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A diferença entre tática e estratégia

Ao longo dos anos, cada vez mais, os meios de análise e estudo do comportamento dos jogadores perante o jogo coletivo está se massificando e amplificando as inúmeras formas de se treinar e por consequência enxergar as muitas variações propostas pelos treinadores e equipe técnica.

O que sempre ganhou destaque no nosso futebol foram os jogadores, através das suas atuações individuais. Sempre enxergamos o jogo do individual para o coletivo, acreditando que o simples fato de colocarmos os melhores jogadores em campo, possibilitaria com o tempo “o encaixe” e o time jogaria naturalmente.

Com a globalização, a troca mais rápida de informações, e por consequência a diminuição do espaço em campo, a velocidade das ações aumentaram muito, pois cada dia mais o futebol se tornou um jogo dinâmico e rápido, onde o individuo é muito importante quando ele age perante o jogo coletivo.

A constante ocupação de espaço e a perda da posse de bola, estimula cada vez mais a organização das equipes dentro das quatro fases do jogo (organizações e transições).

Na sua essência, o futebol é um esporte aberto onde os jogadores têm pouco domínio sobre a bola, dificultando sua organização. Outro detalhe que contribui muito para a desorganização do conjunto é o enorme espaço que o jogo é disputado com muitos indivíduos em campo.

Ao compararmos o futebol com esportes como o futsal, handebol, vôlei, basquete, entre outros sempre observamos poucos jogadores em quadra, dentro de um espaço pequeno (facilita a comunicação entre os membros da equipe) e com um esporte jogado com as mãos (onde se tem um controle motor muito maior quando comparado com os pés).

Em virtude desse caos relacionado ao jogo, formas, meios e métodos de se treinar para buscar a constante organização coletiva apareceram, e com o tempo vem ganhando cada dia mais espaço e relevância perante o futebol brasileiro.

Cada vez mais conseguimos evoluir dentro das diversas escolas de treinamento e certamente com o tempo teremos nossa identidade de treino, nossa assinatura do jeito brasileiro de se treinar futebol sem perder a individualidade do talento, mas associar essa característica dentro de um jogo coletivo e eficiente.

Em virtude disso, passos importantes têm que dar e sempre estarmos atentos para os acertos, mas em especial nos equívocos para que possamos nos moldar e progredir no processo de atualização e ganho de identidade de jogo.

Tático: o que seria?

Muito ainda se confunde distribuição espacial dos jogadores em campo com a tática do time.

Isso é uma confusão pontual de nomenclatura, pois está mais relacionada a estratégia de jogo do que os aspectos táticos.

Os aspectos táticos de uma equipe estão relacionados a ideia de jogo do seu treinador.

Tudo que se relaciona ao treino, ao comportamento, tomada de decisões, atitude, metodologia de trabalho, entre outros está relacionado aos aspectos táticos da equipe.

Um exemplo bem simples:

Se a ideia de jogo do treinador é marcar sob pressão após a perda da posse de bola tendo uma transição defensiva dificultando ou impedindo o passe do adversário, os treinos devem estar associados a essa ideia, a esse conceito. Isso faz parte da tática da equipe, do jogo coletivo.

Se o treinador espera que a sua equipe jogue em contra ataques, esperando o adversário para uma transição ofensiva rápida e vertical, pouco importa aplicar treinamentos de manutenção da posse de bola e troca de corredores, pois estará ferindo a identidade do time, os aspectos e conceitos táticos definidos pela equipe técnica.

Veja que em nenhum momento citei números e distribuição dos jogadores em campo, por um motivo bem simples, os componentes táticos da equipe estão relacionados com o comportamento como a forma que eu aplico treino, para que minha equipe tenha uma ideia de jogo bem definida.

 Desde os exercícios mais simples até os mais complexos, todas as atividades devem contemplar as ideias do treinador. A tática é o norte da metodologia de trabalho, é onde a equipe técnica e os jogadores devem se basear para treinar e render.

Distribuição numérica

A distribuição numérica dos jogadores em campo, está relacionado com a estratégia escolhida pelo treinador para aquele jogo ou campeonato.

Não devemos confundir distribuição dos jogadores em campo com tática. A ocupação espacial é estratégia de jogo que apenas está relacionada dentro do plano tático.

A colocação dos números (1-4-4-2, 1-4-3-3, 1-4-2-3-1, 1-3-4-3, entre tantos) deve estar relacionada a diversos fatores, desde a característica do adversário, a forma como seu time vai atuar naquele dia, o objetivo do resultado perante a classificação, e diversos outros fatores.

É importante entender que essa distribuição numérica é apenas um dos componentes da tática escolhida pelo treinador.

A tática é o espelho do que seu treinador espera da equipe e vai desde as ideias até a metodologia de treino.

Com quantos defensores ou com quantos meias e atacantes a equipe vai atuar, configura apenas o plano de jogo para uma partida, não a tática escolhida.

As equipes mais modernas e bem treinadas, têm uma distribuição numérica sem a bola (organização defensiva) e uma diferente com a bola (organização ofensiva), mas sobre isso falaremos em outra oportunidade.

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Um jogo de imposições

Muito o que venho pensando, ultimamente, sobre o futebol está no simples fato de ser um jogo de confrontos, tanto individual como coletivo. E como qualquer enfrentamento, as duas partes querem ganhar, sobressair-se perante o outro, independente de suas vantagens e/ou vulnerabilidades. Um jogo de imposições, no qual o vencedor será aquele que vai se impor sobre o outro, mas não uma imposição momentânea, e sim uma imposição constante ao longo do jogo, em cada ação. Somando a isto, encara-se o jogo, por muitas vezes, como um exemplo de “luta” incessante, onde a concentração e a intensidade tem que ser sempre a máxima (mesmo sendo relativa). Lembrando que este jogo tem uma grande dependência das condições iniciais, uma coisa boa traz uma coisa boa, o gol traz confiança e auto-estima individual e coletiva.

E, o mesmo efeito se dá quando se rouba a bola ou induz o adversário a perde-la. Trazendo confiança para quem rouba a bola, e “dúvida” para quem a perde. Por isso, o pressing alto é fundamental para se defender bem. Defender bem pode ser caracterizado por gerenciar os espaços do campo e de progressão do adversário, induzindo e manipulando o oponente (controlando o jogo). Mas, defender bem também está em conseguir ter a bola mais vezes, conseguir recuperar a bola mais vezes, consequentemente, atacando mais.

Como tudo que envolve o futebol “cientificamente”, é preciso saber realizar o “pressing alto” para se pressionar bem (para se pressionar de qualquer jeito, não). Aliás, a impressão que passa quando se pressiona de qualquer forma, é quase que de “desespero”. Uma equipe que quer muito a bola e não sabe como tê-la, tenta fazer qualquer coisa a qualquer momento. Deixando muitos espaços entre linhas de marcação, vulnerabilizando a estrutura defensiva da equipe. A contrapartida está no fato de que esta “qualquer coisa” se dá de forma intensa. Geralmente, o jogador exprime o máximo de si, o que por um lado é bom. Contudo, neste caso, não há uma sincronização e harmonia entre os “fazeres” dos jogadores. Ou seja, dar o “máximo” não é a solução, podendo até ser prejudicial, caso esse “máximo” não for organizado coletivamente.

Em termos de preceitos científicos e metodológicos, o pressing alto tem em sua referência uma “ligação” mais forte com o posicionamento/movimentação do adversário do que com o espaço e/ou o posicionamento da bola (sendo estas duas últimas referência mais fundamental na marcação zonal). Essas orientações de posicionamento/movimentação do adversário é circunstancial, ou seja, forte dependência da leitura que cada jogador tem do momento em questão. Cabe a cada jogador ler o momento e saber fazer o pressing alto. E cabe ao treinador não atrapalhar muito nesta situação oferecendo um emaranhado de regras (princípios), guiando por inteiro o comportamento do jogador, consequentemente, limitando a leitura de jogo daquele momento. Compete ao treinador oferecer uma gama variada de situações em treinos que possibilitem e capacitem os jogadores a saberem lidar com situações de pressão ou pressing (como bem sabem, “pressão” para mim é uma expressão individual e “pressing” um expressão coletiva).

O mesmo raciocínio pode ser utilizado na iniciação ofensiva sobre pressing alto (quando a equipe tenta sair com posse desde a 1˚ linha defensiva, sobre pressing daqueles que tentam diminuir os espaços ou roubar e/ou recuperar a bola).

O vídeo abaixo pretende exemplificar um pouco deste pensamento:

Alguns falam que é preciso ter “coragem” para poder ter posse sobre pressão. Penso um pouco além disso, ao meu ver é preciso saber corresponder com um satisfatório nível técnico a pressão/pressing do adversário, pois o oponente está diminuindo os espaços de atuação do portador da bola. Somando a isso, se torna imprescindível a constante movimentação e procura de linha de passe daquele que vai receber a bola, advindo do portador da bola que está sobre pressão do adversário. O que tenciona mostrar neste pequeno vídeo de uma equipe que está construindo a posse sobre pressing do adversário e com inferioridade numérica (10×11):