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Conta-gotas

Triste, mas verdadeiro. O Brasil é, em muitos casos, o país da piada pronta, como costuma defender o brilhante colunista José Simão.

Neste fim de semana, a CBF protagonizou mais uma de suas jogadas de marketing sem consistência, planejamento e, sobretudo, legitimidade.

A entidade de administração do futebol brasileiro havia anunciado, em seu site, que apoiaria o Ministério da Saúde na campanha de vacinação contra o sarampo e a paralisia infantil.

Para isso, publicou um texto e imagens em seu site, como noticiado pelo portal Máquina do Esporte, afirmando que o personagem “Zé Gotinha” entraria em campo, pois ele era o verdadeiro “craque do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil” e marcaria “um gol de placa”, “fazendo diferença nas partidas mais importantes de nossas vidas”.

Entretanto, o que se viu antes, durante e depois dos jogos oficiais? Nada. Perdeu-se uma valiosa oportunidade de se planejar uma comunicação consistente e de mobilização para todo o país em torno de uma causa social de grande relevância, bem como de se institucionalizar esta prática no seio da CBF, avançado sobre a superfície do mero marketing oportunista.

Seria também uma forma inteligente de relacionamento da CBF, dos clubes e do futebol brasileiro, enquanto instituição, para se aproximar das famílias, em especial das crianças e das mulheres, com a devida legitimidade inerente à importância da causa em questão.

A CBF já demonstrara visão limitada há algumas semanas, uma vez que afirmava que os investimentos na CONSTRUÇÃO de Centros de Treinamento espalhados pelo país dariam conta de atender aos propósitos do “Fundo de Legado da Copa”.

A FIFA, pois bem, acabou com especulações e determinou que os USD 100 milhões serão investidos na promoção do desenvolvimento para além da infraestrutura, futebol feminino e de base, assim como programas sociais e de saúde para comunidades carentes, focando especialmente nos 15 estados que não ofereceram Sedes para a Copa do Mundo.

E o mais importante: o financiamento, o monitoramento e o controle serão de responsabilidade da FIFA. As propostas e a implementação dos projetos serão de responsabilidade da CBF, com base em planos específicos enviados para a FIFA e aprovados pela mesma. Seguindo os regulamentos da FIFA, todos os fundos oferecidos dentro do projeto serão submetidos a uma auditoria anual central, realizada pela KPMG.

Ou seja, espera-se que o controle rigoroso da FIFA – de mesma natureza e intensidade que demonstrara ao cobrar do país a entrega da Copa do Mundo – evite a sangria deste fundo naquilo que de mais comum pode ocorrer, que são as obras.

Obras são o caminho escolhido para desvios, superfaturamentos e a falsa sensação de que se está “fazendo a diferença” para transformar e desenvolver a sociedade.

Nesse caso, o mais importante é a criação de projetos e programas regulares, com indicadores, metas e resultados quantitativos e qualitativos, cujo objeto seja relevante e possa integrar profissionais experientes e engajar as comunidades e a elas entregar boas práticas sociais transformadoras.

O problema é que, apesar do cofre e da chave estarem sob os cuidados da FIFA, quem controla a cancela de quais projetos serão aprovados e como serão executados ficará a cargo e critério da CBF.

Portanto, a falta de visão de longo prazo e a sede de poder de longo prazo sugerem que a gestão desse fundo será feita, por aqui, a conta-gotas, pois é melhor manter todo mundo no soro do que promover a cura do nosso futebol.

Na semana que vem, a conta-gotas, abordarei exemplos positivos de Inglaterra e Alemanha no que concerne à Responsabilidade Social Corporativa no futebol.
 

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Atlético-MG e Cruzeiro na final: aspectos jurídicos

Mal terminou a noite história do futebol mineiro com a classificação de Atlético-MG e Cruzeiro para as finais da Copa do Brasil, começaram a surgir rumores sobre os locais das decisões e se haveria torcida única.

A questão da torcida única envolve a aplicação do artigo 17 do Estatuto do Torcedor, segundo o qual o torcedor tem o direito à existência de planos de ação referentes a segurança, transporte e demais fatores que digam respeito ao evento esportivo.

Diante disso, clubes, CBF, FMF e o Poder Público se reunirão a fim de avaliar a viabilidade da coexistência das torcidas de forma segura e viável.

Por outro lado, o Regulamento Geral das Competições assegura cota de ingressos para o clube mandante e o Estatuto do Torcedor garante ao torcedor, o direito de acesso aos eventos desportivos.

Além dos riscos de violência, outra grande questão, no que diz respeito aos jogos de torcida única é a sensação da busca por uma solução mais simples e mais restritiva aos direitos dos torcedores ao invés de serem implementadas medidas que, de fato, combatam o problema da violência.

Considerando os casos recentes de violência nos clássicos mineiros, os clubes e as autoridades envolvidas terão que ser bastante criteriosos.

No que diz respeito ao local da partida, nem o Regulamento Geral das Competições, nem o Regulamento da Copa do Brasil impedem que a partida ocorra no Independência. Portanto, esta decisão é exclusiva do Atlético.

Interessante observar que a escolha do local da partida pode ter uma influência marcante no resultado final, eis que, segundo o Regulamento da Copa do Brasil (art. 13), em caso de partidas entre dois clubes da mesma cidade e disputadas em mesmo estádio, não existe o critério de gols fora de casa para desempate.

Assim, se Atlético e Cruzeiro se enfrentarem em duas partidas no Mineirão, será campeão aquele que marcar mais pontos, ou que tiver o melhor saldo de gols, independente do mando de campo.

Doutro giro, se houver uma partida no Independência e outra no Mineirão, os gols de Cruzeiro no Independência ou do Atlético no Mineirão poderão definir o campeão da segunda maior competição do país. 

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Como promover o bem-estar na transição de carreira

As transições numa carreira esportiva são fatos ou momentos que todo atleta irá passar ou vivenciar, isto porque essas fases são inerentes à vida de qualquer um de nós e precisamos compreender como gerenciar nossas emoções e termos plena consciência sobre nossos pensamentos em situações como esta.

Para isso, torna-se importante que todo atleta em fase de transição para uma nova carreira, reconheça que uma nova etapa de vida se inicia e com ela talvez sejam exigidos novos comportamentos e atitudes por parte deste indivíduo.

Como sabemos, nossos hábitos pessoais e estilo de vida impactam diretamente a nossa saúde física e mental e justamente por este motivo, muitos atletas ao chegarem ao momento da transição para uma nova carreira não conseguemmanterem-se saudáveis e com isso acabam por sentir dificuldades em avançar numa nova direção profissional ou minimamente para manter sua saúde física e mental em seu melhor estado.

Pelo exposto acima podemos ter em mente que uma boa forma de se iniciar um trabalho de coaching com atletas em momentos como este é contribuirmos com a promoção de mudanças comportamentais que podem se mostrar efetivas na prevenção de doenças associadas a maus hábitos adquiridos.

Compartilho com vocês uma ferramenta que contribui muito nesse trabalho, o Pentáculo do Bem Estar (PBE) de Nahhas (2003). O Pentáculo do Bem-estar (PBE) é uma demonstração gráfica dos resultados obtidos através de um questionário do perfil do estilo de vida individual, que inclui características nutricionais, nível de estresse, atividade física habitual, relacionamento social e comportamentos preventivos, com intuito de facilitar a visualização dos temas abordados.

A utilização do Pentáculo pode trazer clareza e transparência ao atleta sobre quais os aspectos de sua vida abordados na ferramenta (Nutrição, Atividade Física, Comportamento Preventivo, Relacionamento Social e Controle do Estresse) estão promovendo bem-estar em sua vida e quais estão abaixo do aceitável para ele. Os pontos que não estejam desenvolvidos são claramente alvos de novos planos de ação que gerarão mudanças de comportamento afim de elevar a percepção real de bem estar na vida dele, com isso facilita-se uma evolução em direção ao melhor do seu estado global enquanto ser humano. Aí sim, a partir deste ponto de trabalho inicial e de sua melhoria em relação ao bem-estar, podemos atuar em outros pontos da vida do atleta que estejam mais relacionados a busca por uma nova direção de carreira.

Até a próxima.

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Por que é tão difícil planejar o futuro do futebol?

Há uma questão muito latente no mundo do futebol que evidencia a dificuldade de vermos o desenvolvimento deste mercado por meio de uma curva com crescimento exponencial: todos querem deixar uma marca e construir a própria história dentro do clube.

Esse conceito é, em partes, resultado do formato de constituição dos clubes, que é feito por meio de ciclos, geralmente atrelados às eleições presidenciais e também aos campeonatos – a característica das disputas acaba por gerar, ironicamente, um vício na forma de gerir uma entidade esportiva, que é totalmente diferente do modelo que se percebe no meio corporativo.

Como cada dirigente quer deixar sua marca na história do clube, ao novo presidente não interessa formar jogadores para o futuro ou estar entre os 10 primeiros do campeonato deste ano para ficar entre os 5 nos anos subsequentes e, de alguma maneira, conquistar títulos por força de um processo natural de gestão, ou seja, uma consequência do bom trabalho.

Ao dirigente, o que vale, é ser vitorioso, pois dali a 2 ou 4 anos estará fora da gestão do clube e, portanto, não interessa o passivo que deixou para seus sucessores. Interessa, pois, o resultado esportivo.

Por tal constatação é que o desenvolvimento dos clubes é cíclico, em formato de espiral, e não linear para cima e para a frente!!! A cada novo mandato se tem uma nova forma de aprender a gestão, sempre tendo como pauta a conquista da próxima competição, com a falsa alegação de “que a torcida vive de vitórias” ou “do contrário, o clube irá acabar”. Por isso há estagnação e, às vezes, até retrocesso: cada um quer construir a história do seu jeito, sem tentar aprender lições do passado.

A boa dose de individualidade misturada com a prepotência e o orgulho pessoal impedem que os clubes construam bases sólidas de planejamento para uma ou mais décadas. E o pior: muitos dos que entram nos clubes acham que entendem de futebol, uma vez que acreditam acumular alguma expertise do lado de fora, olhando a todos os jogos e noticiários, sem ao menos ter estudado a fundo a matéria – é o vício do “espectador experiente”.

Essa é a razão pela qual o futebol brasileiro permanece aquém de muitos mercados globais. E continuaremos a ver esse retrocesso ao longo de alguns anos se não modificarmos drasticamente as estruturas de poder dentro destas instituições. O Prof. Dr. Gustavo Pires assim nos ensina:

“A ordem desportiva institucionalizada já não consegue acompanhar o ambiente de mudança acelerada dos nossos dias (…) O desporto, de uma maneira geral, está envolto em um processo de desagregação acelerada que faz com que toda a sua estrutura se esteja a modificar rapidamente, sem que os próprios protagonistas compreendam com que lógica e em que sentido. Nesta conformidade, podemos dizer que, no quadro da sociedade atual, as transformações se processam, na maioria das vezes, a uma velocidade maior do que a capacidade de análise que as organizações e as suas lideranças revelam ser capazes de processar. Em consequência, limitam-se a correr atrás dos acontecimentos”.

Não existe segredo: o conceito de se formar atletas, fidelizar torcedores para que se atraia investimentos de patrocinadores pela força da marca, além de poder gerar melhores dividendos com mídia e licenciamento está consagrado mundo afora. A consolidação destes fatores leva tempo e o trabalho deve ser bem feito de forma constante e perene, com resultados alcançados no médio-longo prazo.

Precisamos pensar em um modelo que atenda a angústia dos dirigentes em deixar sua marca com a necessidade da organização em se planejar e construir algo positivo para o futuro. Do contrário, continuaremos a “chover no molhado” quando falarmos em planejamento, projetos, processos (…) para o atual quadro de dirigentes e o atual modelo de constituição dos clubes. 

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Lusa, a garota do Norte

Se você for pro Norte, me avisa e veja se ainda tem um time de futebol lá no Canindé.

Se você chegar na Marginal e enxergar um monte de camisas verdes e vermelhas, mande um abraço para cada uma. Abrace bem forte e nem diga o porquê.

Abrace.

Se você chegar lá e bandeiras estiverem tremulando, saiba que você está no lugar certo, mas com gente errada por perto. Não as que estão vibrando por nada que é tudo. Mas pelos errados e incertos que deixaram as coisas quebrarem em um mundo de quebradeiras econômicas e quebradas perdidas.

Se você for para o Norte da capital e enxergar uma arquibancada vazia, saiba que nunca foi assim. Não são muitos, mas parecem tantos. Serão cada vez menos, mas muito mais que muitos tantos.

Eles são fortes. Eles são de luta. Eles são Lusa.

Força a esses.

Forca àqueles!

Os que destorcem. Os que não torcem. Distorcem. Destronam. Detonam. Derrubam.

Os fortes são os que são Portuguesa sem saber como quando quanto com quem por quem porquê.

Quando você for para o Norte da cidade, talvez você encontre gente sem Oeste de Itápolis, sem Leste do Corinthians, sem Sul do São Paulo, sem Norte, bússola tonta, biruta besta, súmula adulterada.

Você vai ver no Canindé gente de verdade. Gente que está perdida, mas não vencida.

Muito menos vendida como os vendilhões do templo de segunda categoria e terceira divisão.

Você que vai pro Norte da capital vai ver gente que torce por um time que só sabe cair, só sabe sair.

Quando você chegar ao Canindé vazio de ideais e de gente, olhe bem. Você vai enxergar quem não está mais lá. Mas esteve lá para construir o estádio e o clube.

Gente que nem jogou por lá. Djalma Santos. Julinho. Ivair. Leivinha.

Estão todos lá em cada pedra perdida, em cada canto do campo de cimento amado.

Enéas está chateado com Badeco em um canto. Edu Marangon está lamentando com Jorginho. Zé Roberto e Rodrigo Fabbri só olham para o gramado.

Quando você for pro Canindé, diga àquele senhor que vende caldo verde e uns docinhos com nomes engraçados que eles são deliciosos. Mesmo que não sejam mais. Ou nunca tenham sido.

Nem lembro mais se eu comi docinhos por lá.

Tremoço, sim.

E como comi!

A memória é seletiva. A Lusa que não foi ao escolher quem a dirigiu e desgovernou e colidiu feio na Marginal.

Matando quem está dentro. Morrendo como no acidente de Dener.

Mas não é fatalidade. É fato. Foi mal feito. Foi desfeito. Fede. Apodrece.

Como o rio que não mais corre no Tietê. Morre por ali.

A Lusa não morreu. Mas vai matando.

Lembro a minha última visita ao Canindé para comentar algum jogo abaixo do nível da história do time de 1952, de 1955, de 1973, de 1985, de 1991, de 1995, de 1996, de 1998. O elevador parou de funcionar ao final da partida melancólica como um fado de Amália.

No mostrador de andar do último do elevador, tinha um ponto de interrogação.

O elevador não sabia onde estava. Para onde ia. Se estava. Se funcionava. Estava em dúvida. Dívida. Não sabia. Certamente não subiria mais. Provável que só descesse. E pra além do térreo. Pro segundo nível. Agora pra terceira.

Por quem a mandou das quintas do Pari pro quinto dos infernos.

Quem pariu o belzebu que pegue os lupas e os lanternas e vá viver e morrer nos idílios e llídios do fundo do tacho do STJD do capeta e dos capatazes incompetentes que foram além do poço. No fundo da fossa. Da vala comum onde enterraram nesse vale tudo gente que vale nada pela velhacaria que fez ou deixou fazer.

Não sei se é caso de polícia ou de incompetência.

Ou tudo ao mesmo tempo em dias de vacas macérrimas e burros acérrimos.

Só sei que eu peço pra quem for para o Norte nos próximos dias que prometem ser meses que deverão ser anos que abrace esses fortes.

Essa gente que não torce para ser campeã.

Torce para ser o que é – gente que gosta sem precisar de nada, nem de título, nem de vitória, nem de primeira, e, agora, nem de segunda.

É Lusa por ser Lusa. Basta.

Mas chega de tanta besta e de tanta bosta lá no Canindé.

Perdão pela palavra feia.

Mas tem mais coisa feia lá no Norte.

A queda da Portuguesa é mais que a derrota de um time e a derrocada de um clube.

É perda de uma identidade. De uma referência de luta. De uma reverência de clube.

De uma gente que tanto batalha, que Aljubarrota, que ajuda, que arrebata, que abarrota. Que perde o rei em Alcácer-Quibir, mas não a majestade, não a realeza, não a riqueza.

Dias pobres e podres no Canindé.

Não sei quando volto lá.

Para você que for ao Norte da cidade, mande um abraço a todos.

Eles estão precisando.

E se você não achar ninguém na terra arrasada, saiba que ali vai sempre ter muito amor. Um carinho que quem tem sabe.

Se você for para alguma feira lá pelo Anhembi ou pelo Center Norte, perto de onde o vento bate forte lá no alto do estádio e das cabines do Canindé, tente lembrar a quem anda vive e revive e resiste por lá que algumas vezes eles não foram o meu verdadeiro amor.

Mas que eles são o verdadeiro amor por um clube.

Bravos da Lusa, um brinde de vinho.

Verde, claro. 

 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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A TV aberta e a necessidade de desenvolver o jogo

A TV Globo exibiu na última quarta-feira (29) a vitória do Cruzeiro por 1 a 0 sobre o Santos em duelo válido pelas semifinais da Copa do Brasil. O jogo rendeu 19 pontos à emissora carioca no Ibope, e esse resultado fez com que o canal decidisse exibir ao vivo também a segunda partida entre mineiros e paulistas. E isso reativou um debate sobre o papel da televisão como agente desenvolvedor do futebol. Afinal, qual é a função da Globo?

 

Atualmente, a TV é responsável por pelo menos um terço do faturamento dos clubes de futebol no Brasil. É uma receita que tem peso preponderante no planejamento financeiro anual das equipes. Portanto, discutir isso é discutir a própria estrutura do futebol.

 

Essa estrutura mudou demais quando equipes brasileiras implodiram em 2010 o Clube dos 13, que funcionava como um fórum para discussões coletivas sobre direitos de transmissão. A instituição surgiu para ser muito mais do que isso, nunca cumpriu o propósito e tinha uma gestão extremamente discutível. O problema é: e depois?

 

O fim do Clube dos 13 deu lugar a negociações individuais das equipes com os interessados em direitos de mídia. Se antes havia alguém que pensava no todo (independentemente de fazer isso bem ou mal), hoje cada um briga pelo que acha melhor.

 

Entender isso é fundamental para pensar em como funciona a negociação. O time A conversa com empresas interessadas em seus direitos de mídia (a Globo, por exemplo) e recebe propostas por essas propriedades. A Globo teve de acertar individualmente com todas as equipes que disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro – somados, esses contratos custam mais de R$ 1 bilhão por ano à emissora.

 

A Globo paga pelo futebol como paga por um filme ou uma série. Todos esses produtos formam a grade da emissora e brigam por espaços nas transmissões do dia. Então, a direção do canal pensa nas opções, avalia o público que acompanha cada horário e cria uma escala entre esse portfólio.

 

O futebol ocupa a faixa de 22h da quarta-feira porque esse é o horário preferido pelas pessoas que veem o jogo na TV. Além disso, o futebol não entra no lugar da novela ou do telejornal porque a novela e o telejornal dão mais resultado no Ibope. Simples assim.

 

O horário do futebol pode ser horrível para quem vai aos estádios e pode prejudicar a exposição das marcas que investem no jogo, mas a TV não se preocupa com isso. E nem precisa se preocupar. O que vale para a Globo é o que dá resultado para a Globo.

 

O mesmo vale para a quantidade de jogos de cada equipe. A Globo transmite muitas partidas de Corinthians e Flamengo simplesmente porque tem resultados melhores com esses times.

 

No Campeonato Brasileiro de 2014, por exemplo, a Globo exibiu todos os clássicos que o Corinthians disputou até aqui. Em contrapartida, o canal não mostrou nenhum confronto regional sem a presença da equipe alvinegra.

 

Os dois melhores resultados da Globo no Ibope com o Campeonato Brasileiro foram registrados em clássicos. A emissora conseguiu 21 pontos com Corinthians x São Paulo e 20 pontos com Corinthians x Palmeiras.

 

A audiência é expressiva, mas ainda é pior do que os resultados da Globo com filmes e novelas. E é muito melhor do que jogos sem o Corinthians – o canal perde média de um ponto no Ibope quando exibe partidas de outras equipes paulistas, e cada ponto equivale a 65 mil domicílios sintonizados.

 

E qual é o único caminho para isso mudar? A negociação, é claro. A Globo está certa ao defender o que é relevante para a Globo, e alterações só vão acontecer se os clubes souberem brigar pelos interesses deles.

 

Hoje em dia, o único interesse que eles apresentam na negociação é a receita. Enquanto for assim, a Globo vai adaptar o produto futebol aos interesses da emissora.

 

Os clubes precisam pensar de forma mais abrangente e têm obrigação de zelar pelo futebol como produto. E para facilitar isso, é fundamental que eles trabalhem pela evolução do esporte.

 

O primeiro passo, portanto, é pensar em como o futebol pode ser um produto de maior relevância para a televisão. O segundo passo é pensar em que tipo de exposição é melhor e brigar por isso. Esses interesses devem nortear a discussão sobre os direitos de mídia (e não apenas de TV aberta).

 

É nesse processo que se enquadram questões como o equilíbrio. O Campeonato Espanhol optou por um modelo de negociação de mídia que prioriza Barcelona e Real Madrid, entre outras coisas, porque entendeu que o sucesso internacional dessas equipes era comercialmente mais relevante do que a repercussão da competição. O Campeonato Inglês preferiu uma liga forte a superpotências.

 

O Campeonato Brasileiro precisa decidir urgentemente um caminho, e isso não vale apenas para a divisão de direitos de mídia. Hoje em dia, a TV prioriza Corinthians e Flamengo, mas o futebol nacional não tem um plano focado na superexposição ou no posicionamento dos dois acima do restante.

 

O futebol brasileiro precisa discutir o futuro ideal antes de cobrar que a TV pense em fomentar o desenvolvimento do esporte. Se quem vende não está preocupado com a qualidade do produto, não é o comprador que vai se preocupar.

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O desafio dos alojamentos nas categorias de base – parte II

No início do ano foi retomada a discussão inicialmente proposta pelo Dr Alcides Scaglia sobre os alojamentos nas categorias de base do futebol brasileiro (parte I). Se, de um lado, temos milhares de atletas em formação aspirando por uma das escassas vagas na elite do futebol brasileiro ou mundial, de outro, temos a certeza de que muitos ficarão pelo caminho e seguirão novos rumos profissionais.

Um dado estatístico indicado pela Universidade do Futebol aponta que a fábrica de sonhos das escolinhas e clubes, na verdade, pode ser muito mais uma fábrica de frustrações uma vez que somente 1 a cada 3000 crianças que querem ser jogadoras de futebol conseguem ingressar no alto rendimento.

Sendo assim, o compromisso pedagógico de todos os clubes e escolas de futebol, representado pelos seus coordenadores, professores, treinadores, assistentes e preparadores deve ser o de instigar uma educação para a vida além do desporto. Um conflito e uma tarefa um tanto difícil, pois comumente encaramos o jogo de futebol como uma atividade física e não humana.
Somamos a este fato também, os nossos interesses pessoais e profissionais muitas vezes alheios aos sonhos das centenas de crianças, jovens e adultos que formamos durante a nossa trajetória profissional.

Após a primeira parte da coluna, mais reflexiva do que propositiva, alguns leitores se manifestaram com ponderações e comentários importantes sobre o cenário e as possibilidades da predominantemente engessada combinação atleta-alojamento.

J. G., pós-graduado em Gestão Esportiva, fez o seguinte apontamento:

“Creio que o ambiente dos alojamentos seja o mais cruel de fato. Quando se fala de talentos, nunca podemos esquecer que devemos gerir pessoas e não atletas. Talentos têm angústias, ansiedades, medos e outros comportamentos típicos de qualquer ser humano. A gestão das categorias de base deve passar por profissionais capazes de fazer a gestão de pessoas. Não só atrair o talento, mas desenvolver suas potencialidades como ser humano. E aí é que estamos longe do que se busca. Lembrar que apenas minoria atingirá o topo da cadeia profissional de futebol nos remete a necessidade de criar condições para que a outra maioria não seja uma legião de frustrados. Quem alimentou o sonho de crianças deve, no mínimo, ser responsável pelas consequências dos sonhos não realizados. Clubes que não partilham essa ideia são lobos do próprio sistema.”

Já M. S., técnico de futebol atualmente fora do país, deu a seguinte opinião:

“Tenho assistido vários jogos de jovens e uma das coisas que mais me chama a atenção é a "marra" da maioria da molecada. Independente se jogam no …, …, … ou … usam boné de aba reta, óculos escuros, brincos de brilhantes nas duas orelhas, o cabelo quanto pior, melhor, tênis da La coste, Asics, etc. Futebol que é bom, muito pouco. Mas creio que isso reflete o atual momento de nossa sociedade e é aí onde entra o papel dos clubes e treinadores, já que podemos influenciar diretamente no ambiente que rodeia esses jovens (alojamentos). Esta no nosso raio de ação. Mas será que treinadores e diretores que não valorizam o estudo e autoqualificação, apoiarão medidas que tornem os jogadores de certa forma menos alienados?

Não seria essa alienação, excelente para quem manda? Fazendo um paralelo com nossos governantes, não é pelo mesmo motivo que nenhum político investe com seriedade em educação?

Ter bibliotecas/videotecas nos clubes, jogos de mesa (xadrez, dama, banco imobiliário) que estimulem o raciocínio e a tomada de decisão, aulas sobre investimentos financeiros, entrevistas de televisão (através de acordos com universidades de jornalismo, numa ação ganha-ganha), ações solidárias e comunitárias com os jovens seriam algumas das ideias que eu buscaria implantar. E, definitivamente, qualquer iniciativa nesse sentido faria um bem danado não só ao futebol como ao país como um todo, isso não tenho dúvida.”

E por último, R. F., que trabalhava com crianças de 11 anos (ainda sem idade para ingressar nos alojamentos), em um clube tradicional do estado de SP.

“Gostaria apenas de passar uma experiência que vivi em 2013 e que tem certa conexão com sua coluna sobre os alojamentos dos clubes. Os meninos não ficavam alojados, porém, eram constantemente estimulados a buscarem informações, sobre o jogo, música, cinema e outros diversos assuntos em conversas informais e até mesmo nas explicações antes e pós-treino. Após um determinado tempo de trabalho, a mudança comportamental dos meninos, o linguajar e até mesmo o interesse por literatura foram notáveis. Trouxe até mudanças consideráveis na parte cognitiva no que diz respeito ao entendimento de jogo e do jogo proposto pela comissão técnica. Isso deixou bem claro, ao menos em minha opinião, que se estimulados corretamente e dentro de um ambiente saudável, não seriam todos os jogadores que só ouviriam funk, usariam o mesmo boné com a aba para o lado, o mesmo kit de 18 correntes no pescoço para competir com as 18 tatuagens espalhadas pelo corpo e combinarem com os únicos 18 verbos mal conjugados que eles conhecem. E não entenda isso como um comentário jocoso e preconceituoso, pois a tristeza mora em perceber quanto talento e inteligência são escondidos e desperdiçados por trás dos estereótipos que esses jovens seguem!”

Outros contatos também foram feitos, inclusive de um leitor que tem opiniões a respeito da formação de atletas em Portugal, porém, os três comentários supracitados são suficientes para identificar o elemento central da tarefa profissional com os jovens: a educação.

A coluna desta semana foi iniciada mencionando o professor Alcides Scaglia, grande referência em minha atuação profissional, e será encerrada da mesma forma.

Para ele, a educação com os jovens futebolistas não dever ser justificada como prevenção em caso de não obtenção do sucesso esportivo. Nestes moldes, seria como se ensinássemos para a derrota profissional (mesmo ciente que ela é estatística e potencialmente certa).

Como professores e inspiradores, devemos permanentemente educar para o êxito. Sob este viés, a educação tem como finalidade tornar o homem (e atleta) cada vez melhor que ele mesmo. E, a cada dia, ser melhor que você mesmo, faz todo o sentido. No futebol e na vida…

Na próxima coluna sobre o tema, serão discutidos alguns planos de ação para os jogadores em alojamentos.

Abraços e até a próxima. 

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América, Portuguesa, Petros e a perda de pontos

Segundo a legislação e regulamento, para um jogador poder participar de um jogo de futebol, ele precisa atender a alguns requisitos: ter um contrato de trabalho, estar inscrito no BID da CBF que é uma espécie de boletim que torna pública a inscrição dos atletas, não estar suspenso disciplinarmente e não ter excedido o limite de transferências (máximo duas).

A punição para a atuação irregular de um atleta é a perda de pontos.

O América escalou jogador de forma irregular em razão dele ter excedido o limite de transferências, a Portuguesa colocou em campo atleta suspenso e o Corinthians utilizou atleta antes da publicação do BID.

Os três casos tiveram resultados diferentes, eis que América e Portuguesa perderam pontos e o Corinthians foi absolvido.

O caso do Corinthians guarda uma peculiaridade que o torna diferente dos demais, pois, há uma divergência no entendimento.

Veja, o meia Petros teve seu contrato registrado na CBF no dia 01 de agosto, sexta-feira, sua publicação se deu no dia seguinte, sábado e ele atuou no domingo, dia 03.

Entretanto, há quem entenda que o jogador somente passaria a ter condições de jogo a partir do primeiro dia útil seguinte, segunda-feira, 04 de agosto. Doutro giro, pode-se interpretar que a condição de jogo se deu, independente de ser dia útil, ou não.

Já nos casos de Portuguesa e América, os atletas foram, indiscutivelmente, escalados sem condição de jogo.

Isso por si só já justificaria a diferença nos julgamentos. Mas, além disso, percebe-se uma importante evolução no entendimento do STJD.

Ora, a CBF como organizadora do futebol brasileiro tem a obrigação de assegurar a lisura das competições e, também, a regularidade da atuação dos jogadores e não pode transferir esse trabalho aos clubes.

Por isso, diante dos constantes casos de perda de pontos por atuação irregular de atleta, o STJD aponta para a necessidade da CBF organizar melhor o sistema de registros de forma a prevenir que clubes de boa-fé acabem perdendo pontos disputados dentro do campo, garantindo-se, assim, o resultado deportivo.

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Transição de carreira na base

Na coluna passada, comentei sobre a questão da seleção de talentos no futebol e hoje quero compartilhar sobre um tema muito importante para os atletas na base do futebol brasileiro. Todo atleta de alto rendimento passa por várias transições na sua carreira, mas existe uma que requer cuidado e atenção: a transição da base para o profissional.

Falta conscientização quanto ao tema planejamento de carreira esportiva, fato que pode levar um talento em potencial ao esquecimento e ao baixo rendimento.

A fase de desenvolvimento da carreira esportiva geralmente é feita a opção por uma determinada modalidade esportiva, em que as crianças passam a participar de competições regulares, e o nível de comprometimento passa a ser crescente, o que demanda maior organização da rotina do atleta. A fase posterior, chamada fase de excelência é aquela na qual o atleta assume que deseja investir em sua carreira esportiva, propiciando no caso do futebol a opção de profissionalizar-se. Um fato importante nesta etapa está relacionado ao estilo de vida do atleta, que passa a ser dedicado totalmente à performance esportiva.

Buscando compreender melhor a transição da fase do desenvolvimento para a excelência, descobrimos que esta é uma etapa de total dedicação, especialização do treinamento e muitas vezes oportunidade de profissionalização. Nesta transição, a orientação dos treinadores e demais profissionais do meio esportivo, como um Coach, é fundamental para que o atleta possa lidar positivamente com esse momento.

A partir da compreensão clara sobre a carreira esportiva, podemos elevar o nível de consciência dos atletas sobre a transição das fases acima comentadas e sobre como este processo resulta numa mudança de percepção por parte do atleta sobre si mesmo e o mundo, o que passa a requerer uma mudança de comportamento e nos relacionamentos pessoais do atleta.

Este trabalho de reflexão tem grande importância para estes atletas em transição, pois a carreira se constrói por uma sucessão de decisões ou escolhas que eles fazem ao longo de sua vida enquanto atletas. Decisões por impulso e inadequadas podem comprometer o desempenho esportivo do atleta, chegando ao ponto de promover um precoce encerramento de sua carreira esportiva.

Por este motivo é importante estar bem claro que uma carreira transmite a ideia de um caminho minimamente organizado no tempo e no espaço que de alguma forma todos os indivíduos desejam seguir, e neste processo estão envolvidos comportamentos e atitudes orientados para o objetivo de um crescimento na carreira e conquista de resultados profissionais e pessoais.

Penso que no caso dos atletas em transição da base para o profissional, passa a ser fundamental promovermos reflexões, o autoconhecimento, o planejamento adequado da carreira e a elaborarmos metas que possam contribuir para levá-lo ao sucesso no desempenho do alto rendimento esportivo.

Até a próxima!
 

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O papel do Estado no esporte

Como não poderia deixar de ser, o tema desta coluna é o mesmo que inundou as redes sociais nas últimas semanas, fazendo parte dos principais noticiários nos maiores veículos de comunicação do país, das conversas de bar e de negócios…

A política, parte importante da nossa vida e que afeta em muito aqueles que militam na indústria do esporte.

Apesar de não ter sido pauta efetiva dos presidenciáveis, o fato é que o atual governo precisará corrigir algumas distorções que ao meu ver conduziram as entidades do esporte a uma hiper-dependência dos recursos provenientes do poder público, o que não tem se mostrado positivo para o efetivo desenvolvimento do segmento.

Assim como na atividade econômica em geral, não se pode conceber um modelo que premie a ineficiência na gestão. Vê-se em muitos casos a aplicação de recursos públicos sem uma contrapartida do ente esportivo.

Não estou aqui falando de leis de incentivo ou investimentos em infraestrutura, que proporcionam legados e impactos relevantes para a sociedade e exigem projetos consistentes para serem conquistados. Tampouco abordo a questão dos projetos sociais e educacionais, que são obrigações constitucionais de investimento por parte dos entes públicos.

O fato é que o esporte de alto rendimento enquanto plataforma de entretenimento para se desenvolver nas próximas décadas aqui no Brasil precisa corrigir algumas demagogias culturais, emocionais e afetivas em relação ao poder público. É isso que o esporte e o governo precisam construir nestes próximos quatro anos de gestão…