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O papel do treinador na dimensão individual – parte I

Somos unânimes quanto aos objetivos do treinamento. Na sua operacionalização, porém, aplicamos meios e métodos distintos, baseados em nossas experiências, crenças e conhecimentos teórico-práticos, na constante busca pelo aperfeiçoamento da nossa equipe.

Quem procura atuar a partir de uma perspectiva sistêmica deve respeitar o conceito dos fractais, já discutido em outra coluna, em que toda situação de treino criada deve ser uma parte representativa do Todo. Como o Todo, na essência, é Jogo, é fundamental que os treinos assumam essas características para que o princípio da especificidade seja contemplado.

E numa comissão técnica que assume (ou ao menos tenta assumir) uma periodização que tenha as situações de jogo como norteadoras do planejamento de treinos, dúvidas (naturais) surgem ao longo do desenvolvimento do trabalho.

Dentre essas dúvidas, uma parece ser predominante: a necessidade de realizar exercícios técnicos diversos (finalizações, cruzamentos, cabeceios) para complementar o trabalho. Sob esta ótica, acreditam que os erros individuais das ações técnicas do jogo serão corrigidos simplesmente com a repetição destas “mesmas ações” em situações de treino analíticas.

As justificativas para fazerem este complemento são bem variadas e abrangem além da destacada necessidade do aprimoramento técnico, a necessidade do atleta adquirir confiança na repetição do gesto e até a opinião do próprio treinador que pode não ter visto essas “mesmas ações” ao longo dos treinamentos e, portanto, realiza o complemento.

Influenciados pelo pensamento tecnicista, muitos treinadores simplificam o real problema de suas equipes. Simplificam, pois essas “mesmas ações” reproduzidas em exercícios analíticos, na verdade, estão muito distantes dos problemas impostos pelo jogo.

Quantas vezes você já viu um atleta finalizar seis bolas em sequência, todas aproximadamente na mesma distância do alvo? Acontecem quantas vezes num jogo a ida de um lateral a linha de fundo em que ele ergue a cabeça, vê que na área só tem companheiros de equipe e que ele deve cruzar a bola sem que o goleiro possa interceptar o cruzamento? E o volante que inverte uma bola sem qualquer pressão de espaço e tempo no setor que, no jogo, é o mais ocupado do campo?

Não significa que devemos retirar esses complementos que incidem sobre a dimensão individual da equipe e sim contextualizá-los (e aí eles deixam de ser complementos e fazem parte da periodização) com a realidade do Modelo de Jogo da equipe e, mais do que isso, do próprio Jogo.

Inicialmente, o treinador deve refletir se os erros observados que ele pretende corrigir tem origem exclusivamente técnica. Reitero a afirmação de outras colunas sobre os problemas do jogo (tático-técnico-físico-mentais) que são tantos para cada um dos seus onze jogadores, que é equivocado reduzirmos à somente uma vertente.

Então, uma vez que treinos (jogos) mais complexos, que envolvam maior número de jogadores e grandes princípios de jogo, podem não proporcionar a densidade de ações pretendida para um determinado problema de dimensão individual e diante do que foi abordado, qual pode ser a solução para o treinador corrigir problemas com essa origem?

A solução está nos Jogos Conceituais!

A partir das quatro situações hipotéticas abaixo, indicarei atividades conceituais que incidirão predominantemente sobre o problema.

1º Um centroavante precisa fazer mais penetrações;
2º Um meia não tem buscado a recuperação imediata da posse de bola após sua perda;
3º Um lateral tem errado muito as decisões quando chega à linha de fundo;
4º Um meia tem finalizado pouco.

Como o objetivo da coluna não é de trazer respostas prontas, antes de apresentar minhas sugestões, aguardo sua opinião, caro leitor.

Abraços e bons treinos!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br