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A função do observador técnico nas categorias de base

A captação de atletas é um processo contínuo nas categorias de base. Identificar o talento nas diferentes faixas etárias, detectar seu potencial de desenvolvimento de acordo com o perfil do clube e decidir sobre sua aprovação são procedimentos complexos que podem definir o sucesso do projeto de formação do clube no médio prazo.

Com a profissionalização constante da modalidade nos últimos anos, o referido processo (tradicionalmente conduzido pelos olheiros) tem adquirido um caráter mais objetivo e criterioso. Neste cenário, os olheiros devem se adequar as novas exigências do clube para permanecer como profissional responsável pela captação, ou então, se o clube ainda não se adequou a atual realidade do mercado e ainda pratica procedimentos ultrapassados, deve ter ciência que estará potencializando o erro e, consequentemente, o fracasso.

A atual realidade do mercado abre espaço para a função do observador técnico. Devidamente contratado pelo clube, este profissional deve ser parte efetiva de toda a cadeia produtiva para direcionar suas ações nas principais demandas existentes: formação das categorias iniciais e peças de reposição para carências.
Ter esta função atuante em um clube significa otimizar custo e tempo, dois elementos indispensáveis em qualquer empresa que vislumbre lucro e sustentabilidade.

Para a composição das primeiras categorias de formação, é função do observador técnico descobrir onde estão os talentos da região. Para isso, acompanhar campeonatos regionais, fazer visitas em escolinhas, promover competições internas e seletivas patrocinadas pelo clube são alternativas eficientes para a captação de jogadores. Clubes com maior estrutura podem realizar estes procedimentos em outros locais com um caráter de monitoramento para futura aprovação e inserção no projeto de formação.

Nas categorias de especialização, a partir do sub-14, em que já é possível alojar o jovem atleta, o observador técnico deve atuar como um filtro quantitativo e qualitativo. Quanto mais velho for o atleta, maiores devem ser as exigências prévias para a chegada ao clube. Pesquisa e confirmação de competições anteriores, análise de DVD’s e buscas por referências no antigo clube e com profissionais que trabalharam com o jogador são procedimentos que podem ser realizados para tornar o processo de captação mais assertivo.

Com a eficiência da atuação do observador técnico o clube pode adquirir uma imagem positiva sobre sua captação e, ano após ano, se tornar atrativo para o ingresso de novos talentos. Seja pelo menino, que mesmo com pouca idade sabe quais são os melhores clubes formadores, ou então pelos pais, que sempre buscam os melhores lugares para seus filhos. Além disso, há indícios de que quanto melhor e mais antecipada a captação do clube, menos suscetível será a atuação do empresário e a divisão de direitos econômicos dos jovens atletas.

É importante mencionar que a atuação do observador técnico não exclui a responsabilidade dos demais funcionários do clube, especialmente da área técnica, de contribuírem com a captação. O que deve ficar claro é que este suporte, abastecendo o observador com atletas em potencial para o preenchimento do banco de dados e posteriores avaliações, deve ser direcionado ao clube. Infelizmente, ainda é corriqueiro verificarmos atletas que chegam ao clube vinculados ao treinador e não a instituição.

Alguns clubes brasileiros já possuem observadores técnicos espalhados pelo país e iniciam os trabalhos no sub-14 após uma longa e qualificada filtragem. Para atletas mais velhos, já existem clubes que integram jogadores num elenco já formado somente após rigoroso acompanhamento e avaliação feitos pelo departamento de observação técnica. Estes procedimentos facilitam a atuação da comissão técnica que não perde parte do precioso tempo de treinamento dedicando a atletas fora do perfil procurado.

Não existem receitas, fórmulas ou padrão de atuação do observador técnico. Para cada clube e realidade as nuances da atuação deste profissional devem atender as necessidades relativas à composição das diferentes categorias. É fato, porém, que negligenciar esta função no competitivo mercado atual maximiza-se o risco do clube lapidar pedras quando poderia lapidar diamantes.

Abraços e até a próxima semana.

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Racismo na Libertadores

 A quarta-feira é, depois do domingo, o dia mais importante do futebol, quando milhares de torcedores aguardam ansiosamente pela chegada da noite para poder apreciar um bom jogo de futebol.

Entretanto, a quarta-feira de Libertadores foi um dia diferente. Ao invés de uma bela partida de futebol, assistimos à cenas lamentáveis que deram nó no estômago.

Tudo fruto da intolerância racial quando torcedores do Real Garcilaso, do Peru, insultaram o jogador Tinga, do Cruzeiro, a cada vez que ele pegava na bola.

As imagens correram o mundo, autoridades brasileiras prestaram solidariedade e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, pediu punição severa.

Criado no ano passado, o Tribunal Disciplinar da Conmebol está diante do maior caso de racismo da história do futebol sul-americano e terá a oportunidade de aplicar uma pena severa e extirpar este mal dos nossos gramados.

Segundo o código disciplinar da Conmebol, os atos dos torcedores podem levar a equipe peruana ao pagamento de multa e até obrigá-la a jogar com portões fechados, conforme estabelece o art. 12

Artículo 12. Discriminación y comportamientos similares

1. Cualquier persona que insulte o atente contra la dignidad humana de otra persona o grupo de personas, por cualquier medio, por motivos de color de piel, raza, etnia, idioma, credo u origen será suspendida por un mínimo de cinco partidos o por un periodo de tiempo específico.

2. Cualquier asociación miembro o club cuyos aficionados incurran en los comportamientos descritos en el apartado anterior será sancionados con una multa de al menos USD 3.000.

3. Si las circunstancias particulares de un caso lo requieren, el órgano disciplinario competente podrá imponer sanciones adicionales a la asociación miembro o al club responsable, como jugar uno o más partidos a puerta cerrada, la prohibición de jugar un partido en un estadio determinado, la concesión de la victoria del encuentro por el resultado que se considere, la deducción de puntos o la descalificación de la competición.

4. Se prohíbe cualquier forma de propaganda de ideología extremista antes, durante y después del partido. A los infractores de esta disposición les serán de aplicación las sanciones previstas en los apartados 1 a 3 de este mismo artículo.

Infelizmente, o Tribunal Disciplinar da Conmebol não tem se mostrado muito rigoroso em seus julgamento, da onde se projeta uma penalidade mais branda.

Não obstante isso, espera-se que os nobres julgadores adotem uma postura agressiva, pois a decisão deles pode mudar o futebol sul-americano para sempre.

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Volte sempre!

Há 30 anos, o líder da Democracia Corinthiana (que também deu certo pelo timaço que era) prometeu ficar no Brasil se as Diretas para presidente passassem no Congresso. Não passaram. Sócrates foi jogar na Fiorentina. Também por conta do endurecimento do regime no Parque São Jorge.

Agora, atritado com o clube que não quis conversar sobre uma saída para a Itália em janeiro, e desgastado pela liderança do Bom Senso e por algumas medidas que não ornaram no Corinthians, Paulo André (campeão da Libertadores e do mundo) vai para a China. Mas mantém a mente aberta como o diálogo para seguir ajudando na luta por um calendário melhor, pelas contas justas nos salários e nos clubes, pelos direitos de uma classe que não sabe a força que tem. Apenas a forca que garroteia e silencia.

De longe, Paulo André pode ser ainda mais importante, sem bater de frente com quem manda na CBF. Mas dialogando com gente poderosa que quer mudar o futebol. Como tanta gente boa e de bem sabe que é preciso.

Ele não foi o melhor zagueiro do Corinthians. Mas poucos defenderam tão bem o futebol quanto ele. Volte sempre!


*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

Leia mais:
Paulo André, jogador do Corinthians (parte I)
Paulo André, jogador do Corinthians (parte II)
Dossiê do Futebol Brasileiro

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Fim da carreira profissional, mas início de uma nova etapa

 Muitos atletas de alto desempenho irão se deparar com o gradual declínio de seu desempenho físico e de seu resultado de alto nível de excelência no futebol. Esse processo traz uma incerteza natural no atleta durante sua carreira profissional e em alguns casos podem até gerar elevados níveis de estresse. Aos poucos, os atletas perdem aquela programação e rotina cotidiana, causando uma sensação de estarem perdidos logo que suas carreiras como atletas profissionais.

Mas, nem tudo deve ser encarado como ruim numa transição ao deixar o esporte competitivo, devemos reconhecer que existem algumas vantagens que a transição pode trazer. Mas você deve estar se perguntando: quais vantagens?

Inicialmente todos os atletas que alcançaram a excelência em sua carreira são capazes de aplicar o que aprendeu e utilizou para conquistar seus objetivos no esporte em novos caminhos que seguirá a partir deste ponto. O fato de suas capacidades físicas e técnicas diminuírem não significa que este atleta seja menor dos que as outras pessoas por conta disso, ele na verdade necessita de apoio de um coach para conseguir canalizar parte de sua capacidade de concentração para atingir outras metas em sua vida. O desafio neste momento é conseguir viver a partir de agora aprendendo continuamente, crescendo de forma sempre positiva e aproveitando a melhor e mais positiva concentração que ele possui.

Para contribuir com essa reflexão trago algumas sugestões fornecidas por Terry Orlick com base em informações fornecidas por outros atletas que já passaram por estas transições, são seres humanos que antes da decisão de se aposentar da carreira de atleta profissional sugeriram que o atleta que passará por este momento faça alguma das ações a seguir.

• Encare seu desenvolvimento pessoal através da educação, do trabalho e do relacionamento com amigos e familiares como parte integrante do seu programa global de treinamentos;

• Reserve tempo para relaxar e aproveitar os bons momentos fora do seu esporte;

• Modifique sua rotina fora da temporada. Estude algo, faça cursos, passe mais tempo junto a natureza ou faça algo que lhe fornece prazer;

• Pense nas transições como oportunidades de entrar numa nova fase da vida, aprender algo novo, crescer, desenvolver-se, contribuir em outras áreas, enfim aproveitar a vida.

Os mesmos atletas que contribuíram com Terry Orlick nas sugestões acima, também forneceram sugestões para serem tomadas depois da decisão de encerrar a carreira profissional.

• Uma vez tomada a decisão de efetuar a transição, deixe claro para sua família e para seus amigos que você gostaria de ter o apoio de todos eles. Mostre a eles que existem algumas maneiras específicas pelas quais podem lhe dar esse apoio;

• Considere a possibilidade de empreender outras buscas interessantes, outros tipos de treinamento, aventuras ou oportunidades, em áreas nas quais você já tenha facilidade ou pelas quais você se interesse;

• Dentro do possível procure troca experiências com outras pessoas que estejam passando por uma transição semelhante, compartilhe suas ideias e sentimentos sobre experiências, progresso, dificuldades e adaptação a um novo estilo de vida;

• Se a transição estiver lhe causando depressão, talvez você deva discutir suas preocupações com alguém próximo a você ou procurar ajuda de um coach profissional que possa contribuir com um trabalho de planejamento pessoal, educacional, de carreira, de negócios ou até mesmo de lazer.

Sinceramente penso que o atleta que irá viver uma transição na carreira profissional não deva viver esse momento sozinho, ele pode e deve contar com o serviço de um coach em que confie para que todo esse trabalho possa lhe fazer sentido e assim sua transição seja eficaz e duradoura.

E você, concorda? Até a próxima.

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A Copa e a rebeldia (com ou sem) causa – parte 03/03

Continuando a análise…

Do limão, a limonada. O velho ditado diz muita coisa para este contexto. Ou, de outra máxima: “se não é possível lutar contra o inimigo, junte-se a ele”. Portanto, vamos tratar de transmitir uma imagem melhor do Brasil para o mundo.

Temos problemas, sim, é fato. Somos um país em construção, motivo pelo qual as transformações, abruptas ou não, devem fazer parte deste desenvolvimento histórico. Também não estou propondo que joguemos tudo para debaixo do tapete, tampouco querendo justificar o que se chama como “gasto excessivo com os megaeventos” como fundamento para desvios ou atendimento àquilo que se classifica como prioritário em um governo (saúde, segurança e educação), pois ali gerimos muito mal os recursos também.

O que quero dizer é: já que a Copa está aí e pouco fizemos para ou tirá-la do Brasil (de 2007 a 2011, quando ainda não tínhamos iniciado a todo vapor as megaconstruções) ou ajudarmos para o seu pleno aproveitamento no sentido de desenvolver tanto o futebol nacional quanto áreas correlatas e suplementares; que consigamos minimamente tirar algo de positivo do que ainda resta, até julho de 2014.

Não será incentivando a não vinda de turistas estrangeiros que contribuiremos para um país melhor. Muito menos incentivando a não entrega da Copa como a solução para todos os nossos problemas…

Aos bons, que querem um país melhor, que se candidatem nas próximas eleições, que terão (pelo menos) meu voto. Aos que não querem se envolver politicamente, que protestem na urna ou que façam protestos / denúncias / reclamações em fóruns qualificados, com efetiva apuração de fatos.

Apenas desta maneira é que vislumbro a conquista de grandes e positivas transformações!!!

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A importância de conhecer o público

Nos últimos anos, canais de TV e salas de cinema do Brasil têm vivenciado uma explosão do número de filmes dublados. Licença para uma constatação extremamente pessoal: eu detesto filmes dublados. Em uma ocasião eu cheguei a procurar a administração de um cinema para reclamar sobre o altíssimo número de atrações assim. “É resultado de pesquisa. A maioria prefere assim”, respondeu o rapaz que trabalhava na empresa.

Continuo achando que filmes dublados são detestáveis. Continuo desistindo de frequentar qualquer sessão ou ver qualquer atração na TV se não há opção de áudio original. Mas desde a resposta do funcionário do cinema eu não discuto mais a opção.

A questão é que a rede de cinemas se esforçou para entender o que o público dela prefere. Ela não deixou de oferecer filmes com áudio original, mas aumentou a incidência de atrações dubladas porque identificou que há mais pessoas que consomem assim.

Corto para o futebol. No último sábado, o Maracanã foi palco de um Fla x Flu válido pelo Estadual do Rio de Janeiro. Um jogo com várias atrações, a começar pela rivalidade acirrada pelo desfecho do Campeonato Brasileiro de 2013 – o Flamengo e a Portuguesa foram punidos pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), perderam quatro pontos e evitaram o rebaixamento do Fluminense.

Os ingressos para o jogo de sábado oscilaram entre R$ 100 e R$ 300. Havia opções mais baratas para quem é sócio-torcedor e havia a possibilidade da meia-entrada, é verdade, mas esse era o intervalo para as “pessoas comuns”.

A diretoria do Fluminense chegou a abrir negociação para reduzir os preços. A possibilidade foi rechaçada pela cúpula do Flamengo, mandante do clássico de sábado. Resultado: pouco mais de 15 mil pagantes no Maracanã.

E qual é a relação entre os filmes dublados e os ingressos de R$ 100? Ao contrário do cinema, o futebol não tenta entender qual é o perfil de público que frequenta estádios. Tampouco busca informações sobre as pessoas que pretende atrair.

Ingressos que oscilam de R$ 100 a R$ 300 levam a um estádio um público muito diferente das pessoas que iriam se as entradas estivessem em uma faixa de preço mais baixa. A mudança no poder aquisitivo carrega uma mudança profunda no perfil e no repertório desses consumidores – infelizmente, diga-se.

Um cidadão que decidiu levar a família ao estádio, por exemplo, desembolsou R$ 300 ou R$ 400 apenas com ingressos. Ainda há os custos de alimentação, transporte e conveniências (estacionamento ou “flanelinha”, por exemplo). É um programa que passa facilmente a casa dos R$ 500.

Agora, alguém já se preocupou com o tipo de espetáculo que esse perfil de gente quer ver? Alguém já quis saber qual é o tipo de comida que essas pessoas gostariam de ter em um estádio? E que tipo de produto elas consumiriam?

Alguns clubes de futebol no Brasil trabalham com conceitos de lojas móveis e levam produtos oficiais para todos os jogos. Mas essas lojas levam o mesmo portfólio para qualquer região e qualquer perfil de público.

E a promoção, então? Não há como promover um evento sem saber que tipo de gente você quer levar. Os canais e as estratégias são necessariamente afetados por esses dados.

Notem que aqui não há uma discussão sobre o que representa essa precificação do clássico. É algo diferente, que pode ser abordado em outro momento. A questão é simplesmente conhecer quais são as pessoas que frequentam um jogo de futebol e oferecer um produto condizente com o que elas esperam.

O cinema apostou em filmes dublados porque identificou que essa era a vontade de um grupo de consumidores que as grandes redes queriam atrair. Todo o restante da experiência é moldado por esse perfil.

O futebol, em contrapartida, oferece uma experiência padronizada, sem personalidade. Há o mundo dos camarotes, é verdade, mas essa seara é usada no esporte muito mais para relacionamento do que para venda direta.

Entre as pessoas comuns, não há qualquer estratégia direcionada. Isso vale para antes, durante e depois dos eventos.

Sem isso, é impossível fazer uma promoção adequada de qualquer evento. E sem uma promoção adequada, é impossível aumentar a quantidade de pessoas que vão ao estádio. E sem mais pessoas, é impossível aumentar as receitas geradas no dia da partida (restaurantes, lojas oficiais e outras fontes).

Ainda que de forma incipiente, o futebol brasileiro tem várias iniciativas voltadas a conhecer mais o público. Os planos de sócios das principais equipes do país são atrelados a pesquisas e criação de banco de dados, por exemplo. No entanto, isso ainda não serviu para ocasionar nenhuma mudança profunda na estrutura de evento.

Sabe o tal “padrão Fifa”? Ele existe, entre outras coisas, porque a entidade quer atrair aos estádios um determinado padrão de pessoas. A instituição quer gente com poder de consumo porque isso tem um valor maior para patrocinadores, parceiros e licenciadores das marcas.

E no futebol brasileiro, qual é o padrão? O do clássico do Rio de Janeiro ou o que foi apresentado às 32 pessoas que foram assistir a Ituano x Oeste, válido pelo Campeonato Paulista, realizado em Catanduva?

Já passou da hora de o futebol brasileiro entender que eventos genéricos estão mortos. É fundamental conhecer as pessoas que frequentam os jogos. É fundamental entender como se aproximar mais delas e em que pontos os clubes podem ganhar com isso.

Sem esse entendimento, qualquer discussão sobre preço é inócua. É claro que os ingressos para o clássico do Rio de Janeiro estavam fora da realidade de preços da população brasileira, mas esse não é o pior da história. Se os altos preços fossem fruto de estratégia para atrair um determinado público, menos mal.

O maior problema não é simplesmente o preço. O problema é determiná-lo por simples lei de oferta e procura, sem pensar no que isso acarreta.
 

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Antecipação

O futebol moderno demanda, cada vez mais, rapidez de raciocínio e de execução nos movimentos protagonizados pelos jogadores individualmente.

Coletivamente, isso se transforma em domínio do jogo, uma vez que, ao se antecipar ao adversário e à leitura do cenário – muitas vezes, de forma intuitiva e assentada na complexa trama neural no cérebro – uma equipe se sobrepõe à outra em busca dos gols e das vitórias.

A antecipação é favorecida pelo treinamento, pela repetição, pela sucessão de erros e acertos que fazem com que os comportamentos sejam automatizados de acordo com cada circunstancia que se apresenta nas situações de jogo.

Entretanto, ao contrário do que se possa imaginar, não existem poderes premonitórios, esotéricos ou sobrenaturais quando se trata desta capacidade de prever analiticamente variáveis, executar movimentos e alcançar resultados.

Os mais modernos estudos da neurociência apontam para a direção de que, sim, é possível treinar a mente humana para que a capacidade motora seja aperfeiçoada. O resultado é o corpo e a mente agindo em sintonia e deixando perplexos os admiradores dos grandes craques do futebol.

É disso que vem a expressão “como é que ele consegue fazer isso?” quando uma jogada espetacular acontece nos gramados.

Porém, a cultura, a história e a formação do povo brasileiro sofreram com o pendor das invocações religiosas, em contraponto à racionalidade e ao pragmatismo.

Fosse para explicar o sucesso. Fosse para entender as tragédias.

Sempre a explicação está fora do sujeito. Nunca dele faz parte.

Às vésperas de Copa do Mundo no país e, na esteira, de eleições majoritárias, o que impera é a ansiedade por encontrar culpados pelo sucesso e pela tragédia.

Ansiedade é uma das piores sensações que se pode vivenciar. Paralisa o corpo. Entorpece a mente. Prejudica a visão e a capacidade de crítica e execução.

Não é fato novo a realização da Copa do Mundo no Brasil. Foram sete anos de tempo para se preparar e antecipar-se aos problemas.

Ou só agora o quadro de falta de infraestrutura no país é evidente? Problemas de segurança, transporte, educação, capacitação profissional jamais existiram fora do contexto da Copa do Mundo?

E os órgãos de fiscalização e controle, onde andavam antes e ao longo das obras – incluindo estádios – para que cumprissem seu dever legal e não deixassem haver desperdício e descaminho de dinheiro público?

O problema do Brasil é a transferência de responsabilidade. Como país, parecemos um filhinho mimado que não recolhe e lava a louça do almoço porque sabe que a mãe vai fazer, porque sempre foi assim na casa dele…

Logo, na conjunção de eleições e Copa do Mundo, toda sorte de argumento enviesado pode sofrer apropriação indébita pelos espertalhões.

E os há na política e no futebol aqui no Brasil. Porque ambas as instituições fazem parte da nossa sociedade.

Se você não quer que o Brasil sedie mais uma Copa do Mundo daqui a 50 anos, comece desde já a assumir sua parcela de responsabilidade na decisão e vote bem em outubro.

Se você quer, o caminho é o mesmo.

Mas, sugiro se antecipar a esse momento e começar, desde já, a avaliar o cenário.

Não tem salvação divina ou extraterrena.
 

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O futebol nas páginas policiais

Esta semana cerca de cem torcedores invadiram o centro de treinamento do Corinthians na zona leste de São Paulo ameaçando funcionários e jornalistas, bem como obrigando os jogadores a se refugiarem em uma sala com o consequente cancelamento do treino.

Segundo funcionários do clube, o grupo de torcedores teria, ainda, furtado coletes, equipamentos de treino e celulares.

Diante disso, a ansiedade pelas contratações e jogadas neste início de temporada está sendo substituída pela apreensão.

Alguns torcedores não satisfeitos com a violência dentro dos estádios de futebol acabaram invadindo o Centro de Treinamento de seu Clube e protagonizaram cenas lamentáveis fazendo com que o ano de 2014 comece como terminou 2013, em meio à violência.

Os atos de barbaridade de torcedores devem ser tratados como questão de segurança pública, eis que suplantam o desporto.

A criminalidade cresceu de forma alarmante e este fenômeno tem se refletido no âmbito futebolístico.

Enquanto a impunidade estiver presente, enquanto o Poder Público não adotar medidas enérgicas e efetivas e enquanto os organizadores de eventos esportivos continuarem desrespeitando os direitos do torcedor/consumidor, dificilmente o país vencerá a guerra contra a violência.

O momento exige atenção especial. Nova Iorque venceu a criminalidade aplicando a “teoria das janelas quebradas” e a tolerância zero. A Inglaterra trouxe paz aos estádios de futebol utilizando as premissas do “Report Taylor”. E o Brasil busca “bodes expiatórios”. Primeiro foram as bebidas alcoólicas, agora as Torcidas Organizadas.

Destarte, a minoria de Torcidas Organizadas violentas não pode retirar de outros torcedores o direito constitucional de livre associação para fins lícitos.

A solução para a crescente violência no país deve ser tratada como questão se segurança nacional com punições céleres e severas, além de investimento em educação e medidas pedagógicas.

O limite de tolerância está muito próximo, já que diariamente somos bombardeados com notícias de violência, culminando nas cenas deploráveis ligadas ao futebol, como ocorreu em Joinville e agora, no CT do Corinthians.

Lamentável que a violência esteja maculando uma das maiores paixões do brasileiro, que é o futebol. E, justamente, uma atividade esportiva, tão útil para a saúde e para a promoção da paz.

Dessa forma, é imprescindível que a sociedade civil se una e cobre soluções tanto do Poder Público, quando dos Organizadores de Eventos desportivos e que seja já, antes que não haja mais tempo.

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E agora, qual time usar?

Amigo leitor, em início de temporada é bem comum vermos os grandes clubes de futebol, principalmente aqueles que participam da Copa Libertadores da América, viverem o dilema sobre qual time utilizar no início dos estaduais: o time principal ou reservas?

Na verdade, acho que cada comissão técnica tem suas próprias crenças e convicções pessoais sobre qual caminho seguir em relação a preparação de sua equipe e também quanto a utilizar todos os atletas considerados titulares ou todos os reservas ou até mesclar titulares com reservas nas partidas iniciais da equipe.

Mas, vou incrementar o assunto indo além desta antiga e conhecida discussão, pretendo abordar o quão importante é a questão do planejamento para a temporada e o tamanho da crença que se desenvolve sobre o trabalho, com a consequente confiança de que mesmo com tropeços que por ventura apareçam o melhor está sendo feito para conquistar os melhores resultados na temporada. Aqui, então, quero contribuir com um auxílio para elevar a confiança no planejamento de início da temporada: as metas!

Tratando-se de metas a visualização constante destas pode ser um grande acelerador de confiança para uma equipe de futebol. Então uma vez que visualizar metas constantemente contribui com o aumento da confiança no sucesso, vamos abordar como fazer.

De acordo com Brian Tracy a visualização é composta por quatro partes que todos podemos aprender a praticar para nos certificarmos de conseguiremos utilizar essa enorme força da forma mais proveitosa possível todos os dias.

Com que frequência?
A frequência como primeiro aspecto da visualização é o número de vezes que se visualiza determinada meta como se tivesse sido alcançada ou visualizar a si mesmo tendo um excelente desempenho esportivo. Quanto maior a frequência com que se repete uma imagem mental clara, mais rapidamente esta será aceita pelo seu subconsciente e mais rapidamente se manifestará como parte de sua realidade.

Por quanto tempo?
A duração das imagens é o segundo elemento, ou seja, representa o período de tempo durante o qual você pode manter essa imagem em sua mente toda vez que evoca-la. Quanto maior for o tempo de visualização, mais profundamente ela de gravará no subconsciente.

Com que clareza?
A nitidez é nosso terceiro elemento da visualização. Há uma relação direta entre a clareza com que vemos uma meta ou um desempenho e a velocidade em que ela se materializa em sua realidade. Este elemento da visualização é o que explica a força das leis da atração e da correspondência.

Com que intensidade?
O quarto e último elemento é a intensidade, ou seja, a carga emocional que você deposita na sua imagem visual. No fundo esta é a parte mais importante da visualização!

Assim amigo leitor, penso que ao utilizar, por exemplo, uma técnica como esta, que possa contribuir com o aumento da confiança do que foi planejado para o grupo de futebol podemos compreender que o ponto de discussão não está centrado apenas na melhor estratégia para iniciar uma temporada, mas sim na medida que acreditamos que é possível atingir as metas estabelecidas a partir da confiança do grupo na estratégia adotada pela comissão técnica.

Até a próxima!

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Choque de realidade

Estados Unidos. Em um fim de semana, duas das maiores ligas esportivas do país tiveram eventos muito marcantes. No basquete, saiu David Stern, que ocupava desde 1984 o posto de comissário da NBA. No futebol americano, o Seattle Seahawks atropelou o Denver Broncos e venceu por 43 a 8 no Super Bowl, jogo que decide a NFL.

Brasil. No sábado, torcedores pularam muros e rasgaram cercas para invadir o centro de treinamentos do Corinthians. Armados com pedaços de pau, pedras e até facas, eles queriam fazer cobranças aos jogadores depois de o time ter sido goleado pelo Santos por 5 a 1. Houve roubos, depredação e intimidação dos atletas, que ficaram trancados em um vestiário por quase três horas, sem acesso a comida ou água. No domingo, a equipe do Parque São Jorge entrou em campo e perdeu para a Ponte Preta por 2 a 1 no estádio Moisés Lucarelli, em Campinas.

Brasil e Espanha. Há algo errado na transferência do atacante Neymar, que trocou o Santos pelo Barcelona no meio de 2013. O time catalão gastou um total de 86,2 milhões de euros com a transação, mas ainda existem muitas dúvidas sobre o destino desse dinheiro. Na última semana, o pai do jogador admitiu ter recebido 40 milhões de euros pelo que ele chamou de “adiantamento”. Entre versões e cobranças, ninguém conseguiu dar explicações convincentes para um caso que já causou a renúncia do presidente da equipe espanhola, Sandro Rosell.

Boas práticas não constituem um mundo perfeito. Há exemplos bons e exemplos ruins em quase todos os cenários. Entretanto, é necessário observar o contraste entre os casos para entender o quanto o futebol brasileiro pode evoluir.

Comecemos pelos exemplos dos Estados Unidos, então. David Stern, o cara que deixou o comando da NBA, foi artífice de uma mudança na liga. O campeonato tinha receita total de US$ 165 milhões por temporada quando ele assumiu, em 1984, e atualmente amealha US$ 5,5 bilhões por ano.

Um dos pontos nevrálgicos nessa revolução protagonizada por Stern foi a comunicação. Basta ver que a NBA, que faturava US$ 28,5 milhões por ano da TV quando ele chegou ao cargo, hoje tem receita anual de US$ 5,7 bilhões com a mesma fonte.

Stern fez do basquete um produto mais atraente para a TV. E isso não se faz apenas com mudanças no jogo, mas com práticas que envolvem postura dos atletas e criação de conteúdo.

Há anos a NBA deixou de ocupar espaço na mídia apenas com os jogos. A liga de basquete virou formadora de opinião. Um exemplo disso é a moda do cabelo raspado, que começou a se popularizar na liga antes de ganhar campos de outras modalidades.

Durante os anos em que comandou a liga, Stern tomou várias decisões questionáveis. Ele foi muito criticado, por exemplo, quando exigiu que jogadores usassem terno e gravata nas apresentações. Foi uma reação a uma pesquisa que mostrou que o principal consumidor da liga era o norte-americano de meia-idade e classe média.

Mesmo nesse caso, Stern mostrou uma diretriz que caracterizou a NBA nos últimos anos: a preocupação com o que o consumidor deseja. A liga não tem medo de abrir mão de costumes arraigados e buscar inovações que a aproximem do público. Na atual temporada, por exemplo, as franquias começaram a usar esporadicamente camisas com manga, cujo potencial de venda é superior ao das tradicionais regatas.

A liga que Stern moldou é extremamente alinhada com o que o público consome. E essa sintonia só é possível porque a comunicação da competição é extremamente eficiente. Não faltam exemplos de atletas, times ou jogos que são retratados de forma dramática, até romantizada.

O Super Bowl também é sobre isso, afinal. O jogo aconteceu no domingo, mas dizer que o jogo começou no domingo seria renegar tudo que a organização da NFL fez para transformar a partida decisiva no que ela é hoje.

O jogo entre Seahawks e Broncos foi realizado no Metlife Stadium, em Nova Jersey. O clima da partida, contudo, começou muitos dias antes.

O epicentro disso foi uma vila criada pela NFL em plena Broadway, em Nova York. Brincadeiras como um tobogã gigante, espaços para fotos com imagens e itens raros, interação com estrelas do passado. Tudo para fazer o público circular por ali durante muito tempo.

E o que há por trás do interesse de ter o público ali? A Disney ensina: o parque pode ter montanhas-russas e brinquedos mirabolantes, mas tudo se resume a se aproximar do consumidor para fazê-lo consumir mais e mais. A meta estabelecida pela NFL para este ano foi vender US$ 200 milhões em produtos alusivos ao Super Bowl. US$ 200 milhões. Apenas na semana do evento.

No Brasil, virou costume nos últimos anos o uso de camisetas promocionais para celebrar títulos. Normalmente, atletas vestem essas peças na comemoração e fazem uma espécie de anúncio dos produtos, que são comercializados depois. Um time que vence o Super Bowl costuma ter mais de duas centenas de artefatos alusivos ao título. Tudo isso disponível na loja do estádio, logo depois do apito final.

Agora uma pergunta: entre o torcedor que viu uma conquista pela TV e alguém que esteve no estádio, ainda emocionado por um título, quem tem mais chance de comprar um produto oficial? Ah, um adendo: o primeiro caso tem apenas uma camiseta à disposição. O segundo pode escolher entre centenas de artefatos, com larga variedade de preços.

O Super Bowl (também) é sobre varejo, afinal. Mas essa tática só é eficiente porque o evento sabe criar nos consumidores as condições ideais para isso. É aí que entram as diferentes estratégias de comunicação usadas pelo evento.

Na semana do Super Bowl, por exemplo, tudo é feito para mostrar o quanto o evento é grandioso. Até o atendimento à imprensa é grandiloquente, feito de uma vez, com todos os atletas no gramado a alguns dias da partida. Tudo é pensado para impressionar.

No Brasil, infelizmente, o que impressiona é o involuntário. Não há um aspecto sequer em que o esporte nacional crie deslumbramento por planejamento e mérito de médio ou longo prazo.

Desde o jeito de jogar – nossa característica é o drible, afinal – até a organização, o futebol brasileiro é o esporte em que o impressionante é o inusitado. Até quando o inusitado é absolutamente negativo para o evento, como a invasão de sábado.

Tente isolar os fatos: torcedores invadem o CT , cometem atos de vandalismo e ameaçam jogadores; time joga normalmente no domingo; diretoria dá entrevistas em tom nada contundente, cheias de platitudes. Dessa lista, qual foi o fato impressionante?

A invasão de sábado podia ter sido um estopim para muitas coisas. Podia ter servido como mote para um protesto no domingo ou para uma entrevista enfática de Mário Gobbi, presidente do Corinthians, na segunda-feira. O Corinthians podia ter impressionado por planejar um contra-ataque. Até aqui, nada disso foi feito.

Faltou ao Corinthians uma noção maior
. O time alegou ter entrado em campo contra a Ponte Preta porque tinha compromissos com Federação Paulista de Futebol (FPF) e TV Globo, que transmitiria o jogo ao vivo. E o compromisso com o torcedor comum, que se sentiu igualmente ameaçado pela violência de sábado e espera uma reação enérgica? E o compromisso com o futuro do futebol nacional?

Não fazer nada e não falar nada também são formas de comunicação. Formas que estão entre as piores, aliás.

E aí chegamos ao caso Neymar. Exemplos ruins não são um produto exclusivo do Brasil. Em muitos casos, a comunicação truncada e mal planejada é um modelo que rompe fronteiras de países.

É o caso do imbróglio envolvendo o atacante. O pai de Neymar admitiu que a N&N, empresa que ele criou para gerenciar a carreira do filho, recebeu 40 milhões de euros do Barcelona. O Ministério Público vai investigá-lo para averiguar se não houve fraude fiscal.

Neymar tinha um contrato com o Santos, que aceitou negociá-lo por um valor inferior ao da multa rescisória. Depois de um acerto entre a equipe e o Barcelona, o atacante pediu um alto montante para assinar com o time espanhol. É imoral, mas está longe de ser o suficiente para derrubar o presidente da equipe catalã.

Em Barcelona e em Santos, o caso está sendo conduzido de forma extremamente conturbada. Parece até que os personagens envolvidos também se surpreendem com a divulgação de detalhes de uma história que eles mesmos construíram.

A impressão é que todos nessa história acharam que não teriam de prestar contas. Nem com a Justiça, nem com o torcedor.

A polêmica sobre a transferência do atacante é ainda maior porque não foi tratada com um processo adequado de gerenciamento de crise. Faltou preocupação com temas como criação de conteúdo e aproximação com os consumidores. O risco de Neymar não é ficar mal com o Santos, com o Barcelona ou com a Justiça, mas debelar a imagem que ele construiu com as pessoas que o idolatram.

Crises como a de Neymar e problemas inesperados como o do Corinthians, infelizmente, acontecem em todas as searas. São corriqueiras. O tratamento dado a isso é que não pode ser.