Categorias
Sem categoria

Esportes olímpicos nos clubes

O encerramento das equipes olímpicas de natação, judô e ginástica no Flamengo é o retrato da orientação voltada ao mercado pelo qual passaram os clubes sociais no Brasil nas últimas três décadas e mostra a, talvez, precipitada tentativa de profissionalização de alguns esportes.

Primeiramente, não sou contra a existência de atletas profissionais em modalidades que não o futebol, pelo contrário. Mas o que se vê é que algumas práticas forçam a profissionalização sem gerar de fato receitas que permitam minimamente se pagar.

Talvez o melhor exemplo do que estou falando seja o movimento e o boom das corridas de rua. É a clara característica de um mercado autossustentável pela quantidade de praticantes que alimenta os atletas de elite.

É claro que a modalidade, pela sua distinção, permite que amadores e profissionais estejam em um mesmo ambiente, no mesmo horário, fazendo a mesma coisa – apenas com objetivos e qualificação diferentes.

Voltando aos clubes, não há como esconder: os relatórios anuais das entidades que procuram manter esportes de competição junto com o futebol são fadados ao fracasso financeiro. E ninguém quer pagar esta conta – o futebol quer ampliar seu investimento na equipe pelo que dá retorno ao clube e os associados esperam a qualificação dos serviços para a prática de atividade física voltada ao lazer.

No fim, um dos dois acaba sofrendo as consequências. É preciso, portanto, encontrar um modelo saudável que equilibre as contas de todas as áreas ou mesmo que elas passem a ter um plano integrado de benefícios suplementares que se somem ao invés de ter que separar as migalhas.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Por uma Lei de Acesso à Informação do Esporte

Em maio de 2012, entrou em vigor a lei federal nº 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação, projeto que regulamenta o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações de todo o serviço público do país, incluindo ministérios, estatais, governos estaduais, prefeituras, empresas públicas, autarquias etc.

O texto da lei determina que, além das informações que podem ser solicitadas pelo público em geral, órgãos e entidades devem divulgar em seus sites dados sobre estrutura organizacional, programas e ações em desenvolvimento, repasses ou transferências de recursos financeiros, licitações realizadas e em andamento, remuneração e subsídios de postos públicos, incluindo ajudas de custo.

A lei é um avanço que precisa ser estendido à outros setores da sociedade incluindo o esporte, um de seus segmentos menos transparentes. Estamos falando de um setor de crescente representatividade econômica, empregador de centenas de milhares de pessoas, gerador de investimentos bilionários, mobilizador do interesse e ilusão de milhões de torcedores, e que passa por um importante processo de qualificação, onde novas e necessárias práticas colidem com velhos e arcaicos interesses.

O único e tímido avanço recente em termos de transparência no esporte foi o que obrigou as entidades esportivas a publicar seus balanços. O que se vê, porém, são demonstrativos que cumprem a lei, mas nada informam, com informações superficiais que perpetuam o histórico de pouca transparência por parte de clubes e federações.

Precisamos ir muito além agora, tornando públicas informações críticas que se mantém à sombra, em boa parte servindo aos interesses contrários aos dos próprios clubes.

Questões como, por exemplo: quem são e qual é a participação dos detentores dos direitos econômicos dos jogadores, quais os valores pagos e recebidos e o destino e origem dos recursos das transferências de atletas, quais as comissões pagas aos agentes, qual o valor da remuneração total de executivos e atletas de clubes e federações, etc.

Os torcedores são a razão da existência dos clubes (e por extensão, das federações), e têm o direito óbvio de saber tudo o que ocorre com eles.

Maior transparência gera ganho de eficiência pela comparação, diminui o risco e a incidência de práticas corruptas e outros crimes (como a lavagem de dinheiro) e aumenta a credibilidade do setor como um todo, levando a um maior volume de investimentos, o que em última instância resulta em maior nível de competitividade de nossos atletas e clubes.

É pura falácia o argumento de que determinadas informações não devem ser divulgadas por serem estratégicas, já que a assimetria de informação deixaria de ocorrer se houvesse a implantação de uma lei, uma vez que todos teriam que publicar seus dados.

Numa época de escândalos envolvendo manipulação de resultados e do uso frequente do esporte como instrumento de lavagem de dinheiro, uma das melhores armas disponíveis para se combater crimes deste tipo é lançar o máximo de luz possível sobre o setor, abrindo suas diversas caixas pretas.

Para interagir com o autor: fernando.ferreira@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Concorrência desleal

A tecnologia mudou drasticamente a experiência de ver TV. Os aparelhos ganharam cores, definição, recursos de som e um nível de detalhamento que anteriormente era exclusividade das salas de cinema. Então, como os complexos sobrevivem? Por que as pessoas saem de casa e trocam o conforto do sofá por uma sala impessoal, distante de casa e paga?

A relação entre TV e cinema é algo que o esporte precisa começar a observar com mais atenção. Sobretudo no Brasil, país em que o ato de ver uma competição in loco ainda é basicamente o mesmo da primeira metade do século 20.

Pense nisso: a maioria dos equipamentos esportivos do Brasil foi construída até a década de 1970. Nesse período, os raros televisores disponíveis no país transmitiam em preto e branco. O som era ruim, o nível de definição das imagens era paupérrimo.

A experiência de ver um programa em uma TV daquela época é radicalmente diferente do ato de assistir a qualquer coisa em um potente aparelho atual. O esporte não acompanhou essa curva de evolução.

A estrutura física é o aspecto em que essa diferença fica mais clara, mas esse está longe de ser um fator isolado. Toda a experiência de ver uma competição esportiva está defasada.

No Brasil, isso passa até pelo nível do jogo. Algumas modalidades, como o vôlei, buscaram evolução técnica para serem mais palatáveis para a TV. Isso alterou a dinâmica de pontos e as regras da competição. E o espectador que está nos ginásios, como fica?

Um exemplo contrário é o futebol americano. O número de intervalos de uma partida da liga profissional dos Estados Unidos (NFL) também foi algo pensado para a demanda de quem transmite. No entanto, há uma preocupação simultânea com entretenimento do público que está nos estádios – e mais do que isso, com meios de fazer com que essas pessoas aproveitem as paralisações para consumir.

O Botafogo começou a fazer algo parecido com isso há dois anos, no Campeonato Brasileiro de futebol, quando criou uma agenda de shows antes de jogos no Engenhão (que na época ainda se chamava estádio João Havelange). A ideia da diretoria alvinegra era usar apresentações artísticas como argumento para que o público chegasse mais cedo. Com isso, diminuir filas e facilitar a entrada.

A medida é simples, mas é um exemplo de como um organizador de eventos deve se preocupar com toda a experiência que o consumidor tem. Não adianta proporcionar a ele um grande espetáculo durante 90 minutos, mas irritá-lo com serviços ruins em todos os aspectos que estão fora das quatro linhas.

Porque a evolução das TVs é apenas um dos aspectos favoráveis à experiência caseira. Também é necessário considerar que os ambientes estão melhores – os sofás são mais confortáveis e a oferta de comida é mais vasta, para dar dois exemplos banais.

Um dos segredos para a sobrevivência dos cinemas no mercado brasileiro foi entender o perfil do público. As salas comerciais saíram das ruas, onde ofereciam dificuldades de estacionar e tinham parcos serviços complementares, e migraram para dentro de shoppings.

Hoje em dia, ver um filme em uma sala comercial é uma experiência confortável. Além disso, o espectador pode unir o longa-metragem a uma série de atividades que o ambiente impessoal e higienizado dos shoppings oferece.

Se quiserem disputar público com as TVs, os estádios precisam "ir para dentro de shoppings". Em outras palavras, é fundamental que eles adotem um perfil de serviço mais adequado à demanda do consumidor de agora. E isso não quer dizer apenas uma nova aparência.

O Brasil terá 14 novos estádios nos próximos anos. A oferta de serviços vai mudar, assim como a aparência. Resta saber se eles estarão preparados para entender e atender o que o público deseja.

Essa discussão é fundamental para o esporte brasileiro no atual momento. Aliás, é fundamental para o esporte global. Nos Estados Unidos, a popularização dos pacotes de pay-per-view e o incremento de qualidade das transmissões esportivas têm gerado discussões sobre a experiência de quem vai às arenas. O foco do debate é como ter diferenciais ao vivo.

No último fim de semana, o Brasil teve três clássicos regionais no Rio de Janeiro e em São Paulo. Juntos, os três jogos que movimentaram algumas das maiores torcidas do país não colocaram 51 mil pessoas nos estádios.

Em contrapartida, as transmissões televisivas de Flamengo x Botafogo e de Santos x Corinthians tiveram audiências expressivas e grande participação no número de TVs ligadas. Não é falta de interesse o motivo para as arquibancadas vazias.

Há vários caminhos para melhorar o serviço dentro dos estádios. Todos eles passam, necessariamente, por um entendimento maior sobre o perfil do público. Quais são os pontos mais relevantes para as pessoas que você quer levar para aquele espaço? Que tipo de restaurante elas preferem? Que tipo de produto elas consomem?

E mais do que isso: é preciso oferecer subsídios para que a experiência de ver o jogo seja diferente. O público no estádio precisa de acesso a replays, estatísticas e informações. Acabou a era do rádio de pilhas no ouvido.

A mídia é, hoje em dia, uma das fontes de receita mais relevantes do esporte. Não há grande liga esportiva no mundo que sobreviva sem vender direitos de transmissão. No entanto, é necessário repensar o produto para que a comunicação não passe de suporte a vilã.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O mérito do treinador Josep Guardiola: o FC Barcelona vs o estrategista do tempo

Em abril de 2012 o então treinador do FC Barcelona, Josep Guardiola, anunciava sua saída do comando técnico da equipe catalã. Os motivos exatos, nunca ficaram precisamente claros.

O fato é que independentemente da realidade concreta ou das especulações, muitos foram os seus títulos e muitos foram seus recordes frente ao clube.

E mesmo com as inúmeras conquistas, e com o futebol vistoso e vencedor de sua equipe, esteve muitas vezes em segundo plano – na análise de especialistas (ou “especialistas”) – sua competência como treinador; afinal, como diziam: “com tais jogadores qualquer um poderia ser ou parecer ser bom treinador”.

Sempre discreto, Guardiola nunca se incomodou com o fato. Pelo contrário. Em mais de uma dezena de vezes disse que o mérito por suas conquistas era totalmente dos seus excelentes comandados.

Claro, indiscutível a qualidade dos futebolistas do FC Barcelona.

Claro, também, que dentro de um clube com aclamada filosofia de trabalho e de jogo, é de se aparentar (aos olhos mais desatentos) que as dificuldades devessem ser menores para fazer as coisas acontecerem.

E quando elas não acontecessem (vitórias, títulos, recordes, etc.) é claro que o primeiro e principal foco responsável passaria a ser o treinador.

Ora, se a equipe vai muitíssimo bem, lá vem o famoso “qualquer um faria”; se vai mal, responsabilidade toda do treinador (e não estou eu dizendo que não seja!).

O fato é que Guardiola saiu do FC Barcelona, e como escrevi recentemente em outro artigo, existem diferenças importantes entre o Barcelona de Guardiola e o do pós Guardiola.

E como complexamente falando é melhor analisarmos os resultados dos jogos, do que qualquer outra variável (porque os resultados são os melhores argumentos), o que podemos dizer da atual equipe catalã, é que ela tem tido maiores dificuldades para vencer seus jogos e fazer sobressair sua filosofia.

O FC Barcelona que perdeu para o Milan e que perdeu para o Real Madrid nem de longe se pareceu com o FC Barcelona que encantava com Guardiola.

E por mais que o que mais pese nesses jogos sejam as derrotas, pesa muito também como elas aconteceram.

Alguns podem dizer que no Campeonato Espanhol tudo vai bem.

Honestamente, não concordo. Assisto a todos os jogos que são transmitidos dessa competição e, para mim, está evidente que hoje o desgaste complexo que o FC Barcelona tem para ganhar seus jogos é muito maior do que antes.

Para mim, está claro que a mudança de comando da equipe tem feito muita diferença (mesmo quando Tito Vilanova era treinador, ao longo do tempo emergiram indícios de que as coisas não estavam bem).

Pep Guardiola tinha, sim, muitos méritos! Parece cada vez mais evidente que minimizar seu papel nas conquistas do time catalão é uma grande irresponsabilidade.

O FC Barcelona não parece mais ser o mesmo – e nem poderia ser, pois Guardiola (melhor ou pior) não dirige mais a equipe, e o tempo passou (e nem foi muito rápido).

Contra o Milan (no 2º jogo da Champions League) e a favor da filosofia do FC Barcelona, talvez ainda as coisas não estejam perdidas (claro que não!) – não se joga fora, mais de uma década de uma filosofia, de uma hora para a outra em função da mudança de comando técnico.

Contra o Real Madrid, porém, a certeza de que a distância que antes separava as duas equipes hoje é muito menor (mas chamo a atenção: apesar da vitória do time de Mourinho no último confronto, estou certo de que ainda a vantagem [mínima e prestes a se perder se o rumo das coisas não mudar] é da equipe de Barcelona).

E os maiores problemas do FC Barcelona não são nem o Milan e nem mesmo o Real Madrid.

Contra o FC Barcelona, o maior dos problemas é o tempo. Sim, o tempo, porque o tempo que inevitavelmente passa, evidencia a “desaprendizagem”, a mudança de comportamento de jogo e a perda de padrões.

Se “somos aquilo que fazemos repetidamente”, e a “excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito” – (Aristóteles) –, me parece claro que os hábitos (de jogo) dos jogadores do FC Barcelona, mudaram.

O treinador é, sim, um semeador de hábitos, comportamentos e padrões (todos de jogo) que devem reforçar coletivamente um TODO muito forte e maior que a soma simples das partes que o integram.

Josep Guardiola saiu, e é fato, o FC Barcelona perdeu com isso!

E aqui mais uma vez destaco, não sabemos realmente porque ele saiu.

Há quem diga que isso foi plano de alguém que vê o TODO, para mais do que o jogo de dentro das quatro linhas do campo. Alguém que pensava (ou tinha certeza) que a desestruturação da equipe do FC Barcelona passava por um plano muito mais elaborado do que aquele para vencer uma partida no fim de semana.

Há quem diga, que há algo de “Mourinhoavélico” no ar… e que o tempo; só ele mesmo o tempo, é quem dirá…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
 

 

Categorias
Sem categoria

Corinthians e a punição disciplinar da Conmebol

Desde a partida entre Corinthians e San José da Bolívia, em Oruro, quando um jovem de 14 anos faleceu vitimado por um sinalizador disparado pela torcida do time paulista, o noticiário desportivo tem conferido atenção especial ao tema. A análise de que deve ser realizada não é do justo ou injusto, mas do que é previsto no regulamento.

Neste ano, a Conmebol iniciou a "era da disciplina" ao criar um Código Disciplinar e instituir um Tribunal Disciplinar e quis o destino que a torcida corintiana que encantou o mundo ao "invadir" o Japão fosse a protagonista do primeiro grande julgamento do recém-criado tribunal.

O Código Disciplinar responsabiliza os clubes objetivamente pelos atos de seus torcedores, por esta razão o Corinthians está sujeito às penalidades da entidade que podem ir de uma simples advertência até a eliminação da competição.

Com relação à punição cautelar para que o clube dispute suas partidas sem a presença de torcida, analisando-se a norma aplicável percebe-se não haver os requisitos para sua concessão, eis que o Código Disciplinar prevê a aplicação de pena preventiva quando necessária para elucidação dos fatos ou quando houver risco de inocuidade da punição pelo transcurso do tempo.

A questão que já é bastante complicada tornou-se ainda pior quando seis torcedores do Corinthians ganharam na Justiça Comum o direito de assistir à partida entre Corinthians e Millionarios, no Pacaembu.

A Fifa abomina qualquer intervenção da Justiça Comum nas questões disciplinares, o que pode ocasionar punições para a CBF e para o Corinthians.

Tais medidas seriam necessárias para desestimular o perigoso precedente de se buscar alteração de decisões disciplinares no Poder Judiciário. Considerando que a CBF e o Corinthians são filiados à Fifa, que é uma instituição privada, eventual punição não encontraria obstáculo legal.

Seguramente, esta história ainda irá desenrolar por bastante tempo e coloca o novíssimo Tribunal Disciplinar da Conmebol em uma situação delicada, pois se agir com rigor garantirá autonomia de suas decisões e valorizará a competição, mas, se decidir sem rigor correrão o risco de se desmoralizar e perder a credibilidade.

De toda sorte, toda esta discussão colocou o direito desportivo como um dos tópicos mais comentados, o que é importantíssimo para o desenvolvimento do desporto nacional. Aguardemos os desdobramentos.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br