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Renúncias e corrupção

A renúncia de João Havelange como presidente de honra da Fifa por escândalos de corrupção na época em que liderou a entidade máxima do futebol foi apenas o desfecho de um ciclo iniciado por Ricardo Teixeira e que passou por Nicolás Leoz, que seguiram caminhos similares na CBF e Conmebol.

Os casos citados estão longe de surpreender, uma vez que há anos repórteres investigativos, como o escocês Andrew Jennings, retratam alguns dos submundos do futebol. De livros que igualmente mostram a forma exponencial como o futebol se desenvolveu dão a entoada daquilo que vivemos hoje.

Se não surpreende, preocupa, já que tais problemas passam a nos ser familiares. Havelange, por exemplo, por tudo que representou, não se sentará em uma Tribuna de Honra durante a Copa do Mundo ou as Olimpíadas que acontecerão em seu país – a não ser que compre ou ganhe ingressos por outro meio…

Mas é o outro lado destas histórias que gostaria de comentar – e aqui o faço bem longe de querer defender qualquer um destes indivíduos (Bem longe!!!).

O fato é que a Fifa, na década de 1970, era uma entidade deficitária e se tornou bilionária no final da década de 1990 pelas mãos de Havelange – e isto não é novidade para ninguém: os números comprovam.

Lógico que isto não é desculpa para eventuais desvios ou corrupções, como as que o ex-presidente da Fifa está sendo acusado. Na realidade, estamos falando de uma entidade privada, "sem fins econômicos", que se relaciona com outras entidades privadas, "com finalidade econômica", e é aí que reside o grande desafio para o desenvolvimento do esporte moderno.

Nas entidades sem fins econômicos não há remuneração para os cargos eletivos. As práticas das empresas, por sua vez, é de gratificar – seja com bônus ou altos salários – seus principais executivos. A famigerada "Participação nos Lucros" ou "Success Fee" simplesmente não existe e, portanto, é criminalizada nas entidades que administram o esporte quando algum dirigente o percebe.

Reforçando a linha de raciocínio: os eventuais desvios pelos quais os citados dirigentes estão sendo acusados são crime, sim (embora as Leis da Suíça tratem de forma diversa esta questão) pelo formato de constituição das entidades que lideraram. São também, hoje, imorais, pela mesma razão.

Contudo, merece uma reflexão mais técnica, sem demagogias e menos eivada de paixões por conta da dimensão e proporção que a indústria do esporte conquistou nos últimos 40 anos.

A reflexão é baseada em uma pergunta simples, que encerra este texto: "é justo o presidente de uma entidade bilionária não receber nada pelo seu trabalho?"

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br