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A era da desinformação

Depois da era industrial, da era do conhecimento, da era digital e da era da hiperconectividade, vivemos agora a era da desinformação.

Tenho pensando nos últimos tempos no tema da desinformação e passei a pesquisar sobre seus motivos. Li artigos, participei de debates, conversei com profissionais de diversas áreas e níveis hierárquicos e fiquei atento aos acontecimentos do dia a dia para confirmar a tese.

Reunindo todas as evidencias, cheguei a uma conclusão: a era da desInformação está em curva ascendente e não vejo, pelo menos a curto prazo, um sinal de que irá desaparecer.

Antes de continuar, vamos nos alinhar sobre as definições de senso comum e informação. A maioria das pessoas imagina que o senso comum e informação são sinônimos, não são! De fato, é fácil confundir já que existem situações que podem nos levar a misturar tais definições. Para que não haja dúvidas sobre o que significa uma e outra, vamos a suas definições:

Senso comum: O senso comum descreve as crenças e proposições que aparecem como normal, sem depender de uma investigação detalhada para alcançar verdades mais profundas, como as científicas. Enfim, não pressupõe reflexão, é uma forma de apreensão passiva, acrítica e que, além de subjetiva, por vezes é superficial.

Informação: É um conjunto de dados organizados, um fato ou um fenômeno, que no seu contexto tem um determinado significado, cujo fim é reduzir a incerteza ou incrementar o conhecimento sobre algo. Enfim, é o resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma modificação no conhecimento.

Pode parecer antagônico, mas creio que a causa principal da desInformação, esteja justamente na abundância, no baixo custo e na facilidade em se acessar “conhecimento”.

Acessar conhecimento há alguns anos atrás era um grande diferencial e basicamente era conseguido por intermédio de grande esforço individual, sendo autodidata, sendo um aprendiz atento ou investindo em educação através de cursos e graduações.

Só para relembrar como era difícil buscar conhecimento, comprar uma enciclopédia como a Barsa, um clássico por décadas nos anos 60, 70 e 80, custava caríssimo e era uma meta de compra de pais que investiam forte na educação e no futuro de seus filhos.

Para quem nunca ouviu sobre este material, a Barsa cumpriu por décadas a função hoje exercida por portais de pesquisa como Google, Yahoo!, Bing ou Wikipédia.

Hoje temos facilidade de acesso a conhecimento em questão de segundos, com pouco esforço mental e a custo zero. Esta facilidade em acessar o conhecimento, criou o comportamento das pessoas não terem necessidade de se esforçar, assim como em se satisfazerem com conhecimentos superficiais e sem preocupação com conceitos.

Como consequência, as pessoas têm dificuldade em entender o porquê das coisas, e o efeito é não conseguirem transformar conhecimentos acessados em matéria prima, informação.

Exemplos desta realidade estão por todas as partes:

1) Manifestações no Brasil. Nenhum juízo de valor, nada contra muito pelo contrario.

Ao perguntar para manifestantes o porquê eles estão ali, uma boa maioria respondeu: “estamos reivindicando redução do preço da tarifa de ônibus”, ou seja, eles têm o conhecimento. Todavia, depois dessa primeira pergunta, todas as outras terão em 90% dos casos respostas como “Não sei”.

Vejamos algumas:

Se vocês conseguirem a redução, quais os benefícios para o consumo?
Vocês sabem se a redução nas passagens causará impactos em outras áreas?
As destruições nas ruas podem gerar algum impacto no emprego?
Quem organizou esta manifestação?
Qual foi a discussão de pauta antes de saírem às ruas?

Vemos que 10% das pessoas respondem com inteligência estas perguntas simples, a grande maioria não faz a menor ideia do motivo de estar ali, ou seja, não tem nenhum objetivo de fato e seguem, como um bando de gnus, um “líder” sem saber para onde estão indo. Aqui posso identificar que existe conhecimento, mas não existe informação.

2) Atividades e trabalhos executados nas empresas. O dia a dia da maioria dos profissionais.

Ao perguntarmos aos profissionais, de qualquer área, o que eles fazem, a maioria deles tem uma resposta pronta, por exemplo: Sou responsável pela compra de equipamentos de informática.

Mas depois dessa primeira pergunta, todas as outras terão como resposta “Não sei”, “Não avaliei isso”, “Não perguntei”.

Vejamos algumas:

Você sabe como sua atividade surgiu na empresa?
Outras empresas do segmento tem este tipo de profissional?
Seu cliente interno precisa mesmo dos equipamentos que você compra?
Que uso seus clientes fazem destes equipamentos?

Aqui também apenas 10% respondem mostrando proatividade, interesse em conhecer profundamente seu trabalho e clientes. A maioria faz o mínimo necessário, não entendem o conceito e origem de suas atividades profissionais, não são aptos a sugerir melhorias e inovações.

Citei dois simples exemplos, mas, se olharmos o cotidiano, veremos que há milhares de outros.

A boa notícia é que quem for apenas um pouco diferente, tendo vontade, pesquisando a origem das coisas, avaliando impactos de cada evento em sua atividade profissional, estudando sobre sua área de atuação e investigando formas alternativas de fazer melhor, se destacará e certamente terá sucesso garantido.

Minha sábia avó sempre repetia um ditado popular que faz todo sentido para este momento: “Em terra de cegos, quem tem um olho é Rei”. Reflitam sobre isso e se apropriem de seu cetro!

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Para quem é o espetáculo?

Há algum tempo venho debatendo com colegas ou em sala de aula as transformações que estão acontecendo na indústria do esporte, especialmente naquilo que se refere a mudanças e ajustes de algumas práticas e/ou eventos no sentido do entretenimento.

O basquete, por exemplo, tem investido bastante energia e recursos na divulgação e no desenvolvimento do basquete 3 x 3 – uma forma de prática mais leve, solta e adequada a linguagem da juventude. Nesta mesma linha, surgem adaptações ou amplo crescimento de esportes como BMX, Skate, Beach Tênis e tantos outros. O próprio futebol é recheado de adaptações, seja no tradicional futsal até as práticas na rua ou em outros cenários.

Recentemente, levantei um debate em sala de aula para abordar uma comparação simples do espetáculo proporcionado pela tradicional Ginástica Artística ante o Cirque du Soleil, que apresenta movimentos atléticos similares ao da Ginástica – inclusive, boa parte de seu corpo de artistas é formado por ginastas ou ex-ginastas, alguns deles com participações em Olimpíadas – mas com um aspecto lúdico ímpar.

E foi lendo uma breve entrevista da ex-ginasta brasileira Camila Comin (que trocou os tablados da Ginástica pelos palcos do Cirque du Soleil) na revista de bordo da Azul Linhas Aéreas que pude atestar bem essa relação em uma passagem específica: quando perguntada como era "atuar" agora dentro do circo, Comin respondeu: "Na ginástica, nosso trabalho é voltado para ignorar a torcida e se concentrar apenas na prova. No circo, preciso interagir com o público durante todo o espetáculo".

Pronto. Eis a explicação concreta. Nesses inúmeros debates sobre a ocupação e participação das torcidas em jogos e eventos esportivos, será realmente que estamos entregando um produto que permita a verdadeira interação do público com o espetáculo? Como explicar o fato de uma ex-ginasta passar a atrair um público que paga por um ingresso algumas centenas de reais enquanto, há pouco tempo, era ínfima a quantidade de fãs que pagavam poucos reais para vê-la competir em eventos oficiais de ginástica?

A recíproca e a projeção para o contexto do futebol é linearmente equivalente. Esquecemo-nos de ouvir os anseios do público e entregar um produto adequado a ele. Depois, nos assustamos com arenas vazias. Urge novos formatos para atração de público sob pena do "respeitável público" virar as costas para os nossos produtos, como, aliás, já vem ocorrendo paulatinamente.

E não basta fazer apelo com o ídolo do clube todas as vezes por meio de coletiva de imprensa. É preciso muito mais que isso!!!