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Mantendo-se positivo após das derrotas

É normal muitos atletas se abaterem após uma sequencia de derrotas, isso acontece com qualquer pessoa que passa por insucessos em sequência. O ânimo desaparece, a autoestima vai por água abaixo e consequentemente o desempenho tende a piorar.

Então como retomar o caminho da paz e tranquilidade num universo profissional aonde externamente ao ambiente aonde se trabalha no cotidiano a pressão é enorme? Aonde não existe tempo para se trabalhar de maneira planejada com ações de curto, médio e longo prazo?

Complicado não é mesmo? Mas estamos falando do que acontece frequentemente no futebol brasileiro e com todos os atletas profissionais que atuam nesse mercado.

Uma questão muito interessante é a capacidade que as pessoas podem ter em se manterem positivas, mesmo quando as situações são adversas. De certa forma podemos compreender que viver com uma perspectiva positiva corresponde a termos em nós mesmos o nosso melhor amigo. Isso ocorre quando escolhemos apoiar a incentivar a nós mesmos e aos outros a fazermos coisas boas e lembrar em grandes quantidades sobre as que fizemos ao longo da jornada. Mas podemos nos perguntar: é possível escolhermos ter uma perspectiva positiva em nossas vidas? Se a resposta for positiva, como isso seria possível de se realizar?

Sim podemos fazer isso, mudar nossa perspectiva sobre tudo que nos acontece e Terry Orlick nos deu uma grande contribuição sobre como fazer, conforme os itens que compartilho agora com vocês.

SEMPRE PENSAMENTOS POSITIVOS – Somente os pensamentos positivos nos ajudarão a fazer as coisas que realmente desejamos fazer. Sendo assim, pense consigo mesmo, fale consigo mesmo e concentre-se nas coisas que o ajudarão a viver e atuar usando sua verdadeira capacidade.

SEMPRE IMAGENS POSITIVAS – Somente as imagens positivas das coisas que você deseja fazer ou deseja alcançar o ajudarão a realmente conquista-las. Portanto, imagine-se sendo como deseja ser, alcançando o que quer alcançar e realizando as coisas que quer fazer em sua vida, exatamente da maneira como gostaria de fazer, concentrando-se plenamente, sendo preciso e esbanjando confiança.

SEMPRE POSSO – Não há vantagem nenhuma em encarar as situações da vida ou um desempenho pensando: Não posso ou Não consigo fazer isso. Encare todos os seus desafios sempre pensando: Eu posso ou Nós podemos.

SEMPRE OPORTUNIDADES – As oportunidades existem por toda a parte, podemos sempre aprender, crescer, encontrar algo positivo nas coisas, se conhecer melhor (e isso é extremamente importante), sermos mais equilibrados, enfim mais felizes.

SEMPRE FOCADO – Apenas quando você está plenamente focado em realizar cada etapa de sua atividade é que você pode viver e atuar em seu verdadeiro potencial humano.

SEMPRE LIÇÕES – Em tudo que você faz, cada treinamento, cada jogo e em cada experiência de vida existem lições! Procure as boas, extraia lições positivas de cada uma delas e vivas estas lições. Ao fazer isso seu crescimento será contínuo e se tornará excelente.

SEMPRE PASSO A PASSO – Você pode realizar muito se der pequenos passos a cada dia. O próximo passo ou a próxima ação à sua frente é o mais importante, dando esse passo avance para o próximo, e para o próximo. Este é o único caminho para que você chegue ao seu destino desejado.

Assim, amigo leitor, penso que uma forma pela qual os atletas podem encarar os períodos de crises e derrotas seria por exemplo seguir as dicas acima, elas levam ao foco, concentração e atitudes necessárias para que o famosa frase ditas por todos após insucessos “agora é trabalhar para sairmos dessa situação” torne-se efetiva e eficaz, trazendo na prática novos resultados no desempenho dentro de campo.

Até a próxima! 

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O Futebol e os Escritores

O JL (Jornal de Letras, Artes e Ideias) é publicação que não dispenso. E fico “encharcado de sonho” após a sua leitura, como o chale velho da D, Leocádia do Húmus de Raúl Brandão. Filho de uma sociedade industrial, ou moderna, baseada em certezas, no progresso linear e no determinismo científico, tento adaptar-me à pós-modernidade, ambígua pela incerteza, insólita pela descontinuidade, inenarrável pela complexidade. E o sonho volta a ser uma necessidade. Agnes Heller, socióloga húngara e nome primeiro da Escola de Budapeste, publicou (creio que em 1977) On the New Adventures of the Dialectic (Acerca das Novas Aventuras da Dialética), um ensaio que alcançou ampla repercussão entre a juventude e onde se realça que todos os seres vivos, incluindo as plantas e os animais, sentem necessidades do tipo existencial, tais como o alimento, o repouso, a reprodução. Na espécie humana, porém, para além destas, palpitam outras qualitativamente diversas, que Heller considera as fundamentais, ou radicais, tais como a amizade, o lazer, o amor, o sonho. Entendo agora porque me delicia tanto a leitura do JL: o que é a literatura senão uma superior manifestação do sonho? E não poderá dizer-se o mesmo do futebol-espetáculo, interpretado por jogadores da estirpe de um Ronaldo, ou de um Messi, ou de um Iniesta, ou de um Neymar?

O jogo e os jogos têm merecido estudos, os mais diversos, da antropologia, da psicologia, da sociologia, da filosofia. No que à relação entre jogo(s) e literatura diz respeito, ela desponta normalmente em enunciados do tipo “o jogo literário”, “o jogo do escritor”, “a poesia como jogo”, etc. No entanto, encontramos textos em que o jogo é o tema principal. O jogador de Dostoievski é um exemplo, entre outros.

No JL, de 11 a 24 de Junho de 2014, não deixei, em primeiro lugar, de ver o livro que Miguel Real, em instantes luminosos de crítica literária, seleciona, A Última Noite em Lisboa, de Sérgio Luís de Carvalho. Depois, vi e revi, através do JL, algumas frases de escritores célebres, que se encontram expostas, no Museu de Língua Portuguesa, em São Paulo, acerca do futebol. E começo pela doce, pela dulcíssima, Clarice Lispector: “Não, não imagine que vou dizer que o futebol é um verdadeiro balé. Lembrou-me foi uma luta entre vida e morte comno gladiadores. E eu – provavelmente coitada de novo – rinha a impressão que a luta só não saía das regras do jogo e se tornava sangrenta potque um juia vigiava, nãlo deixava, e mandaria para fora de campo quem como eu faria se jogasse! Bem, por mais amor que eu tivesse por futebol,. Jamais me ocorreria jogar. Ia preferir balé mesmo. Mas futebol parecer-se com balé? O futebol tem uma beleza própria dos movimentos, que não precisa de comparações”.

Luís Fernando Veríssimo faz eco do que os antropólogos e psicólogos dizem, há muito tempo: “Só o futebol permite que você sinta aos 60 anos exatamente o que sentia aos 6. Todas as outras paixões infantis ou ficam sérias ou desaparecem, mas não há uma maneira adulta de ser apaixonado por futebol. Adulto seria largar a paixão e deixai para trás essas criancices: a devoção a um clube e às suas cores como se fosse a nossa outra nação, o desconsolo ou a fúria assassina quando o time perde, a exultação guerreira com a vitória. Você pode racionalizar a paixão, e fazer teses sobre a bola, e observações sociológicas sobre a massa ou poesia sobre o passa, mas é sempre fingimento. É só camuflagem. Dentro do mais teórico e distante analista e do mais engravatado cartola aproveitador existe um guri pulando na arquibancada”.

O Mário Vargas Llosa, um dos grandes senhores da literatura mundial, esclarece: “O futebol é o ideal de uma sociedade perfeita: poucas regras claras, simples, que garantem a liberdade e a igualdade dentro de campo, com a garantia do espaço para a competência individual”. Augusto Abelaira não esconde a sua paixão pelo futebol: “Insisto. Se o futebol estivesse por inventar, seria eu a inventá-lo. E até inventaria a televisão, para o ver calmamente em casa”. Jacques Derrida, num ensaio que tem sobre Maurice Blanchot distingue entre o testemunho e o simples relato, que invoca a conhecida oposição, em Lacan, entre saber e verdade. O relator diz o que se passou, testemunhar implica presença e defesa da verdade. Lídia Jorge é da ordem do simples relato: “Acho graça ao jogo, só que ele não pode engolir o nosso espaço cívico, o nosso interesse pela política, pela sociedade, pela leitura. Há uma euforia disparatada, promove-se um entusiasmo desbragado”. Jorge Jesus é da ordem do testemunho, quando sustenta: “O futebol é a minha vida. Se o futebol não existisse, não seria a mesma pessoa e, possivelmente, até seria mais infeliz. É mesmo no futebol que me realizo” . José Maria Pedroto, a sorrir, e de cigarro entre os dedos, disse-me um dia: “O futebol é como o tabaco. Uma pessoa habitua-se e não consegue passar sem ele”. Mas, sem ele, também não conseguem passar os adeptos do futebol, os “torcedores”, como dizem os brasileiros. O futebol está na moda.

A recepção, que tocou a loucura, ao Cristiano Ronaldo, por parte do público feminino de Campinas vem dizer-nos que até há um elemento erótico, no desporto atual. No final do século XVI, o termo sport chegou a utilizar-se com o sentido de “fazer amor”. Afinal, para as meninas da cidade de Campinas e diante do Cristiano Ronaldo, o que está em jogo? Não é desporto tão-só. Nem arte unicamente – a “oitava arte”, como já lhe chamam. É que o futebol, como o desporto (lá volto eu a repetir-me) não se reduz a uma Atividade Física. Verdadeiramente, é uma Atividade Humana. O amplo leque de escritores que por ele se apaixonam assim o provam, assim o dizem, assim o cantam… 

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A dança das cadeiras número 457738290493

Não, eu não contei quantos treinadores caíram nos últimos anos. Não, este número do título não é verdadeiro. É que o assunto, de tão repetitivo, chega a ser irritante e, portanto, para o conceito, qualquer número serve.

Está difícil, inclusive, falar sobre gestão do esporte e no futebol brasileiro porque os erros e atitudes se repetem em demasia. Não há erro novo no mundo da bola. Talvez esta eterna dança de treinadores seja o símbolo mais tangível do nosso retrocesso, ou melhor, da falta de qualquer inspiração para se ter um pequeno avanço.

É inconcebível uma evolução de modelo em que não se preserva o trabalho, mas se decide pelos resultados pontuais. Não se tem como mensurar e comentar um negócio em que não se vê claramente o começo, meio e fim de uma proposta de desenvolvimento de projeto.

Dizem que profissionalizar é a solução, mas até isso os clubes entenderam de maneira equivocada: não basta contratar uma pessoa para resolver todos os problemas, tendo sob o seu guarda-chuva uma série de dirigentes não remunerados, sem conhecimento de causa ou formação específica. A banalização do termo tem sido o maior perigo ultimamente e tem refletido em muito nesta dança das cadeiras.

Estruturar um projeto consistente, em que se tenha clareza sobre as tomadas de decisão (e os possíveis riscos do conjunto dessas decisões), são fundamentais para o sucesso e a sobrevivência do mesmo. Depois, como em qualquer ambiente de negócio, é que se cobre os resultados planejados e os eventuais equívocos cometidos.

Continuo torcendo (e muito) para que tenhamos novos problemas para debater. Do jeito que está, fica cada vez mais claro como estamos estagnados e não estamos conseguindo evoluir verdadeiramente. É preciso experimentar algo diferente… E pra ontem!!! 

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O futebol que queremos

O sociólogo Maurício Murad, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e do mestrado da Universo, costuma dizer que é impossível dissociar estádios de futebol do que acontece do lado de fora. Arenas esportivas são microcosmos, e por isso servem como amostragem de virtudes e problemas da sociedade. Esse perfil deve-se basicamente a três pontos: a composição heterogênea do público, a relação emocional das pessoas com o espetáculo e a falta de um trabalho em sentido contrário.

Estádios de futebol têm setores com diferentes preços, condições e serviços. Esse perfil e a abrangência da modalidade na formação cultural, sobretudo no Brasil, garantem a heterogeneidade do público. É uma das raras situações no país em que pessoas que vivem realidades diferentes compartilham uma paixão. Enquanto a bola corre de um lado para outro, ricos, pobres, brancos, negros, magros, gordos, homens e mulheres vivem apenas o que acontece ali. Quem nunca interagiu com um total desconhecido em um estádio de futebol? Quem nunca abraçou um estranho para celebrar um gol?

O contato entre estranhos é facilitado por um sentimento comum e pelo segundo fator que caracteriza estádios de futebol: são ambientes passionais. Ali, pessoas aproveitam para descarregar o estresse cotidiano e viver uma metonímia da felicidade que esperam para seus cotidianos.

Entender esses dois conceitos é fundamental para saber o que é um estádio de futebol. É um local com pessoas boas e pessoas ruins, assim como acontece do lado de fora. Além disso, esses “bons” e “ruins”, que nem sempre são assim tão rasos e peremptórios, têm relações exageradas porque estão num ambiente que fomenta isso.

E isso nos leva ao terceiro ponto, que na verdade é o objeto deste texto. Estádios são reflexos da (falta de) educação da sociedade, e essas reações são amplificadas pelo ambiente. Mas tudo podia ser direcionado se houvesse um trabalho educativo em sentido contrário. Afinal, para que serve o público que assiste a jogos de futebol?

No mundo corporativo é bem mais consolidada a noção de marketing institucional. Tão importante quanto vender empresa ou produtos para o público é vender isso para os próprios funcionários. Eles precisam entender qual a função deles e o que podem ganhar estando ali.

E no esporte? Quem já pensou em educar torcedores e mostrar a eles a função que o público tem em um estádio? Quem já pensou em criar padrões e comportamentos adequados a um conceito sistêmico de espetáculo? A plateia é parte do todo, afinal.

Tomo aqui um exemplo do vôlei: a popularização da modalidade no Brasil tornou-se mais contundente a partir da geração que ganhou medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Entre o fim da década de 1980 e o começo dos anos 1990, houve um esforço coletivo para aproveitar o furor em torno do feito. Uma das medidas foi a criação de animadores de torcida em jogos da seleção brasileira. Eles distribuíam brindes, puxavam gritos e acrescentavam uma atração ao evento.

A figura dos animadores de torcida é muito comum em ligas esportivas dos Estados Unidos. Também é corriqueira por lá a ideia de promoções e ações feitas especificamente para o público que vai às arenas. O jogo não é uma atração que se encerra no que acontece no campo (ou quadra).

O Botafogo deu outro exemplo no Brasil. Quando assumiu o estádio Engenhão, que havia sido construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007, o time do Rio de Janeiro teve um problema de logística: a arena é afastadas, e a maioria do público só entrava em cima da hora das partidas. Resultado: longas filas e confusão na entrada.

A solução que a diretoria encontrou para isso foi programar shows de artistas botafoguenses – músicos e humoristas, principalmente – e oferecer um “prêmio” ao público que chega mais cedo. Foi algo pontual, mas teve um efeito educativo.

Um dos argumentos mais usados no Brasil para defender a venda de bebidas alcoólicas em estádios é o comportamento do público. “O torcedor fica do lado de fora até perto do apito inicial, bebe em menos tempo e em maior quantidade”. É clara a dicotomia entre as duas linhas de raciocínio.

O que aconteceu na Arena Grêmio na última quinta-feira (28) tem relação direta com tudo isso. Torcedores do time gaúcho direcionaram ofensas racistas ao goleiro Aranha, titular do Santos. Uma moça foi flagrada pelo canal fechado “ESPN Brasil” chamando o jogador de “macaco”.

Não foi o primeiro episódio de racismo em estádio de futebol. Não foi sequer o primeiro envolvendo a torcida do Grêmio – a mesma que fez troça de torcedores do Internacional por causa da morte do ídolo Fernandão e que tem cânticos homofóbicos direcionados ao rival, vale lembrar. E o que foi feito para criar um comportamento contrário?

Infelizmente, vivemos numa sociedade em que o preconceito é muito presente. O estádio é apenas um exemplo disso, e as manifestações são potencializadas pelo emocional aflorado. Ali, xingamentos são provocações ou apenas arroubos de quem se sente protegido por estar num grupo.

Já passou da hora de tratarmos o comportamento do público como um componente fundamental do esporte. Precisamos pensar no futebol que queremos, e isso inclui doutrinar as pessoas que acompanham a modalidade. Não podemos esperar que a relação passional sustente o segmento.

Na última semana, o jornal “Lance!” divulgou resultados de uma pesquisa sobre torcidas feita em parceria com o instituto Ibope. O Flamengo ainda é dono do maior grupo de adeptos do país (16,2%), seguido pelo Corinthians (13,6%), mas ambos perdem para os desinteressados (23,4%). No país do futebol, o maior grupo ainda é o de pessoas que não seguem sequer a seleção brasileira.

Ainda assim, como tem mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil tem pelo menos 150 milhões de interessados por futebol. Pode não ser o país mais apaixonado pela modalidade em proporção, mas existe um potencial claro aí: se bem explorado, esse pode ser o maior mercado de futebol do planeta.

O que falta para isso, então? Falta uma lógica de comunicação mais próxima do que o mercado eficiente faz. Falta conhecer o público, entender os anseios dele e direcionar o comportamento. Falta pensar no futebol que queremos.

Essa noção tem de incluir o campo, é claro. O jogo que queremos é rápido, de transição e vertical como o do Real Madrid de Carlo Ancelotti? É lento, paciente e apaixonado pelo passe como o Barcelona de Pep Guardiola? Há diferentes formas de ser vencedor e de encantar. Escolher entre elas é um processo que deve incluir diferentes áreas e deve alicerçar um plano de comunicação complexo. E o público
não pode ser excluído disso.

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Racismo na Copa do Brasil

Na partida entre Grêmio e Santos válida pela Copa do Brasil, mais do que o resultado (vitória de 2 a 0 do clube paulista), o grande destaque foram as atitudes racistas de parte da torcida gaúcha contra o goleiro Aranha. Atos absurdos como esses sempre causam revolta e devem ser fortemente combatidos.

Sob o ponto de vista desportivo, o Código Brasileiro de Justiça Desportiva prevê em seu artigo 243-G a possibilidade de punições para atos de racismo.

Art. 243-G. Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Como se tratou de atos oriundos da torcida, o Grêmio pode ser multado, perder mando de campo e até ser excluído da competição.

Além da punição ao clube, os torcedores identificados poderão ficar proibidos de ir ao estádio pelo prazo mínimo de setecentos e vinte dias.

Vale ressaltar que, apesar de não ter constado na súmula, a Procuradoria do STJD pode efetuar denúncia com base nas imagens. Esta omissão da arbitragem também pode ser objeto de processo disciplinar.

Além da punição desportiva, os torcedores podem ser acionados na esfera criminal já que trata-se de crime de injúria racial tipificada no artigo 140, § 3º do Código Penal Brasileiro que e consiste em ofender a honra de alguém com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem.

Ou seja, muito embora comumente tratemos o caso como racismo, tecnicamente o termo é inadequado, já o crime de racismo, previsto na Lei 7.716/89, implica em conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade.

Portanto, comete o crime do artigo 140, § 3º do CP, e não o delito do artigo 20 da Lei nº 7.716/89, o agente que utiliza palavras depreciativas referentes a raça, cor, religião ou origem, com o intuito de ofender a honra subjetiva da vítima, como no caso em comento.

Diante do exposto, conclui-se pela clara incidência de falta disciplinar desportiva e de crime de injúria racial e espera-se punições rápidas e efetivas de forma a desestimular situações tão lamentáveis. 

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O medo e como enfrentá-lo

Muitos atletas, bem como qualquer outra pessoa, podem ser acometidos pelo medo em diversos momentos de suas carreiras, dificultando o seu desenvolvimento pessoal e esportivo. Esse sentimento pode gerar uma paralisia no atleta e bloquear sua capacidade de executar suas ações mais cotidianas.

De uma maneira geral todos nós tememos os erros, os fracassos, as críticas, bem como a falta de reconhecimento, tememos não suportar a pressão, muitas vezes tememos a própria competição, a rejeição e acreditem, em muitos casos tememos até o sucesso. Os medos que sentimos podem ser classificados em objetivos e subjetivos.

• Medos objetivos: o medo de errar e perder as chances de crescimento profissional, de perder a vaga na equipe ou o medo de passar por necessidades.

• Medos subjetivos (e não menos reais por serem subjetivos): de ser depreciado, desconsiderado no elenco ou de ser humilhado pela crítica ou pelos torcedores.

Mas, muitas vezes o problema em geral não é termos medo, porque na verdade ele é benéfico quando nos alerta de um determinado perigo e nos coloca em prontidão para a necessidade de nos defendermos. O problema é que muitas vezes o medo que sentimos está relacionado com o nosso passado, eventualmente com lembranças desagradáveis, que possuem a capacidade de reduzir consideravelmente nossa autoestima. Como em todo processo de evolução, o desenvolvimento pessoal e profissional de um atleta é um processo de mudanças e no transcorrer destes processos todo atleta pode apresentar defesas pessoais clássicas que a maioria das pessoas utilizam para lidar com o medo presente, como por exemplo:

• Atacar desafios, dedicando-se da maneira extremamente excessiva aos objetivos, gerando impressão de estar sobrecarregado;

• Fingir-se de morto ou camuflado, sempre buscando desviar a atenção para o desempenho de outras pessoas ou áreas e evitando que avaliem o seu próprio desempenho;

• Inventa desculpas muito criativas, porém aparentemente razoáveis para prorrogar seus compromissos;

• Justifica-se sem parar!

Para lidar com o medo é importante sabermos que o nosso mecanismo de defesa se trata de um processo completamente inconsciente e que a melhor defesa na verdade é nenhuma defesa. Quer dizer, em vez de nos defendermos incansavelmente dos outros nós precisamos fortalecer o autoconceito e a autoestima. Refletindo mais ainda, percebemos que o maior desafio para vencermos o medo é sermos capazes de aceitar e compreender a realidade e com isso passarmos a ter coragem para promover as mudanças em nós mesmos que nos levem ao autodesenvolvimento.

Por isso, muitas vezes precisamos enterrar coisas do passado e com os atletas isso também se torna importante. Mas você deve estar se perguntando: porque é importante para qualquer pessoa enterrar o passado para conseguir evoluir? Para responder isso, compartilho três razões apontadas por Ane Araújo publicadas em seu livro denominado Coach:

1º – O passado simplesmente não volta mais, ele passou! Parece tão óbvio, que geralmente não nos damos conta disso.

2º – Qualquer processo de transformação ou de realizações parte necessariamente do nosso presente, e não do passado! O verdadeiro e precioso poder para realizar o que desejamos está no aqui e no nosso agora.

3º – Porque nem sempre é fácil mudar, como parece muitas vezes. Para isso precisamos ter muita coragem e principalmente determinação! Por este motivo é que nos pegamos inúmeras vezes em nossas vidas esperando que os outros mudem, em vez de produzirmos as mudanças em nós mesmos.

Sendo assim, caro amigo leitor, todo atleta precisa encarar o desafio de vencer o medo para poder progredir rumo a sua excelência pessoal e profissional, porém para isso deve estar consciente de que muitas vezes somente após enterrar situações e lembranças do passado ele poderá encarar seus medos e partir numa nova jornada, que praticada essencialmente no hoje e no agora poderá leva-lo ao futuro desejado.

Até a próxima! 

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A história se repete…

Há pouco mais de 3 anos o imbróglio envolvendo a negociação de Ronaldinho Gaúcho com o Flamengo, tendo ainda como personagens o Grêmio (que chegou a montar uma festa de apresentação para o atleta) e o Palmeiras, que disputaram até o último dia a “preferência” do jogador, teve um enredo de novela, nada agradável para uma estrela do futebol mundial que fora eleito melhor do mundo em duas oportunidades.

Quem já teve a oportunidade de ler o livro “A Bola não entra Por Acaso”, de Ferran Soriano, percebe no descritivo do autor sobre o craque do Barcelona os inúmeros desentendimentos que teve na relação do clube com o seu empresário, que desgastou uma relação de apreço e culminou com a saída do jogador em 2008, após 5 brilhantes temporadas no clube catalão.

Nesta semana a história se repetiu, dentro de uma possível negociação de Ronaldinho com o Palmeiras, no ano do seu centenário, que não se concretizou. Apesar de ficar difícil fazer uma análise mais coerente e abalizada sobre informações da imprensa, é notória a falta de profissionalismo na gestão da carreira do atleta.

Na realidade, é lamentável que uma carreira construída de forma brilhante nos gramados seja manchada por uma conduta nefasta fora das quatro linhas. Reforça-se, portanto, a necessidade cada vez mais premente de clubes e agentes se prepararem melhor para a formação e a condução da carreira dos astros do futebol, sem negligenciarem ou transferirem responsabilidades neste processo.

O mais triste disso tudo é: ao invés de estarmos celebrando o encerramento de uma carreira de um craque como Ronaldinho, estamos, na realidade, torcendo para que termine logo e, desta forma, nos poupe (enquanto torcedores e brasileiros) da falta de bom senso sobre relações formais com clubes e comprometimento com quem paga seus altos salários. 

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Um verdadeiro STAR

É o nome dado para o Programa de MBA Executivo que foi criado pela Escola de Negócios da George Washington University nos Estados Unido, cuja ênfase dos cursos repousa na responsabilidade social corporativa, ética e liderança.

Os focos do curso são liderança, estratégias de sucesso e responsabilidade social. O público-alvo são atletas, músicos e artistas, pois os desafios que estes enfrentam – profissionais e financeiros – são únicos e o MBA os auxilia na construção e implementação de planos de negócio para seus empreendimentos e melhor gestão de carreira e pós-carreira.

É o primeiro MBA totalmente dedicado a este escopo e proporciona aos alunos experiências personalizadas projetadas para se encaixar em seus horários e perfis profissionais não-tradicionais.

O programa é projetado para ensinar estes talentos a como traduzir seu sucesso atual da carreira em negócios e no desenvolvimento social. Os cursos são personalizados em torno da disponibilidade de tempo dos alunos, permitindo-lhes obter um grau avançado de estudos e desenvolver oportunidades de negócios, enquanto administram suas carreiras e vidas pessoais.

“É uma ferramenta para o empoderamento", segundo Sanjay Rupani, diretor de estratégia da GWU. "Ele é personalizado especificamente para ajudar estes ícones talentosos a definir um caminho e encontrar novas oportunidades de carreira e desafios. Nossos alunos têm grande experiência e são líderes naturais. Eles vão gerar resultados muito poderosos para suas comunidades por meio da criação de negócios e atividade filantrópica."

O programa, que inclui cursos a distância e presenciais, também proporciona aos alunos o acesso a uma rede especial de indivíduos e organizações que podem ajudar a expandir seu alcance e influência na comunidade empresarial. Além disso, os alunos são estimulados a criar seus próprios planos de negócios, orientados por professores, mentores e coaches.

"O programa é uma grande oportunidade para eu tomar a experiência de liderança que eu ganhei durante o meu tempo na NFL e traduzi-lo para o sucesso dos negócios fora do campo", afirma um dos alunos, Marques Colston, wide receiver do New Orleans Saints.

"Eu quero estar mais envolvido na minha comunidade e influenciá-la de uma forma positiva. O comprometimento da GWU com a sociedade e a educação personalizada permitem combinar o meu interesse pessoal em fazer a diferença na sociedade com um conjunto de habilidades profissionais para garantir o sucesso dos meus projetos."

Historicamente, nossas estrelas do esporte, das artes e da indústria do entretenimento, não dispunham de ferramentas técnicas e de conhecimento apurado sobre como “devolver” (give back) à sociedade aquilo em que nelas foi depositado como ideário das esperanças e expectativas de transformação social.

Além disso, a cultura do engajamento social, da filantropia e do ativismo transformador, notadamente associada ao terceiro setor (ONG), é muito recente no Brasil e, mais recente e incipiente ainda, no esporte.

Outro aspecto que também desfavorece esse protagonismo é o fato de que o país optou por dissociar esporte e educação, seja com raízes na falta de atenção à base da pirâmide socioesportiva, seja na encruzilhada enfrentada por atletas de alto nível quando o dilema “estudar ou jogar” se impõe – já que o esporte universitário inexiste por aqui.

Criar mecanismos e alternativas para o empoderamento dos nossos atletas ao integrar educação formal e suas vivencias e experiências esportivas é algo poderoso para transformarmos a sociedade.

Mas isso causa até arrepio ao conservadorismo social e dos gestores esportivos, pois estes entendem que “atleta tem que ficar no lugar dele…” De preferencia “quietinho e sem mexer em nada…”

Ao contrário, entendo que o lugar do atleta significa puxar a fila da construção de uma sociedade melhor, pois são grandes exemplos pra todos nós e protagonistas de um Brasil que dá certo.

*STAR: sigla para Special Talent (Talento Especial), Access (Acesso) e Responsibility (Responsabilidade). 

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Cent’anni, Palestra. Obrigado, Palmeiras

É.

Nós.

Siamo noi.

É a entrada em campo na Arrancada Heroica de 1942. É o pênalti de Evair no 12 de junho, o de Marcos de 2000 e o de Zapata de 1999. O gol com bola e tudo de Liminha de 1951. A colherzinha de Ademir contra o Botafogo, no Rio-São Paulo de 1965. Os chapéus de Alex de 2002 e o gol de tirar o chapéu e fôlego de César Sampaio de 1993. O drible da vaca de Jorge Mendonça no Dérbi de 1976. O toque por cobertura de Jorginho, no 5 a 1 no Santos de 1979. O gol de Luís Pereira no Inter no Brasileiro de 1973. O gol de Rivaldo no bi-bi de 1994.

É a goleada no Boca na Libertadores. O 5 a 0 no São Paulo da primeira Academia. O 6 a 0 no Santos do trem-bola de 1996. O 8 a 0 de 1993 do Esquadrão de Ferro no Corinthians.

É a Pazza Gioia depois da “Loucura do Século”, na compra do Parque Antarctica, em 1920. É a inauguração do Stadium Palestra Italia, em 1933, antes de elevar o Jardim Suspenso, em 1964.

O gol de Zinho no Dia dos Namorados de fim da fila e o de Ronaldo para manter o jejum em 1974. O gol de Mirandinha no fim do Dérbi de 1986. O gol da virada de Romeiro no supercampeonato de 1959. O gol de Euller na virada contra o Flamengo de 1999. O gol sem cabimento de Oséas na Copa do Brasil de 1998. O de Betinho sem fundamento no bi de 2012.

É o 4 a 1 no Flamengo de 1979. É o time reserva ganhando o Rio-São Paulo de 1993. É o título paulista de 1944 sem Dacunto. O pênalti de 1942 que não pudemos bater. O Dudu voltando para a barreira depois de ter desmaiado na final de 1974 e ainda jogando com duas costelas quebradas em 1972. Julinho voltando machucado para guiar o time nos 4 a 0 de 1958 contra o Corinthians. É o Marcão fechando a meta com o punho aberto e quebrado.

É ser duas vezes campeão brasileiro no segundo semestre de 1967. É ganhar mais um nacional ouvindo pelo rádio, no vestiário, o rival perder o título no Mineirão, em 1969. É a Segunda Academia que ganhava títulos sem precisar fazer gol.

É o primeiro gol do Palestra, de Bianco. É o primeiro jogo, contra o Savóia, em 1915. É a melhor campanha do profissionalismo, em 1996. As maiores goleadas em decisões nacionais (8 a 2, em 1960) e paulistas (5 a 0, em 2008).

É o Brasil de 1965, que venceu o Uruguai jogando pela Seleção. É o Brasil que conquistou o planeta de verde e branco, em 1951.

É o Edmundo chamando os rivais para o drible. Jair Rosa Pinto coberto de lama vibrando no vestiário no título do Ano Santo de 1950. As Cinco Coroas de 1950-51. O primeiro campeão do Rio-São Paulo, em 1933.

É o divino Ademir. O santo Marcos. Um carrinho de Junqueira. Um passe de Romeu. Um gol de Heitor. Uma maluquice de César. A mão de Oberdan. O coração de Fiúme.

O maior vencedor de títulos nacionais. É o Campeão do Século XX. A defesa que ninguém passa em 1947. A linha atacante de raça e graça de 1996. O time que deixou o maior rival na fila em 1974 e acabou com a fila contra ele, em 1993.

Dudu no banco e Ademir da Guia em campo, em 1976. A invasão do gramado em Santo André, no bi paulista de 1994. O meio-campo titular acabando com a fila do Brasil de títulos mundiais no tetra, nos EUA. O show de Alex contra o River Plate, em 1999. São Marcos canonizado contra o Corinthians, na Libertadores.

Os bandeirões subindo e descendo arquibancada. Nós subindo e descendo pelos degraus dos estádios. Subindo pelas paredes de casa. Subindo nos pódios de campeão.

É qualquer lance no Palestra. Todo jogo ouvido pelo rádio. Cada partida vista pela TV. Todos os lances lidos no jornal ou na internet. Qualquer jogo, jogadas e jogadores contados pelo pai, avô e bisavó.

Pimpampum de Filpo. Felipão correndo para os gandulas na final de 1999. Luxemburgo descendo antes da volta olímpica de 1993. Brandão e ponto final. É ponto ganho.

É um gol de cabeça de Leivinha. É Leão dando o tapinha no travessão. Marcos apontando os dedos para cima. Evair abrindo os braços para os céus. César Sampaio com tornozelo inchado em 1993. É Arce cruzando. É Djalma Dias, Aldemar e Geraldo Scotto desarmando. É Djalminha armando. É uma falta do Roberto Carlos ou do Rodrigues.

Djalma Santos desamarrando as chuteiras de Julinho na despedida, em 1967. É gritar Tonhão. É jogar em todas como Lima e Cafu e Fiúme. É treinar na Major Maragliano. É trocar outros clubes para ser palestrino. É o 3 a 0 do primeiro Dérbi. É doar a renda para as vítimas de guerra de 1942. É abrir o clube para as vítimas da gripe espanhola em 1918.

É o primeiro uniforme do filho na porta da maternidade. É a primeira chuteira alviverde. O primeiro chute na bola que o filho gritou algo parecido com o nome do nosso time. A primeira vez que ele cantou o hino. O primeiro craque que ele chamou nosso. O primeiro amendoim que descascamos e cornetamos.

A primeira vez que teu pai te levou. A primeira vez que você levou seu filho. A primeira vez que você foi com seu amor.

Você sabe que não precisa ter visto, lido, ouvido, feito nada disso. Por nada disso ainda explicar o que é o amor.

O que somos nós. É tudo isso. É muito mais que isso. Isso é Palestra. Este é o Palmeiras.

O que é o palestrino?

É tudo que dá errado e que a gente sabe que vai dar certo só por ser Palmeiras. É tudo que dá certo e a gente ainda acha que vai dar errado por ser palmeirense.

É gol contra, é gol perdido, é frango, é falha, é roubo, é furto, é susto, é surto, é drible perdido, é jogo perdido, é campeonato perdido, é ruim e caro, é refugo, é refém, é queda, é derrota, é tristeza, é o grosso em campo, o fino da fossa, o fim do poço, o fim do mundo.

É todo o mundo palmeirense. É todo mundo palmeirense. É o nosso mundo.

Não melhor. Não pior. Mas é nosso. De mais ninguém.

Não tem pra ninguém quando a gente é Academia. Tem só pra nós quando somos Palmeiras com espírito de Palestra.

Nem sempre somos os melhores. Mas, como sempre somos palmeirenses, é mais fácil ser o que somos. Insuportáveis. Insuperáveis para o Palmeiras e para os outros.

Na saúde e nos adversários, na alegria e nos rivais, é um casamento eterno. Palestra e Palmeiras.

Nós.

É o amor.

É o nosso time.

É o Alviverde inteiro.

É.

Nós.
 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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Egoísmo

Faltavam poucos minutos para o clássico entre São Paulo e Santos, no Morumbi, no último domingo (18). Mas não foi sobre o jogo que o presidente da equipe tricolor, Carlos Miguel Aidar, conversou com jornalistas no saguão do estádio. Ele foi questionado sobre atrasos de salários – segundo a revista “Veja”, o técnico Muricy Ramalho não recebe há três meses.

Aidar desmentiu a notícia e chamou de “maldade” o texto da revista. Depois, admitiu que a situação financeira do São Paulo é complicada: “Não temos débitos fiscais, mas temos compromissos bancários a saldar”.

“Deixamos de ter receitas que seriam importantes. Com a Copa, os grandes anunciantes redirecionaram esforços, e nós estamos sem patrocinador principal no uniforme. Fomos desclassificados de forma precoce no Campeonato Paulista, não tivemos receita com venda de jogadores e ficamos sem atividades durante um período grande por causa do Mundial”, continuou o mandatário tricolor. De acordo com Aidar, o São Paulo só não fechará o ano com déficit se negociar dois ou três atletas “por valores expressivos”.

O presidente disse ainda que a situação já era prevista no orçamento do São Paulo, mas que foi agravada pela conjuntura: “Nós temos uma tradição de estabilidade econômica, mas temos de ter sensibilidade para entender o momento”.

O São Paulo gasta quase R$ 10 milhões mensais apenas com a folha de pagamento do elenco. Além disso, teve de pedir socorro à TV Globo no meio do ano – o time recebeu um adiantamento de R$ 50 milhões da emissora, valor sem precedentes na história tricolor.

A situação do São Paulo já seria suficientemente preocupante se fosse um caso isolado, mas é um retrato do que acontece em praticamente todos os times do Brasil. Por contingências do mercado ou por comportamento perdulário – ou ambos, em muitos casos –, é difícil encontrar equipes que não estejam assustadas com os números que serão colocados no balanço de 2014.

Pululam entre dirigentes de equipes brasileiras reclamações sobre o período de inatividade do futebol local para a Copa de 2014. O intervalo interrompeu receitas de match day dos clubes (bilheteria e todo o faturamento associado ao dia de evento). E muitos não souberam conviver com essa estiagem.

É o caso do Náutico. Ao contrário do São Paulo e do rival local Sport, o time alvirrubro não tem contrato com a TV Globo até 2018. A diretoria pernambucana assina vínculos de um ou dois anos com a emissora, o que reduz a perspectiva de receita de médio e longo prazo.

O calendário criado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para 2015 tem um mês de férias e 25 dias de pré-temporada. Gláuber Vasconcelos, presidente do Náutico, já avisou que não tem como custear isso. A ideia do mandatário é dispensar o elenco no fim de 2014 e remontar o grupo pouco antes do início do Campeonato Pernambucano.

A medida é pragmática. Afinal, o Náutico tem de competir com o Sport, que tem receita maior e mais segurança de aporte da TV. A saída é concentrar investimento – é mais fácil disputar com o rival se a temporada tiver apenas dez meses de gasto.

A temporada 2014/2015 do Campeonato Espanhol, que começou no último fim de semana, marcou a estreia do Eibar, promovido pela primeira vez à elite nacional. Proveniente de uma cidade com 27 mil habitantes, trata-se do menor time da primeira divisão.

O Eibar não possui dívida, mas quase foi impedido de disputar a primeira divisão porque não conseguia comprovar receita. O time vendeu cotas sociais e atraiu mais de 8 mil investidores. Conseguiu amealhar 2,1 milhões de euros e foi confirmado na elite.

A situação do Eibar foi motivo de enorme polêmica na Espanha. Como um clube sem dívida pode ser ameaçado de não disputar a elite nacional por não ter faturamento suficiente enquanto a primeira divisão é cheia de equipes com débitos gigantescos?

Os exemplos do Brasil e do Eibar são consequências diretas de modelos parecidos. No Brasil e na Espanha, o futebol é vendido individualmente. Clubes com mais potencial ganham muito mais – e essa lógica não vale apenas para o contrato de TV, seara em que ela fica mais evidente.

O futebol está longe de ser exato. Portanto, nem sempre um investimento maior significa mais sucesso. No entanto, no médio e no longo prazo a diferença de receita provoca um desafio para a gestão de quem recebe menos.

Desde a implosão do Clube dos 13, em 2011, o futebol brasileiro adotou negociação individual de direitos de transmissão. Essa prática já valia para outros contratos, ainda que receitas de outras naturezas fossem menosprezadas pela maioria.

Enquanto esse modelo sobreviver, é fundamental que os clubes brasileiros entendam as consequências. É impossível que equipes com faturamento menor sigam tentando competir em igualdade. É imprescindível que elas assimilem a diferença de receita.

Isso inclui a comunicação, é claro. O Campeonato Brasileiro tem como bandeira o equilíbrio. É a competição em que pelo menos dez ou 12 clubes começam a temporada pensando em título. E isso está errado.

No início da temporada na Espanha, quantos são os times que pensam em título? Mesmo o Atlético de Madri, último campeão nacional no país ibérico, tem investimento estrangeiro e uma política mais austera do que Barcelona e Real Madrid, os campeões de receita do país.

Já passou da hora de os clubes com menor faturamento jogarem limpo com seus torcedores. “Entramos no Campeonato Brasileiro pensando em um lugar entre os dez primeiros da tabela”, por exemplo. Pelo menos enquanto sobreviver o atual modelo egoísta.

Essa não é uma comparação entre tamanho, história ou competência dos clubes. Pelo bem da instituição nos próximos anos, porém, uma equipe que fatura menos precisa mostrar que é impossível competir.

Essa lógica ficaria bem mais evidente se o futebol brasileiro planejasse a temporada. A tese de que o dinheiro se esvaiu por causa da Copa do Mundo é fácil, mas todo mundo sabia que haveria uma Copa do Mundo. Difícil é encontrar um meio para compensar os meses sem receita.

Já passou da hora de os clubes brasileiros estarem menos suscetíveis a intempéries do mercado. Palmeiras, Santos e São Paulo não têm um patrocinador máster atualmente, por exemplo. Ainda assim, investem muito na montagem de seus elencos. Será que essa conta fecha?

A primeira pergunta é por que os clubes brasileiros atraem poucos patrocinadores. O Manchester United, que acaba de incluir na camisa a Chevrolet, tem 38 aportes de fora da Inglaterra. Quantos são os parceiros comerciais do Corinthians ou do Flamengo, independentemente d
a origem?

A segunda pergunta é como isso afeta a receita anual. Clubes podem ficar meses sem receitas milionárias de patrocínio, mas reclamam por passar alguns dias sem bilheteria? Não parece lógico.

A terceira pergunta é por que, em um cenário de baixa, clubes brasileiros seguem investindo e gastando milhões em folhas salariais inchadas. Não adianta ter um carro importado se você não tem onde morar.

Os questionamentos e os problemas do futebol brasileiro são cada vez mais comuns entre os clubes. Enquanto a mensagem para os torcedores for truncada, porém, vamos seguir pensando que a crise é do mercado, e não do modelo. As equipes nacionais choram coletivamente, mas são individualistas ao buscar soluções.