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Quando mudar

A diretoria do Palmeiras não esperou o início da temporada 2018. Na última sexta-feira (13), um dia depois de o time paulista ter empatado por 2 a 2 com o Bahia em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro, anunciou o desligamento do técnico Cuca, que havia sido contratado durante a atual temporada e tinha contrato até o término do próximo ano. A mudança corroborou aspectos como impaciência, instabilidade e sobretudo a falta de convicção que permeia o cenário nacional. O treinador vitorioso e badalado de outrora é o que não serve no dia seguinte. Entretanto, isso não encerra a lista de aspectos de comunicação e gestão que podem ser aferidos da decisão tomada pela cúpula alviverde.

Em primeiro lugar, é fundamental olhar para o que Cuca representa. O treinador tem uma extensa lista de bons trabalhos, mas tornou-se anacrônico. Agarrou-se a conceitos e métodos que não convencem seus atletas e não constroem ambientes vencedores. Pode ter sido campeão nacional assim em 2016, mas esse é o tipo de resultado que apenas o futebol acomoda. O Palmeiras vencedor do ano passado era um time que sofria demais, que tinha linhas espaçadas demais e que se apoiava demais em individualidades. Deu certo, mas eram muitos os elementos que indicavam um resultado contrário.

Há outros exemplos de treinadores que se tornaram vitoriosos sem terem desenvolvido ambientes vencedores. É o caso de Marcelo Oliveira, artífice do Cruzeiro bicampeão nacional em 2013 e 2014. O treinador conseguiu extrair daquele elenco um resultado incrível, mas fez isso a partir de métodos que dificilmente poderiam ser replicados. Ainda assim, tentou impor esses conceitos em todos os estágios seguintes. Tornou-se uma espécie de refém do próprio sucesso, e a consequência direta foi uma derrocada expressa. Na atual temporada, assumiu o Coritiba na 17ª rodada e tem a pior campanha do Brasileirão desde então.

Cuca já mostrou que pode ser diferente do modelo que tentou impor na passagem mais recente pelo Palmeiras. Montou equipes que pensavam e agiam de forma diferente, como o excelente Botafogo de 2007, mas não venceu com os trabalhos mais consistentes. A verdadeira virada de sua carreira aconteceu com o Atlético-MG de 2013, campeão da Libertadores em uma trajetória extremamente sofrida. Aquele “Galo doido”, que abdicava do controle das partidas e apostava num modelo de intensidade que beirava o suicídio, acabou correndo riscos que eram pouco condizentes com seu potencial. Não havia naquela temporada um elenco cujo poder de fogo se assemelhasse a um quarteto ofensivo com Bernard, Ronaldinho Gaúcho, Diego Tardelli e Jô, por exemplo.

Entre o trabalho consistente que sofria para amealhar resultados e os times claudicantes que cumpriam, Cuca preferiu fixar-se no segundo grupo. Ignorou que o elenco do Palmeiras de 2017 havia sido planejado com um conceito diferente, moldado para propor jogo, variar o ritmo e atuar com linhas próximas, por exemplo. Aboliu a marcação por zona e chegou a barrar o volante Felipe Melo com a justificativa de que ele não se encaixava na proposta de perseguição individual aos adversários.

Faltou, contudo, que esse projeto fosse bem comunicado aos jogadores. Olhando de fora, sem saber como foi o contato entre Cuca e elenco, a impressão é que o treinador não conseguiu mostrar ao grupo que era possível vencer com um modelo tão diferente do que os atletas entendiam como moderno e/ou adequado ao mundo atual. O grupo é composto por pessoas de diferentes naturezas e diferentes repertórios, mas uma coisa é fato: de alguma forma eles têm contato com o que é feito, produzido ou proposto nos principais centros do esporte. É difícil imaginar uma ilha em que ideias como as de Cuca, tão inusitadas para o contexto atual, sejam assimiladas sem qualquer estranhamento.

O zagueiro uruguaio Diego Lugano, do São Paulo, disse certa vez em entrevista que Tite, atual comandante da seleção brasileira, é um “encantador de serpentes”. A comparação tinha como principal foco a relação do técnico com jornalistas, mas serve para exemplificar também o conceito de comunicação no grupo de trabalho, um dos grandes trunfos que ele tem. Os jogadores que trabalham com Tite possuem alto nível de compreensão e de entrega, e isso tem relação direta com honestidade, clareza de ações e metas e atualização do treinador.

Não estou comparando Cuca e Tite, que são profissionais com perfis e focos diferentes em seus trabalhos. O ponto é apenas um: o atual comandante da seleção brasileira é um exemplo extremamente bem acabado de quanto o trabalho pode render mais se houver um bom fluxo de comunicação entre todas as esferas envolvidas. Ainda que os conceitos de Cuca sejam questionáveis e possam estar dissociados do futebol moderno, o resultado poderia ser amenizado por boas práticas de comunicação e convencimento.

Aí entra um aspecto relevante da decisão tomada pela diretoria do Palmeiras. A saída de Cuca tem relação direta com uma avaliação da cúpula alviverde, que julgou o treinador incapaz de extrair mais do atual elenco. Não por falta de capacidade, mas por barreiras de comunicação construídas ao longo do tempo em que ele esteve no clube.

Ao optar pela saída de Cuca, que também não falava com qualquer convicção sobre o que pretendia fazer na temporada 2018, o Palmeiras aproveitou o marasmo de sua reta final de temporada e antecipou o planejamento. A diretoria agora pode pensar com mais calma em quem contratar para o comando do futebol e como essa pessoa pode se relacionar com o elenco da próxima temporada.

A decisão do Palmeiras pode até ser a manutenção de Alberto Valentim, interino que vai comandar o time na reta final da atual temporada e que goza de muito prestígio com o elenco. O que o time paulista não pode fazer é postergar essa indefinição até o fim da temporada. Independentemente da escolha, a oportunidade criada com a saída precoce de Cuca é justamente a antecipação do planejamento.

O Palmeiras fez uma análise sobre o poder de comunicação e convencimento de Cuca, julgou que ele não poderia extrair mais do elenco e decidiu trocar o comando. Se esse foi o roteiro, a decisão foi totalmente acertada. A questão, no entanto, é que os pontos mais favoráveis do roteiro só podem ser concluídos se todo o projeto 2018 começar agora.

Condenar trocas de treinador é um clichê no futebol brasileiro, mas mudar o comando nem sempre é ruim. Ruim é fazer isso sem pensar no médio ou no longo prazo, sem saber aonde chegar. O Palmeiras ainda tem pouco mais de dois meses em 2017 para mostrar que sabia o tamanho da estrada quando começou a correr.

Nesse caso, a postura do Palmeiras também terá relação direta com comunicação. Se realmente se antecipar, ainda que faça isso a portas fechadas, o clube dará ao mercado e aos rivais uma importante demonstração de profissionalismo. Caso contrário, a saída de Cuca parecerá mais do mesmo. E mais do mesmo é sempre a pior alternativa para um projeto de comunicação.

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Quando o sucesso atrapalha o atleta

Atualmente uma situação ainda se repete com os jovens e promissores atletas, a falsa percepção de que estes atletas já sabem tudo sobre a carreira esportiva e acabam deixando com que o sucesso suba à cabeça. Esse pequeno e muitas vezes imperceptível deslize, pode custar uma carreira promissora no futebol.

Nesse contexto, cabe a nós refletir sobre a importância do atleta, em conjunto com seus agentes ou as pessoas que orientam seu cotidiano, considerar sempre as consequências de suas ações, dos seus atos na prática. Quando um atleta apresenta resultados expressivos dentro de campo, ocasionalmente ele também começa a ser procurado por meios de comunicação e pelos fãs para que conheçam melhor esse atleta. Nesse sentido, se faz necessário uma orientação adequada ao atleta, para que não se deslumbre com o universo em que atua e vive.

Na prática, um atleta, como qualquer outro profissional, necessita desenvolver a habilidade de avaliar a relevância de uma determinada ação. Ações que não condizem com o ambiente profissional, como atrasos frequentes e faltas aos treinamentos, por exemplo, podem demonstrar um problema de comprometimento com seu trabalho e uma falsa percepção da real importância ou do seu papel na equipe.

Resgato um dado de pesquisa, com mais de cinquenta anos realizada pelo Dr. Edward Banfield, da Universidade de Harvard, na qual se chegou à conclusão de que a “perspectiva de longo prazo” acaba sendo algo muito importante para determinar o seu sucesso na vida e na carreira.

Para concluirmos essa reflexão, sem reinventar a roda, vou mencionar aqui uma orientação de Brian Tracy para estimular a consideração das consequências de nossas decisões.

  1. O pensamento em longo prazo melhora a tomada de decisões em curto prazo.
    Possuir uma ideia clara sobre o que você deseja para si mesmo em longo prazo, na sua carreira, torna mais fácil tomar decisões sobre suas prioridades em curto prazo. Sendo assim, antes de realizar alguma ação fora de campo, o atleta pode sempre se perguntar: “Quais são as consequências, em potencial, de fazer ou deixar de fazer essa atividade”?.

Na prática, os atletas ou demais profissionais do esporte podem e devem examinar suas ações constantemente, se possível sempre se questionando sobre: “Qual seria o projeto ou atividade específica que, se eu realizasse eficientemente num bom prazo, produziria o impacto mais positivo sobre minha carreira”? Qualquer que seja este projeto ou atividade, pode-se fazer dele um objetivo, traçando um plano consistente para realiza-lo e executando o plano o quanto antes. Isso auxilia o atleta a se manter no rumo adequado e adicionalmente estimula a reflexão comparativa sobre o impacto das ações destrutivas em relação aos seus objetivos de carreira desejados.

Assim sendo, fica claro que o atleta precisa regularmente refletir sobre suas ações, pois por mais simples que sejam, elas podem aproxima-lo do sucesso ou do fracasso na sua carreira esportiva.

Até a próxima!

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Colher antes de semear

“Uns 80% dos jogadores vivem em uma bolha. Sem dúvidas. Sobretudo os mais jovens, que passam a querer imitar seus ídolos. Estes acreditam que se usarem uma nécessaire de marca debaixo do braço, um sapato de 400 euros e oito tatuagens já serão estrelas e, por isso, serão respeitados. Se esquecem do mundo real. A bolha clássica em que vive um jogador: chegar ao profissional e comprar um ‘carrão’ com o primeiro salário”

Olá leitor!

A coluna desta semana foi, em muito, motivada pela recente declaração acima do jogador brasileiro Filipe Luís, lateral de 32 anos que defende a seleção brasileira e o Atlético de Madrid, numa entrevista ao jornal “El mundo”. A entrevista pode ser lida na integra aqui.

Acredito que grande parte daqueles que, dê alguma forma, tem contato com o futebol no Brasil, seja ele amador ou de rendimento, já se deparou com essa imagem, do “boleiro”, que tem as roupas da moda, a chuteira do craque da UEFA Champions League, a nécessaire de grife e tatuagens pelo corpo. Que fique claro aqui, não sou contra a utilização de nenhum destes adereços, acredito que todos têm o direito, dentro de suas convicções, de ter o estilo que achar conveniente, a questão ao meu ver, é o indivíduo acreditar que o simples fato de ter o estilo de se vestir/portar de determinado grupo, já lhe concede o direito de fazer parte deste grupo. Pertencer a determinado universo custa um preço, será que todos estão dispostos a paga-lo?

“Os caras estão esquecendo de jogar futebol”

Esta frase do ex-jogador Tinga (entrevista completa aqui), que atualmente trabalha no futebol do Cruzeiro, abordando a mesma temática que Filipe Luís, a alienação de muitos jogadores, sejam eles profissionais ou não.

Pesquisas apontam que no Brasil, o percentual dos jogadores das categorias de base que conseguem se tornar atletas profissionais, é muito baixo, e que destes, cerca de 96% recebem até no máximo 5 mil reais mensais, sendo que mais de 80% recebem até 1 mil reais. Isso sem falar no alto índice de desemprego pela falta de calendário anual para a grande maioria dos clubes.

Talvez estes sejam temas “batidos”, mas será que entre os aspirantes a jogadores, tais assuntos são amplamente discutidos?

Dentro da frase de Filipe Luís, a afirmação de que “Uns 80% dos jogadores vivem numa bolha” traz ainda outra questão interessante a se discutir: até que ponto os jogadores sabem usar o caráter simbólico que possuem? Esta semana, o ex-melhor jogador do mundo (1995), George Weah, foi eleito presidente da Libéria na primeira eleição democrática do país em 73 anos, Cristiano Ronaldo rotineiramente divulga em suas redes sociais os momentos em que se dedica a doação de sangue. Ao mesmo tempo, são muitas as imagens de jogadores ainda em atividade, bebendo, fumando, envolvidos em casos de sonegação de impostos. Qual a responsabilidade destes jogadores com seus atos, visto a repercussão e influência que possuem na vida daqueles que os admiram?

Vivemos em uma sociedade onde cada vez mais as aparências contam muito, as pessoas a cada nova situação que vivem, seja a degustação de um prato, ou a leitura de um livro, tem um ímpeto quase que insaciável em divulgar seus atos, nem sempre com o devido critério, relevância e oportunidade para isso. Todos querem reconhecimento, mas nem sempre, possuem atos e condutas que de fato sejam condizentes com esse desejo pelo reconhecimento.

Fatalmente, tal situação, se observa em nossos potenciais jogadores. Desejam reconhecimento simbólico e financeiro dos clubes, mesmo que, em muitos casos, não entreguem o mínimo que os clubes deles esperam: performance esportiva. “Orientados” por empresários, agentes, ex-professores das escolinhas e “amigos”, muitos destes jovens (e até seus pais) criam um mundo de fantasia em torno de si, pensando que por terem conquistado um espaço dentro de uma categoria de base, já percorreram sua jornada, e basta o clube reconhecer sua capacidade, lhes concedendo espaço para jogar e ótimos contratos. Estão querendo colher antes de semear. Se preocupam com a marca da chuteira, em postar fotos nas redes sociais, em ter o estilo do boleiro, mas na mesma proporção, será que estão preocupados em avaliar seu desempenho, evoluir suas deficiências e potencializar suas qualidades? E que ambiente de desenvolvimento integral os clubes têm propiciado a seus jogadores? A que nível de reflexão os tem conduzido?

Notoriamente, estes não são problemas exclusivos do futebol, a raiz deles está em nossa sociedade, em sua construção histórica. É preciso educar melhor, formar melhor, pois nossos jovens, estejam nas categorias de base ou não, estarão mais propensos a mudarem de atitude, a mudarem de perfil, quando lhes for proporcionado um contexto social diferente, quando a educação for realmente valorizada, quando os meios de comunicação/formação de opinião conscientizarem melhor seu público, e sobretudo, no que tange ao futebol, quando as comissões técnicas, também utilizarem o poder simbólico que possuem, não somente no intuito de extrair vitórias de seus jogadores, como se fossem “cavalos de corrida”, mas sim, para também lhes incutir valores e senso crítico, que os permitam sair da bolha onde insistem em os fechar.

“No jogo, as máscaras caem.”  Prof. Dr. Alcides Scaglia.

Até a próxima!

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Confederação Brasileira de futebol de 7 dá o exemplo

As eliminatórias Sul-Americanas para a Copa da Rússia acabaram sendo decididas pelos tribunais desportivos, uma vez que a escalação irregular de um atleta pela Seleção Boliviana acresceu 3 pontos para o Peru e 2 para o Chile na tabela.

Isso se deu porque a Bolívia utilizou jogador de forma irregular em partida que venceu o Peru e em outra que empatou com o Chile.

Esses pontos fizeram toda a diferença, colocaram o Peru na repescagem e eliminaram o Chile. Não fosse a escalação irregular, a situação das equipes seria invertida.

No campeonato brasileiro de futebol, invariavelmente, alguma equipe escala atleta de forma irregular e perde pontos.

A Confederação Brasileira de Futebol de 7, por meio de seu Presidente José Luiz Zouain, resolveu acabar com este risco e, de quebra, tornar transparente e profissional a gestão de seus registros e competições.

Para tanto, a entidade contratou a empresa mineira SporTI que criou uma plataforma que além de tornar pública e clara a condição de jogo de cada atleta, elimina a utilização de papel, torna pública as súmulas das partidas, traz clareza às transferências, atualiza em tempo real as informações e estatísticas das competições, realiza o controle financeiro, dentre outras ferramentas.

Ao acessar o sítio da entidade (www.cbf7.com.br) é impossível não imaginar como seria legal seguir as competições de outras modalidades, especialmente o futebol, em uma plataforma tão interessante.

A sensação é de estar consultando um álbum de figurinhas vivo com fotos, estatísticas e informações dos atletas.

Há, ainda, um estimulante ranking de equipes que se altera a cada rodada.

O mais interessante é que todas essas vantagens não trazem qualquer custo para a CBF7, pois a plataforma é auto-sustentável.

Vale a pena navegar e conferir o site da CBF7 e que essa ideia viaje por outras Confederações e Federações e retire, de vez, as dúvidas quanto à escalação de atletas do nosso bom e velho futebol.

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A diferença entre tática e estratégia

Ao longo dos anos, cada vez mais, os meios de análise e estudo do comportamento dos jogadores perante o jogo coletivo está se massificando e amplificando as inúmeras formas de se treinar e por consequência enxergar as muitas variações propostas pelos treinadores e equipe técnica.

O que sempre ganhou destaque no nosso futebol foram os jogadores, através das suas atuações individuais. Sempre enxergamos o jogo do individual para o coletivo, acreditando que o simples fato de colocarmos os melhores jogadores em campo, possibilitaria com o tempo “o encaixe” e o time jogaria naturalmente.

Com a globalização, a troca mais rápida de informações, e por consequência a diminuição do espaço em campo, a velocidade das ações aumentaram muito, pois cada dia mais o futebol se tornou um jogo dinâmico e rápido, onde o individuo é muito importante quando ele age perante o jogo coletivo.

A constante ocupação de espaço e a perda da posse de bola, estimula cada vez mais a organização das equipes dentro das quatro fases do jogo (organizações e transições).

Na sua essência, o futebol é um esporte aberto onde os jogadores têm pouco domínio sobre a bola, dificultando sua organização. Outro detalhe que contribui muito para a desorganização do conjunto é o enorme espaço que o jogo é disputado com muitos indivíduos em campo.

Ao compararmos o futebol com esportes como o futsal, handebol, vôlei, basquete, entre outros sempre observamos poucos jogadores em quadra, dentro de um espaço pequeno (facilita a comunicação entre os membros da equipe) e com um esporte jogado com as mãos (onde se tem um controle motor muito maior quando comparado com os pés).

Em virtude desse caos relacionado ao jogo, formas, meios e métodos de se treinar para buscar a constante organização coletiva apareceram, e com o tempo vem ganhando cada dia mais espaço e relevância perante o futebol brasileiro.

Cada vez mais conseguimos evoluir dentro das diversas escolas de treinamento e certamente com o tempo teremos nossa identidade de treino, nossa assinatura do jeito brasileiro de se treinar futebol sem perder a individualidade do talento, mas associar essa característica dentro de um jogo coletivo e eficiente.

Em virtude disso, passos importantes têm que dar e sempre estarmos atentos para os acertos, mas em especial nos equívocos para que possamos nos moldar e progredir no processo de atualização e ganho de identidade de jogo.

Tático: o que seria?

Muito ainda se confunde distribuição espacial dos jogadores em campo com a tática do time.

Isso é uma confusão pontual de nomenclatura, pois está mais relacionada a estratégia de jogo do que os aspectos táticos.

Os aspectos táticos de uma equipe estão relacionados a ideia de jogo do seu treinador.

Tudo que se relaciona ao treino, ao comportamento, tomada de decisões, atitude, metodologia de trabalho, entre outros está relacionado aos aspectos táticos da equipe.

Um exemplo bem simples:

Se a ideia de jogo do treinador é marcar sob pressão após a perda da posse de bola tendo uma transição defensiva dificultando ou impedindo o passe do adversário, os treinos devem estar associados a essa ideia, a esse conceito. Isso faz parte da tática da equipe, do jogo coletivo.

Se o treinador espera que a sua equipe jogue em contra ataques, esperando o adversário para uma transição ofensiva rápida e vertical, pouco importa aplicar treinamentos de manutenção da posse de bola e troca de corredores, pois estará ferindo a identidade do time, os aspectos e conceitos táticos definidos pela equipe técnica.

Veja que em nenhum momento citei números e distribuição dos jogadores em campo, por um motivo bem simples, os componentes táticos da equipe estão relacionados com o comportamento como a forma que eu aplico treino, para que minha equipe tenha uma ideia de jogo bem definida.

 Desde os exercícios mais simples até os mais complexos, todas as atividades devem contemplar as ideias do treinador. A tática é o norte da metodologia de trabalho, é onde a equipe técnica e os jogadores devem se basear para treinar e render.

Distribuição numérica

A distribuição numérica dos jogadores em campo, está relacionado com a estratégia escolhida pelo treinador para aquele jogo ou campeonato.

Não devemos confundir distribuição dos jogadores em campo com tática. A ocupação espacial é estratégia de jogo que apenas está relacionada dentro do plano tático.

A colocação dos números (1-4-4-2, 1-4-3-3, 1-4-2-3-1, 1-3-4-3, entre tantos) deve estar relacionada a diversos fatores, desde a característica do adversário, a forma como seu time vai atuar naquele dia, o objetivo do resultado perante a classificação, e diversos outros fatores.

É importante entender que essa distribuição numérica é apenas um dos componentes da tática escolhida pelo treinador.

A tática é o espelho do que seu treinador espera da equipe e vai desde as ideias até a metodologia de treino.

Com quantos defensores ou com quantos meias e atacantes a equipe vai atuar, configura apenas o plano de jogo para uma partida, não a tática escolhida.

As equipes mais modernas e bem treinadas, têm uma distribuição numérica sem a bola (organização defensiva) e uma diferente com a bola (organização ofensiva), mas sobre isso falaremos em outra oportunidade.

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Um jogo de imposições

Muito o que venho pensando, ultimamente, sobre o futebol está no simples fato de ser um jogo de confrontos, tanto individual como coletivo. E como qualquer enfrentamento, as duas partes querem ganhar, sobressair-se perante o outro, independente de suas vantagens e/ou vulnerabilidades. Um jogo de imposições, no qual o vencedor será aquele que vai se impor sobre o outro, mas não uma imposição momentânea, e sim uma imposição constante ao longo do jogo, em cada ação. Somando a isto, encara-se o jogo, por muitas vezes, como um exemplo de “luta” incessante, onde a concentração e a intensidade tem que ser sempre a máxima (mesmo sendo relativa). Lembrando que este jogo tem uma grande dependência das condições iniciais, uma coisa boa traz uma coisa boa, o gol traz confiança e auto-estima individual e coletiva.

E, o mesmo efeito se dá quando se rouba a bola ou induz o adversário a perde-la. Trazendo confiança para quem rouba a bola, e “dúvida” para quem a perde. Por isso, o pressing alto é fundamental para se defender bem. Defender bem pode ser caracterizado por gerenciar os espaços do campo e de progressão do adversário, induzindo e manipulando o oponente (controlando o jogo). Mas, defender bem também está em conseguir ter a bola mais vezes, conseguir recuperar a bola mais vezes, consequentemente, atacando mais.

Como tudo que envolve o futebol “cientificamente”, é preciso saber realizar o “pressing alto” para se pressionar bem (para se pressionar de qualquer jeito, não). Aliás, a impressão que passa quando se pressiona de qualquer forma, é quase que de “desespero”. Uma equipe que quer muito a bola e não sabe como tê-la, tenta fazer qualquer coisa a qualquer momento. Deixando muitos espaços entre linhas de marcação, vulnerabilizando a estrutura defensiva da equipe. A contrapartida está no fato de que esta “qualquer coisa” se dá de forma intensa. Geralmente, o jogador exprime o máximo de si, o que por um lado é bom. Contudo, neste caso, não há uma sincronização e harmonia entre os “fazeres” dos jogadores. Ou seja, dar o “máximo” não é a solução, podendo até ser prejudicial, caso esse “máximo” não for organizado coletivamente.

Em termos de preceitos científicos e metodológicos, o pressing alto tem em sua referência uma “ligação” mais forte com o posicionamento/movimentação do adversário do que com o espaço e/ou o posicionamento da bola (sendo estas duas últimas referência mais fundamental na marcação zonal). Essas orientações de posicionamento/movimentação do adversário é circunstancial, ou seja, forte dependência da leitura que cada jogador tem do momento em questão. Cabe a cada jogador ler o momento e saber fazer o pressing alto. E cabe ao treinador não atrapalhar muito nesta situação oferecendo um emaranhado de regras (princípios), guiando por inteiro o comportamento do jogador, consequentemente, limitando a leitura de jogo daquele momento. Compete ao treinador oferecer uma gama variada de situações em treinos que possibilitem e capacitem os jogadores a saberem lidar com situações de pressão ou pressing (como bem sabem, “pressão” para mim é uma expressão individual e “pressing” um expressão coletiva).

O mesmo raciocínio pode ser utilizado na iniciação ofensiva sobre pressing alto (quando a equipe tenta sair com posse desde a 1˚ linha defensiva, sobre pressing daqueles que tentam diminuir os espaços ou roubar e/ou recuperar a bola).

O vídeo abaixo pretende exemplificar um pouco deste pensamento:

Alguns falam que é preciso ter “coragem” para poder ter posse sobre pressão. Penso um pouco além disso, ao meu ver é preciso saber corresponder com um satisfatório nível técnico a pressão/pressing do adversário, pois o oponente está diminuindo os espaços de atuação do portador da bola. Somando a isso, se torna imprescindível a constante movimentação e procura de linha de passe daquele que vai receber a bola, advindo do portador da bola que está sobre pressão do adversário. O que tenciona mostrar neste pequeno vídeo de uma equipe que está construindo a posse sobre pressing do adversário e com inferioridade numérica (10×11):


 

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Internacionalizar é preciso

Muito se fala do cenário em que jovens brasileiros optam para torcer por clubes europeus. O que acaba por se tornar grande concorrente dos clubes locais em busca de novos torcedores. A este cenário soma-se a máxima de que antes de buscar internacionalizar a marca de um clube de futebol, é preciso consolidar-se no mercado local.

Como se “Internacionalização” fosse exclusivamente isso.

Sim, é preciso ser mais forte dentro das suas fronteiras. Entretanto, dentro de um ambiente cada vez mais globalizado – como é o futebol – comunicar a instituição vai além da conquista de mercados. É como ela será reconhecida pelo mundo. Dentro do universo da comunicação estratégica do esporte, é a representação fiel e digna dos pilares da organização, da missão, visão e valores que ela possui. Como ela quer ser vista e reconhecida dentro do mercado do esporte, especificamente do futebol.

Foto: AFP PHOTO/Luis Acosta
Foto: AFP PHOTO/Luis Acosta

 

Com o desenvolvimento das comunicações e das redes sociais, o contato com clubes, seleções e ídolos de todo o planeta está diretamente nas palmas das nossas mãos. E nas mãos do mundo inteiro. O nosso idioma está longe de ser o mais falado no planeta e continua sendo grande barreira dentro de um processo de internacionalização. A simples utilização de outros idiomas nas comunicações digitais já confere à instituição uma reputação de agradável e atraente sob a ótica dos seguidores do futebol em outros países. Entretanto, geralmente quando isso acontece no Brasil – da utilização de outros idiomas nas comunicações – é com o objetivo de exportar atletas, não em também comunicar o clube enquanto organização esportiva para fãs do esporte que – em um segundo momento – podem se tornar consumidores.

É importante para uma marca que, para além de ser consumida, ela seja lembrada no mercado. Sobre saber que a marca existe. Entre os exemplos, muito antes de ter expressiva audiência no Brasil ou de contar com vários brasileiros em suas equipes, a NBA (liga norte-americana de basquetebol) já tinha um site em Português-Brasileiro.

Infelizmente iniciativas como estas raramente são levadas a cabo pelos clubes brasileiros e até mesmo pelas seleções de futebol do país. Um jovem daqui que acompanha o esporte saberia citar cinco ou seis clubes de cada potência do futebol mundial. Mas a mesma coisa muito pouco acontece quando os jovens destes outros países são procurados para mencionar clubes brasileiros.

Com tudo isso, dentro de um cenário cada vez mais integrado em escala global, o futebol do Brasil precisa se posicionar para o mercado externo, seus clubes e seleções. Em como querem ser reconhecidos, vistos e lembrados pelos fãs de futebol pelo planeta, tão importantes para uma marca quanto atrair consumidores. Isso é internacionalização.

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A falta de convicção e o drama argentino

Marcelo Bielsa não é apenas um dos treinadores mais badalados do futebol atual, mas um grande influenciador. Nomes como Pep Guardiola costumam salientar a relevância que as ideias de “El Loco” têm em seus trabalhos. Ainda assim, o Lille comandado pelo argentino é apenas o 18º colocado na temporada 2017/2018 do Campeonato Francês – cinco pontos em sete partidas, campanha que insere a equipe na zona de rebaixamento à segunda divisão nacional.

É claro que a temporada ainda está no início e que os resultados ruins do time dirigido por Bielsa não passam de um recorte, mas a campanha é suficiente para uma reflexão: o Lille tem conceitos adequados ao futebol moderno e uma identidade em construção, mas não é simples impingir conceitos ou construir identidade. Tudo isso demanda tempo, paciência e convicção de diferentes estratos (torcida, jogadores, comissão técnica, funcionários e colaboradores da instituição, imprensa e diretoria, por exemplo).

O risco que o Lille corre é escolher o caminho mais fácil: trocar Bielsa por uma solução emergencial, que tenha menos compromisso com as ideias e mais facilidade para o curto prazo. Existe material humano para extrair mais resultados do elenco, mas é resultado que a diretoria persegue, afinal? É melhor seguir flertando com o meio da tabela e depender de uma lista enorme de variáveis para emplacar uma temporada positiva ou construir um perfil que possa caminhar independentemente dos placares favoráveis e que atraia o torcedor para criar um ciclo positivo?

Trocar o treinador nem sempre é um erro; tudo depende, basicamente, do que a diretoria pretende com a mudança. Se a demissão for apenas uma resposta midiática a resultados ruins, sem qualquer convicção ou diretriz, simplesmente não funciona. Se a proposta for buscar outro perfil, pode fazer sentido a despeito da duração do trabalho anterior.

Toda essa reflexão tem a ver com a situação da seleção argentina, que entrará na última rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2018 dependendo de uma combinação de resultados para obter uma das vagas do continente no torneio. O time de Lionel Messi tem 25 pontos e ocupa atualmente a sexta posição do qualificatório, que distribui quatro vagas diretas e ainda envia uma equipe a uma repescagem.

A Argentina jogará contra o Equador fora de casa na rodada derradeira – no horário de Brasília, o confronto está agendado para 20h30 desta terça-feira (10). Para ir à Copa, precisa vencer e torcer para uma vitória do Brasil sobre o Chile em São Paulo, derrota do Uruguai para a Bolívia em Montevidéu ou empate entre Peru e Colômbia no Peru.

Não é difícil imaginar que ao menos um dos resultados dos outros jogos seja favorável aos argentinos. Hoje em dia, o mais complicado é imaginar que a seleção vença o Equador fora de casa, ainda que eles tenham Lionel Messi e que os mandantes já estejam eliminados.

O drama dos argentinos é o ápice de uma trajetória permeada por resultados irregulares. O time de Messi chegou a não ser mais de Messi – em meio às Eliminatórias, o camisa 10 chegou a anunciar que havia se aposentado da seleção e precisou ser convencido a retornar. Além disso, foram 40 jogadores convocados – o goleiro Romero, com 17 partidas, e o atacante Di María, com 16, são os recordistas.

O que chama mais atenção na trajetória argentina, contudo, é a história das mudanças de comando técnico. A seleção começou as Eliminatórias sob Gerardo Martino, um treinador de estilo ofensivo, defesa com linha alta e pressão sobre a saída de bola. Trocou por Edgardo Bauza, que prefere posicionar suas equipes com duas linhas de quatro, blocos baixos e jogo reativo. Mudou mais uma vez para Jorge Sampaoli, um discípulo de Bielsa.

Sampaoli colecionou três empates nas Eliminatórias. Mudou demais a seleção, testou desenhos diferentes e cometeu erros de escolha que podem ter sido decisivos a essa altura. Na rodada passada, por exemplo, colocou Benedetto, centroavante voluntarioso do Boca Juniors, no comando de ataque. Jogando em casa e diante de uma forte defesa peruana, preteriu talentos como Dybala, Icardi, Higuaín e Palacio – Agüero poderia ter sido utilizado, mas estava fora de combate.

A maior marca da trajetória argentina nas Eliminatórias é a falta de convicção. Faltou convicção na escolha dos treinadores, na definição dos jogadores e até na situação de Messi, grande nome da geração, ainda muito questionado pela falta de títulos com a camisa da seleção nacional.

Dependendo do que acontecer na última rodada das Eliminatórias, as análises sobre a seleção argentina podem ficar concentradas nos técnicos, nos jogadores ou na capacidade de decisão de Messi. Contudo, nada disso forma trabalho; se existe algo a ser questionado na Argentina pré-Copa de 2018, esse elemento é a ausência de certeza no trabalho desenvolvido.

Futebol é um esporte que depende de uma imensa quantidade de variáveis e que é muito maior do que o que acontece nas quatro linhas. É difícil falar em certo e errado ou em qualquer receita para o sucesso num ambiente tão volátil. O exemplo argentino, porém, mostra que há formas bem claras de evitar desvios no caminho. Acreditar é a principal delas.

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Gerindo o futebol como negócio

No futebol brasileiro, ainda convivemos com situações inadequadas de atuação dos gestores e executivos de futebol nos clubes brasileiros: o amadorismo. Seja por qual motivo for, ainda estamos em patamar amador de gestão, no qual decisões passionais e problemas de comunicação levam estes colaboradores a situações complicadas e ainda degradam o ambiente no qual trabalham. Então, qual ou quais seriam alguns pontos importantes para uma boa gestão do futebol, como um negócio, levando em consideração suas características peculiares.

Eu acredito que existem vários pontos importantes para uma boa gestão do futebol e vou destacar dois na coluna de hoje, inclusive já comentei brevemente sobre eles em outra ocasião. Vamos lá.

1 – Conhecer o planejamento estratégico de um clube de futebol

Conhecer o planejamento estratégico, contribuir para a sua elaboração e atuar conforme este planejamento, se faz uma grande responsabilidade do gestor esportivo. Podemos compreender o conceito de planejamento estratégico como sendo um filtro da viabilidade futura, onde os planos estratégicos apresentam as oportunidades do amanhã, pois:

  • Fomenta oportunidades de novos espaços;
  • Extrapola as fronteiras das unidades de negócios;
  • Revela as necessidades dos clientes.

Ainda, num planejamento estratégico devem ser identificados os pontos fortes e fracos, as ameaças e as oportunidades das atividades do negócio futebol, necessárias às decisões que definem os destinos de produtos e serviços e como consequência o sucesso ou o fracasso das organizações. Para elaborar um planejamento estratégico que atenda às necessidades de um clube de futebol, é necessário ter o entendimento abrangente de todo o ambiente interno, a fim de conhecer os elementos de planejamento, ou seja, objetivos do clube, objetivos das áreas funcionais, desafios, necessidades de informações, processos gerenciais, etc.

2 – Estruturar e atuar conforme o modelo de gestão do futebol do clube

Um gestor do negócio futebol, que não conheça e não pratique um modelo de gestão, está caminhando a passos largos ao insucesso de sua gestão. Ter um modelo, acreditar nele e atuar com transparência adequada, traz elevadas chances de se conseguir uma gestão eficaz, na qual os projetos de melhoria e a gestão da rotina são grandes aliados no trabalho em si.

Na minha compreensão, um modelo de gestão tem como objetivo garantir o alinhamento de toda a entidade esportiva em busca dos objetivos estratégicos da organização e fornece suporte à decisão. Este também estimula o trabalho em equipe e a colaboração entre as áreas de uma organização esportiva, reforçando que todos estão com o mesmo alinhamento e compartilham dos mesmos objetivos. Faz parte necessária compreender o conjunto de crenças, valores e princípios que determine a forma como o futebol de um clube e o próprio clube é administrado.

Na prática, o modelo de gestão pode ser definido ainda com um conjunto de métodos, suportado por diversas ferramentas de gestão e aliado a uma atitude adequada das lideranças e dos colaboradores na aplicação destas na organização esportiva. Trata-se de um salto de qualidade na gestão de clubes e entidades esportivas. Ao definir-se um modelo de gestão, estabelecemos uma linguagem comum dentro da organização.

O novo gestor precisa estar atento à aplicação dos conceitos de gestão nas entidades esportivas, conhecer temas como planejamento estratégico e modelo de gestão é premissa obrigatória na competência de gestão dos novos profissionais.

Então, amigo leitor, na prática todo gestor esportivo ligado ao futebol tem por necessidade não só de conhecer, como também de atuar conforme um planejamento estratégico definido e um modelo de gestão eficaz, pois sem eles muito das decisões cotidianas são apenas emocionais, impensadas e remetem apenas a experiências passadas destes profissionais, que eventualmente não se aplicam mais ao cenário atual do esporte.

Até a próxima.

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Identidade de jogo: você realmente joga como treina? – Parte 2

Olá a todos! No primeiro artigo demos uma introdução do que significa ter uma identidade de jogo a partir das duas únicas fases do futebol, ou seja, posse ou não posse de bola. Uma de suas características principais é conseguir manter os mesmos conceitos de jogo independente das variáveis já citadas no artigo anterior.

Identidade de jogo: você realmente joga como treina? – Parte 1

Neste artigo vamos definir uma identidade de jogo e a partir dela refletir sobre o planejamento do que seria necessário para conseguir em partida realmente jogar como se treina.

O primeiro passo para ter uma identidade é crer fielmente que desta maneira você e seus jogadores terão maior probabilidade de vencer os jogos, a coisa mais importante é convicção sua e de todos do staff técnico na sua proposta de jogo pois a comunicação e a linguagem comum entre todos os membros é fundamental.

Hipotizamos que o staff técnico tem como ideia comum o comando de jogo a partir da posse de bola e vamos começar a pensar como devemos treinar nossos jogadores a partir desta ideia de jogo.

Para um comando de jogo, pressupõe-se uma equipe que durante as partidas tenham como percentual no mínimo 51% de posse de bola. A partir deste pequeno e óbvio dado, temos que pensar em nossos treinamentos semanais. Se a equipe quer ter a posse de bola pelo maior tempo possível, o primeiro passo nos treinamentos será aumentar o volume de treinos no qual a equipe tenha sua posse, ou seja, cerca de 65% – 70% dos treinamentos devem ter como objetivo reconhecer os espaços (principalmente determinado pelos adversários), distância de relação entre os jogadores e superioridade numérica, posicional e qualitativa em posse de bola. Isto não significa ter a posse para sua manutenção mas para a preparação coletiva de chegar ao gol adversário. A posse de bola para a manutenção do resultado por exemplo, não entra na ideia de identidade de jogo pois ela seria uma variável sem um resultado vigente.

Durante um microciclo de treinamento, o trabalho no reconhecimento destes conceitos nas três zonas do campo (Construção, Gestão/Preparação, Finalização) são fundamentais para o comando do jogo. Os outros 30%-35% do tempo se deve aos mesmos conceitos citados mas na fase de não posse de bola e fase defensiva em posse (*marcação preventiva, por exemplo).

Segundo a relação técnica da Champions League 2015/2016, TODAS as equipes participantes independente de sua identidade de jogo apresentaram uma média de 63% de passes médios (10mt – 30 mt) já para passes considerados longos cerca de 17% (acima de 30 mt), e para passes considerados curtos foram cerca de 20% (até 10 mt). Apenas com este dado nos dá uma ideia de como programar exercícios técnicos com as distâncias de relação, reconhecimento racional dos espaços para encontrar as três superioridades (numérica, posicional e qualitativa) para sua equipe em fase de posse.

Segundo os dados da mesma relação técnica da Champions League 2015/2016, as situações mais frequentes que terminaram em gol foram:

– Reenvio da bola que permitiram imediatamente a posse de bola ao adversário (10,95%)

-Passe ou domínio errado da parte do adversário (10,66%).

Com este segundo dado fica evidente como as habilidades técnicas de base (domínio, condução, e passe) e capacidade de escolha se tornam pilares para este tipo de identidade. O domínio em todas suas formas (aberto, de proteção, em velocidade, com finta, orientado), os diferentes tipos de passe (vertical, diagonal, horizontal, curto, médio e longo), a condução (em velocidade; para conquista campo, para atrair adversários, para realizar superioridade numérica com 1vs1) devem ser trabalhados de maneira exaustiva.

O primeiro objetivo e um dos principais da equipe independente do sistema tático (1-4-3-3, 1- 4-3-1-2, 1-3-5-2…), é superar a primeira linha de marcação adversária, uma vez realizado este objetivo, as outras linhas e jogadores adversários terão que sair de suas posições para cobrir os espaços e a possibilidade de encontrar as superioridades numéricas e posicionais se tornam maiores. Para que este primeiro objetivo possa ter maior probabilidade de acontecer, o goleiro será umas das peças fundamentais na manobra pois, ele será o jogador que dará a superioridade numérica para a ação na zona 1 do campo, ou seja, o tempo de trabalho de um goleiro com os pés para que reconheça todos os conceitos já citados, deverá ser maior, o que exige um planejamento diferenciado.

Uma vez que a equipe e seus jogadores conseguirem entender e interiorizar a identidade de jogo proposta, os treinamentos e exercícios propostos terão maior compreensão para todos que o realizam pois os objetivos serão claros e respeitam as reais dificuldades e objetivos que encontrarão dentro de uma partida.

Implantar uma identidade de jogo (com posse ou não posse de bola) requer planejamento, treinamento e tempo para que os jogadores consigam aprender, realizar e principalmente interiorizar seus conceitos. O apoio por parte do clube como entidade em um projeto de identidade de jogo deve ser incondicional para que o objetivo possa ser alcançado independente de quem o realiza, mantendo um perfil definido mesmo com troca de treinadores.

Abraço a todos!
 
*Marcação preventiva: nome dado a disposição tática dos defensores enquanto a equipe está em zona de finalização.
Referências Bibliográficas:
https://it.uefa.com/MultimediaFiles/Download/uefaorg/General/02/40/05/19/2400519_DOWNL OAD.pdf