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Organização tática: sua equipe é organizada?

O que é uma equipe de futebol que joga de maneira organizada?

Começo o texto desta semana com a questão acima para propor uma discussão sobre os conceitos de “organização” e de “ordem” no jogo de futebol, e especialmente sobre a percepção que nós, torcedores, especialistas e/ou observadores de uma forma geral, temos sobre o “jogar coletivo” de equipes durante uma partida.

Não é incomum, mesmo no universo dos que têm a visão treinada e altamente especializada para notar “coisas” (dinâmicas, alterações, padrões, etc.) dentro de um jogo, que haja certas divergências e certos consensos, e que esses se distingam do que é percebido por um senso-comum.

Recentemente, fui a um estádio de futebol para assistir a um jogo entre duas equipes com propostas organizacionais bem distintas.

A equipe, que vou chamar de “A”, foi derrotada pela outra, que vou chamar de “B”.

Quando a partida chegou ao seu final, houve certa unanimidade entre os colegas ao entorno da cabine onde estava assistindo ao jogo, de que a equipe “A” (a que perdeu) foi e era mais organizada do que a equipe “B”, e que essa (a equipe “B”), portanto, não merecia ter vencido.

Sem entrar nesse momento do texto, no mérito da discussão sobre “ser mais organizada e merecer ganhar” (ou vice-versa), quero antes de qualquer coisa expor algumas ideias.

A primeira delas diz respeito ao conceito de organização.

Se nos apropriarmos de apontamentos e reflexões realizadas por autores e pensadores da filosofia, física e matemática, podemos entender “organização” como algo que dá sentido à maneira que elementos de um sistema interagem entre si, de forma a constituir coletivamente uma identidade que caracteriza esse sistema.

Em outras palavras, “organização” é um conjunto entrelaçado de regras e referências que governam os elementos de um sistema, possibilitando a ele (ao sistema) funcionar coletivamente.

No futebol, o conceito de organização diz respeito ao norteamento das ações simultâneas dos jogadores durante o jogo (considerando suas interferências umas nas outras). Diz respeito também ao balizamento das dinâmicas de ocupação do espaço, em busca do cumprimento coletivo das estratégias e referências (explícitas ou implícitas) que regem o jogar de uma equipe.

Pois bem.

Os níveis de organização de um sistema podem ser constantemente aperfeiçoados.

Em uma equipe de futebol, esse aperfeiçoamento pode significar uma robustez coletiva maior para ficar menos suscetível a desequilíbrios e desordens (desequilíbrios e desordens decorrentes do enfrentamento aos seus adversários durante as partidas).

Mas como identificar e definir o tipo ou nível de organização de uma equipe de futebol?

Essa pergunta por si só, já faria todo sentido por carregar consigo uma vasta possibilidade de discussões. Mas aqui no texto, tem um peso ainda maior, justamente por que comecei a construção dos argumentos até aqui, em cima de uma afirmação “pinçada” de observações feitas por colegas, após um jogo de futebol (“a equipe “A” (a que perdeu o jogo) foi e era mais organizada do que a equipe “B”, e essa (a equipe “B”), então, não merecia ter vencido”).

Se alguém diz que uma equipe é “mais organizada” do que outra equipe, deve fazê-lo a partir de parâmetros que sustentem essa observação. Mas que parâmetros são esses?

É difícil dizer, especialmente porque alguns parâmetros podem ser vistos como algo bom e positivo em um ambiente, mas como algo ruim e negativo em outro.

Uma equipe que, por exemplo, esteja imersa em um ambiente onde jogadores devem estar sempre próximos aos seus adversários, marcando-os individualmente onde quer que estejam no campo, podem ser avaliados como maus marcadores em um ambiente em que as ações corretas para resolver problemas defensivos sejam aquelas voltadas para marcar o espaço e não o adversário.

Ampliando isso para uma discussão que envolva princípios operacionais, estruturais, estratégias, padrões, dinâmicas, modelos ou culturas de jogo, é plausível dizer que uma equipe é mais organizada, quanto mais, ao olhar do observador, ela pareça organizada.

Isso não quer dizer, necessariamente, que ela realmente é mais organizada.
Se uma equipe parece “bagunçada”, não quer dizer que ela necessariamente seja.

Se alguém olha para o jogo para ver princípios estruturais de ataque, defesa e transição, e não os encontra de maneira clara e bem definida, não quer dizer que a equipe observada não os possua, ou ainda, não os possuindo de maneira evidente em seu jogar, que ela não seja organizada (ou que seja menos organizada).

Se os parâmetros de alguém que avalia o jogo são X, Y, Z, W (ou qualquer outro), mas os da equipe são A, B, C, D (ou qualquer outro) – e ainda, se esses A, B, C ou D, estiverem ocultos ao observador – o jogar da equipe poderá aparentar caos, desordem.

Mas não porque seja assim, e sim, simplesmente, porque o observador os desconhece!

Por isso, deveríamos entender se existem parâmetros de organização ocultos e/ou desconhecidos por nós, quando, ao observarmos o jogo não entendermos porque uma equipe teve êxito e a outra fracassou (ou o porquê de encontrarmos beleza em um jogar e não em outro).

Os parâmetros modernos (assim como os antigos) para observação do jogo de futebol foram e são criados pelo homem, e o homem só pode ver aquilo que conhece (ou, que quer enxergar).

Precisamos, então, olhar para o jogo, para sua lógica interna, e entendermos o que ele mostra e aquilo que ele diz.

Porém, para isso, nossos olhos devem ficar bem abertos, e nossos ouvidos bem atentos.

Por hoje, é isso…
 

 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br