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Uma “nova” visão para o jogo

O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Este é um dilema que o futebol brasileiro não consegue resolver. Aliás, acho até que não sabemos se existe. A forma de ver o jogo de futebol é tão dependente do sistema tático e do jogador que não conseguimos perceber a existência de algo além disso. Estamos particularizando tanto as questões táticas de campo que mal conseguimos ver a aura de um jogo. No Brasil, é comum ouvir:

• O time não joga pela direita porque o lateral do lado não ataca;
• Hoje, a defesa não está bem devido às falhas dos zagueiros;
• O time não chuta a gol porque os atacantes são fracos;
• Vamos começar arrumar o time pela “cozinha”;
• Dentre outras.

Todas as análises acima estariam corretas se contextualizássemos o que significam a uma ideia tática de jogo, algo maior que as respostas individuais ou setorizadas no campo. Desde que abandonamos o “toque de bola” em favor do jogo ansioso e ou de correria, não sabemos mais o que é jogo. Um dia, um dirigente de um clube onde trabalhei me indagou: – Você fala muito em jogo da sua equipe, não é?! Como se isso fosse uma coisa estranha ao ambiente do futebol brasileiro. Nos acostumamos a seccionar o entendimento do jogo como forma de justificar todos os fenômenos táticos do campo.

Para inaugurar o meu momento de crônicas táticas no Universidade do Futebol é importante não abandonar a visão que concebo do jogo, pois tudo e ou todas as abordagens serão feitas a partir deste ponto de vista. Não consigo ver um lance descontextualizado do todo, de um jogo. Não consigo criar um treino sem inseri-lo na dinâmica das onze peças. Jogar pelos flancos, por exemplo, não se traduz em simplesmente treinar os lances de cruzamentos das beiradas. Todo mundo sabe disso, mas fazemos leitura equivocada do processo que desenvolve estas jogadas. Estamos culturalmente envolvidos com esta maneira de ver e ou conceber o jogo.

Como treinar o jogo pelos flancos, ou o hábito de se jogar por aquele setor do campo? Só jogando ou treinando um jogo com estas características dará condições ao meu time de fazer isso. Portanto, a montagem e o perfil dos treinos estão diretamente relacionados à forma de construir o jogo da minha equipe. Não me adiantará, ou adiantará muito pouco, pedir aos jogadores que façam isso ou aquilo. É importante induzi-los a fazer. O treinamento tem poderes para isso.

Permanecendo no exemplo anterior, sabemos ler que uma equipe não joga pelos flancos, mas não somos capazes de detectar as causas. Não nos resta outra saída senão responsabilizar os protagonistas das ações de campo: – “Não há cruzamentos vindos dos flancos porque os laterais não o fazem”. Até os jogadores, maiores alvos das críticas, acreditam nisso e reproduzem discursos confirmando suas falhas. Não consigo ver o fenômeno senão pela consequência da grande e prejudicial “miopia tática” da visão brasileira do jogo.

No início da nossa resenha há uma pergunta: – O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Na questão, me refiro à avaliação das qualidades de um jogador para fazermos uma determinada opção. Para respondermos corretamente esta pergunta precisaríamos saber como vemos o jogo. Existe um jogo além do jogador? Todos nós sabemos que não há orquestra sem as individualidades musicais. Mas é verdade também que uma orquestra não existe somente com parte do som das individualidades.

No esporte coletivo e ou no futebol é da mesma forma. O jogador está em campo como grande protagonista das ações. Mas que tipo de ação? Ações que traduzem um jogo. Uma forma de jogar. Esta é a saída para uma “nova” visão do jogo brasileiro. Só devemos entender a importância do jogador no contexto de um jogo, ainda que suas habilidades lhe permita desempenhar papéis táticos com a plástica de um craque. Por isso, serão reconhecidos e valorizados com destaque em relação aos companheiros de profissão. Ter craques no time não trará nenhum prejuízo ao jogo se estes jogarem em função de uma ideia de jogo.

Quando falamos de jogo e ações táticas para o jogo queremos aclarar a mente dos leitores para a existência de princípios e ou conceitos táticos que são responsáveis pela construção do jogo. Assim como o bolo tem seus ingredientes e sua forma de fazer, o jogo tem os seus jogadores e forma de fazê-los jogar. Por isso, e nesta visão, é preciso pensar na importância do jogador relacionada a uma forma de jogar. A sutileza na diferença dessas visões táticas de jogo altera muito o processo da construção do próprio jogo.

Às vezes, o casual encaixe das características individuais faz brotar um jogo de qualidade mesmo que não tenhamos nos preocupado em treinar os conceitos táticos que dali brotaram. Às vezes também, alguns bolos saem gostosos mesmo não aplicando os segredos da receita proposta. Mas eu disse “às vezes”! Regra geral, as receitas consagradas costumam render dividendos interessantes aos seus detentores. O jogo pode e deve ser construído sob a orientação dos conceitos táticos que fazem um jogo eficiente e eficaz. Assim, tanto o jogo quanto o “bolo” terão padrões de qualidade consagrados.

Para o futebol brasileiro, que tem no poder das suas individualidades o grande marketing da qualidade, é preciso “reencontrar” sua antiga visão tática do jogo. Aquilo que faça o jogo ser visto como um todo que tem vida. O jogo do toque de bola, por exemplo, como era conhecido e ficou famoso em todo o mundo. Um time que joga compacto, ofensivamente, com posse de bola, atuando pelos flancos, dentre outros predicados táticos coletivos é facilmente percebido quando apresentado. Vide grandes equipes europeias e alguns poucos e efêmeros modelos sul-americanos.

Nós, treinadores brasileiros, só saberemos e ou teremos interesse em construir um jogo com estas características quando formos cobrados sobre estes parâmetros. Hoje, só sabemos jogar por vitórias e das formas mais diversas. Geralmente produzimos o “jogo” com muita correria, ações individualizadas e desespero mental, fruto da pressão do ambiente em que jogamos.

Há “receitas de bolos” excelentes para a construção do jogo inteligente. Não é preciso jogar ao acaso ou ao sabor do encaixe das individualidades. Tudo começa com o desenvolvimento de uma nova visão tática para o jogo!

Até a próxima resenha…

…e me desculpem pela distância entre as publicações. Vida de treinador não é fácil!
 

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Uma "nova" visão para o jogo

O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Este é um dilema que o futebol brasileiro não consegue resolver. Aliás, acho até que não sabemos se existe. A forma de ver o jogo de futebol é tão dependente do sistema tático e do jogador que não conseguimos perceber a existência de algo além disso. Estamos particularizando tanto as questões táticas de campo que mal conseguimos ver a aura de um jogo. No Brasil, é comum ouvir:

• O time não joga pela direita porque o lateral do lado não ataca;
• Hoje, a defesa não está bem devido às falhas dos zagueiros;
• O time não chuta a gol porque os atacantes são fracos;
• Vamos começar arrumar o time pela “cozinha”;
• Dentre outras.

Todas as análises acima estariam corretas se contextualizássemos o que significam a uma ideia tática de jogo, algo maior que as respostas individuais ou setorizadas no campo. Desde que abandonamos o “toque de bola” em favor do jogo ansioso e ou de correria, não sabemos mais o que é jogo. Um dia, um dirigente de um clube onde trabalhei me indagou: – Você fala muito em jogo da sua equipe, não é?! Como se isso fosse uma coisa estranha ao ambiente do futebol brasileiro. Nos acostumamos a seccionar o entendimento do jogo como forma de justificar todos os fenômenos táticos do campo.

Para inaugurar o meu momento de crônicas táticas no Universidade do Futebol é importante não abandonar a visão que concebo do jogo, pois tudo e ou todas as abordagens serão feitas a partir deste ponto de vista. Não consigo ver um lance descontextualizado do todo, de um jogo. Não consigo criar um treino sem inseri-lo na dinâmica das onze peças. Jogar pelos flancos, por exemplo, não se traduz em simplesmente treinar os lances de cruzamentos das beiradas. Todo mundo sabe disso, mas fazemos leitura equivocada do processo que desenvolve estas jogadas. Estamos culturalmente envolvidos com esta maneira de ver e ou conceber o jogo.

Como treinar o jogo pelos flancos, ou o hábito de se jogar por aquele setor do campo? Só jogando ou treinando um jogo com estas características dará condições ao meu time de fazer isso. Portanto, a montagem e o perfil dos treinos estão diretamente relacionados à forma de construir o jogo da minha equipe. Não me adiantará, ou adiantará muito pouco, pedir aos jogadores que façam isso ou aquilo. É importante induzi-los a fazer. O treinamento tem poderes para isso.

Permanecendo no exemplo anterior, sabemos ler que uma equipe não joga pelos flancos, mas não somos capazes de detectar as causas. Não nos resta outra saída senão responsabilizar os protagonistas das ações de campo: – “Não há cruzamentos vindos dos flancos porque os laterais não o fazem”. Até os jogadores, maiores alvos das críticas, acreditam nisso e reproduzem discursos confirmando suas falhas. Não consigo ver o fenômeno senão pela consequência da grande e prejudicial “miopia tática” da visão brasileira do jogo.

No início da nossa resenha há uma pergunta: – O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Na questão, me refiro à avaliação das qualidades de um jogador para fazermos uma determinada opção. Para respondermos corretamente esta pergunta precisaríamos saber como vemos o jogo. Existe um jogo além do jogador? Todos nós sabemos que não há orquestra sem as individualidades musicais. Mas é verdade também que uma orquestra não existe somente com parte do som das individualidades.

No esporte coletivo e ou no futebol é da mesma forma. O jogador está em campo como grande protagonista das ações. Mas que tipo de ação? Ações que traduzem um jogo. Uma forma de jogar. Esta é a saída para uma “nova” visão do jogo brasileiro. Só devemos entender a importância do jogador no contexto de um jogo, ainda que suas habilidades lhe permita desempenhar papéis táticos com a plástica de um craque. Por isso, serão reconhecidos e valorizados com destaque em relação aos companheiros de profissão. Ter craques no time não trará nenhum prejuízo ao jogo se estes jogarem em função de uma ideia de jogo.

Quando falamos de jogo e ações táticas para o jogo queremos aclarar a mente dos leitores para a existência de princípios e ou conceitos táticos que são responsáveis pela construção do jogo. Assim como o bolo tem seus ingredientes e sua forma de fazer, o jogo tem os seus jogadores e forma de fazê-los jogar. Por isso, e nesta visão, é preciso pensar na importância do jogador relacionada a uma forma de jogar. A sutileza na diferença dessas visões táticas de jogo altera muito o processo da construção do próprio jogo.

Às vezes, o casual encaixe das características individuais faz brotar um jogo de qualidade mesmo que não tenhamos nos preocupado em treinar os conceitos táticos que dali brotaram. Às vezes também, alguns bolos saem gostosos mesmo não aplicando os segredos da receita proposta. Mas eu disse “às vezes”! Regra geral, as receitas consagradas costumam render dividendos interessantes aos seus detentores. O jogo pode e deve ser construído sob a orientação dos conceitos táticos que fazem um jogo eficiente e eficaz. Assim, tanto o jogo quanto o “bolo” terão padrões de qualidade consagrados.

Para o futebol brasileiro, que tem no poder das suas individualidades o grande marketing da qualidade, é preciso “reencontrar” sua antiga visão tática do jogo. Aquilo que faça o jogo ser visto como um todo que tem vida. O jogo do toque de bola, por exemplo, como era conhecido e ficou famoso em todo o mundo. Um time que joga compacto, ofensivamente, com posse de bola, atuando pelos flancos, dentre outros predicados táticos coletivos é facilmente percebido quando apresentado. Vide grandes equipes europeias e alguns poucos e efêmeros modelos sul-americanos.

Nós, treinadores brasileiros, só saberemos e ou teremos interesse em construir um jogo com estas características quando formos cobrados sobre estes parâmetros. Hoje, só sabemos jogar por vitórias e das formas mais diversas. Geralmente produzimos o “jogo” com muita correria, ações individualizadas e desespero mental, fruto da pressão do ambiente em que jogamos.

Há “receitas de bolos” excelentes para a construção do jogo inteligente. Não é preciso jogar ao acaso ou ao sabor do encaixe das individualidades. Tudo começa com o desenvolvimento de uma nova visão tática para o jogo!

Até a próxima resenha…

…e me desculpem pela distância entre as publicações. Vida de treinador não é fácil!
 

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E vai rolar a festa?

Enfim, os campeonatos estaduais iniciaram-se e tem início um ano futebolístico ímpar. Ora, não é um ano qualquer. É ano de Copa do Mundo no Brasil.

Quem acompanha futebol desde a infância sabe o significado disso. Lembro-me de acompanhar Mundiais desde o México em 1986, quando tinha 6 anos. Como se fosse hoje me recordo da derrota para a França com direito a bola na trave, bola nas costas do goleiro Carlos e gol. Em 1990, Itália, irritei-me com o Cannigia no nosso melhor jogo na Copa.

Naquela época, nunca imaginaria que um dia teríamos uma Copa do Mundo aqui, no nosso Brasil Varonil. Teremos a chance de exorcizar o fantasma do Maracanazo de 1950 e deixar de ser a única grande Seleção a nunca vencer em casa.

Entretanto, nem tudo é festa. 2013 terminou com violência nos estádios de futebol, discussão sobre o calendário e, ainda, em meio a um imenso embate jusdesportivo envolvendo Portuguesa, Fluminense, Flamengo e STJD.

Todo esse imbróglio faz com que iniciemos o ano futebolístico mais esperado dos últimos tempo sob o ar da desconfiança e da dúvida. O campeonato brasileiro iniciar-se-á em abril e ainda não sabemos quais os participantes, pois uma guerra de liminares altera sua composição diuturnamente.

As jogadas, gols e craques deixaram de ser o centro dos debates e entraram em campos os tribunais, as leis e os advogados. De milhões de técnicos viramos especialistas em Lei Pelé, Estatuto do Torcedor e Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Independente do final dessa história, o ano começa melancolicamente. Ademais, se há campo para tanta discussão, talvez seja o momento de olharmos para dentro e refletirmos sobre nosso desporto.

Neste esteio, o Direito Desportivo é uma importante ferramenta de desenvolvimento do desporto nacional que deve ser cada vez mais estudado e ensinado nas Universidades Brasileiras.

Assim, ao mesmo tempo que damos as boas vindas ao futebol, fazemos votos que o ano termine melhor do que começou.