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Arbitragem de vídeo no futebol: entenda

A unificação das regras do futebol foi estabelecida pela International Football Association Board, associação fundada em 1882 pela reunião da The Football Association (Inglaterra), da Scottish Football Association (Escócia), da Football Association of Wales (País de Gales) e da Irish Football Association.

A FIFA, criada em 1904, aderiu às regras da International Board. Em 1913, passou a integrar a Ifab com quatro membros. Assim, a Ifab conta com quatro representantes da Fifa e um representante de cada país britânico.

As alterações nas regras do futebol dependem da aprovação de seis representantes. Portanto, qualquer proposta de mudança apresentada pela Fifa necessita do voto de, pelo menos, dois países do Reino Unido. Diante disso, é comum que, antes de se votar alterações nas regras, façam-se testes.

A crescente repercussão dos erros de arbitragem inflamada pelo, cada vez maior, número de câmeras de televisão nas partidas, tem gerado um grande clamor público pela utilização de árbitros de vídeo.

Assim, foi autorizado em caráter experimental a utilização do “árbitro de vídeo” nas seguintes competições: Campeonato Brasileiro, Campeonato Alemão, Campeonato Australiano, Liga Americana, Taça de Portugal, Taça da Liga de Portugal e Supercopa de Portugal e, ainda, em algum torneio ainda não definido na Holanda.

Além do Brasileirão, a CBF poderá realizar experiências em outros torneios, o que já se deu nas partidas finais do Campeonato Carioca entre Vasco e Botafogo.

A decisão definitiva sobre o uso do árbitro de vídeo e sua inclusão no livro de regras se dará pela International Board, até 2019.

Há um grande debate. De um lado, os “românticos” que defendem o “futebol raiz”, com os erros de arbitragem e os grandes debates polêmicos, alegam que os erros de interpretação (e visão) “temperam” o futebol e promovem o esporte.

Do outro, os “mais modernos” defendem a utilização da tecnologia como meio de minimizar eventuais erros e viabilizar a maior certeza de que o melhor em campo vença e, consequentemente, trazer maior atratividade para patrocinadores.

Historicamente, o futebol é a modalidade que menos alterações realizou em suas regras e, sem dúvidas, a utilização de vídeo traz imensa novidade e tem tudo para acabar com as longas discussões de impedimento, pênalti ou gol anulado.

Os testes serão importantes para avaliar a viabilidade técnica e operacional, bem como permitir que se analise os prós e contras da novidade.

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Uma questão de sinergia entre “vontade” e “organização”

De uma forma geral o futebol tem sofrido grande evolução tanto no aspecto do jogar como, principalmente, no entendimento e compreensão do jogo. A própria participação do jogador nesse processo já não é mais apenas uma participação do “fazer” e sim do “pensar” sobre tudo aquilo que envolve o jogo e o jogar. O jogador quer saber o motivo de estar fazendo certa coisa, a tal ponto, de não se satisfazer em apenas “fazer”, mas de “fazer” o certo. Aliás, todos nós sabemos, o que queremos fazer, ou, pelo menos, o que achamos certo fazer.

Por isso, insisto enfatizar a alta complexidade que se encontra o futebol. O futebol se tornou tão complexo que meios e caminhos tradicionais já não bastam, mas uma necessidade de abordagens de natureza holística (que procure entender o futebol na sua totalidade) ou sistêmica, generalista ou interdisciplinar. Sistemas de muitos níveis exigem controle científico, controle “técnico” e não empírico. Todavia, esse é outro ponto que quero levantar. Sabemos que a maioria das decisões tomadas no futebol, dentro e fora de campo, são de caráter empírico. Sabemos, ao mesmo tempo, que o jogo de futebol praticado outrora não é o “mesmo” jogo de futebol praticado hoje em dia. Não posso falar e refletir sobre o que aconteceu antigamente (algo que não vivi), mas hoje vejo um jogo de futebol mais requisitante da parte tática/cognitiva do que da parte técnica/física. Claro que falo aqui de futebol de alto nível. Se o jogo de futebol praticado anteriormente requeria qualidades diferentes da de hoje, se os problemas a serem solucionados (em campo e fora) são diferentes do de hoje, qual o sentido de basearmos, totalmente, nossas decisões de hoje tendo em vista a “experiência” adquirida em um contexto diferente?

Torna-se essencial atualizarmos constantemente nossas referências de entendimento e compreensão daquilo que está acontecendo. Da mesma forma que a “inteligência” (com suas diversas formas de inteligência) evolui, os problemas também evoluem. A ponto que a cada passo no processo evolutivo, novos obstáculos surgem e novos caminhos necessitam ser trilhados. E precisamos estar constantemente analisando e interpretando o contexto, a fim de tomar a “melhor” decisão possível (melhor entre aspas, pois o melhor é relativo a cada problemática).

Precisamos entender que devido ao grande número de variáveis que interferem no jogo e no jogar, o futebol tem essencialmente problemas de “sistemas”, isto é, problemas de inter-relação de um grande número de variáveis. O que se deve definir e descrever como sistema não é uma questão com uma resposta óbvia e trivial. Se alguém se dispusesse a analisar as noções correntes e os “slogans” em moda, encontraria bem alto na lista a palavra “sistema”. Este conceito invadiu todos os campos da ciência e penetrou no pensamento popular, na gíria e nos meios de comunicação em massa, sem se ter a devida noção do seu entendimento e da sua utilização.

O 1˚ problema é um problema de origem organizacional. Pois o futebol é um jogo coletivo. Quando o nível de organização não é o “mínimo” tolerável a nossa esperança de “algo bom” é reduzida. Ficamos a espera de que o “talento” e/ou “individualismo” se sobressaia as qualidades do adversário e/ou as dificuldades do jogo. Que a vontade de ganhar dos jogadores seja maior que a vontade do adversário. Ficamos a espera de um milagre.

Por outro lado, perante o que tenho observado ao longo da minha prática e observação, o futebol tem em sua dinâmica uma alta requisição do individual. A tomada de decisão individual interfere nos conjuntos de decisões interativas, de uma forma contagiante. Por hora, um esforço de um jogador pode induzir, influenciar, direcionar o comportamento de outro jogador. E, isto é claramente visível quando atletas com alto nível de relevância no grupo guiam o processo de comportamento do coletivo no jogo e no treino. A percepção do jogador com relação a realidade da equipe, a leitura que ele tem da situação e do contexto da equipe deve ser levada em consideração no entendimento do contexto e do ambiente vivido por time.

Quando os jogadores sabem que a organização da equipe não é a das mais “confiáveis”, a prestação “física”, o interesse por “conseguir fazer, o que se tem que fazer, da melhor forma possível”, a “vontade” dos jogadores é maior. Pois sabem que se assim não for a organização fica mais vulnerável (aumentando a possibilidade que o adversário tem de entrar no sistema defensivo e romper a organização defensiva da equipe). O treinador por essência deve encontrar um equilíbrio no nível de organização coletiva capaz de exigir o máximo de prestação comportamental do jogador. Não deixando o sucesso da partida apenas nas “pernas” dos jogadores.

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Ganhar a qualquer custo

No futebol, como treinadores, lidamos diariamente com muitas questões, mas três macro-dimensões nos movimentam: o sonho, o êxito e o fracasso. Não podemos negar, por que lidamos sistematicamente com essa tríade.

Das três, o fracasso, é o que vem mais a tona, advindo dos resultados negativos dos jogos e a impossibilidade de ganhar sempre. Ele é o nosso ponto mais fraco e nosso lado mais vulnerável como treinadores, pois é visível e atingido por todos e de todos os ângulos possíveis. Construir um ponto de equilíbrio para o fracasso não é fácil, especialmente por que a grande maioria das pessoas que estão do nosso lado são resultadistas e não entendem de processos.

Essa linha tênue entre o êxito e o fracasso é uma complexa consequência de fatores e de casualidades que por vezes transcende treinos, planejamentos, talentos e dinheiro. Mas fomos educados para adorar e elogiar o ganhador e criticar o perdedor sem ao menos refletir os mínimos pormenores. Essa falta de profundidade para analisar uma vitória ou uma derrota é que deteriora o futebol. E inicia nos meios de comunicação, até chegar à arquibanca. Esse fluxo tem um DNA tendencioso, promocional e com pouco conteúdo.

Claro, sem dramatização, o futebol -especialmente profissional-, é feito para ganhar e devemos obter a maior quantidade de vitórias para ficarmos empregados. Mas o que me preocupa, é que só ao falarmos do ganhar, do ganhar a qualquer preço, discutimos pouco as interfaces do futebol, a dimensão humana que está em volta e os processos que fazem parte da evolução e aprendizagem de uma comissão técnica, jogadores, gestores e um clube, desconsideramos o como ganhar. Em cima disso, e fazendo algumas leituras semanais, colhi escopos reflexivos de algumas pessoas que problematizam essa tese:

“O futebol está tão adrenalizado e frenético pelo resultado que as pessoas que vão assistir às partidas não vão mais pelo futebol em si, como esporte, mas exclusivamente para ver sua equipe ganhar”. (Jorge Luis Borges)

“O futebol é uma profissão ingrata. Estressa-te mais do que poderia te estressar outro trabalho com semelhante exposição. Somos uma sociedade muito voltada para o êxito e agressiva. Se você ganha é bom, se perde é burro. Não há uma coerência de opinião. Então primeiro tem que ganhar para demonstrar que é bom; mas cuidado, se perder você passa de bom para estar embaixo novamente. Isso é tendencioso. Os que vão bem, o trabalho é reconhecido mas parece que poucos gostam que os treinadores vão bem. Então, esperam para quando você perde para te pegar. E os que vão mal, diretamente o pisam”.  (Marcelo Gallardo)

“Ganhar? E que sentido tem? Por que vai mudar a opinião das pessoas se ganho? Ganha ou perde eu seguirei sendo a mesma pessoa. É por isso que sempre necessito ganhar? Para calar a boca das pessoas? Para satisfazer um punhado de periodista esportivos que não me conhecem? São esses os termos da negociação?” (Andre Agassi)

O esporte está tomado na sociedade quase que por um único paradigma. Há publicidades se é um ganhador e há filmes de pais chamando os filhos e campeões. Por que campeão? Se meu filho não ganhou nada. Meu filho é meu filho não por que é campeão. Tem sempre esse modelo que há que ganhar, em tudo há que ganhar. Se o mais importante é ganhar como seja, eu creio que isso é terrível. Eu vivo disso de ganhar, vou a campo para ganhar, se não entra outra pessoa no meu lugar, mas isso não significa que o ganhar tenha que ser um paradigma, um modelo para tudo. Isso deve ter um filtro, é fundamental que pensamos no outro, façamos a coisa correta, respeitamos as regras fundamentais. Isso é uma mensagem que as pessoas do esporte devem ensinar aos jovens, ainda mais por que o esporte não é lindo só quando se ganha, como dizem muitos. Muitos dizem que o importante é ganhar. Isso é uma estupidez.  Olha numa olimpíada, há muitos atletas que sabem que não vão ganhar, mas se preparam como se fossem ganhar durante anos e no meio da olimpíada, por quê? Por que combatem contra si mesmo. Eu quero baixar um segundo, ou um décimo de segundo, lançar um metro a mais, acertar um passe, isso é parte do ganhar. Ganhar não é somente sair campeão, isso é parte do ganhar, é superar-se, melhorar-se. Eu creio que o esporte ensina isso aos jovens em troca de mandarmos a mensagem somente de quem ganhou a medalha de ouro e os demais são perdedores. Nós passamos uma mensagem que o esporte não se ensina. Eu perdi muitas vezes, mas segui o caminho. (Júlio Velasco

Bem, poderíamos terminar o texto por aqui. Mas não tem como negligenciar a diferença de entendimento que o futebol para alguns é um jogo, um esporte, e para outros é feito apenas para ganhar. Fica evidente dois paradigmas filosóficos totalmente irreconciliáveis, preponderando para o lado mais visível.

No fim, se não ganharmos, seja como for, contra quem for, somos apenas treinadores que mais cedo ou mais tarde seremos descartados. Somos e sempre seremos avaliados pelas vitórias e não pela forma que a conseguimos ou pelos jogadores que evoluímos. Como Jorge Valdano fala: “hoje praticamos um futebol que se torna mais fácil à ação de jogadores medianos e os comentários de periodista acomodados. E, como Rodrigo Zacheo diz: “há muitas formas de ganhar e poucas formas de gostar”. Esse futebol pelo resultado mais que nos desempregar como treinadores, incrível, até mesmo nas categorias de base, está nos fazendo perder a essência do selo de qualidade dos talentos de diversos calibres que sempre tivemos por aqui. Hoje o jogador já nasce com o selo do resultado carimbado na testa.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

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Final única para torneio único

Nesta última semana a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) divulgou seu calendário para o próximo ano. O que chamou a atenção foi a existência de uma data que pode substituir os jogos de ida-e-volta na final da sua principal competição de clubes, a Taça Libertadores. Em outras palavras, a final poderá ter um jogo único.

Se isso acontecer – será decidido em Congresso no fim do ano -, irá seguir o modelo da competição europeia similar, a Liga dos Campeões. Apenas uma partida e em um sábado. No caso Sul-Americano, há a possibilidade de ela ser jogada em alguma grande cidade da região ou em Miami, na Flórida. Contra esta medida, dizem que as equipes perderiam a questão do fator casa, muito importante nestes torneios. Além disso, que tiraria o direito de potencializar a presença da torcida local ao jogo, que é muito importante e uma das marcas registradas do futebol da América do Sul. Fora os tradicionalistas, que não conseguem ver a Libertadores sem os dois jogos na final. Para além disso tudo, que o poder aquisitivo do torcedor daqui é menor em comparação aos de outros continentes, em especial o europeu.

Ledo engano. São notórios os deslocamentos das torcidas dos clubes da região pelo continente. Sem qualquer exceção. Em termos de qualidade do estádio e respeito ao atleta com boas instalações (vestiários, campo de jogo), uma final em jogo único só acrescentaria de maneira positiva para o espetáculo. Se isso acontecer, isso deverá ser definido com antecedência e, consequentemente, inúmeros pré-requisitos atendidos para preservar aquele que faz o jogo e, ademais, tratar bem o espectador (o consumidor que vai comparecer ao jogo). Fora para quem vai transmiti-lo mundo afora (emissoras de rádio e TV). Ou seja, em termos de produto, uma decisão de Libertadores em jogo único terá êxito porque serão respeitados os dois elementos mais importantes do esporte: o atleta e o torcedor.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

 

O que quer, portanto, a Confederação Sul-Americana: manter uma tradição já não mais saudável em troca de favores políticos ou transformar a Taça Libertadores em um produto bem sucedido, aproveitando-se das suas características mais positivas? E elas são inúmeras: torcidas que não se cansam de cantar, os papeizinhos no campo, as faixas que preenchem as grades, a paixão, a garra e a alegria, por exemplo. Há sim como crescer e se modernizar sem perder a essência do futebol da América do Sul. É preciso romper com um passado de confusões dentro e fora de campo e com aquela imagem – que é um estereótipo – dos policiais com escudos que protegem o futebolista para cobrar o escanteio. Final em jogo único parece estranho em um primeiro momento, mas é questão de costume.