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Retorno ao patrocinador

Quando vemos os valores dos grandes patrocínios realizados no futebol brasileiro e mundial, muitas vezes o primeiro impacto é tomar um susto e considerar que não há sentido em realizar um investimento tão alto.

Claro que há casos que realmente o investimento é feito pelo dono de uma grande empresa apaixonado por seu time de coração ou então sem um planejamento adequado dos objetivos que aquele patrocínio aportará para a marca e para a empresa, porém o potencial de entrega que o futebol oferece é realmente muito especial.

Por que, por exemplo, uma empresa consolidada como a Chevrolet investe mais de R$250 milhões por ano no Manchester United e a empresa japonesa de comércio eletrônico Rakuten, novo patrocinador máster do Barcelona, pagará mais de R$200 milhões a partir da próxima temporada?

Essas empresas sabem que o futebol é um verdadeiro canhão para ativar as suas marcas de diversas formas. A exposição da marca é o elemento mais levado em consideração, por entregar um retorno de visibilidade na mídia exponencialmente mais barato se comparado à compra de mídia tradicional de publicidade na TV e outros meios.

Tanto no Brasil como na Europa, os clubes e os patrocinadores mensuram o retorno dessa exposição. Um grande clube brasileiro aparece durante os 365 dias do ano na televisão, seja durante a transmissão de jogos, como também em reportagens com os melhores momentos dos jogos, na preparação do time durante a semana e em entrevistas coletivas diárias. Em todos esses momentos, os patrocinadores estão em destaque, aparecendo no uniforme dos atletas e comissão técnica, no backdrop (painel) de entrevistas, nas placas de publicidade.

Não se trata de um parâmetro fechado, mas é comum que o retorno de visibilidade realizado pelas empresas especializadas em avaliação de mídia alcance em torno de 10 vezes o valor investido. Um clube brasileiro de grande porte que possua um patrocínio máster na casa de R$ 20 milhões entrega, portanto, em torno de R$ 200 milhões em visibilidade. Para obter esse mesmo alcance proporcionado pelo futebol, a empresa teria que investir R$ 200 milhões em compra de mídia tradicional, como publicidade na TV, anúncios em jornais, banners na internet, etc.

Até por isso e, especialmente no Brasil, o patrocinador muitas vezes é confundido com o anunciante, pois somente a visibilidade da marca é considerada. Isso é um grande equívoco, pois deixa-se de aproveitar uma série de oportunidades que já fariam parte da entrega desse patrocínio.

Divulgação: Pinterest/ Fonte: roadandtrack.com
Divulgação: Pinterest/ Fonte: roadandtrack.com

Voltando ao caso da Chevrolet com o Manchester United. A marca já é globalmente muito conhecida, então o investimento de R$ 250 milhões por ano em troca somente do seu retorno de mídia não se justificaria. O que a empresa quer é justamente criar uma conexão com a marca do clube, assumindo atributos e gerando uma imagem associada a uma potência mundial de sucesso, vitória, paixão e confiança.

Para isso, além de estar presente nas propriedades de visibilidade, a empresa desenvolve uma grande plataforma de ativação, com conteúdo nas redes sociais do clube, experiências aos torcedores nos dias de jogo e no dia a dia do clube, e uma constante avaliação se o investimento, de fato, aumenta a consideração de compra dos carros produzidos pela empresa. No final do dia, o parâmetro venda é fundamental para garantir o sucesso de um patrocínio.

Por aqui, precisamos evoluir muito no desenvolvimento de plataformas de patrocínio que explorem pilares que vão além da visibilidade da marca. Esse é um papel que cabe aos clubes e também às empresas. Pelo lado dos clubes, é necessário capacitar o seu departamento de marketing para atender os seus patrocinadores de uma maneira mais ativa e criativa, enquanto as empresas devem planejar seus investimentos considerando uma verba adicional para a realização de ativações programadas durante todo o período de vigência de seus patrocínios.

Em paralelo, o mercado necessita de ferramentas que monitorem os investimentos realizados de forma mais ampla, dando subsídios na tomada de decisão dos gestores das empresas. O retorno de mídia é e continuará sendo de fundamental importância, porém todas as outras frentes de ativação também devem ser tratadas de forma especial e analítica. Todos ganharão com isso!

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Como a mente reage à lesão

Quando um atleta se lesiona e esta lesão o retira por um longo tempo das competições, a mente dele reage e nesse cenário podemos utilizar recursos que farão a mente até contribuir positivamente para uma recuperação mais efetiva.

Mas como isso realmente pode acontecer na vida prática do atleta e essa alternativa ser algo mais comum entre os jogadores profissionais?

Na verdade, o que acontece ao se lesionar é que o atleta apresenta uma série de reações emocionais negativas, tais como: raiva, ansiedade, medo, depressão, incerteza sobre o futuro no esporte, mudanças nos hábitos alimentares, mudanças no sono, obsessão pelo retorno, negação da lesão, tentativas de esconder a lesão, alterações de humor, etc.

As mudanças na vida cotidiana do atleta lesionado são drásticas e têm vários aspectos: desportivo, físico e psicossocial.

Segundo Napa (1998), as principais mudanças são:

  1. Bem-estar físico
    1. Lesão física;
    2. Dor da lesão;
    3. Tratamento e reabilitação da lesão;
    4. Restrições físicas permanentes.
  1. Bem-estar emocional
    1. Trauma psicológico;
    2. Depressão;
    3. Ansiedade;
    4. Sentimento de perda;
    5. Ameaça ao desempenho futuro.
  1. Bem-estar social
    1. Perda de importante papel social;
    2. Separação da família, amigos e companheiros de time;
    3. Novos relacionamentos com o departamento médico;
    4. Necessidade de depender dos outros.
  1. Autoconceito
    1. Sensação de perda de controle;
    2. Alteração de autoimagem;
    3. Ameaça a metas futuras e valores;
    4. Ameaça de perda da posição na equipe.

Na prática, vale lembrar que com a intenção de potencializar e facilitar o processo de reabilitação, podem-se utilizar as várias técnicas existentes, e dentre elas podemos citar o estabelecimento de metas, auto conversação, o relaxamento e a visualização. Assim, particularmente acredito que o atleta lesionado pode e deve contar com todo esse apoio, para uma bem-sucedida recuperação.

Até a próxima!

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Não adianta tapar o sol com a peneira…

Olá, caros leitores!

Mais uma vez utilizo este espaço para tratar de um tema que transcende as quatro linhas do campo de jogo, até mesmo porque, tem também grande peso os fatos e acontecimentos que acontecem fora do gramado, já dizia Ferran Soriano (antigo vice-presidente do Barcelona e atual CEO do Manchester City): “A bola não entra por acaso”.

No meio futebolístico de categorias de base, é recorrente a discussão quanto a idade mínima para que se possa alojar atletas de futebol em formação, hoje a Lei nº 9.615 (Lei Pelé) regulamenta que só podem viver em situação de internato (alojamento) os aspirantes a jogadores a partir dos catorze anos. No entanto, existem gestores de base e clubes que defendem que essa idade deveria ser reduzida para os doze anos. Tal discussão tem voltado com força recentemente.

Os que defendem esta ideia tem bons argumentos, entre os que já ouvi, os que julgo mais coerentes destacam o fato de que tal medida traria um respaldo maior aos clubes no sentido de não perder jogadores (o respaldo jurídico quanto aos direitos econômicos sobre jogadores de futebol no Brasil, se dá somente a partir dos catorze anos, porém a FIFA ampara desde os doze, e sou totalmente favorável para que a legislação nacional desse maior respaldo nisso também). Além disso, há quem afirme que negar este direito aos clubes é uma atitude hipócrita do Ministério Público, visto que se estaria privando muitos meninos em situação de vulnerabilidade social em ter uma oportunidade de se desenvolverem num ambiente que os proporcione amparo e suporte social, escolar, esportivo e fisiológico, oferecendo-lhes uma chance de transformar suas vidas. Porém, são realmente a grande maioria dos clubes que possuem estas condições? E, tendo os clubes possuindo grande representatividade em nossa sociedade, não poderiam ter um protagonismo maior como agentes de mudanças?

Vejamos alguns exemplos do poder transformador do futebol. Em 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, houve um momento de cessar fogo ente soldados alemães e ingleses, estes deixaram as armas de lado e juntos celebraram o Natal disputando um jogo de futebol. Em 1969 o Santos de Pelé realizou uma excursão por vários países africanos, que durante o período decretaram o cessar fogo, mais recentemente, entre 2005 e 2007, o jogador marfinense Didier Drogba liderou uma cruzada que pôs fim na guerra civil em seu país. A “democracia corintiana” tendo como um dos líderes o craque Sócrates foi um belo exemplo de consciência e cidadania para a sociedade brasileira que vivia o final dos tempos da ditadura militar. Nesta semana Coritiba, Atlético e Paraná, realizaram ação conjunta no intuito de contribuir com a angariação de fundos para o tratamento médico do bebê Arthur. Todos os anos são inúmeros os jogos beneficentes para levantar fundos por determinada causa, assim como são muitos os jogadores que criam fundações assistenciais. Trago estes exemplos somente para reforçar e reafirmar o poder transformador que notoriamente o esporte, e no caso o futebol, possuem.

Tendo então o esporte, com suas instituições, clubes e seus ídolos tamanho poder, por que, então, não utilizar esta força para, através desta discussão quanto à idade de alojamento, propor e cobrar dos governos (municipais, estaduais e federal) e instituições competentes (federação e confederações) que seja dado aos clubes locais suporte e incentivo para que estes se fortaleçam e fomentem o esporte local, tanto no âmbito recreativo quanto no de rendimento? Além disso, pode-se propor, nas regiões onde não existam estes clubes, que sejam criados centros esportivos, que proporcionem o esporte para crianças e adolescentes (além de toda comunidade) e a oportunidade de se tornarem atletas profissionais.

Assim, mais do que dar a oportunidade de mudança de vida a um único garoto com potencial para se tornar um jogador de futebol, retirando-o de sua realidade precária e o alojando em clube aos doze anos de idade, poderia oportunizar a todos, tanto os de maior como os de menor potencial, dando a chance de mudança de vida a todos e no momento oportuno aqueles que se destacarem, poderiam naturalmente, como já acontece hoje, ingressar nas categorias de base dos clubes, o que em muitos casos já acontece a partir de 10/11/12 anos, sem que estes meninos deixem o convívio familiar, tão importante para seu desenvolvimento pleno e amplamente defendido pelos especialista em infância e juventude.

Permitir alojar atletas com doze anos resolveria um problema dos clubes e de alguns meninos, porém, não da sociedade, assim o argumento de que se priva o menino onde uma oportunidade de mudança de vida fica vago e nada altruísta. Os clubes de futebol pela força que possuem, podem contribuir para a mudança da realidade de muitas crianças e adolescentes, e não somente daquelas que demonstram maior probabilidade de lhes gerar lucros futuros. E não estou dizendo aqui que a responsabilidade em resolver os problemas de nossa sociedade seja dos clubes, digo que estes, podem contribuir muito através do exemplo e cobrança aos órgãos competentes, para que todos possamos viver em uma sociedade melhor.

Volto a afirmar, melhores pessoas serão melhores jogadores. Podemos ter um futebol melhor, uma sociedade melhor, só precisamos olhar com um pouco mais de compaixão para o próximo. Deixo para complementar a reflexão um vídeo da Great Thinkers Group, será que buscando resolver somente os nossos próprios problemas, conseguiremos de fato o fazer?


Até a próxima!