu manto sagrado.

Imagine, então, jogar mil vezes com a mesma paixão, intensidade e profissionalismo. Usando a cabeça e o coração que às vezes até se perdeu em polêmicas. Mas poucas vezes perdeu os jogos mais importantes, os títulos mais impressionantes.

Mil. Mas bastaria um jogo para ser especial. Porque ele é um dos caras que fazem essa arte e esse ofício tão especiais. Um cara que bate tantos recordes nos últimos anos que já não tenhos mais palavras e textos para exaltá-lo. E criticá-lo, também, que faz parte do jogo. Mas na história são-paulina, brasileira e mundial, raros fazem tanta parte do jogo quanto Rogério Ceni. Rogério mil. Rogério 01. O Rogério que você quiser numerar. Porque mil elogios e palavras são poucas. Mil jogos, para ele, ainda menos.

Paro por aqui. Porque ele não vai parar aí. Ele não vai conseguir se contentar com tão pouco, digo, com tão muito. Ele é Ceni. Ele é um cara que amanhã fará todo o ritual de preparação para mais um jogo que seria como outro qualquer. Concentração, aquecimento, uniforme, luvas, preleção, subida ao gramado, bola rolando, uma falta (quem sabe?), um gol (só Ele sabe), o apito final.

E Rogério voltará ao vestiário. E o Morumbi irá aguardar o 1001. O 1002. Sabe lá até quando. Só sei que, depois do último jogo, até quem não quer ver Rogério pela frente (e realmente não é nada bom tê-lo como adversário) vai querer olhar para trás e lembrar os bons tempos de tantos primeiros e segundos tempos. Quando na meta tricolor havia um cara que a defendia como poucos. E atacava a meta rival como nenhum outro.

Ainda bem, garotos, que, pelo visto, ainda vai durar a mesma eternidade que leva para a gente completar 18 anos.

Mil felicidades, Rogério.

O futebol merece.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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Fator Marilyn Monroe

Não há mais paciência no mundo em que vivemos.

Todos desejam que as coisas aconteçam antes do tempo.

Ou que elas ocorram exatamente segundo nossas expectativas.

Mínimos desvios nos resultados esperados geram gigantesca frustração.

Mal nos acostumamos com a geração X, já vem a Y e agora a Z.

O futebol, pelo alcance e popularidade, é espelho bem visível desse fenômeno.

Treinador perdeu 3 partidas: demissão já!

Zagueiro não está em boa fase: manda embora.

Presidente não faz contratações caras e vultosas: fora presidente!

Jovens promessas que entram na equipe e não correspondem no primeiro jogo: não servem.

Na vida, é necessária a maturação das coisas, para que sejam sustentáveis.

Maturação é sinônimo de tempo. Tempo que nos submete a experiências boas e ruins, cujo saldo delas é que nos faz alcançar maturidade.

Dois grupos de pressão muito relevantes no futebol deviam levar isso em conta.

Os meios de comunicação e a torcida.

O primeiro segmento deveria ser um tanto tranquilo de entender a necessidade do exercício da paciência. É algo profissional, racional.

O segundo faz uso – às vezes, mau uso – da prerrogativa da paixão.

De toda sorte, duvido que ambos aplicariam o excesso de energia em sua vida pessoal, em alguns exemplos.

Sua mulher não lhe dá mais atenção: manda embora.

Seus filhos não obedecem mais: troca por outros.

Quer aumentar a casa, contraindo empréstimo bancário que não sabe se terá condições de pagar: sem problema se for despejado.

O chefe é muito exigente no trabalho: cria um movimento pra depor o cara e trocar por outro – aqui se recomenda o uso de redes sociais, pra pressão ficar insuportável.

Paciência é o primeiro passo para discernir se as coisas estão acontecendo na hora certa, e da maneira esperada.

Não há como ser maduro e impaciente. Assim como não se pode esperar da vida apenas a parte boa.

Como disse Lars Von Trier, citando Marilyn Monroe, ao ser perguntado se mudaria seu jeito de ser e fazer filmes, uma vez que é tido como cineasta polêmico:

“Se não aguentam o meu pior, não merecem o meu melhor”.

E a Marilyn era linda, além de boa atriz.

Eu acho.

Quem discordar de mim, paciência…

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Perfil FC Barcelona: protocolo de avaliação de jogadores

No dia 29 de agosto, a Universidade do Futebol publicou uma nota resumindo os temas discutidos no II Seminário de Futebol, realizado no Grêmio e com o apoio da Escola Superior de Educação Física da UFRGS. Como tive a possibilidade de participar deste importante evento que, conforme os próprios organizadores mencionaram, serve para contribuir com a evolução do futebol brasileiro, eu me comprometi em compartilhar dos conhecimentos lá adquiridos, sobretudo os diretamente relacionados com a área de atuação técnica.

Na coluna desta semana serão apresentados detalhes da palestra feita pelo gerente de prospecção do FC Barcelona, Jordi Melero Busquets, que abordou os temas: “Protocolo de avaliação de jogadores para o plantel profissional” e “Características individuais para integrar o clube catalão.

A seguir, o que foi ministrado em relação ao primeiro tema:

Todos os observadores da Secretaria Técnica de Futebol Profissional do clube espanhol têm a missão de captar jogadores para a equipe principal, equipe B e para o Juvenil A. Eles são divididos em seis zonas no território nacional e distribuídos nos demais países do futebol internacional em mercados denominados A, que são compostos por países como Brasil, Itália, França, Alemanha e Argentina. Nestes países, considerados de 1º nível, é feito um controle exaustivo de informação dos jogadores.

Para mercados B (México, Suíça, Bélgica, Uruguai, etc.) e C (Japão, Coreia, Bolívia, Turquia, etc.) as informações são captadas como controle referencial e para possível necessidade de contatos futuros. O deslocamento pessoal para o Mercado C não ocorre em um primeiro momento.

A ferramenta utilizada pelo FC Barcelona para o acompanhamento de todos os jogadores dos mercados A, B e C é o software Scout7 (clubs.scout7.com). Neste software utilizado é possível acompanhar informações relevantes acerca de cada jogador como competições disputadas, tempo total jogado, histórico de anos anteriores, cartões recebidos, gols, assistências, tempo de contrato e até se o atleta tem passaporte comunitário.

Semanalmente, os observadores se reúnem para discutir quais jogadores chamaram atenção na prospecção. Mensalmente, os jogadores de maior destaque são apresentados à comissão desportiva para iniciarem os filtros do processo de contratação (veja a seguir) e, a cada dois meses, os observadores são convocados pelos coordenadores do clube para discutirem as linhas de sucessão, ou seja, quais são as necessidades em relação aos próximos atletas a integrarem o plantel principal, o da equipe B ou o Juvenil A.

Durante a prospecção dos jogadores, cada análise feita gera a classificação de um dos três tipos de produto (jogador) para o clube:

Produto 1 – Barcelona – Atleta preparado para competir na primeira equipe;

Produto 2 – Atleta para o futuro:
Incorporar primeira equipe;
1ª Equipe para curto prazo;
Barcelona B, Juvenil A ou Empréstimo;

Produto 3 – Atleta com perfil Barcelona para as categorias inferiores.

O jogador que despertar interesse dos observadores passa pelo filtro 1, que é o de detecção e conta somente com informes escritos. Após a tomada de decisão dos gestores da equipe catalã, o atleta pode ser descartado, ou então, iniciar o filtro 2, correspondente ao seguimento do processo de captação. Neste filtro, além das informações escritas do atleta, é inserido um material visual que contém de 8 a 10 minutos de ações ofensivas e defensivas e que é encaminhado ao treinador da equipe principal, Pep Guardiola.

Abaixo, um pequeno trecho da análise de um jogador captado (mas não contratado) que vai além dos atributos técnicos:

” Jugador sin aparentes alteraciones de comportamiento. Gran nível de atención y concentración debido su dependencia de lectura de juego para explorar sus cualidades. Trabajador, sin altos y bajos de rendimiento…”

Para cada ação separada em vídeo, existe um comentário sobre a característica do jogador que está sendo evidenciada.

Uma vez aprovado pelo treinador da equipe principal, o atleta passará para o filtro 3, que é o de contratação. Neste filtro, os observadores não têm mais nenhuma influência e a tomada de decisão dos gestores será para oficializar a contratação, adiá-la ou descartá-la em processos que Jordi Melero não aprofundou.

Para finalizar, o palestrante indicou quais foram as necessidades definidas pela gestão de futebol do clube espanhol, indicadas na linha de sucessão do mês de fevereiro do presente ano.


 

Leitores, esta foi a síntese da apresentação sobre captação de jogadores do FC Barcelona. Na próxima semana, serão apresentadas as características individuais buscadas pelos observadores para cada uma das posições do 1-4-3-3 espanhol (arquero, centrales, laterales, mediocentro, inferiores, extremos y delantero centro).

Desta bela apresentação, alguns questionamentos ficam para os profissionais do futebol brasileiro: Como as equipes brasileiras classificam cada um dos seus “produtos”? Os observadores brasileiros que trabalham para clubes têm/seguem algum protocolo de avaliação? Os clubes brasileiros fazem reuniões periódicas para estabelecer a sua linha de sucessão e avaliar necessidades no plantel principal, equipe B, sub-20 e categorias de base?

Mesmo como pentacampeões do mundo temos que reverenciar o clube que ninguém pode negar que é o maior exemplo de Filosofia, Modelo e Gestão no futebol atual.

Porém, não podemos perder as esperanças que algo semelhante um dia aconteça no Brasil, pois, o FC Barcelona já foi um clube com predomínio dos jogadores de mais de 1,80m e excesso de “força física”.

E aí chegou Johan Cruyff…

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Planejamento pessoal e profissional em três fases – fase III de III

Saudações a todos!

Na fase I, fizemos nossa pré-temporada, na qual refletimos e planejamos sobre os desejos pessoais e profissionais para os próximos anos. Em seguida, na fase II, iniciamos o jogo, e tudo o que foi planejado é posto em campo; só assim conseguimos fazer os ajustes necessários para a fase decisiva do campeonato.

Nesta semana, iniciaremos a fase III, terceira e última etapa de nosso exercício. Esta é uma fase decisiva, e assim como ocorre no futebol ou na Fórmula 1, temos um objetivo, um propósito – no esporte, este propósito é o título do campeonato; neste planejamento, precisamos identificar qual é o nosso propósito de vida.

No entanto, vocês perceberão, com base nas fases I e II, que esse propósito já existe. E que não deve ser criado ou inventado, e sim detectado e respondido de forma natural. Da mesma maneira, se você perguntar para um jogador de um grande time ou para um piloto de ponta na Fórmula 1 sobre qual o seu propósito, ele imediatamente responde que é o título. Nosso objetivo é que ao fim desta fase, se perguntado qual o seu propósito, você consiga responder imediatamente e naturalmente qual o é.

Gostaria de, durante este intervalo, receber suas dúvidas. Fique a vontade para perguntar. Ultimamente, tenho recebido vários e-mails e garanto que respondo a todos.

Como aconteceu na fase anterior, este período atual requer muita atenção e dedicação. O desafio será fazer em sete dias suas reflexões e as concretizações dos planos. Vamos à fase III, porém, antes de iniciá-la, procure revisar aspectos importantes, releia seus objetivos e pontos de controle. Tempo estimado para esta reflexão é de um dia.

Passos para realização de planejamento profissional/pessoal

Fase III – tempo estimado da etapa: sete dias

Faremos conforme o método abaixo:

- Objetivo

Desenvolva um enfoque claro para a próxima etapa de sua vida. Conhecendo seu propósito, você poderá concentrar suas energias naquilo que é mais significativo e importante. O objetivo não é “criar” ou “inventar” seu propósito, mas “detectá-lo”. Todos têm um propósito. Há uma razão para sua vida e para tudo que aconteceu até agora. O objetivo deste exercício é descobrir o propósito primordial que deverá guiá-lo no próximo momento de sua vida.

- Instruções

Torne-se um “observador desapegado” e revise sua linha de vida (que você escreveu no material) e responda às seguintes perguntas:

1. Qual é a sua paixão? Que parte do seu “trabalho” lhe dá o poder e a energia máximos?

2. O que realmente gosta de fazer?

3. Observe suas maiores habilidades (que você escreveu no material). O que faz melhor?

4. Qual é sua plataforma econômica? Qual enfoque em sua vida lhe dá a base econômica necessária? Ou seja, como ganha seu dinheiro?

5. Qual é o seu passo seguinte? Como sente que será a próxima fase importante de sua vida?

6. O que sente que tem de melhor para oferecer ao mundo? Pode ser um dom natural ou um talento especial que tenha adquirido através da experiência. É aquilo que mais quer dar aos outros.

7. Imagine que tudo o que ocorreu com você até agora tenha sido um treinamento para algo que acontecerá no próximo momento de sua vida. Se todos os momentos bons e ruins tiveram a intenção de prepará-lo para algum papel especial que agora está na sua frente, em que área ou campo acha que é mais provável que aconteça?

Revise suas respostas anteriores. Concentre-se no próximo momento de sua vida e complete a declaração abaixo nos seguintes termos: “No próximo momento da minha vida, eu (use verbo, por exemplo) contribuirei para (fazer o quê) por meio de (talentos, qualidades, ativos)”.

Entendeu? Um propósito de vida pode ser escrito como a declaração de uma intenção elevada. Segue um exemplo:

- ”Cuidar daqueles que todos abandonaram”, Madre Teresa.

- ”Servir à sociedade través da atividade industrial”, KVK Raju, homem de negócios e filantropo indiano.

- ”Ser uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, com uma liderança baseada em valores”, empresária chinesa educada na Europa.

- ”Conservar e divulgar o acervo artístico, histórico e científico reunido ao longo de mais de 70 anos”, Ema Gordon Klabin, da Fundação Cultural Ema Gordon Klabin.

Escreva o seu OBJETIVO PRINCIPAL. Este deve ser a raiz de sua existência, e isso é o mais difícil de fazer.

Depois escolha no máximo quatro áreas com foco de atuação. Selecione uma das indicações abaixo como base para suas escolhas – elas serão as plataformas para a realização do exercício completo conforme orientação a seguir:

- Família
- Profissão
- Lazer
- Finanças
- Desenvolvimento espiritual
- Serviço à comunidade
- Saúde
- Trabalho

Nota: Depois de finalizado o trabalho com as quatro áreas, faça o mesmo exercício com as demais áreas.

Para as quatro áreas “foco” escrevam:

- Objetivos
São concretos, em um tempo específico e mensurável, os objetivos devem considerar as barreiras para diminuí-las ou eliminá-las (o que pode ver e consegue alcançar; o que fazer).

- Estratégia
É uma direção maior que vai adotar por um período de até 12 meses. Melhor planejar em curto prazo e depois revisar mais adiante (como alcançar o que pode ver; como fazer).

- Ações
São de curto prazo e habitualmente tarefas únicas. O que vai fazer nos próximos 15 dias (passos imediatos em direção ao alvo).

Cada uma das afirmações das áreas de foco deve se transformar em objetivos específicos, realistas, verificáveis e com prazos definidos, portanto, reflita sobre as perguntas abaixo para a definição dos objetivos, das estratégias e das ações:

1. Para cada uma dessas áreas foco, onde eu quero estar em 18 meses, levando em consideração cada uma destas áreas?

2. Como eu farei isso?

3. O que eu vou fazer de imediato para mover-me em direção à realização deste objetivo?

Nunca se esqueça:

- Tudo tem seu momento;

- Colocar-se no lugar do outro (quando seu objetivo tiver impacto em outras pessoas);

- Ser realista sobre o que leva ao sucesso;

- Inovar sempre (pense diferente);

- Encontrar saídas criativas;

- Ser mais rápido do que o desafio;

- Não adiar a felicidade!

Exemplos de objetivos, estratégias e ações:

Área: Profissão

Objetivo: Publicar o primeiro livro virtual sobre liderança num prazo de 12 meses.

Estratégias:

1. Completar o primeiro manuscrito até setembro.
2. Fazer a revisão até novembro.
3. Testar a idéia do livro no mercado através da empresa XYZ até março.

Ações:

1. Falar com Maria para preparar outro escritório para o Pedro poder escrever.
2. Convidar potenciais autores para jantar no sábado.
3. Falar com Roberto sobre o dinheiro para o mês que vem (hoje).

Você está prestes a completar o exercício, portanto concentre sua mente e, ao finalizar a fase III, faça uma revisão minuciosa em todo o material anterior, fases I e II. E lembre-se que uma intenção sem ação é igual a NADA.

O objetivo é que entre 02/09 e 09/09 vocês concluam esta etapa e tirem suas dúvidas com o autor. Voltaremos a nos ver aqui no dia 16/09, com a rotina normal de textos.

Então, é com vocês. Mãos a obra. Agora, intervalo, vamos aos vestiários.

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br  

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O dilema dos gênios sonolentos, no futebol e na vida: acerto impensado é erro. E erro que dá certo não é acerto; é sorte!

Comumente ouvimos na imprensa esportiva e nos bate-papos de botequim muitas reclamações sobre meio campistas “camisas 10”.

Frases como “Já não se fazem mais ‘camisas 10’ como antigamente” parecem se repetir constantemente.

Mas será que essa avaliação é correta?

Muitos atletas consagrados em nosso meio (Rivelino, Rivaldo, Alex-Fenerbaçe, Souza – Rio Branco/Corinthians/São Paulo/seleção, Valdívia, Douglas – Grêmio, Ricardinho – Bahia, Djalminha, Diego Souza, Roger – Cruzeiro, e dezenas de outros jogadores) cansaram de num dia ser considerados craques por jogadas geniais e n’outro ser chamados de sonolentos por segurarem demais a bola ou parecerem não ter efetividade nas jogadas.

Mas será que é possível haver um meio termo entre a genialidade e a sonolência?

Na história da humanidade muitos gênios foram injustiçados por enxergarem a frente de seu tempo. Alguns inclusive foram severamente punidos.

No futebol, o grande problema é que só vemos a jogada concluída. Raramente saberemos a verdadeira intenção do jogador e o que este realmente pretendia fazer. Em nossa limitação, só conseguimos julgar o que de fato ele fez, mas nunca o que queria fazer.

Lembro-me de uma interessante frase que surgiu nos tempos em que eu treinava equipes universitárias de futebol – a qual norteou o título dessa coluna – e apresenta os seguintes dizeres: “Acerto impensado é erro. E erro que dá certo não é acerto; é sorte!”.

Com essa frase entendo porque muitos torcedores pegavam – e ainda pegam – no pé de jogadores eleitos por eles mesmos como craques.

É que o jogador genial está sempre querendo fazer a melhor jogada. Ao decidir se deve chutar, passar ou driblar, o jogador genial irá verificar todas as possibilidades para depois escolher a melhor. A tragédia é que quanto mais opções ele pensa, mais tempo ele demora e é exatamente aí que ocorrem as injustiças.

Por não possuir a mesma genialidade do jogador, a maioria dos torcedores toma a decisão mais rápida, mas geralmente sem saber se ela realmente é a melhor. Cria-se, então a expectativa de o jogador reproduzir exatamente o que está no pensamento do torcedor (que geralmente é só avançar para o gol), mas quando isso não acontece já é motivo de condenação: “Sonolento!”.

Mas o que será que vale mais a pena? Demorar um pouco mais e tomar a melhor decisão possível ou decidir o mais rápido possível mesmo correndo o risco de não ser a melhor opção?

Obviamente que o ideal é decidir o certo no menor intervalo de tempo possível, e é exatamente quando isso ocorre que aquele sonolento se torna craque. Nesses casos, surge uma jogada que nos dá a impressão de que só aquele jogador viu aquela determinada jogada e por sua maestria na execução foi que ela deu certo. É aí que precisamos assistir ao lance dezenas de vezes em câmera lenta para entender como aquela jogada pôde ser realizada e como aquele atleta viu o que ninguém viu.

Mas é justamente por ser genial que ele viu – e fez – o que ninguém veria ou faria.

O gênio sofre em ser julgado por aqueles que se encontram numa condição inferior e geralmente enxergam o fenômeno de outro jeito – quase sempre reducionista e simplificado.

A resultante dessa diferença normalmente acaba num julgamento errôneo, contudo não é tão danoso quando ocorre apenas por parte da torcida. Triste mesmo é quando ocorre por treinadores ou dirigentes medianos que, ao invés de explorarem o potencial do diferente que está acima da média, tentam enquadrá-lo no esquema da maioria e transformam seus craques em sonolentos; seus sonolentos em sonâmbulos e seus sonâmbulos em zumbis. Com isso acabam com qualquer probabilidade de sucesso por falta de visão.

Quem dera fossemos todos acima da média! Mas não somos!

Sendo assim, podemos pelo menos respeitar as potencialidades individuais e explorar o que cada um tem de melhor. Com isso já saímos em vantagem.

Finalizando, seja você quem for – torcedor, jogador, treinador ou dirigente – genial ou não, esforce-se para sempre analisar todas as possibilidades antes de tomar a melhor decisão; mesmo que para isso seja necessário esperar um pouco mais de tempo.

Até a próxima quinta!

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br