Categorias
Sem categoria

Cartas aos netos palmeirenses

Meus netos,

Em 2012, seu avô e a mãe do Luca e do Gabriel se divorciaram semanas antes de o Palmeiras ser campeão invicto da Copa do Brasil, consagrando-se como o maior campeão nacional (duas Taças Brasil, dois Torneios Roberto Gomes Pedrosa, quatro Brasileiros, duas Copas do Brasil, uma Copa dos Campeões).

Em 2012, comecei a namorar e noivar a mãe do Ricardo, Luigi e Manoela, uma paixão de adolescência. Ganhei três novos filhotes e um amor pela vida meses antes de o Palmeiras cair novamente. Antes de se levantar para sempre, como vocês e os adversários estão cansados de saber – também neste século 21 que começou muito mal para o nosso time.

Segundo os maias, povo um pouco mais antigo que seu avô Mauro, o mundo acabaria em 21 de dezembro de 2012. Já que vocês estão lendo esta carta, sei que nisso eles erraram. Ainda mais quando previram o fim do planeta justamente para o dia do aniversário de 76 anos do bisavô Joelmir.

E olha que o Nonno (como sempre o chamaram o Luca e o Gabriel) passou um 2012 difícil… Teve problema no coração e logo se restabeleceu. Foi visitar as obras da Arena Palestra com os netos no Dia dos Pais e não se recuperou mais naquele ano. Ficou meses prostrado no hospital. Debilitado. Fraquinho.

Quem o via mal reconhecia aquele colosso de jornalista, aquele exemplo de vida. Melhor que tudo: aquele pai. Meu pai. O bisavô de vocês.

O Nonno parecia o nosso time. Um gigante que tinha ficado doente. Incapaz de se levantar sozinho. Mais caindo e caído que em pé. Em coração. Em Palmeiras.

Mas, com paciência, trabalho, seriedade, fé e amor, meu pai, o Nonno dos meus filhos, o bisavô de vocês, venceu todos os males.

Parecia o time dele em 2012. Ganhava uma, perdia quatro. Mas todos acreditavam na recuperação – ainda que lenta a tardia. Como eu me recuperei da separação de meus filhos em 2012 reencontrando um amor de adolescência. Ganhando mais amores pela vida. Fui rebaixado e ganhei um título. Tudo em meses. Tudo muda. Tudo vira.

Um grande não se rebaixa. Cai para poder se erguer. Mais difícil que a queda foi a ascensão em mais de 100 anos. Não é para qualquer um ser o clube Campeão do Século do país campeão do século no mundo. Não é para qualquer pai ser o profissional que o bisavô de vocês é. Não é para qualquer filho ter um pai amador da família e do trabalho. Com uma mulher maravilhosa como a dona Lucila para dar força e carinho.

Demorou, meus caros netos. Como demorou. Mas quando voltamos para nossas casas, quando pudemos ser Palestra e família em nossos lares (e seu avô em um novo lar com uma nova família), vi que nada é para sempre.

Mas que tudo que amamos é eterno.

Meus filhos e netos, amo vocês antes de terem nascido.

Meus pais eu amo desde que nasci.

Minha mulher eu amo até depois dos meus últimos dias.

Nosso Palmeiras não preciso dizer quando começou o amor. E menos ainda até quando e onde vai nossa paixão. Essa não se mede e nem se condiciona. É amor sem divisão. Só multiplica. Só cresce. Só ama.

Só Palmeiras.

O que senti pelo clube no fim de 2012 é o que sinto por vocês, filhos do Luca, Gabriel, Ricardo, Luigi e Manoela, desde o começo da vida desse meu time dos sonhos. É a vontade de pegar no colo e cuidar. Acalentar. Amar até perder o fôlego. Jamais a paixão.

Não os conheço, meus netos. Ainda não os reconheço. Não sei como vocês são, o que gostam, o que fazem. Não sei se vocês vão gostar de mim.

Mas sei que vocês são meus amores. A quem não peço nada. A não ser a Deus pela felicidade de amá-los sem condição.

Isto é amor. Isto sempre foi Palmeiras.

Amor incondicional.

Nem todos os que amam torcem. Mas todos que torcem amam.

Amo e torço por vocês, meus netos.

Torço e amo você, meu Palmeiras.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

Categorias
Sem categoria

Aforismos

“Pouco se aprende na vitória, mas muito na derrota”. O ditado japonês pode parecer óbvio, mas impõe um grande desafio a cada revés: pinçar algo que seja efetivamente produtivo durante um momento de consternação.

Porque aprender com os erros é mecânica primitiva, mas também é extremamente doloroso. Para usar outros dois clichês, quedas fazem parte do aprendizado de conduzir uma bicicleta e enfiar o dedo na tomada é o jeito mais rápido de aprender o efeito de uma corrente elétrica. Entretanto, raramente paramos para assimilar o que aprendemos a cada tombo ou a cada choque. Não antes de lamentar, chorar e praguejar.

Também é assim no esporte. Erros em um jogo podem servir como aprendizado técnico, tático, físico ou mental, mas assimilá-los leva tempo. A primeira reação a cada derrota é lamentar. Lamentar muito.

O ex-tenista Fernando Meligeni teorizou certa vez sobre o desgaste mental que a modalidade dele provocava. “O tênis é um esporte de perdedores”, disse o atleta na época. A lógica dele é que há muitos torneios no ano, e mesmo o mais vencedor entre os esportistas acaba a temporada com mais reveses do que triunfos.

O que separa os medianos dos grandes, e isso não é exclusividade do tênis, é como eles lidam com as derrotas. A tristeza é reação natural a um tropeço, mas não pode virar resignação ou prostração.

Pensava em toda essa conversa com detestável aspecto de autoajuda durante a 36ª rodada do Campeonato Brasileiro de futebol, realizada no último fim de semana, mas fiquei ainda mais entretido com isso depois do término dos jogos que definiram o descenso do Palmeiras, a classificação do São Paulo para a fase preliminar da Copa Santander Libertadores e o número limitado de atrações da reta final do certame nacional.

A 40 jogos do fim, o Campeonato Brasileiro tem pouca coisa a ser resolvida. Há uma vaga aberta na zona de rebaixamento, uma possibilidade de troca entre o segundo e o terceiro colocado… E só.

E qual a relação entre a dor do Palmeiras, a falta de atrações das duas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro e os cinco primeiros parágrafos do texto?

Comecemos pelo Palmeiras, elo mais óbvio com o tema. Porque a dor da torcida alviverde é latente e muito maior do que o resultado. O rebaixamento é triste, e isso é evidente, mas o que mais chama atenção é a reação a ele.

Porque um time rebaixado perde muito mais do que a vaga na elite; perde autoestima, respeito e projeção de futuro, atributos que, no caso de um time do tamanho do Palmeiras, são como alicerces de grandeza. E aí é fundamental que ninguém passe incólume por esse revés.

E ninguém é um conceito extremamente abrangente, mesmo. Porque o rebaixamento é drástico e precisa gerar reações drásticas. É hora de choro incontido, de reações exacerbadas e de não saber brincar.

Só que a diretoria do Palmeiras não pensa exatamente assim. A começar pelo presidente do clube, Arnaldo Tirone, que deu uma preocupante entrevista à “ESPN Brasil” antes do empate com o Flamengo. Na conversa, o mandatário disse que a situação complicada da equipe alviverde não era responsabilidade da diretoria, dos atletas ou da comissão técnica. Era mais do acaso ou de uma sucessão de infelicidades.

E na tarde de segunda-feira, para coroar o discurso de “ninguém é culpado”, Tirone foi flagrado pela revista “Veja” tomando sol em uma praia do Rio de Janeiro. Ora, ele estava de folga e tem direito de curtir folgas. Mas precisa lembrar que é o representante máximo de uma instituição e que esse tipo de atitude pode determinar direções para um momento de crise.

Na semana que antecedeu o descenso, Tirone preocupou-se com a transição. O Palmeiras terá eleição presidencial no início do próximo ano, e ele conseguiu uma coalisão de alguns grupos políticos para assegurar a permanência do técnico Gilson Kleina e estabelecer diretrizes para o departamento de marketing.

Tudo isso é mais do que necessário, sobretudo no atual momento do Palmeiras, mas não pode ser dissociado de um planejamento específico para a crise. Como símbolo, Tirone tinha de passar a noite no clube. Tinha de passar o dia no clube. Tinha de avaliar erros, consertar procedimentos e iniciar uma reação imediata.

Em vez disso, o Palmeiras preferiu oferecer ao torcedor um tempo para curtir a dor. E o risco que o clube corre nesse caso é o da resignação. Ninguém que acompanha um time com esse tamanho pode achar normal uma situação tão drástica. Nenhum adepto pode pensar que a vida segue normalmente ou que é possível aproveitar uma segunda-feira de sol.

Porque a resignação é um passo importante para o fim do amor ao clube. Aliás, é um pouco do que diz a coluna do jornalista Clóvis Rossi na edição de segunda-feira do jornal “Folha de S.Paulo” (o link, somente para assinantes, está disponível aqui, ó: http://tinyurl.com/bmjadyy). Em resposta, um amigo jornalista disse que “torcer dá trabalho”. Mas quantas são as pessoas que têm amor realmente incondicional por um time? Quantos são os que têm esse trabalho?

São poucos, infelizmente. E todos, torcedores doentes ou apenas simpatizantes, sentem falta de um Palmeiras grande. Querem que o clube incomode, que os rivais vibrem com seus insucessos. Querem que os reveses motivem mais do que segundas-feiras de praia.

Afinal, o que vai ser do Palmeiras nas duas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro? Aliás, o que vai ser do Campeonato Brasileiro? Como evitar que a competição tenha um enorme astral de fim de festa?

Os detratores do sistema de pontos corridos correram para dizer que isso é um reflexo do formato de disputa. Eu retorno à autoajuda: dizer isso é resignação.

Quem já disputou uma prova de esporte individual entende um pouco mais. Um corredor amador, por exemplo, não vive de ganhar provas. Normalmente, vive de pequenas conquistas individuais – um tempo melhor ou uma evolução na condição física, por exemplo.

Se o campeonato determina apenas um vencedor, nenhum time pode achar que ser sexto é igual a ser décimo. Pequenas vitórias são fundamentais.

Posso ser um pouco repetitivo ao dizer isso, mas o Campeonato Brasileiro precisa repensar todo o plano de comunicação (se é que existe um, é claro). Só com uma promoção adequada a competição nacional pode estabelecer reais valores para os participantes. Cada posição na tabela deve ser valorizada, sim. Esse é um conceito que todos nós precisamos aprender, e aprendizado coletivo só acontece com comunicação adequada.

Há um texto que eu cito sempre, escrito pela Luciana Keiko, que é brilhante ao analisar isso (tá aqui, ó: http://tinyurl.com/cydorlb). Ela não fala de esportes, mas ensina muito sobre aprendizado. Aprender é um processo dispendioso, e ter consciência disso é um grande passo que todos nós podemos dar.

É assim com o Palmeiras, que vive agora um dos piores momentos de sua existência. É assim com os jogos inócuos do Campeonato Brasileiro. É assim com todo mundo que pensa em trabalhar com esporte ou que sofre muito com as intempéries do mercado. Porque, para usar outra citação, é como disse Carlos Drummond de Andrade: “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional”.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

Dez anos

O Partido Comunista, na China, escolheu e empossou seus novos líderes do país para os próximos 10 anos.

Isso mesmo. Na próxima década, o Grande Dragão terá os mesmos comandantes como responsáveis pelos rumos estratégicos nacionais.

São sete pessoas que compõem o Comitê Central, mas o grande protagonista é o chamado Secretário-Geral.

Em 10 anos, acontece muita coisa. Boa e ruim.

Em 10 anos, a estabilidade dentro de uma instituição pode servir para acomodar e escamotear práticas desastradas de gestão. Ou elevá-la a um patamar de crescimento e evolução.

Podemos mencionar alguns dos exemplos.

O SC Internacional dos últimos 10 anos.

Escapou do rebaixamento, num dramático jogo contra o Paysandu, na última rodada do Campeonato Brasileiro.

No meio desse período, foi bicampeão da Libertadores, campeão mundial e duas vezes vice-campeão nacional. Construiu um ciclo virtuoso.

O Palmeiras foi rebaixado em 2002. Perambulou pelo meio das tabelas das competições que disputou e, agora, está matematicamente rebaixado novamente. Não conseguiu se organizar como poderia e deveria.

Um caso interessante é o futsal. Não no Brasil, mas na Espanha.

Quando fui lá jogar, em 1995, no Deportivo La Coruña, com breve período no Egasa Coruña Futsal, o futsal já dava mostras de grande organização interna, contando também com jogadores brasileiros nas principais equipes profissionais.

Porém, ainda não havia grande protagonismo internacional e quase nenhum brasileiro naturalizado, bem como nenhuma conquista importante dos clubes.

Por outro lado, percebi, nitidamente, que a sede de aprender com o Brasil, berço do futsal mundial, era cada vez maior.

Abriram-se a portas, nos anos seguintes, ao intercâmbio técnico com nosso país.

Os resultados começaram a ser medidos de forma bastante objetiva.

Antes de ser derrotada pelo Brasil, neste domingo, na Copa do Mundo de Futsal, a seleção espanhola – que conta com dois brasileiros naturalizados – não perdia havia sete anos.

Ou, em 120 jogos, 107 vitórias e 12 empates…

E, dos 24 técnicos deste Mundial, cinco eram oriundos da Academia de Formação de Treinadores da Espanha.

O futsal espanhol foi pra escola em 10 anos. E, há 10 anos, vem fazendo escola.

Em 15 anos, foi cinco vezes campeão da Uefa. Bicampeão mundial e três vezes vice-campeão.

Deng Xiaoping, famoso líder chinês do século XX, profetizava: “Quando os nossos milhares de estudantes no estrangeiro voltarem para casa, vocês verão como a China irá se transformar”.

Hoje em dia, são 1,6 milhão de chineses estudando fora do país. Aprendendo com novas técnicas, culturas, processos, instituições.

Provavelmente, para depois ensinar bastante.

O futebol brasileiro sofre também de uma grave crise: a soberba da autossuficiência.

Se não soubermos aprender e promover intercâmbio de conhecimento, não saberemos ensinar.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

Mais discussões sobre a Periodização Tática: por vezes, ela não se distancia do jogo?

Discutir a Periodização Tática no atual cenário futebolístico brasileiro é significativamente polêmico. Um grupo de profissionais do futebol tem aversão aos conteúdos científicos ou a quaisquer outros que necessitem muitas horas de estudo e leitura.

Então, mencionar essa expressão para este nicho, pode afastá-lo de um networking necessário no mercado. Outro grupo, influenciado pelas literaturas acadêmicas acerca do treinamento desportivo tradicional, não consegue compreender, devido a uma crença limitante, a dimensão física do jogo vista e treinada sob outra perspectiva.

Existe ainda o pequeno grupo que “bebeu da fonte” e pode aprender sobre esse modelo de periodização diretamente com o seu mentor, Vítor Frade, em Portugal e, por último, um grupo de profissionais, que mesmo do Brasil, tem acesso aos materiais publicados referentes à Periodização Tática e os utilizam para pensar a prática.

Ao compor este último grupo, fica o receio de abordar superficialmente o conteúdo teórico desenvolvido por Frade, que é objeto de estudos de muitos universitários portugueses, e ser duramente criticado por aqueles que são peritos na operacionalização da PT em seus cotidianos de trabalho.

Receio à parte, como estudioso do futebol (e não pesquisador) e treinador que busca a melhor atuação possível, preciso assumir o risco e propor novas discussões que permitam trocas de conhecimento, evolução da intervenção prática de todos e, consequentemente, melhorias futuras no futebol brasileiro (pois, no presente, muitos que estão à frente de grandes equipes do nosso país compõem o grupo dos que são avessos ao conhecimento científico).

Meus estudos aprofundados sobre a PT iniciaram em 2010 e, desde então, procuro correlacioná-los com minha prática, que tem grande influência dos estudos coordenados pelo doutor Alcides Scaglia e que evoluiu para o desenvolvimento da metodologia futebol arte. Tal metodologia é aplicada nas categorias de base do Paulínia-SP e, em 2012, também foi aplicada no profissional do Grêmio Novorizontino-SP.

Para a Periodização Tática, todo exercício de treino deve ser realizado em função do modelo de jogo pretendido. Sendo assim, de acordo com o dia da semana referente ao morfociclo padrão, estimulam-se os princípios, ou sub-princípios, ou sub-sub-princípios de jogo que, respeitando os princípios metodológicos, proporcionam o aumento de performance individual e coletiva.

Por tudo que vi e li acerca da PT, é possível afirmar que não são todos os exercícios que são jogos apesar de manterem a devida relação com o modelo de jogo.

Deixo, então, uma questão para discutirmos: se o futebol, em essência, é jogo (com todos os elementos que o constitui), quando a PT “abre mão” deste ambiente, criando exercícios analíticos, sem oposição, com pouco estorvo ou previsíveis, não está se distanciando significativamente do jogo de futebol?

Não pretendo com essa discussão privilegiar a metodologia futebol arte em detrimento da PT, uma vez que a primeira ainda dá seus primeiros passos com Alcides Scaglia e Cristian Lizana na Unicamp (campus Limeira), e enquanto a segunda possui muito material qualificado publicado. Pretendo, somente, provocar reflexões dos exemplos práticos que podem ser observados nas apresentações, congressos, blogs, livros, monografias e que “perdem força” quando analisados sob o princípio da especificidade.

Quando vejo um exercício analítico de finalização, por mais que mantenha a estrutura posicional dos jogadores e lhes orientem quanto ao posicionamento dentro da área, confronto-o com o jogo de futebol e os constantes desafios que lhe são impostos. Desafios estes inexistentes num treino de finalização como o mencionado.

Quando leio sobre um treino de um grande princípio de jogo, como o de circulação da posse, por exemplo, com troca previamente combinada de passes, questiono-me sobre a imprevisibilidade que é inerente ao jogo e também inexiste na atividade em questão.

São apenas dois exemplos de muitos outros que poderiam ser identificados, inclusive sobre os outros pressupostos para o ambiente de jogo: representação e desequilíbrio.

Não tenho dúvidas que o domínio conceitual da Periodização Tática é indispensável para uma boa atuação de qualquer gestor de campo. Sua fundamentação teórica emerge do pensamento complexo, o que justifica a necessidade de compreensão.

Que fique claro, também, que a PT não é o único modelo de periodização sistêmico. Rodrigo Leitão, com a Periodização Complexa de Jogo, a Periodização de Jogo que está sendo desenvolvida por Alcides e Cristian, ou até algum outro modelo de periodização ainda não sistematizado, mas que seja desenvolvido por algum treinador numa perspectiva ecológica, devem ser considerados.

Que as respostas e reflexões de vocês, leitores, sirvam para fomentar novas discussões como a que provocarei em algumas semanas com o tema “Combinação dos métodos de treino: necessidade ou dificuldade para planejar os treinos?”

Abraços e até a próxima semana.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Direito Desportivo: cursos na área

Conforme já exposto na coluna “A Importância do Direito Desportivo”:

“O mercado do esporte movimenta bilhões de dólares. O futebol, por exemplo, movimenta, em média trezentos bilhões de dólares por ano, valor semelhante ao PIB (Produto Interno Bruto) da Argentina, e neste cenário há diversos interesses: torcedores, mídia, publicidade, transportes, hospedagens, materiais esportivos e um grande número de empregos diretos e indiretos.”

Por esta razão tem crescido a demanda por cursos na área e, apesar disso, há pouca oferta aos interessados.

A SATeducacional (www.sateducacional.com.br) oferece o curso à distância coordenado por mim de capacitação em Gestão e Direito Desportivo. Com um material didático excelente, trata-se de oportunidade para ingressar no direito desportivo e realizar intercâmbio com profissionais do mundo inteiro, pois já houve alunos portugueses e angolanos. Além disso, os ex-alunos têm conseguido inserção no mercado com publicação de livros, artigos e até mesmo direção jurídica de clubes.

Ainda na modalidade à distância, o Grupo Rede (http://www.portalrede.com.br/conteudos/conteudo/22 ) promove curso de pós-graduação em direito desportivo.

A UNIFIA oferece de forma presencial em São Paulo e à distância para Belo Horizonte e Ribeirão Preto a pós-graduação em Direito Desportivo (http://www.iidd.com.br/home/view.asp?paNumero=105&paCategoria=1). Leciono no presente curso e faço co-coordenação do núcleo Belo Horizonte. O curso traz um corpo docente excepcional, ao contar com exímios profissionais da área.

A Trevisan, conceituada escola de negócios, (http://www.trevisan.edu.br/educacaoexecutiva/1557/direito-desportivo) possui o curso de extensão em direito desportivo presencial em São Paulo. Além disso, eventualmente, a Trevisan ministra cursos de temas específicos relacionados à área, como Estatuto do Torcedor.

Ainda em São Paulo, a “Lex Magister” (http://www.lex.com.br/), realiza com bastante freqüência cursos de temas específicos como “marketing esportivo” e “advocacia esportiva”.

O INEJE– Instituto Nacional de Estudos Jurídicos e Empresariais (http://www.ineje.com.br/cursos/especializacao-direito-desportivo/8), sediado em Porto Alegre, oferece curso de pósg-graduação em Direito Desportivo e conta com professores renomados.

Além dos cursos direcionados ao Direito Desportivo, há cursos em áreas afins oferecidos por instituições já citas como a Rede e a Trevisan.

Inclusive, no Rio de Janeiro, o IAJ (http://www.institutoiaj.com.br/iaj/site.do;jsessionid=296FF052FE167030611E6D5B98DD47CC.iaj-arquimedes) possui curso de Gestão Desportiva ministrado por dirigentes e advogados dos grande clubes cariocas.

Ademais, outras entidades como a Fundação Getúlio Vargas ofertam cursos de direito desportivo em situações pontuais.

Portanto, para os interessados em ingressar no Direito Desportivo cabe analisar o curso que melhor coaduna com seu interesse, com a sua disponibilidade e mão à obra.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

A confiança como alavanca de resultados no futebol

Nos últimos dias, muito se falou sobre o título antecipado do campeão brasileiro de 2012, o Fluminense. Percebi que foram abordados alguns temas como da atualidade no futebol, a importância de se ter uma boa estrutura de gestão fora de campo, uma comissão técnica de alta qualidade, um grupo formado por atletas vencedores mesclados com atletas da base que têm identificação com o clube, um patrocinador forte e a elaboração de um bom planejamento e sua execução.

Concordo plenamente com todos os temas abordados acima e quero acrescentar mais um ponto que penso ser também um diferencial em equipes vencedoras: a confiança dentro do grupo de trabalho.

É possível conceituar a confiança como uma relação de aceitação voluntária e antecipada de investimento pessoal de risco, no qual se espera que a outra parte não haja de forma oportunista dentro do relacionamento interpessoal, pois este comportamento geralmente causa danos aos envolvidos na relação.

A confiança traz naturalmente essa ideia de assumir riscos, pois confiar em alguém significa colocar-se de maneira voluntária, vulnerável e dependente do outro, seja num relacionamento profissional ou pessoal. Se pensarem em suas vidas e nos seus relacionamentos, a forma como constroem ou construíram seus relacionamentos de confiança não passam pelo exposto aqui? Se pensarmos então numa equipe de futebol, existe inúmeras situações de relação de confiança, tais como dos jogadores com a comissão técnica, dos jogadores com os gestores do futebol, da comissão técnica com os gestores de futebol, dos gestores de futebol com os executivos do clube, dos membros da comissão técnica entre si e dos jogadores entre si. Parece complexo não é mesmo? E no fundo é complexo, pois gerir toda essa relação de confiança é um enorme desafio que grupos vencedores conseguem ultrapassar.

Em um ambiente aonde não temos uma atmosfera de confiança, a quebra desta pode contaminar uma equipe inteira, principalmente se essa prática for fomentada pelos profissionais hierarquicamente superiores. É aquele ambiente no qual as pessoas comentam: “cuidado, pois aquilo que você diz pode ser usado contra você”.

Neste cenário, o ciclo da desconfiança se instala e gera um tipo de relação baseada no medo e a cooperação só poderá ser alcançada parcialmente e através da coerção. Não é necessário nem dizer que este ambiente não se sustenta por muito tempo, ainda mais no futebol aonde os resultados são os indicadores de sucesso que possibilitam a permanência de técnicos e eventualmente até de jogadores dentro dos clubes.

Em oposto ao mencionado acima, em uma atmosfera de confiança a satisfação e a motivação aumentam consideravelmente, pois os membros deste grupo ou organização podem e desejam contribuir e partilhar seus problemas e ideias com mais liberdade, sem receio de comportamentos oportunistas por parte dos colegas ou por superiores e sem medo de repreensões. É um ambiente no qual a cooperação é espontânea e ela surge como elemento facilitador na execução das diversas tarefas de uma equipe.

A expectativa de confiança é formada por dois elementos: um emocional e outro cognitivo, que coexistem conforme as pessoas que interagem entre si e conforme a especificidade das situações envolvidas.

Um relacionamento de confiança somente pode ser sustentável se as pessoas envolvidas conseguirem perceber o benefício mútuo envolvido na relação, com isso o engajamento ocorre continuamente e todos passam a assumir mais riscos inerentes a estas relações. Este benefício compatível com as expectativas das pessoas que estão se relacionando pode ser um benefício financeiro, de reputação, de uma conquista ou apenas a manutenção de um laço de amizade valioso para ambos.

A promoção do interesse mútuo na direção de objetivos comuns em uma equipe de futebol pode constituir uma estrutura eficiente de incentivo para mobilizar os membros a perseguir metas compartilhadas, e nestas equipes que esta estratégia é adotada a probabilidade de promovermos o desenvolvimento de relações de confiança eficazes entre seus membros aumenta consideravelmente.

Deixo para você meu amigo leitor a reflexão, baseado no que foi comentado nesta coluna, de como poderia ser avaliado o nível de confiança nas relações nas demais equipes que disputam o campeonato brasileiro de 2012? Seria a confiança nas relações mais um precioso tema a se dedicar para alavancar os resultados nas equipes de futebol? Pense a respeito e tire as suas próprias conclusões.

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

As três perguntas de ouro para quem busca a vaga dos sonhos

Saudações a todos!

Como fazer um currículo bem feito? Como se comportar em uma entrevista? O que fazer em uma dinâmica de grupo? Estas são as três perguntas de ouro para quem busca uma vaga ideal. Como sabemos, qualquer mínimo erro em uma destas etapas costuma sair caro e perder a oportunidade dos sonhos é uma tragédia.

Como fazer um currículo bem feito

Você precisa entender que embalagens ruins não vendem. E a embalagem de uma pessoa é o seu currículo. Ao incluir o currículo nos sites de empregos ou da empresa, fique atento:

– Preencha todos os campos com atenção, capriche na redação e na escolha das palavras: um bom vocabulário faz toda diferença. Não tenha “preguiça” de incluir todos os dados solicitados no momento do cadastro de seu currículo. Se você não teve disposição e energia para preencher de maneira completa algo simples, o selecionador não vai perder tempo com você.

– Informe sua formação de maneira detalhada, mas não seja repetitivo.

– Jamais minta, não exagere, mas não se subestime.

– Inclua todas as experiências que você teve mesmo aquelas fora do ambiente corporativo ou sem remuneração (voluntárias). Conhecimento é um diferencial importante na hora ser avaliado.

– As buscas por candidatos se dão por palavras-chaves, então explique suas experiências de forma clara e utilize o jargão da área. Por exemplo, se a sua experiência é comercial, tenha certeza de que seu currículo inclua palavras como “comercial”, “vendas”, “clientes”, “resultados” e outras que sejam específicas do mercado em que você atua ou pretende atuar.

– Coloque uma boa foto, que mostre bem o rosto, com uma expressão aberta e positiva, mas sem exageros. As mulheres devem enviar uma foto recatada, sem decotes, evitando exposição desnecessária do corpo. Lembre-se de que é muito provável que seu currículo seja analisado por outra mulher.

– Inclua um vídeo-currículo. Esta é uma boa forma de ter dois ou três minutos de “proximidade” com o selecionador.

– Visite sempre os sites das empresas em que você cadastrou seu currículo e se inscreva em todas as vagas de seu interesse. Os selecionadores iniciam suas pesquisas de candidatos primeiramente pelos inscritos na vaga.

Como devo me comportar em uma entrevista

1. O entrevistador fará perguntas específicas sobre a empresa e seu negócio e será um grande diferencial se ele sentir que você sabe sobre o assunto. Para obter informações sobre a empresa, visite o site, veja a área institucional, seus principais negócios, as últimas notícias, sua cultura, forma de atuação, clientes e fornecedores.

2. Visite as redes sociais da empresa, lá você identificará a forma como ela se comunica com seu público e conhecerá um pouco sobre sua cultura. Curta a página, acompanhe as publicações da empresa em sites como Facebook, Linkedin e Twitter.

3. Leia as notícias divulgadas sobre a empresa, segmento e concorrentes.

4. Revisite o seu currículo e tudo que informou: você só chegou à entrevista porque as informações do currículo estão próximas ou de acordo com o perfil desejado pela empresa. Isso significa que a entrevista terá como ponto inicial as informações do currículo.

5. Fique à vontade diante do seu entrevistador. Um bom exercício, que ajuda a ter mais tranquilidade, é mentalizar as informações no currículo e falar “com você mesmo” sobre elas. Construa um roteiro do que será falado, sempre com base no seu currículo, ou seja, pense em seus objetivos profissionais, formação e experiência, seus pontos fortes e debilidades, entre outros.

6. Olhe, sempre, diretamente, para os olhos de seu entrevistador. Ele sente mais segurança quando você fala olhando nos olhos dele.

7. Mantenha uma postura confiante. Já ouviu a expressão “o corpo fala”? Pois é, ficar “largado” na cadeira pode passar um tom de desleixo. Lembre-se de que você está em uma entrevista e está sendo avaliado de maneira ampla, cada detalhe faz a diferença.

8. A roupa é outro item fundamental. Procure saber a cultura da empresa e vá de maneira a não ficar diferente dos outros. Se na empresa a cultura é usar terno e gravata, vá assim; se for mais casual, tire o terno e a gravata. Caso tenha dúvidas, siga esta regra: se a empresa for uma instituição financeira ou com atuação na área jurídica, vá de terno e gravata. Se a empresa for de outro segmento, os homens podem dispensar a gravata. Uma calça e camisa sociais serão suficientes. Para as mulheres, use roupa social e evite extravagâncias com acessórios. Não exagere na maquiagem.

O que fazer em uma dinâmica de grupo

1. Reestude, detalhadamente, o negócio da empresa e o segmento em que ela atua e seus fornecedores e concorrentes. Na dinâmica estes assuntos podem ser abordados, por isso sugiro que:

– Visite o site da empresa.
– Visite as redes sociais da empresa e de seus fornecedores e concorrentes.
– Leia notícias e informações divulgadas sobre a empresa nos últimos anos.
– Procure notícias detalhadas sobre o segmento e tendências para os próximos anos.

2. Vá vestido adequadamente. Você já participou de entrevistas e viu como as pessoas da empresa se vestem, portanto siga essa linha. É importante se destacar na dinâmica, mas pelo seu conhecimento e participação. Não pague o mico de se destacar a ponto de ser um ponto de referência: “fiquem perto do cara de camisa laranja com bolinhas pretas”. Algumas dinâmicas exigem liberdade de ação, por isso as mulheres devem evitar saias curtas.

3. Chegue no horário. Atrasar pode ser o fim do processo para você. Principalmente em grandes cidades, a desculpa de que pegou trânsito não funciona mais.

4. Fique atento às instruções iniciais. Por ansiedade, você pode deixar de ler e entender as instruções e isso pode ser fatal na dinâmica de grupo.

5. Seja participativo, mas não chato. Participar e dar opiniões é fundamental, mas lembre-se que você está em um grupo, portanto, fale e ouça os outros também. Pondere outras opiniões, faça contrapontos, mas nunca corte a fala dos outros. Ouça até o fim o que os outros têm a dizer (mesmo que na sua visão seja uma grande bobagem), para somente então emitir sua opinião ou seu contraponto. Cuidado: a ansiedade pode fazer você não ouvir e entender o que os outros estão dizendo, portanto escute tudo com atenção.

6. Tente esquecer seus observadores. Se você conseguir “mergulhar” no grupo e esquecer que está sendo observado, com certeza agirá mais naturalmente e seu desempenho será melhor.

7. A forma como você se comunica e expressa sua opinião está sendo fortemente avaliada, portanto cuidado com o vocabulário, evite gírias, erros de pronúncia e, principalmente, palavrões.

É isto pessoal, se estiverem em busca da vaga dos sonhos, avaliem cada uma das dicas acima e coloquem imediatamente em ação.

Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos no próximo mês.

Abraços a todos!

*Cezar Tegon é graduado em Estudos Sociais, Administração de Empresas e Direito. É presidente da Elancers e sócio-diretor da Consultants Group by Tegon. Com experiência de 30 anos na área de RH, é pioneiro no Brasil em construção e implementação de soluções informatizadas para RH. Diretor de novos produtos da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional), é membro de criação do CONARH.

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O que estamos administrando?

Mais uma para a série “o que é o mercado do futebol?” ou “o que é a gestão de um clube de futebol?”. A inspiração vem da frase de um alto dirigente do nosso futebol, proferida nesta semana, que dizia: “assumo a responsabilidade (pelo rebaixamento), mas não sei onde errei”.

Trata-se do típico caso do gestor que não sabe explicar o fenômeno em que está inserido. Desconhece, portanto, qualquer leitura sobre o mercado, seus concorrentes e os modelos de negócios que estão funcionando para aplicação direta em seu próprio clube.

A falha mais grave dos clubes tem sido justamente este: não aprender nem com seus próprios erros nem com seus acertos (conforme já escrito por mim em colunas passadas aqui na Universidade do Futebol).

E o problema, reforço, não está centrado no erro em si (que aliás é comum em diversos processos de gestão, inclusive nas maiores empresas do mundo), mas sim de não perceber os problemas para minimizá-lo.

O mercado mudou. Os interesses se transformaram. O faturamento dos clubes aumentou significativamente nos últimos anos. Por tudo isso, não se pode mais admitir que não se saiba o que se está administrando!!!

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A não-festa

A temporada 2008/2009 do Campeonato Alemão de futebol foi extremamente equilibrada. Na penúltima rodada, os quatro primeiros colocados estavam separados por apenas três pontos. Preocupada, a federação nacional (DFB, na sigla em alemão) enviou e-mail a todos os parceiros de transmissão do torneio, em âmbito global, para detalhar as possibilidades de definição da competição. E mais importante: como se daria a festa em cada um dos desfechos.

A mensagem tinha um rigor que soava engraçado. A DFB informava, por exemplo, quantos minutos os jogadores teriam para dar a volta olímpica, o tempo de montagem do palco e o período que as emissoras poderiam usar para intervalos comerciais antes da premiação oficial.

A programação considerava ainda as peculiaridades de cada um dos estádios em que o título podia ser definido. Admito ter caçoado da mensagem quando li pela primeira vez. Admito não ter confiado na exatidão das projeções – ora, como garantir que os atletas festejariam no gramado por exatos 12 minutos, por exemplo?

O teor daquela mensagem reverberava enquanto eu via pela televisão o desfecho do Campeonato Brasileiro de futebol de 2012. Festa insossa, mambembe, sem nenhuma programação especial. O Fluminense assegurou o título com vitória por 3 a 2 sobre o Palmeiras em Presidente Prudente. Não havia taça, fogos ou sequer um espaço para os atletas celebrarem a campanha vitoriosa.

Pior: minutos depois do título, a TV Globo, dona dos direitos de transmissão do evento em rede aberta, cortou as imagens para São Paulo e iniciou o “Domingão do Faustão”, programa cuja principal atração era uma homenagem ao atacante Neymar.

A lógica da Globo é compreensível. A festa do Fluminense diminuiria o alcance televisivo do evento, que seria basicamente resumido à torcida vencedora. Neymar, ao contrário, é referência nacional. Uma homenagem a ele, em teoria, seria interessante a qualquer amante de futebol que via a partida e não era adepto da equipe tricolor.

O problema é que essa linha de pensamento considera apenas o que é melhor para a Globo. E o campeonato, como fica? No momento mais nobre, o da definição de quem conquistou o título, as empresas que mais investiram no torneio e no time campeão tiveram pouca ou nenhuma exposição na principal praça da comunicação nacional.

Se o tempo de exposição em TV aberta é a principal justificativa que clubes, empresas e agências usam para fechar contratos de patrocínio no esporte brasileiro, a ação da Globo no domingo foi um baque financeiro enorme para o campeonato.

E por que a Globo pôde fazer isso? Porque os responsáveis pelo campeonato, que são a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e os clubes, não se preocuparam. A festa não foi programada, e a transmissão da comemoração tampouco estava entre as exigências nos contratos das equipes com a emissora.

O futebol, pela proporção que tem, reúne grandes empresas com interesses muitas vezes antagônicos. É fundamental que existam regras para que essas visões dicotômicas sejam balizadas. Se não houver, o lado menos organizado sempre será prejudicado.

A não-festa do Fluminense é a síntese da falta de preocupação com a imagem do Campeonato Brasileiro, liga que não tem sequer um logotipo oficial. Não existe planejamento de comunicação e marketing suficiente para vender algo que não é concebido como um produto.

Independentemente de ter acontecido em um estádio neutro, a partida que podia definir o campeão brasileiro merecia mais. Aliás, em termos de exposição e planejamento de comunicação, todo o torneio merecia mais. A principal competição de futebol no país do futebol precisa ser tratada com respeito. Isso é urgente.

E por falar em planejamento, respeito e urgência, o Palmeiras precisa deixar de agir como se não estivesse acontecendo nada. A morosidade dos dirigentes e a resignação do elenco e da comissão técnica são combustíveis para todas as reações absurdas que parte da “torcida” vem tendo.

A análise dos erros que levaram o Palmeiras ao atual estágio deve ser densa, minuciosa e livre de amarras políticas. Independentemente do desfecho do campeonato, e mesmo que o time consiga a improvável salvação, a campanha é uma mancha na história de um clube tão glorioso.

Mas manchas em histórias vitoriosas são, infelizmente, algo que acontece com alguma frequência no esporte. O que muda é como lidar com esses momentos de crise institucional.

No caso do Palmeiras, chama atenção o tom da comunicação. O time paulista deveria buscar exemplos em comportamentos de instituições, empresas e até governos durante momentos conturbados. A participação e o grau de entrega podem ser diferentes, mas o sofrimento é coletivo. O dilema que se oferece ao clube agora é como lidar com ele.

Uma comunicação bem conduzida pode usar um momento ruim para unir torcida e time e desencadear um sentimento de reação. Uma comunicação mal conduzida pode acirrar ânimos, criar vilões e gerar insurgências incontroláveis.

E quando eu falo em comunicação, bem entendido, não se trata apenas do departamento de comunicação. Tudo comunica. De funcionários com salários módicos a jogadores e dirigentes, todos devem ser contagiados por um sentimento similar e devem ser guiados por diretrizes similares.

É necessário planejar até para saber como lamentar reveses. Quem falar, o que falar e como falar? As respostas são determinantes para as reações que uma derrota gera.

Mas planejar a comunicação exige um alto grau de planejamento. Só quem está muito bem preparado consegue lidar com momentos de perda sem transformar percalços em muros intransponíveis. Parece um mundo muito distante para um país que não sabe sequer como comemorar.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Reconciliação. Vamos fazer diferente?

Quando aceitei o honroso convite da Universidade do Futebol para escrever uma coluna, logo me veio a preocupação com o tema desse primeiro texto. Não queria falar sobre estatísticas, dados, projeções, etc, nem fazer análises ou mostrar gráficos como todos já se acostumaram a ver nos estudos da Pluri.

Também não quero ser mais um reclamando contra tudo e contra todos, repetir mais sobre tudo aquilo que já tanto falamos.

É verdade, não há mudança sem aqueles que gritam, são eles os primeiros a apontar para os erros e injustiças. Mas chega uma hora em que precisamos ir além, dar um passo a mais, você não acha?

Há muitos problemas com o nosso pobre e surrado futebol, ele parece pior a cada dia, dentro e fora do campo. Tem uma atmosfera pesada, há nuvens cada dia mais cinzentas, reclamações de todos os lados, posturas exaltadas, uma mistura de cansaço e raiva. Jogadores, técnicos, dirigentes, juízes, tribunais, torcedores, imprensa, analistas, a verdade é que todos nós estamos muito pilhados.

Há muitas mãos levantadas, muitas caras fechadas e dedos apontados. Dá pra ser diferente?

Uma de minhas bandas preferidas é a australiana Midnight oil, sempre fui fã dos caras pelas letras fortes, a consciência do poder da música pra mudar uma realidade…

Você já ouviu Bedlam Bridge, dos oils? Ela fala sobre um lugar diferente, quase um paraíso, muito diferente do mundo hostil em que vivemos, e para chegar a esse lugar, basta cruzar a Bedlam Bridge.

Onde está a nossa Bedlam bridge?
 


 

Na Pluri, vamos iniciar em breve um movimento para aglutinar pessoas e ideias em torno de propostas objetivas para o futebol, um movimento inclusivo e que olhe para todos os lados, se não fizermos isso não vamos avançar.

Há vários temas complicados a discutir, o problema do calendário, o futuro dos clubes pequenos, como fazer os grandes virarem potências internacionais, o risco da espanholização, as discussões sobre as convocações para seleção, os estádios cada dia mais vazios, etc.

Mas também temos muitas pessoas inteligentes e propostas inovadoras, por que não mobilizar e unir esse pessoal?

Certo, os obstáculos são muitos, a caminhada será longa e há interesses em jogo, muitos deles conflitantes e antagônicos, mas isso não nos impede de tentar, impede?

Há muitas iniciativas boas e que nunca foram à frente, nós desistimos antes mesmo de começar, por que tem que ser assim? Eu acredito em um novo amanhecer do nosso futebol, não nessa noite eterna em que vivemos.

Não me fale em continuar repetindo o velho bordão “isso nunca vai mudar”: é hora de deixar nosso cinismo de lado e trabalhar por um futebol melhor.

Quem quer levantar e seguir em frente?

Nós vamos trabalhar por isso, de um jeito acolhedor, inclusivo, vamos tentar reconciliar as pessoas do futebol. É verdade, alguns dos que são contra a modernização dos clubes e federações são verdadeiros gangsters, desses não podemos esperar nem pedir nada. Mas tantos outros talvez não sejam, talvez com uma abordagem diferente possamos avançar.

Eu realmente acredito nisso, e não sou um cara ingênuo. Todos nós temos preocupações e medos, queremos driblar as incertezas do futuro, e por isso agimos de acordo com aquilo que é melhor para nós ou para as pessoas próximas a nós. Isso explica muitas das atitudes, decisões erradas ou até mesmo a falta de decisões que nos levaram ao estado atual.

Aqueles de coração bom se revoltam, veem o nosso esporte preferido e nossos clubes de infância maltratados, pensam como as coisas poderiam ser diferentes…toda a alegria desperdiçada.

Sei que temos dentro de nós o sentimento verdadeiro da tentativa de fazer o melhor, desde pequenos fomos programados pra isso. Quem de nós não teve aquelas fantasias de infância, de salvar as pessoas e o mundo? Tenho esse sentimento dentro de mim, e com o tempo a experiência nos mostra os atalhos, que muitas vezes estão ao nosso lado mas insistimos em não olhar, acomodados, com o caminho de sempre.

É hora de caminhar, eu vou tentar!

Up on bedlam bridge somebody is waiting…

Para interagir com o autor: fernando.ferreira@universidadedofutebol.com.br