Categorias
Sem categoria

A questão das faixas e cartazes ofensivos na partida entre Atlético-MG e Fluminense

Na épica partida contra o Fluminense, no estádio Independência, insatisfeitos com equívocos da arbitragem que teriam favorecido ao time carioca, torcedores do Atlético-MG formaram um mosaico com as letras CBF e as cores do clube visitante.

Além disso, os atleticanos também levaram cartazes com montagem dos escudos da entidade e do Fluminense e muitos usaram nariz de palhaço.

Em razão destes fatos, o procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Paulo Schmitt, apresentou denúncia ao entender que o Atlético-MG colaborou para a formação do mosaico e o enquadrou no artigo 191 do Código Brasileiro de Justiça Desportivo (CBJD), incisos I e II, em que o clube é acusado de “deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de obrigação legal e de regulamento, geral ou especial, de competição”. Se for punido, o clube mineiro terá de pagar multa de R$ 100 a R$ 100 mil.

O Estatuto do Torcedor, em seu artigo 13-A, estabelece que são condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo.

Destarte, a interpretação deste dispositivo legal deve-se dar de forma congruente com o que dispõe a Constituição Brasileira que assegura a liberdade de expressão. Assim, não há impedimento às manifestações, mas a atos que possam ser ofensivos, notadamente racistas ou xenófobos.

A intenção da torcida atleticana, tal qual já havia se manifestado os torcedores do Náutico, era chamar atenção para os notórios e repetidos erros de arbitragem no Campeonato Brasileiro.

Importante citar a sustentação do dr. Lucas Ottoni, advogado do Clube Atlético Mineiro:

“Se a CBF tivesse se sentido ofendida, ela teria agido e solicitado que fosse tomada alguma atitude. Talvez a procuradoria esteja aumentando. No futebol, isso é um traço cultural. Admite-se esse tipo de expressão. O clube tem sim o direito de agir, mas neste caso não houve nada pessoal. No caso do Joinville há sim manifestação ofensiva direcionada. No caso do Grêmio foi contra a dona Miguelina, mãe do Ronaldinho, e também houve desrespeito. A liberdade de expressão é garantida à nossa constituição e, neste caso, uma eventual condenação é desconhecer, é voltar aos tempos de regime de ditadura do nosso país. Por não haver nenhuma manifestação ofensiva e sim de protesto, a defesa vem pedir que o clube seja apenas advertido”.

No julgamento pelo STJD, o presidente da sessão, Paulo Valed Perry e o relator, Washington Oliveira, votaram a favor da absolvição, enquanto o auditor Felipe Bevilacqua votou para a punição de R$ 20 mil, ao entender que deixar de punir este fato pode abrir precedentes para outros casos.

Com este resultado, imperou o respeito às normas constitucionais, especialmente no que concerne à liberdade de expressão e também ao bom senso.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Carreira esportiva, uma sucessão de escolhas

Na ocasião em que cursei o MBA em Gestão Esportiva dei um grande foco no tema “carreira” dentro do ambiente esportivo, tanto que o trabalho final foi realizado exatamente sobre o planejamento de carreiras para atletas profissionais.

Num momento como este, após o jogador de futebol profissional Adriano deixar escapar o que provavelmente pode ter sido sua última oportunidade de atuar num grande clube do Brasil, eu me motivei a falar brevemente sobre o assunto “carreira esportiva” aqui na coluna semanal.

Muitos atletas durante suas carreiras tomam decisões por impulso ou devido a motivos valiosos a outros envolvidos em suas profissões e não aos seus objetivos como atleta e ser humano, o que acontece com uma frequência muito maior do que imaginamos.

Muitos ainda são surpreendidos pelo inevitável “dia de parar” e, geralmente, não se preparam da forma adequada para este momento. Isso pode e, frequentemente, vai gerar impactos profundos em suas vidas, inclusive com envolvimento equivocados em projetos de negócios que não se configurariam como uma trilha de carreira aderente ao perfil deste indivíduo causando frustrações, prejuízos financeiros e consequências psicológicas graves.

Em alguns casos, a falta de motivações e objetivos claros que tragam valor para a vida profissional e pessoal do atleta, precipita este dia da aposentadoria; sendo que este cenário ainda piora consideravelmente que este ainda acredita ser um super-homem ou um ser extraordinário, pois assim pode ter sido rotulado pelos torcedores em suas infinitas paixões em boa parte de sua vida como atleta profissional.

Devemos entender que uma carreira nos transmite a ideia de um caminho minimamente organizado no tempo e no espaço que de alguma forma todos os indivíduos desejam seguir. Neste processo estão envolvidos comportamentos e atitudes orientados para o objetivo de um crescimento na carreira e conquista de resultados profissionais e pessoais. A carreira tem uma série de estágios e transições que refletem as necessidades, motivações, expectativas e aspirações individuais. No meio esportivo, da mesma forma que no corporativo, os profissionais querem evoluir e atingir patamares mais elevados de resultados e conquistas.

Cabem aqui para reflexão: existe um planejamento de carreira que seja realmente eficaz sem o atleta passar por um processo de autoconhecimento, no qual este se reconheça no espelho observando o reflexo de suas competências comportamentais e características pessoais? Você, por exemplo, algum dia já se fez a seguinte pergunta: como posso estar mais feliz e realizado profissionalmente daqui a cinco anos? Pensou e respondeu esta última pergunta? Foi difícil? Imagine como é para um atleta de futebol profissional responder esta questão?

A carreira de atleta traz um ingrediente próprio que faz o planejamento ser fundamental para o sucesso profissional: a sua curta duração! Após a primeira experiência, como atleta, este ser humano passa repentinamente à condição de um ex-atleta e, na maioria das vezes, percebe que está diante de um novo cenário em sua vida e que necessita de uma nova visão, de outro ponto de vista.

Planejar estrategicamente uma carreira está relacionado a compreender a importância que as escolhas terão no seu futuro profissional e consequentemente pessoal. Passar a ter consciência que: ou se escolhe os caminhos de vida ou se deixa que a vida decida por você e lhe ofereça resultados que nem sempre são aqueles que se espera. Aliás, geralmente, são resultados diferentes daqueles que você gostaria de obter.

Sabemos que cada escolha, uma renúncia e como disse Augusto Cury: “O destino é uma questão de escolha”. O atleta necessita ter foco e atenção nas suas metas e objetivos além de possuir autoconhecimento, pois não existem escolhas certas ou erradas, mas sim aquelas que estão diretamente ligadas aos anseios, desejos e motivações da sua vida profissional e pessoal. Este é um tema de aprofundamento inesgotável, necessita de debates esclarecedores e merece uma atenção especial dos gestores do esporte atualmente.

Em breve continuarei a falar sobre o tema planejamento de carreira no esporte, no qual comentarei sobre as fases de uma carreira esportiva e suas transições. Espero a coluna de hoje possa ser o início de uma grande e positiva exploração deste assunto, para contribuirmos efetivamente com o desenvolvimento do esporte no Brasil. Conto com vocês, leitores, profissionais do esporte, estudiosos e todos os interessados pelo esporte em geral nessa empreitada! Até a próxima semana.

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Até quando?

Até quando vamos assistir da arquibancada os clubes brasileiros se apequenando ante as atitudes e vaidades das grandes estrelas do futebol? A dúvida posta guarda relação com as últimas consequências do caso “Adriano-Flamengo”.

Nesta história, vou me furtar a tecer comentários sobre o atleta. Parece-me muito “simples” criticar ou julgar a pessoa sentada na frente do computador sem conhecer sua realidade.

Apesar de estarmos diante de uma narrativa no mínimo intrigante e cheia de elementos capazes de definir alguns traços do comportamento humano, entendo que não vale a pena focar neste momento tal abordagem.

Do clube, ou do sistema clubístico em geral, ao contrário, cabe novamente a pergunta: até quando? Mesmo diante de uma série de episódios que ensejariam aprendizados contínuos, percebe-se que os mesmos pouco conseguem discernir aquilo que é eventual com as situações permanentes do cotidiano.

A leitura simples que se faz é a seguinte: nem se realiza um trabalho sério de recuperação do atleta, para evitar superexposição midiática ou tratamento intensivo para cura de seus problemas; nem se toma atitudes de não contratar ou de ignorar atletas que saiam da linha de um comportamento considerado adequado para o bem da indústria como um todo.

Em suma, vê-se que não existe aprendizado. E o resultado em um futuro não muito distante é de termos clubes contratando mais jogadores problemáticos sem a mínima gestão de riscos e preparação para recebê-los e de termos um “imperador” disputando o Campeonato Estadual de 2013 por um time qualquer…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O preço da notícia

Pedro nunca foi afeito a idiossincrasias. Ao contrário, era homem pragmático. Hábitos tão assíduos quanto pleonásticos, cuja personalidade podia ser definida pelas atitudes e pelo trabalho.

Pedro nunca foi de ruminar. Identificava-se algo que podia ser mudado ou consertado, agia. Formulava-se uma ideia, não tinha medo de compartilhá-la e disseminá-la. Nunca teve medo de ser oriundo de um tempo em que, ao contrário do que acontece hoje em dia, era mais comum consertar objetos do que conceitos.

Pedro nasceu em 1920, num mundo que não existe mais. Para ele, o rádio de pilhas era indefectível. A rotina sofria influência direta dos horários da TV – o telejornal, a novela e o futebol eram compromissos imutáveis, por exemplo.

A geração que Pedro representa viu e protagonizou muitas mudanças, mas tudo isso aconteceu em um período espaçado. Por isso, essa geração sempre preservou a opção de não se adaptar. Pense em quantas vezes você viu alguém dessa faixa etária se recusar a aprender algo (dirigir, escrever, usar um computador, carregar um celular ou até aderir a redes sociais, por exemplo). A resiliência é uma característica que se perdeu.

A informação era um bem valioso na realidade em que esse grupo de pessoas cresceu. É a geração dos magnatas da mídia, que se reportavam a um público passivo e ditavam os hábitos de consumo da população.

Essa realidade acabou. O advento de novas tecnologias e as mudanças geopolíticas ampliaram a oferta de informações. O público, anteriormente passivo, começou a se especializar em algumas searas.

O período da especialização contribuiu muito para a produção de conhecimento. Surgiram aí o controle remoto e os canais específicos, em diferentes mídias, para abordar determinados assuntos em perspectiva mais densa.

E a mídia, que na gênese ditava padrões de consumo, passou a viver de anúncios direcionados, focados no público que consumia determinado segmento – cadernos de esportes de jornais, por exemplo, adotaram prospecção comercial focada em marcas que já investiam em esporte.

Essa segmentação total também ficou no passado. A geração seguinte foi marcada por uma relação mais sistêmica com a realidade, com conhecimento mais aprofundado sobre uma lista mais abrangente de assuntos.

O passo seguinte na evolução da comunicação foi a interação entre diferentes conteúdos, que é a síntese da maior funcionalidade de redes sociais. Hoje em dia, vivemos em um mundo que não se contenta com informações sobre assuntos diferentes. É fundamental vincular as notícias e estabelecer pontes entre esses dados e o cotidiano de quem acompanha.

Editorialmente, a mídia parece ter entendido que precisava mudar. Na forma e no conteúdo, não há veículo que tenha passado incólume a todas as alterações que o mundo sofreu. Surgiu um novo padrão de texto, uma nova relação com imagens e uma nova lista de recursos para a apresentação de um mesmo conteúdo.

A grande questão é outra: qual é o valor comercial disso? Fazer jornalismo é uma atividade como tantas outras, com custos e necessidade de gerar lucro. Mas como um veículo de mídia ganha dinheiro?

Essa questão é o cerne de uma crise que o Brasil vive atualmente. O país pode estar em um momento econômico favorável, com taxas de evolução em diversos segmentos, mas acompanhou nos últimos dias uma saraivada de notícias preocupantes no segmento de mídia.

O Grupo Estado pôs na rua a última edição do “Jornal da Tarde”, periódico que circulou durante 46 anos, e anunciou o fim do atual (e excelente) formato da rádio Estadão/ESPN. O Grupo RAC, de Campinas, encerrou a versão impressa do jornal “Diário do Povo”. E a Record decidiu reformular a Record News, processo que, segundo a “Folha de S.Paulo”, motivará mais de 40 demissões.

É impossível não pensar sobre o que motiva o fim de tantos veículos, ainda que as situações sejam radicalmente diferentes. O Grupo Estado, por exemplo, fez uma revisão de portfólio a fim de cortar custos e aumentar eficiência. A empresa tinha um gasto anual milionário para usar a marca e os profissionais da ESPN, e o JT sempre foi um veículo deficitário.

Aí entra o problema: deficitário. Sempre. O JT foi criado com um conceito diferente de jornalismo, com textos mais burilados, diagramação menos convencional e fotografias mais instigantes. Uma combinação que gerou uma produção de muita qualidade nos primeiros números, mas que também jogou os custos nas alturas.

Quando foi fechado, o JT tinha 37 mil assinantes. Isso, 37 mil. A cada 24 horas, 37 mil pessoas compravam o principal produto da marca. E nem assim o jornal conseguia ser superavitário.

Não há exemplo mais escancarado de como os veículos de comunicação precisam repensar as fontes de receita. Se o JT não conseguia viver de assinaturas e não conseguia viver de anúncios voltados a esse perfil de público, esse é um sinal de que a informação não pode ser fim em um plano de negócios. Ela tem de ser meio.

É isso que explica o sucesso de alguns veículos de nicho, com tiragem muito menor do que o JT. Há diversos caminhos possíveis, e o mais comum é o uso da marca do veículo para chancelar eventos ou espaços. A editora Abril faz isso com corridas da revista “Runners” e camarotes da revista “Placar”.

Veículos de mídia podem servir para muitos propósitos além de vender anúncio. Até mesmo para vender notícia – a “Agência Estado”, que abastece sites e outros jornais, é responsável por mais de 60% do faturamento do Grupo Estado. A “Gazeta Press” também é a principal fonte de receita da “Gazeta Esportiva”.

O que não é admissível é a ignávia. Fosse em outro segmento, a sucessão de notícias ruins já teria motivado protestos, pacotes de ajuda ou outra sorte de consequência. O mais triste é que o “Jornal da Tarde”, o “Diário do Povo” e a rádio Estadão/ESPN morrerão em silêncio.

Mais do que oportunidades de emprego ou espaços para acomodar o número cada vez maior de jornalistas que o Brasil forma, esses veículos eram vozes. As mortes deles representam menos opiniões em um mundo que precisa tanto de novas opiniões.

O mundo atual acabou com a dúvida. Assuntos que anteriormente gerariam discussões intensas e intermináveis atualmente são resolvidos na palma da mão, com uma busca na internet ou um aplicativo específico. Não existe mais o “não sei”.

Se antigamente eu tinha apenas a notícia e depois eu tinha acesso a apenas uma interpretação, hoje eu posso comparar um texto com fóruns, visões de especialistas, vídeos, imagens, infográficos e uma série de conteúdos relacionados. É o que foi descrito pelo argentino Jorge Luis Borges no conto “A biblioteca de Babel”: o universo é um mundo de prateleiras e livros, que só aumenta a nossa certeza de que é impossível conhecer tudo.

Entender que o mundo mudou é fundamental para a sobrevivência de qualquer veículo de mídia. É impossível buscar em uma realidade diferente as mesmas fontes de receita de outrora.

Também é fundamental que os profissionais entendam isso. Desde o jornalista, que precisa desenvolver muito mais o interesse pela criação de produtos e conteúdos vendáveis, até as pessoas que trabalham no esporte. Se o produto vendido é diferente, há novos caminhos a serem explorados.

O mais importante nesse processo é o veículo e seus profissionais entenderem o valor da marca. Saber os atributos associados a um produto é um passo primordial para transformá-lo em algo que realmente gere receita.

Pedro nunca foi um sujeito pronto para lidar com as mudanças na realidade em que ele vivia. Preferia seguir com o rádio de pilhas, mas ensinava, pai e avô orgulhoso, algo que os grandes veículos mundiais ainda precisam assimilar: não existe bem maior do que o que a imagem que você constrói e os ensinamentos que você deixa.

Para interagir com o autor:
guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O sangue fervente de Heleno

“Não existe futebol sem sangue fervendo”, diz Heleno de Freitas, na interpretação de Rodrigo Santoro para a cinebiografia do famoso jogador brasileiro das décadas de 1940 e 1950.

A frase resume, em boa parte, o temperamento do primeiro craque bad boy que o futebol brasileiro viu e fez surgir.

Jogador talentoso dentro de campo e, tanto quanto, fora dele, para se envolver com as mulheres e criar confusão com adversários e companheiros do próprio time.

O maior ídolo do Botafogo antes de Garrincha.

Fugia do estereótipo do jogador-problema dos dias de hoje, pois havia cursado ótimo colégio no Rio de Janeiro, bem como se formara em Direito pela UFRJ.

Além disso, o pai era dono de fazendas de café e isso também lhe proporcionava acesso à alta roda social da cidade na época.

O comportamento sexual promíscuo e uso de drogas o fez contrair sífilis, que o levaram à demência e também à morte.

Algumas das passagens do filme, nesse desenho do perfil do personagem como sendo alguém intempestivo, arrogante, nervoso, intenso, inconsequente, são interessantes como contraponto ao que se vê hoje em dia.

Heleno cobrava atitude dos companheiros, acima de tudo.
 


 

Atitude positiva e desafiadora, para que buscassem algo mais que apenas jogar futebol em troca do salário.

Quando foi transferido ao Boca Juniors, relutou e foi a contragosto, pois o Botafogo era sua paixão candente.

Dizia um jornalista da época que o egocentrismo de Heleno o fazia esquecer que “era apenas um jogador de futebol”.

Ao que rebatia, afirmando que era jogador “do Botafogo”.

O que vemos nos tempos atuais? Afora demonstrações de vontade e garra travestidas de violência e incompreensão do futebol como um jogo inteligente, não se percebe mais a existência de ídolos identificados com os clubes.

Com a seleção brasileira, então…

O cenário altamente mercantilizado deixou valores humanos essenciais muito distantes. À parte dos excessos de Heleno, ele personificava a essência do jogar futebol com grande prazer, envolvimento e identidade com algo maior que a si mesmo.

Os ecos chegam à crise de identidade e de formação de talentos no Brasil. O que acontece antes do campo se reflete dentro dele.

Heleno morreu sem ter disputado uma Copa do Mundo – seu maior sonho.

Precisamos resgatar a paixão que movimenta o futebol brasileiro, desde sua origem e que permeia todo o contexto desse esporte.

Já dizia Nelson Rodrigues que “sem paixão, não dá nem pra chupar um picolé”.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

O inglês Chelsea FC, do suíço/italiano treinador Roberto Di Matteo

O ano está chegando ao fim (como sempre, tudo passa rápido demais), e na reta final do Campeonato Brasileiro de Futebol 2012, começa a ganhar mais espaço na mídia, de maneira geral, o Mundial de Clubes Fifa que acontece em dezembro.

Apesar de, no ano de 2011, dedicar parte da minha atenção a observação e análise das equipes do Real Madrid e do FC Barcelona, já em 2012, desde as semifinais da Champions League 11/12, direcionei o olhar também para o time inglês do Chelsea FC (e como já disse aqui mesmo outrora, sugiro – com relação ao futebol europeu – que além de Chelsea FC, FC Barcelona e Real Madrid, não percamos a chance de acompanhar a Juventus, da Itália).

Como o Chelsea FC é a equipe europeia no Mundial de Clubes, resolvi nesta semana escrever um pouco sobre ela (ainda que, por enquanto, superficialmente), especialmente sobre aspectos ligados à ocupação de espaço no campo de jogo.

Partindo da observação de jogos disputados pela equipe inglesa na Uefa Champions League 12/13, e dos relatórios disponibilizados pela própria entidade que rege o futebol no Velho Continente, sobre fluxo de passes, distâncias percorridas e posicionamentos médios efetivos dos jogadores nas partidas, destacarei dois apontamentos importantes:
1)A equipe inglesa tem adotado comportamentos (operacionais, estruturais, etc.) de jogo diferentes daqueles observados no Campeonato Inglês da temporada passada e também nas fases finais da Champions League 11/12, quando foi campeã.

2)Diferentemente do 1-4-3-3 que, por algum tempo, caracterizou o Chelsea FC, agora o 1-4-2-3-1 do treinador italiano (cidadão italiano nascido na Suíça) Roberto Di Matteo parece possibilitar aos jogadores e à equipe maior dinamismo e mobilidade ofensiva.

Com relação ao primeiro apontamento, talvez o aspecto mais importante se refira ao fato de que, antes, a equipe inglesa, com ou sem bola, pouco tentava o protagonismo do jogo.

Jogava mais em reação do que em ação (exceto claro, nas transições ofensivas) – mesmo contra adversários mais fracos.

Tanto para ocupar o espaço, quanto para definir regras de ação, era a constante “espera ativa” (diferente da “espera passiva”), a marca mais registrada da equipe.

Isso não significa, e nunca significou, que o time inglês não conseguia ter controle de alguns dos seus jogos, mas o fazia, muitas e muitas vezes, em resposta direta à maneira de jogar dos seus adversários.

Talvez esse aspecto do comportamento de jogo do Chelsea FC se explique pelo fato de o atual treinador (o italiano Roberto Di Matteo) ter assumido a equipe bem no meio da Champions League 11/12, em uma situação complicada, em que as chances de que ela ficasse fora da competição eram demasiadamente grandes.

Então, tendo que “trocar o pneu com o ônibus andando”, pode o italiano ter optado pelo que parecia ser mais eficiente para o momento da equipe – e agora com um título importante conquistado e tempo para trabalhar, sem perder a essência do que fez vencedor o Chelsea FC, poder modelar o time inglês com novos conteúdos.

Com relação ao segundo apontamento, antes de qualquer coisa, o mais importante é salientar que, ainda que a estruturação matriz do espaço se pareça com a de um 1-4-3-3, as dinâmicas de jogo e as interações sistêmicas entre os jogadores evidenciam uma estruturação do espaço típica do 1-4-2-3-1.

Vejamos a figura:

No 1-4-2-3-1, a movimentação e ocupação do espaço dos três jogadores da “linha de 3” (linha do meio campo) é altamente dependente de cada um deles entre si (setas de cor azul-escuro). E ainda que as ações dos jogadores dessa linha também se relacionem com as ações dos jogadores da “linha de 2” e do atacante centralizado (e também com a linha de defesa e goleiro), a força de relação e interdependência entre esses três jogadores é maior do que a deles, em conjunto, com a da “linha de 2” ou com o atacante a frente (setas cinzas).

No caso específico do Chelsea FC, nos jogos observados, dos três jogadores da “linha de 3”, aquele que joga centralizado tem mostrado maior interação sistêmica com o atacante a sua frente (seta amarela), do que a interação desse mesmo atacante com os jogadores da “linha de 3” que jogam em suas extremidades (setas cinzas).

Na época do 1-4-3-3, as interações sistêmicas eram mais fortes entre os jogadores que formavam o triângulo do meio-campo (entre si), e mais à frente a interação entre os jogadores da própria linha de ataque (como mostra a figura que segue).

Claro que essa mudança, aparentemente pequena, não explica totalmente a melhora significativa das dinâmicas ofensivas do time inglês.

De qualquer forma, o 1-4-2-3-1 tem permitido especialmente três coisas, que antes no 1-4-3-3 o Chelsea tinha um pouco de dificuldade:

1)Como os jogadores da “linha de 3” têm como uma forte referência a manutenção da própria linha, os jogadores que jogam nas extremidades dela não se movimentam a partir das ações dos jogadores laterais das equipes adversárias (apesar de gerenciá-los zonalmente). Isso dá vantagens posicionais nas transições ofensivas, na media que circunstancialmente possibilita a presença de um ou dois jogadores nas costas dos adversários de meio-campo (formando quase que um 1-4-4-1-1 para defender). De certa forma, isso tem possibilitado à equipe muito mais passes médios e curtos, do que passes longos nos jogos.

2)Nas transições defensivas, além de um balanço defensivo espontaneamente mais bem desenhado (em função do 1-4-2-3-1), consegue ter mais jogadores na faixa central do campo de jogo para fazer o ataque a bola e tentar recuperá-la ainda no setor de ofensivo (muito diferente das antigas longas recomposições para trás da linha da bola como regra de ação principal), antes de ter efetivamente que recuar os jogadores ao campo de defesa. Recuperando a bola mais ao ataque, consegue trabalhar um pouco mais em equilíbrio ofensivo.

3)Com a “linha de 3” no meio-campo, os jogadores da extremidade da linha podem ser atacantes, meias ou até volantes, sem que a essência da estruturação do espaço se altere. Com isso, diferentes dinâmicas auto-organizativas surgem para confundir os adversários defensivamente.

Bom, por ora, é isso.

Mais à frente, em oura oportunidade e em novos textos, explorarei com mais detalhes e profundidade a equipe inglesa.

Então, obrigado, e até a próxima…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
 

Categorias
Sem categoria

Caso Barcos e a influência externa no jogo de futebol

Na partida entre Internacional e Palmeiras, válida para 33ª rodada do Campeonato Brasileiro, um lance envolvendo o atacante palmeirense Barcos tem gerado polêmica e culminou com a suspensão, pelo STJD, do resultado da partida.

A jogada aconteceu aos 16 minutos do 2º tempo quando, após cobrança de escanteio, o argentino mandou a bola com a mão para a gol. No momento, o juiz Francisco Carlos do Nascimento, o bandeirinha e o auxiliar do fundo de campo validariam o lance se não fosse a reclamação dos jogadores do time gaúcho, que pediam a marcação do toque. O gol somente foi anulado, pelo juiz, seis minutos depois, após receber do quarto árbitro, avisado pelo delegado da partida, a informação de que o gol fora irregular.

Alegando “influência externa” ao jogo, o Palmeiras ingressou no STJD solicitando a anulação da partida contra o Inter. Segundo o clube paulista, o delegado do jogo foi quem alertou sobre a irregularidade do lance, contando com o recurso da TV para tal análise, o que é proibido pela Fifa.

Por seu turno, o árbitro Francisco Carlos Nascimento apontou na súmula que “nada de anormal” ocorreu durante Inter 2×1 Palmeiras, omitindo o lance do gol de mão de Barcos.

Ao receber o pedido de anulação da partida (artigo 84, II, CBJD) intentado pelo Palmeiras, o órgão da justiça desportiva determinou a suspensão do resultado da partida e a não inclusão dos pontos na tabela de classificação.

Segundo a regra 5, do futebol, as decisões do árbitro sobre fatos em relação ao jogo, são definitivas, podendo, entretanto, modificá-las unicamente, se as entender incorretas conforme a indicação por parte de um árbitro assistente, sempre que não tenha reiniciado ainda o jogo.

Importante destacar que uma partida de futebol corresponde a um microssistema normativo no qual não se aplicam regras exteriores, sendo proibida a interferência de qualquer agente externo, ou seja, de qualquer pessoa não relacionada na lista da equipe como um jogador, substituto ou funcionário oficial de uma equipe, a exemplo de um jogador que foi expulso.

Assim, tendo havido a interferência externa na partida entre Internacional e Palmeiras, haveria um vício ensejador de anulação do jogo. Interferência externa corresponde à obtenção de informações por outra fonte que não a equipe de arbitragem

Dessa forma, se o Palmeiras conseguir comprovar que o delegado da partida ou outro agente externo interveio, ajudando na anulação do gol de Barcos, a partida deverá ser anulada, uma vez que o livro de regras não admite a influência de delegados das partidas ou de jornalistas em decisões de jogo, assim como não é autorizado o uso da tecnologia.

Destarte, o artigo 259, do CBJD, determina que a partida, prova ou equivalente poderá ser anulada se ocorrer, comprovadamente, erro de direito relevante o suficiente para alterar seu resultado, o que se aplica ao caso em debate.

Importante destacar que a França classificou-se para o último mundial após a condução com da bola com as mãos pelo Henry e que a Argentina chegou a uma semifinal de Copa do Mundo com um gol de mão do Maradona.

Ademais, caso se comprove a interferência externa, a não anulação da partida poderá abrir um perigoso precedente, eis que as equipes poderiam começar a espalhar televisores pelo estádio a fim de trazer informações aos auxiliares e delegados das partidas influenciando, assim, as decisões da arbitragem.

Destaque-se que não se está discutindo a validade ou não de um gol de mão, mas o meio utilizado para anulá-lo. Analogicamente, pode-se comparar este caso à utilização de uma escuta clandestina para condenar um homicida. Neste caso, a prova conseguida de maneira ilegal não pode ser utilizada para a condenação.

Portanto, diante das normas da Fifa e do Código Brasileiro de Justiça Desportiva há fundamentos jurídicos para o pleito do Palmeiras.

Caso a partida venha a ser anulada, outro ponto importante são as repercussões atinentes aos direitos dos torcedores que compraram ingressos para uma partida oficial em que o Internacional lutava para chegar ao G-4 e o Palmeiras para sair do Z-4 e acabaram presenciando uma partida nula.

Nesta hipótese, os torcedores poderão, com fulcro no Estatuto do Torcedor pleitear ressarcimento dos valores dos ingressos, bem como indenização por danos morais e/ou materiais.

Percebe-se, assim, que a polêmica ainda deve se arrastar pelo menos até o julgamento previsto para o dia 8 de novembro.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Arbitragem, a equipe esquecida

Atualmente o futebol sofre com constantes questionamentos sobre a arbitragem em suas competições estaduais, nacionais e internacionais. São inúmeras reclamações e sentimentos de perda por parte dos clubes quanto a decisões equivocadas dos árbitros de futebol em todo o mundo.

Mas, sabemos exatamente as condições nas quais esses seres humanos que compõem esta equipe estão atuando? Sim, chamei de equipe, pois é exatamente assim que podemos denominar a arbitragem de uma partida. Uma terceira equipe que atua em conjunto com outras duas que disputam o jogo. Como os membros desta equipe são preparados para serem mediadores de um esporte que envolve uma quantia gigantesca de valores monetários e que se relaciona diretamente com a paixão dos torcedores?

Podemos definir o árbitro como sendo aquele que as federações, confederações ou mesmo as ligas nomeiam em comum acordo para resolver o pleito, o jogo. Sendo essa pessoa de extrema importância poderíamos compreender que este esteja apto a iniciar sua carreira apenas com pré-requisitos como ser maior do que 18 anos, ter ensino médio e ter um curso de arbitragem? Seria esta pessoa capaz de mediar um evento que envolver grandes quantias monetárias e interesses políticos? Penso que não meu caro leitor.

Os árbitros deveriam dedicar tempo adequado aos treinamentos e a preparação tanto quanto os próprios atletas, mesmo porque atuam dentro do espaço de jogo envolvido diretamente com os jogadores dentro de uma partida.

Reflita sobre a seguinte situação: o árbitro de futebol atua também em outra área profissional, o que de maneira geral faz com que ele tenha uma dupla jornada de trabalho para ser um árbitro no futebol profissional.

É preciso entender que este ser humano precisa de preparo específico e desenvolvimento técnico e comportamental adequado para atuar no melhor de sua forma dentro do jogo, tal qual o atleta de futebol necessita. Mas ao invés deste cenário, temos árbitros em muitos casos despreparados e com base reduzida de conhecimento das regras atuando por todo o país e decidindo pleitos, inúmeras vezes de forma equivocada.

Na questão do preparo do árbitro no Brasil vou citar, entre tantas outras, a questão dos processos cognitivos da arbitragem, uma vez que este atua predominantemente tomando decisões situacionais dentro da partida e essa atuação impõe ao árbitro uma tripla exigência de decisão nos parâmetros de tempo-espaço-situação. Sendo estes processos cognitivos então de grande importância para a ação humana, principalmente na ação esportiva.

Para facilitar a compreensão os processos cognitivos são, por exemplo, o conhecimento, a percepção, a atenção, a concentração, a memória e o pensamento. Em relação ao conhecimento podemos entender que é um importantíssimo processo cognitivo, pois pode ser o fator que mais acompanha o árbitro em toda a sua carreira. Sabendo que uma pessoa só consegue perceber melhor algo do qual ela tem conhecimento, um árbitro poderá perceber se foi ou não pênalti, por exemplo, se ele já possuir consigo o conhecimento das regras do que é ou pode ser considerado pênalti.

A memória e o pensamento estão ligados ao conhecimento, formando a base para o processamento de informações. A recordação e o reconhecimento são processos de busca da informação na memória de ímpar importância na arbitragem, ao identificar um padrão de comportamento o árbitro pode tomar uma decisão de maneira mais rápida e eficiente.

O árbitro é um tomador de decisões situacionais, por este motivo os processos cognitivos anteriormente comentados, mas não de maneira exaustiva, são importantes na atuação deste durante o jogo. Ele tendo o controle de suas emoções e sua preparação em alto nível possibilitará que, durante uma partida com sequência de acontecimentos e ações, possa tomar suas decisões sob parâmetros com percepção e análise de um momento estático do jogo, tal qual a observação de uma fotografia.

Penso e compartilho a crença de que é inevitável promovermos no Brasil uma revisão ampla sobre o tema arbitragem no futebol, inclusive abordando a questão da profissionalização da carreira de árbitro.

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br