O Internacional concluiu no último domingo (11) o capítulo mais triste de sua história esportiva. O time gaúcho dependia de uma combinação de resultados na última rodada para evitar o descenso à segunda divisão do Campeonato Brasileiro, mas não fez sequer a parte que lhe cabia: apenas empatou com o Fluminense no Rio de Janeiro. A marca do rebaixamento é indelével. Agora, resta saber como vai repercutir em curto e médio prazo. Como qualquer queda, a derrocada para a Série B do futebol nacional oferece três caminhos para os colorados: a prostração, a indiferença ou a autoanálise.
A prostração é demorar demais para entender que a vida segue. Não estou aqui para dizer como cada um deve curtir suas dores, mas é fundamental que uma instituição da grandeza do Internacional assuma logo que as derrotas fazem parte do jogo e que nunca é cedo demais para levantar a cabeça. Mesmo que as marcas e tristezas persistam, o clube precisa continuar.
A indiferença é igualmente perigosa. O Internacional não pode olhar para o Campeonato Brasileiro de 2016 como se nada tivesse acontecido. Foram quatro treinadores, erros diretivos e uma série de escolhas erradas de elenco, por exemplo. Celso Roth teve apenas 36% de aproveitamento, mas seguiu por 22 rodadas. Reforços como Ariel, Nico López e Seijas ganharam pouco espaço e quase nenhum protagonismo. Lesões prejudicaram o desempenho de atletas que já brilharam anteriormente, como Rodrigo Dourado, Sasha e Valdivia.
O maior risco de quem se prostra é perder as oportunidades que aparecem na vida que continua. Quem é indiferente tem de lidar com a chance de não aprender nada e passar novamente por frustrações similares.
O melhor caminho para o Internacional no momento é a autoanálise. O rebaixamento também é uma chance de olhar para trás e entender o que levou o clube a essa situação tão complicada.
Por isso, é perigoso que o clube tenha reagido tão rapidamente. Poucas horas depois da queda, a diretoria confirmou a contratação de Antonio Carlos Zago para comandar a equipe em 2017. O treinador acaba de fazer bom trabalho no Juventude e tem conceitos interessantes de estruturação. A questão aqui não é sobre ele, mas sobre o tempo necessário para repensar depois de uma queda tão profunda.
Até do ponto de vista de comunicação, seria bom para o Internacional um tempo maior para curtir a dor do rebaixamento. Seria bom que o clube tivesse oportunidade para mudanças profundas e que isso não se resumisse a nomes.
O futebol brasileiro teve uma chance inigualável de se repensar depois da Copa do Mundo de 2014 e do famigerado 7 a 1. Em vez disso, porém, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) preferiu apenas trocar a comissão técnica da seleção. Substituiu Luiz Felipe Scolari por Dunga e apostou em alguém que tinha histórico de vencer cobranças e pressão popular.
O que o Internacional viveu no último domingo não é apenas uma história triste, mas uma chance de recomeçar. Do ponto de vista de comunicação, essa foi a grande sacada que o Corinthians teve em 2008, quando esteve na Série B do Campeonato Brasileiro: transformar aquele episódio em uma chance de se aproximar do torcedor e aprofundar os laços do público com o clube.
Não é preciso cair para se reinventar ou para olhar para trás. Entretanto, um trauma pode ser uma excelente oportunidade para isso. O Internacional não precisa ter vergonha de ter sido rebaixado ou de disputar a Série B. Aliás, ao contrário: se o clube souber trabalhar, essa pode ser uma das maiores provas de orgulho de sua história.