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Reconciliação. Vamos fazer diferente?

Quando aceitei o honroso convite da Universidade do Futebol para escrever uma coluna, logo me veio a preocupação com o tema desse primeiro texto. Não queria falar sobre estatísticas, dados, projeções, etc, nem fazer análises ou mostrar gráficos como todos já se acostumaram a ver nos estudos da Pluri.

Também não quero ser mais um reclamando contra tudo e contra todos, repetir mais sobre tudo aquilo que já tanto falamos.

É verdade, não há mudança sem aqueles que gritam, são eles os primeiros a apontar para os erros e injustiças. Mas chega uma hora em que precisamos ir além, dar um passo a mais, você não acha?

Há muitos problemas com o nosso pobre e surrado futebol, ele parece pior a cada dia, dentro e fora do campo. Tem uma atmosfera pesada, há nuvens cada dia mais cinzentas, reclamações de todos os lados, posturas exaltadas, uma mistura de cansaço e raiva. Jogadores, técnicos, dirigentes, juízes, tribunais, torcedores, imprensa, analistas, a verdade é que todos nós estamos muito pilhados.

Há muitas mãos levantadas, muitas caras fechadas e dedos apontados. Dá pra ser diferente?

Uma de minhas bandas preferidas é a australiana Midnight oil, sempre fui fã dos caras pelas letras fortes, a consciência do poder da música pra mudar uma realidade…

Você já ouviu Bedlam Bridge, dos oils? Ela fala sobre um lugar diferente, quase um paraíso, muito diferente do mundo hostil em que vivemos, e para chegar a esse lugar, basta cruzar a Bedlam Bridge.

Onde está a nossa Bedlam bridge?
 


 

Na Pluri, vamos iniciar em breve um movimento para aglutinar pessoas e ideias em torno de propostas objetivas para o futebol, um movimento inclusivo e que olhe para todos os lados, se não fizermos isso não vamos avançar.

Há vários temas complicados a discutir, o problema do calendário, o futuro dos clubes pequenos, como fazer os grandes virarem potências internacionais, o risco da espanholização, as discussões sobre as convocações para seleção, os estádios cada dia mais vazios, etc.

Mas também temos muitas pessoas inteligentes e propostas inovadoras, por que não mobilizar e unir esse pessoal?

Certo, os obstáculos são muitos, a caminhada será longa e há interesses em jogo, muitos deles conflitantes e antagônicos, mas isso não nos impede de tentar, impede?

Há muitas iniciativas boas e que nunca foram à frente, nós desistimos antes mesmo de começar, por que tem que ser assim? Eu acredito em um novo amanhecer do nosso futebol, não nessa noite eterna em que vivemos.

Não me fale em continuar repetindo o velho bordão “isso nunca vai mudar”: é hora de deixar nosso cinismo de lado e trabalhar por um futebol melhor.

Quem quer levantar e seguir em frente?

Nós vamos trabalhar por isso, de um jeito acolhedor, inclusivo, vamos tentar reconciliar as pessoas do futebol. É verdade, alguns dos que são contra a modernização dos clubes e federações são verdadeiros gangsters, desses não podemos esperar nem pedir nada. Mas tantos outros talvez não sejam, talvez com uma abordagem diferente possamos avançar.

Eu realmente acredito nisso, e não sou um cara ingênuo. Todos nós temos preocupações e medos, queremos driblar as incertezas do futuro, e por isso agimos de acordo com aquilo que é melhor para nós ou para as pessoas próximas a nós. Isso explica muitas das atitudes, decisões erradas ou até mesmo a falta de decisões que nos levaram ao estado atual.

Aqueles de coração bom se revoltam, veem o nosso esporte preferido e nossos clubes de infância maltratados, pensam como as coisas poderiam ser diferentes…toda a alegria desperdiçada.

Sei que temos dentro de nós o sentimento verdadeiro da tentativa de fazer o melhor, desde pequenos fomos programados pra isso. Quem de nós não teve aquelas fantasias de infância, de salvar as pessoas e o mundo? Tenho esse sentimento dentro de mim, e com o tempo a experiência nos mostra os atalhos, que muitas vezes estão ao nosso lado mas insistimos em não olhar, acomodados, com o caminho de sempre.

É hora de caminhar, eu vou tentar!

Up on bedlam bridge somebody is waiting…

Para interagir com o autor: fernando.ferreira@universidadedofutebol.com.br

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A questão das faixas e cartazes ofensivos na partida entre Atlético-MG e Fluminense

Na épica partida contra o Fluminense, no estádio Independência, insatisfeitos com equívocos da arbitragem que teriam favorecido ao time carioca, torcedores do Atlético-MG formaram um mosaico com as letras CBF e as cores do clube visitante.

Além disso, os atleticanos também levaram cartazes com montagem dos escudos da entidade e do Fluminense e muitos usaram nariz de palhaço.

Em razão destes fatos, o procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Paulo Schmitt, apresentou denúncia ao entender que o Atlético-MG colaborou para a formação do mosaico e o enquadrou no artigo 191 do Código Brasileiro de Justiça Desportivo (CBJD), incisos I e II, em que o clube é acusado de “deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de obrigação legal e de regulamento, geral ou especial, de competição”. Se for punido, o clube mineiro terá de pagar multa de R$ 100 a R$ 100 mil.

O Estatuto do Torcedor, em seu artigo 13-A, estabelece que são condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo.

Destarte, a interpretação deste dispositivo legal deve-se dar de forma congruente com o que dispõe a Constituição Brasileira que assegura a liberdade de expressão. Assim, não há impedimento às manifestações, mas a atos que possam ser ofensivos, notadamente racistas ou xenófobos.

A intenção da torcida atleticana, tal qual já havia se manifestado os torcedores do Náutico, era chamar atenção para os notórios e repetidos erros de arbitragem no Campeonato Brasileiro.

Importante citar a sustentação do dr. Lucas Ottoni, advogado do Clube Atlético Mineiro:

“Se a CBF tivesse se sentido ofendida, ela teria agido e solicitado que fosse tomada alguma atitude. Talvez a procuradoria esteja aumentando. No futebol, isso é um traço cultural. Admite-se esse tipo de expressão. O clube tem sim o direito de agir, mas neste caso não houve nada pessoal. No caso do Joinville há sim manifestação ofensiva direcionada. No caso do Grêmio foi contra a dona Miguelina, mãe do Ronaldinho, e também houve desrespeito. A liberdade de expressão é garantida à nossa constituição e, neste caso, uma eventual condenação é desconhecer, é voltar aos tempos de regime de ditadura do nosso país. Por não haver nenhuma manifestação ofensiva e sim de protesto, a defesa vem pedir que o clube seja apenas advertido”.

No julgamento pelo STJD, o presidente da sessão, Paulo Valed Perry e o relator, Washington Oliveira, votaram a favor da absolvição, enquanto o auditor Felipe Bevilacqua votou para a punição de R$ 20 mil, ao entender que deixar de punir este fato pode abrir precedentes para outros casos.

Com este resultado, imperou o respeito às normas constitucionais, especialmente no que concerne à liberdade de expressão e também ao bom senso.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br