Na semana passada, a Universidade do Futebol publicou na íntegra o post feito pelo zagueiro do Corinthians Paulo André, em seu blog oficial, a respeito das categorias de base, mais especificamente em relação ao clube que atua.
Uma semana depois, um importante canal de televisão brasileiro, em seu portal de notícias, promoveu uma matéria com um atleta corintiano recém-contratado, em que o tema principal era a qualidade da “resenha” do jogador e as mais de 500 mulheres com as quais ele já saiu.
Como devemos respeitar as diferentes interpretações/visões da realidade, feitas por cada indivíduo/sociedade, e compreender que questões como estas, ou então, de Luiza, do Michel Teló, além do episódio no BBB, são mais atrativas do que questões ideológicas e revolucionárias, prefiro, ao invés de criticar a referida matéria, divulgar a louvável iniciativa do zagueiro Paulo André e “brigar” para que ela ganhe maiores dimensões.
Há alguns dias, participei de uma matéria feita pelo canal SporTV que abordava a perda de prestígio dos treinadores brasileiros no cenário mundial. De uma maneira simplificada, a reportagem permitiu a compreensão de somente um pequeno fragmento do todo que tem desprestigiado nossos treinadores e, é claro, nosso futebol. A repercussão da matéria: mínima!
Da grande parte das ideias que tentei transmitir em cerca de cinco minutos de entrevista, somente alguns segundos foram ao ar. Estou certo de que muitas, senão todas as ideias que mencionei à jornalista já foram bastante discutidas/exploradas/evidenciadas na Universidade do Futebol. Porém, estas ideias (as minhas, as suas, as dos demais colunistas e colaboradores) não podem ter suas divulgações restritas somente a este espaço.
E é neste ponto que o atleta Paulo André pode contribuir com nossas reflexões diárias acerca do futebol.
Atleta profissional de um clube de massa, com respeito de diretoria, torcedores e mídia em geral, o valor simbólico da sua opinião é infinitamente superior a minha, colunista semanal e técnico adjunto do pequeno Paulínia FC.
Ao ler o post de Paulo André, redigi a seguinte opinião:
“Qualquer comentário sobre a atual situação do futebol brasileiro pode parecer pobre quando comentada em poucas linhas, ainda mais quando o assunto se refere às categorias de base, ou melhor, ao FUTURO do nosso futebol.
Já mencionei em uma das minhas publicações na Universidade do Futebol que o Brasil tem material humano suficiente para ter pelo menos um Barcelona (clube modelo de formação) por Estado. Para isso, falta o principal: gestão competente do departamento de futebol profissional dos mais de mil clubes espalhados pelo país.
Poderia comentar a visão da gestão para os diferentes perfis de clubes (formadores, clubes de massa, clubes pequenos) e também sobre os diferentes perfis de administração (terceirização, abandono, descaso, investimentos exorbitantes), que possibilitaria uma maior visão sobre as categorias de base no Brasil, porém, como você relata o case Corinthians (clube de massa com investimento anual exorbitante na Base), é nele que irei me prender.
Concordo plenamente que poucos jogadores estão maduros (fisica-técnica-tática-emocionalmente) aos 18 anos para ingressarem em alto nível no Depto. Profissional, porém, emprestar jogadores penso que não é a alternativa mais viável. Disputar competições com uma equipe B é uma opção plausível. O elenco principal teria mais tempo para a pré-temporada (e você mais tempo de preparação que tanto deseja) se vocês jogassem somente alguns jogos do Campeonato Estadual. Num ano em que vale o título ainda não conquistado (Libertadores), Campeonato Paulista não deve ser prioridade de título da diretoria. Eis um momento importante para jovens jogadores amadurecerem!
Sobre a mudança de idade da Copa SP, na minha visão, é indiferente. Clubes bem planejados, não devem fazer deste torneio o divisor de águas sobre um bom ou um mau trabalho. O São Paulo foi Campeão Paulista sub-20 e eliminado na 1ª fase da Copinha; sinal que está tudo errado e que alguém deve pagar por isso? De maneira alguma.
Caso o Corinthians seja campeão (assim como foi), também não significa que muitos estarão em condições de jogar no profissional. Com diversas competições nacionais e internacionais de categorias de base, a Copa SP é somente mais uma com mais visibilidade do que as demais devido ao recesso do futebol profissional.
Desfazer-se da categoria de base, no caso do Corinthians, é desfazer-se da grande identidade futura do clube. Qual o melhor ambiente para a raça corintiana (idolatrada pela torcida) ser adquirida que não no depto de formação do clube? Será que, ao longo do tempo, todos os jogadores contratados viriam com este sentimento/atitude?
Será que as contratações se encaixariam perfeitamente no Modelo de Jogo do clube (e não no Modelo do treinador)? Se tal Modelo estiver sendo desenvolvido desde o Dente de Leite (como faz o Barça) ao sub-20/sub-23, pouquíssimos jogadores precisariam ser contratados.
Este meu argumento poderia ser facilmente batido ao mencionar que o Real Madrid quase não tem jogadores da base. É fato, como também é certo que é muito custoso (muito mais que R$ 15 milhões) e que não é garantia de título. Faz anos que o Real não disputa uma final de Champions.
Concluindo, passa tudo pelo principal: gestão competente do depto de futebol profissional que deve estreitar a comunicação com a base, contratar profissionais capacitados para o depto. de formação, aproveitar as mudanças da Lei Pelé que privilegiam o clube formador com um contrato, transmitir uma filosofia desejada e supervisionar sua aplicação, profissionalizar com salário coerente, atletas em potencial e preparar os jogadores (fisica-técnica-tática-emocionalmente) com o que há de mais atual em relação à metodologia de treinamento e se desvincular de agentes/empresários que limitam a evolução do futebol brasileiro e prejudicam os clubes.
Enfim, é um processo demorado, trabalhoso, mas que pode dar sentido (lucro e sustentabilidade) à existência das categorias de base dos clubes de massa.
Talvez, com a operacionalização de tudo isso, jogadores mais “maduros” (atletas e não boleiros) apareçam em maior número e já nas idades de transição da categoria Júnior.”
O Paulo André ainda irá fazer mais três publicações sobre o mesmo tema. Irá, inclusive, contrapor a opinião da postagem inicial. Não deixe de se posicionar! Entre no blog do atleta e o instigue com reflexões, questionamentos e comentários. Enfim, faça sua parte. Quanto mais pessoas pensarem e intervirem nas questões do futebol de formação, mais rápida será nossa evolução.
Por enquanto, agradeço ao Paulo André pela iniciativa. Bem que poderíamos ter um jogador (atleta e não boleiro) como este por clube grande do futebol brasileiro!
Para interagir com o colunista: eduardo@universidadedofutebol.com.br