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Respostas da democracia brasileira à Fifa e o que podemos aprender com os EUA em política e relações internacionais

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, em uma recente declaração, revelou que a entidade pretende aprender com aquilo que viu e ouviu do povo brasileiro durante a Copa das Confederações.

O mandatário afirmou que tratará de assegurar, na legislação da Fifa, que somente poderão ser aceitas as candidaturas de países-sede para a Copa do Mundo que tiverem sido aprovadas pelo Legislativo ou por outro mecanismo democrático que legitime o processo internamente.

A previsão da entrada em vigor é para a Copa de 2026. As manifestações sociais democráticas e legítimas que ocorreram no Brasil, em boa parte, motivadas pela realização da Copa do Mundo e pela falta de planejamento, executividade e transparência nas obras atreladas ao evento – em especial, dos estádios – serviram de alerta e inspiração para a Fifa agir.

Isso é um gigantesco avanço quando se trata de política administrativa adotada pela Fifa na história de organização dos seus eventos ao redor do mundo.

O conservadorismo e centralização nas decisões e na política desenvolvimentista foram as marcas da instituição. Sem contar os recentes escândalos que acusaram membros do seu Comitê Executivo de vender seus votos na escolha dos países-sede da Copa do Mundo.

Este avanço é ainda mais positivo para os países que desejam ser os anfitriões do evento. Com isso, exige-se, dentro de cada um deles, que a legislação e os mecanismos democráticos sejam respeitados antes mesmo das inferências privadas – CBF, no exemplo do Brasil – ou do Poder Executivo avocarem toda a responsabilidade pela tomada de decisão em nome do interesse público maior.

De fato, isso diminui a margem de erro e risco quando um país pretenda se lançar aos braços de um megaevento esportivo, pois os custos financeiros e políticos também costumam ser proporcionais.

Nos Estados Unidos, quando se tratam de relações internacionais e temas de grande relevância ao país, como, por exemplo, a assinatura de tratados comerciais ou intervenções militares, o presidente, em regra, é obrigado a obter autorização do Congresso Nacional, que lhe outorgará os limites de seus poderes para agir em nome do povo naquela dada situação.

Somente em algumas situações de exceção e já consolidadas em exemplos análogos é que o presidente pode dispensar a consulta ao Congresso e decidir deliberadamente – a chamada via rápida (fast track).

Por isso é que, além das costuras de política externa que os EUA fazem a respeito da possível ação militar na Síria de hoje, faz-se necessário convencer o povo, internamente, por meio de seus representantes democraticamente legitimados a por eles decidir, a respeito da melhor decisão.

Obviamente, quaisquer problemas oriundos deste processo que envolve o Executivo e o Legislativo podem e devem ser apreciados pelo Judiciário (Suprema Corte) no mais apropriado e transparente contexto que se espera de uma democracia.

Seria diferente com uma Copa do Mundo? Creio que não, pois, no caso do Brasil, os custos globais estimados para realizar todas as obras da Matriz de Responsabilidades gira entre R$ 30 e 40 bilhões, tal qual os impactos que um tratado comercial ou a participação numa guerra podem provocar.

Para mais ou para menos, as melhores práticas de gestão pública e privada recomendam meios transparentes e eficazes de controle sobre a realização destes megaeventos esportivos.

Assim, o slogan "# A Copa do Mundo me representa" poderia sair às ruas tranquilamente.

A não ser que estejamos falando do Qatar… Lá, a vontade do povo e a democracia estão soterradas por dólares e petróleo.

E essa determinação valerá, apenas, a partir de 2026.

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Finalizações e cobranças de pênaltis desperdiçadas: o futebol dos erros

Hoje gostaria de escrever um pouco sobre a "cobrança de pênalti" no futebol – na verdade, deixar no ar e no tempo algumas questões para reflexão.

Ainda que não se trate de um assunto realmente e/ou aparentemente novo, talvez possa arejar algumas discussões, que ainda, vez ou outra, teimam em reaparecer.

E mesmo que digam que os apontamentos e argumentos, no texto que segue, pareçam distantes de uma teia sistêmica de ideias, garanto que, no aparente desprendimento e desconexão com a complexidade, ela (a complexidade) está totalmente presente em todos os detalhes da explanação que vem frente.

Então vejamos. Em um rápido levantamento – não científico – de dados pela internet é fácil constatar que em jogos de futebol em diversos continentes, países, divisões e categorias, muitas cobranças de pênaltis são desperdiçadas. Claro, é óbvio que mais vezes as cobranças resultam em gols, do que em "não gols".

Mas, dada a situação, aparentemente bastante controlada e blindada à imprevisibilidade, dada a distância entre a bola e o gol, ao fato de que ela está parada, de que entre ela e a meta só há o goleiro, e de que inúmeros estudos (especialmente da Biomecânica do Movimento) mostram com precisão e exatidão onde, como e com qual velocidade a bola deve ser chutada no gol para que o goleiro jamais possa defendê-la, posso sim me arriscar a dizer, que se a cada dez pênaltis cobrados, dois forem perdidos, sim, é "muito desperdício".

Mesmo no altíssimo nível competitivo, no qual jogadores de excelência praticam o futebol, os erros não deixam de estar presentes.

Para não precisarmos buscar referências muito distantes, recentemente Lionel Messi em jogo de sua equipe (o FC Barcelona) contra o Atlético de Madrid, valendo troféu, desperdiçou uma cobrança que poderia ter dado a vitória ao seu time (chutou para fora).

Mas se há um "padrão de cobrança" a ser seguido, que é goleiro-independente, e que garante implacavelmente o gol, por que será que os jogadores não conseguem garantir aproveitamento de 100% em suas cobranças de pênalti?

Mesmo os exímios cobradores, conhecidos na história pela precisão, tiveram em algum momento penalidades desperdiçadas. Por que?

Será que é tão difícil treinar cobranças perfeitas de pênaltis? Se olharmos para toda situação, desenhada da maneira que fiz, e considerarmos o ser humano um robô, seria fácil responder a pergunta acima.

O fato, óbvio, é que mesmo em uma circunstância aparentemente de ambiente tão controlado como no caso de uma cobrança de pênalti, toda complexidade que envolve a ação do jogador para execução do chute, não pode integralmente ser reproduzida na sua totalidade.

O jogador, antes de jogador, é o ser humano que joga (Manuel Sérgio). Isso quer dizer que o decidir-agir, expresso na ação propriamente dita é uma composição harmônica de uma série de variáveis e articulações sistêmicas, que interferem e sofrem interferência constante e permanente do ambiente. Não são músculos mecanicamente que se contraem e ponto!

Parece óbvio? Talvez, justamente porque se trata de uma situação-problema do jogo em que bola e gol nunca em outra circunstância, parecem se atrair tão fortemente. E, mesmo nela, o virtual estereótipo de um movimento perfeito não dá conta de resolver o desafio de fazer a bola entrar no gol.

O que poderíamos dizer então, de outras situações-problema, "mais difíceis", como por exemplo, as que envolvem a finalização da bola a gol nos jogos, mas, em que ela (a bola) está em movimento, onde há pressão do tempo e do adversário, e em que o hiato entre o decidir e o agir parece não existir?

Será que uma abordagem realmente "não complexa" dá ou daria conta de resolver tais "situações-problema"?

Pois é, meus amigos, infelizmente com todo o movimento de transformação que o futebol vem sofrendo ainda emperramos nisso. E vejam, não estou discutindo métodos, modelos de treino… Não estou discutindo minijogos, exercícios analíticos e/ou não analíticos…

O que estou discutindo e chamando a atenção é para a abordagem dentro dos métodos, ou da maneira que o futebol é percebido. Enxergamos aquilo que os nossos olhos querem perceber!

Então, que vivam os pênaltis desperdiçados!!!

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O que é o progresso desportivo e o que se passa no Brasil…

Ao ver, pela TV, a contestação de larga representação do povo brasileiro, designadamente o mais jovem, pelos gastos desmesurados do seu governo, em estádios de futebol e na Taça das Confederações e no Mundial de 2014, logo me ocorreu o encontro que me foi proporcionado, pelo meu amigo Lino Castellani Filho (que seria, mais tarde, secretário de Estado do Desporto do presidente Lula), com o Sócrates, nesse distante setembro de 1983, jogador de futebol do Corinthians e líder do movimento Democracia Corintiana.

Relembro ainda que ele então frequentava o terceiro ano da Faculdade de Medicina da USP. Eu visitava o Brasil, pela primeira vez, a convite do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Encontramo-nos os três, no hotel onde me hospedaram, ainda hoje na Avenida do Ipiranga, no centro de São Paulo.

O "doutô" (assim o conheciam, por ser estudante de Medicina) magro, alto e bamboleante, um acérrimo defensor da democracia, a alturas tantas desapegando-se do enovelado da conversa, alterou a voz para dizer-nos:"O Brasil não vai só vencer aqueles que o oprimem, tem de vencer também aqueles que o exploram".

Eu levara comigo (bem me lembro), para as minhas horas de insônia, O Físico Prodigioso, de Jorge de Sena e, pela defesa impetuosa do seu anticapitalismo, logo me apeteceu ver no Sócrates um físico (ou médico) prodigioso… pela sua tão vincada politização (ou partidarização).

Finda a licenciatura em Medicina, que completou sem nunca deixar de jogar futebol, não sei se ainda bruscamente se afastava da "ditadura do lucro" que nos governa. Mas, sei que lutou pelo PT, nos anos heroicos da fundação deste partido. Enviei-lhe, pelo correio, o meu livro Filosofia do Futebol e tive notícia que o referenciou, em programa da TV Cultura.

Entretanto, há um ano, faleceu. Mas, não esqueço a frase que escutei, em 1983, a um brasileiro, exímio jogador de futebol. A mania do rendimento, do recorde, da medida é, de fato, consequência da alta competição capitalista. Marx tinha razão, ao escrever na Miséria da Filosofia:"a sociedade atual está baseada na concorrência".

Nasce, assim, o mito do êxito, da agressividade, do conflito, do narcisismo mais egocêntrico. No meu livrinho Algumas Teses sobre o Desporto (4ª. Edição, 2010) levantei a interrogação seguinte: "Se não serve o desenvolvimento, para que serve o desporto?" (p. 17).

É que há uma homologia rigorosa entre o desporto degradado pela ausência de certos valores e a estrutura retificada do mercado liberal, onde grande parte da Comunicação Social e dos intelectuais se integram.

Desta forma, são muitas as instituições e os estudiosos que eliminam, nos estudos sobre o desporto (e portanto sobre o futebol), uma relação nítida, entre a prática e a teoria, entre a ciência e a filosofia, entre a economia e a política, quedando-se a mensagem, pelo clubismo, pelo regionalismo, pelo espetacular, pelo sensacional, ou seja, pelo humano deformado e diminuído.

No entanto, no meu modesto entender, se o desporto se resume tão-só aos publicitados e fulgurantes desempenhos dos Ronaldos e dos Messis; se nele não há nada de subversão cultural, de indomesticável liberdade, de signo atuante de uma contestação radical do neoliberalismo que nos explora; se o desporto não passa de negócio, como uma copiosa galeria de bem-pensantes congemina – os praticantes limitam-se a bestas esplêndidas, os espectadores a singelos títeres, acéfalos e acríticos, e os clubes a Sociedades Anônimas Desportivas onde satisfazem a fome de pecúnia alguns atletas, empresários e dirigentes.

Leio os cartazes e as palavras de ordem que os jovens contestatários levantam: "Brasil, vamos acordar. O professor vale mais que o Neymar", "Da Copa, da Copa, da Copa largo a mão. Queremos o dinheiro para a saúde e educação".

O futebol brasileiro está a ser sacudido por um temporal que exige uma dolorosa interrogação social e política. É que não foi o futebol que criou o capitalismo, foi o capitalismo que criou este futebol. Por isso, no futebol-espetáculo, como na sociedade toda, não falta dinheiro, mas fica sempre nos mesmos clubes e… nos mesmos bolsos!

"As receitas do mercado europeu de futebol em 2011/2012 aumentaram 11% e chegaram, de acordo com um relatório da empresa Deloitte, aos 19,4 mil milhões de euros" (A Bola, 19 de junho de 2013). Isto, no meio da maior crise financeira que, durante os meus oitenta anos de idade, alguma vez senti a Europa sofrer.

Donde nasce e porque nasce este dinheiro? Para que o futebol cresça e se desenvolva, ou para que alguns enriqueçam e outros pacoviamente, de rosto afogueado, batam palmas, gratos, veneradores e obrigados?

O futebol não é o sistema; o futebol faz parte do sistema. Por isso, o futebol (quantas vezes já o disse?) reproduz e multiplica as taras da sociedade capitalista. Ele é um dos elementos do mesmo todo que nos explora. A juventude brasileira já o sabe. Daí, a sua contestação. Nas mãos que empunham os cartazes lampeja, com a coragem e a lucidez, um grande clarão de generosidade.

Deixo a todos os jovens contestatários um sincero abraço fraterno. Já é tempo, de fato, de acordar: muito do futebol que por aí se movimenta adormece os marginalizados à recusa da sociedade injusta estabelecida.

 

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br

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Os bastidores da preparação para a Copa-SP

Faltam poucos dias para o término do período de inscrição para a Copa São Paulo de Futebol Junior. Apesar de a competição ter início em janeiro, acertadamente a federação antecipa a inscrição e publicação dos atletas no BID (Boletim Informativo Diário) para evitar (ou ao menos minimizar) a formação de elencos de última hora, privilegiando o planejamento e a organização dos clubes. Em novembro, a pré-lista oficial com 30 atletas define quem serão os representantes de cada equipe.

Por enquanto, antes dos trabalhos técnicos preparatórios para a primeira competição de 2014, os treinadores têm inúmeras responsabilidades.

Muitas equipes estão em meio às competições sub-20, que permitem atletas nascidos em 1993, porém que excedem a idade limite para a disputa da Copa-SP. Pensando na formação do elenco, a comissão técnica deve ter ciência das carências originárias pela saída dos jogadores mais velhos e, além disso, definir se na suplência ou na promoção de atletas da categoria sub-17 a equipe terá condições de se manter competitiva. Outras possibilidades são a de abrir espaço para avaliações, ou então, para contratações de reforços.

E como culturalmente a Copinha é vista como a maior vitrine para exposição e negociação de atletas, vários interesses influenciam o que deveria ser óbvio, no entanto ainda é utópico em nosso futebol: a composição de um elenco em que os benefícios ao clube seja a prioridade.

A aproximação dos empresários ao clube, comum durante todo o ano, fica ainda mais evidente no período de inscrição para a Copa-SP. Juntos deles estão os jogadores que são as soluções para todos os problemas do clube e que estão desempregados somente pelas injustiças do futebol. É válido destacar que existem as exceções, que indicam jogadores sem grandes alardes ou falsas promessas.

Os grupos de investimento também surgem como opção no auxílio da formação do elenco. Detentores de direitos econômicos de atletas em potencial, realmente podem reforçar a equipe. Só que para o clube ficam as despesas com o atleta (financeiras, de alimentação, de moradia, médicas e esportivas) já para o grupo de investimento, a maior fatia do retorno financeiro numa possível negociação. Estes grupos aproveitam a situação econômica/estrutural/administrativa de muitos clubes brasileiros para esta fórmula que lhes é bem conveniente.

Outro procedimento comum neste período é a chegada de jogadores mediante uma recompensa financeira. Estes atletas, sempre "bem indicados" podem chegar ao clube através dos diferentes níveis do organograma da instituição. No nível que houver desvio de conduta ocorrerá o negócio.

Esqueçam a possibilidade de ser definida a fórmula ideal para a composição do elenco. Em todas as opções (promoção da base, suplência, avaliação, indicação, contratação) podem estar as reais soluções para a equipe. O indispensável é uma estrutura técnica-administrativa que trabalhe em benefício da instituição, que analise criteriosamente o elenco atual, que não seja influenciada pelo interesse de terceiros e que unifique a linguagem num ambiente em que muitos querem distorcê-la.

Este é o melhor caminho para o legado que a Copa-SP deve deixar ao clube: uma equipe pronta para o decorrer da temporada, com atletas e equipe que tenham o perfil de jogo do futebol moderno.

E no dia a dia dos treinadores, a busca pela excelência em todas as suas obrigações que vão além de pensar e executar o treino: a solução de conflitos, os relacionamentos, os contatos, a análise de materiais de jogadores, "os inúmeros não", "os alguns sim" e a luta constante pela sobrevivência no mercado. E ainda insistem em dizer que é fácil ser treinador de futebol…

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Faixas de protesto nas arquibancadas e a liberdade de expressão

Na partida entre Flamengo e Cruzeiro pela Copa do Brasil, a imprensa noticiou a ação policial que impediu torcedor de exibir faixa contra a concessionária do estádio.

O Estatuto do Torcedor em seu art. 13-A, inciso X, proíbe a utilização de bandeiras para outros fins que não o da manifestação festiva e amigável.

Penso que o fundamento para a retirada da faixa tenha sido o fato do organizador ter entendido que a seu conteúdo não seria festivo ou amigável.

Vale dizer que a Constituição Brasileira, em seu art. 5º assegura a liberdade de manifestação com fins pacíficos, ou seja, eventual ação reprimindo manifestação pacífica seria inconstitucional.

Doutro giro, uma partida de futebol corresponde a um evento de natureza privada e quando o torcedor adquire o ingresso ele firma um contrato com o organizador no qual obriga-se a cumprir seus regulamentos. Algo como adquirir um ingresso para o cinema e se comprometer a desligar o celular.

Partindo-se deste raciocínio, não haveria violação a direito constitucional.

Para apimentar ainda mais o debate, há quem defenda que, apesar de se tratar de um evento rivado, o futebol faz parte da cultura popular brasileira e todos os eventos relacionados a ele trazem interesse e relevância pública.

A questão é bastante complexa e envolve muitas variáveis e teses jurídicas.

Se de um lado eu tenho o direito do cidadão expor sua manifestação pacífica, de outro eu tenho um organizador de evento privado que estabelece regras para acesso e permanência ao seu "espetáculo".

Diante do exposto, percebe-se a complexidade das análises jurídicas e a possibilidade de haver interpretações para ambos os lados.

Sobre a minha opinião, deixarei para expô-la em outra coluna, a fim de que o leitor possa formar seu próprio convencimento.

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Grandes elencos, desempenho ruim: falta motivação?!

Podemos presenciar ano a ano clubes tradicionais com fortes elencos e ao contrário do que se espera, com baixíssimos rendimentos no campeonato brasileiro de futebol, inclusive com luta para escapar do rebaixamento e em alguns casos sem conseguir escapara da degola.

Em 2013, pelo menos até o momento, podemos novamente constatar tal fenômeno se repetindo, pois as campanhas de pelo menos dois clubes considerados grandes não retratam os seus investimentos e os elencos que ambos os clubes contam para este ano, basta ver a colocação deles na tabela de classificação.

Então cabe as perguntas: será que falta motivação para estes atletas? Falta estarem genuinamente desejosos de obter o sucesso durante a competição? O que acontece com essa perceptível falta de ânimo na busca por vitórias durante as partidas?

Penso que se a motivação pode ser compreendida como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais e ambientais. A partir desta definição de motivação, fornecida por Dietmar Samulski, podemos presumir que algo está faltando a estes clubes e Weinberg & Gould (1999) nos orientam quanto a complexidade dessas interações quando propõem um modelo interacional da motivação para prática esportiva, considerando os fatores pessoais dos atletas compostos pela personalidade, pelas necessidades, pelos interesses, pelos motivos, pelas metas e pelas expectativas; e pelos fatores ambientais como o estilo de liderança, as facilidades, as tarefas atrativas, os desafios e as influências sociais.

Apenas pela interação desses diversos fatores já podemos concluir que obter a motivação num grupo não é tarefa tão fácil quanto nos parece, certo?

Mas, então, como promover esta tal motivação que possa resgatar a vontade de competir em busca da vitória e consequentemente atingir as expectativas que foram colocadas nestas equipes?

Para manter o hábito vou compartilhar mais uma técnica de automotivação cognitiva chamada Group-feeling (sensação de união do grupo), na qual utilizam-se frases poderosas e que promover essa sensação de união tais como:

• "Identifico-me totalmente com o objetivo do grupo"

• "Para mim, nosso clube é como uma família"

• "Nós superamos muitos problemas através de nossa união e amizade"

Ainda, para contribuir com o desenvolvimentos dos técnicos de futebol compartilho algumas diretrizes motivacionais sugeridas por Dietmar Samulski:

• Ter sensibilidade para entender problemas de motivação no treinamento e na competição. Tentar, antecipadamente, reconhecer as causas dos problemas de motivação e conflitos, para evita-los com medidas preventivas adequadas.

• Ser capaz de se motivar diante de situações difíceis e apresentar um modelo positivo para seus atletas. Você só poderá exigir alta motivação dos seus liderados quanto estiver motivado. Um treinador que não consegue se motivar terá dificuldades para motivar seus atletas.

• Mostrar confiança nas suas ações e nas de seus atletas. Ter confiança nos fatores positivos da equipe e treinar os pontos fracos. A autoconfiança de seus atletas desenvolve-se, em primeiro lugar, a partir da confiança que você deposita neles.

• Considerar que o elogio e reconhecimento motivam mais do que declarações discriminadoras e de repreensão. Estimular seus atletas, fortalecendo-os positivamente em determinadas situações.

Existem outras diretrizes que compartilharei numa outra coluna, pois o ponto chave aqui é despertar os executivos e membros de comissão técnica da necessidade de desenvolverem suas competências como líderes de pessoas para enfim conquistarem o verdadeiro estado de motivação que possa fazer a diferença no desempenho dentro das competições esportivas.

E você amigo leitor, acredita que seu time está motivado para novas conquistas?!

Até a próxima!

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A janela passou

Novamente, sobrevivemos a mais uma janela de transferências do futebol. Sobrevivemos no sentido estrito, ao invés de tê-la aproveitado melhor comercialmente e também estrategicamente para a montagem de elencos para uma temporada completa.

Mais uma vez passaremos um segundo semestre com times remendados por perdas de jogadores, embora tenha havido um repatriamento de outros há pouco mais de um mês – que não é totalmente compensável. A sensação que fica, na realidade, é que estamos na contramão do mercado.

Volta à tona a questão do calendário, que também ficou evidenciada por conta das excursões realizadas neste ano por São Paulo e Santos na Europa – e a clara perda de receitas suplementares que poderiam vir a outros clubes caso houvesse um ajustamento com o calendário global.

A reflexão sobre o desmanche de elencos serve também para ampliar o debate em torno da ocupação dos estádios no Brasil. É mais que natural que o torcedor, ao não sentir confiança nos projetos dos clubes, dê a resposta pela não fidelização ao produto entregue nos finais de semana.

Enfim, o fato é que enquanto não olharmos para o mercado do futebol a partir de uma visão holística, contemplando todos os efeitos que implicam as decisões relacionadas a governança da modalidade, continuaremos a ser o país dos jogadores de futebol ao invés de entregar efetivamente negócios consistentes para a indústria do esporte.

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Marin, o comunicador

José Maria Marin, atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ingressou na carreira política há 50 anos. O primeiro mandato dele como vereador começou em 1964, quando o ex-jogador de futebol tinha 31 anos de idade. Essa vivência em esferas públicas moldou o discurso que o dirigente apresenta atualmente.

Além de vereador, Marin foi deputado estadual, vice-governador e governador de São Paulo, cargo que ocupou entre 1982 e 1983. No período, o Brasil ainda vivia sob regime ditatorial.

Marin segue com perfeição o manual tácito de comunicação de políticos veteranos. São essas as regras que balizam o tom de voz, o conteúdo e até o jeito de olhar do presidente da CBF.

Em primeiro lugar, Marin cita sempre na resposta o nome de quem o inquiriu. É uma forma de mostrar que aquele conteúdo, por mais genérico, é direcionado a quem fez um questionamento.

O segundo aspecto é que Marin olha para o público enquanto responde. Uma das primeiras regras de linguagem corporal que eu aprendi foi não fixar o olhar em apenas um ponto da sala.

Quanto ao conteúdo, por mais desconfortável que fique com um tema, Marin não se exalta. É muito mais simples desviar o assunto e inserir na resposta uma auto-adulação, ainda que isso não tenha muito a ver com o tema da pergunta.

Na última sexta-feira, em evento organizado pelo grupo empresarial Lide, Marin recorreu a essas e outras técnicas. No entanto, o presidente não conseguiu esconder um desconforto ao ser questionado pelo jogador Paulo Andé e pelo e-jogador Raí.

Independente do teor da pergunta, Marin respondia com elogios a ele ou à gestão da CBF. Mesmo se isso não tiver qualquer relação com a questão inicial.

Paulo André, o primeiro a intervir, perguntou sobre a diferença técnica entre o futebol de times do Brasil e da Europa. O defensor quis saber se a CBF pensa em investir para amenizar esse desnível.

A resposta de Marin foi focada em categorias de base da seleção, o que o mandatário da CBF usou como argumento de defesa do próprio trabalho. O presidente da CBF também citou o potencial formador dos times brasileiros.

Vejam, a reposta e a pergunta têm pouco a ver. Marin podia ter reconhecido um problema. Em vez disso, aproveitou uma leve proximidade de assuntos para mostrar segurança e exaltar o próprio trabalho.

Isso foi perceptível até para o próprio Paulo André, que manteve nas questões seguintes o tom incisivo que havia adotado na pergunta inicial. Marin começou a desviar mais o olhar, com respostas que enrolavam o quanto podiam até atingir de fato um assunto.

Como manda o estereótipo de um político da velha guarda, Marin apenas tergiversou. Mesmo em situação complicada, o presidente da CBF não atacou Paulo André ou tentou minimizar o entrevistador.

No aspecto comunicação, Marin é infinitamente superior a Ricardo Teixeira, antecessor do atual mandatário na CBF e no comitê organizador local (COL) da Copa do Mundo de 2014.

O grande problema de Marin, contudo, é que falta conteúdo. O presidente da CBF pode obedecer a uma cartilha eficiente e pode ter uma série de ações engenhosas para enrolar jornalistas ou entrevistadores, mas tem dificuldade para esconder o quanto entende pouco sobre o futebol e o mundo atual.

Fazer comunicação, afinal, não é apenas seguir uma série de regras. Comunicar é transmitir mensagens, e é esse conteúdo que falta a Marin.

Não por desconhecimento, diga-se. Marin consegue citar uma série de episódios e exemplos do futebol, mas limita as histórias ao que aconteceu no século passado. Mais do que formação, o mandatário demonstra falta de atualização.

Fazer um discurso descolado da realidade é um risco muito grande. Se eficiente, o profissional pode ser apenas tradicional. Em fracassos, porém, a virtude vira resistência ao novo.

Como um político da velha guarda, Marin se comunica seguindo uma cartilha de movimentos e evasivas. Contudo, o presidente da CBF carece de conteúdo e de atualização.

Estratégias de comunicação podem até ser perenes e imutáveis. O perfil do público que consome isso, porém, é tão volúvel quanto as opiniões do presidente da CBF.