Dentro desta coluna já foi falado que marketing esportivo tecnicamente trata-se de conceber um produto do esporte para ser disponibilizado no mercado (“market”), pronto para ser consumido. E são vários os que podem ser vendidos e comprados. Entre eles, aqueles que trabalham com história do futebol, seus clubes, federações, ligas…e até mesmo cidades e países! Nessa linha de pensamento estão os museus temáticos, pôsteres e passeios.
Entretanto, como que uma cidade ou um país possui um produto esportivo relacionado à história?
Uma ideia bacana teve a prefeitura de Montevidéu, capital do Uruguai. O país recebeu em 1930 a primeira Copa do Mundo. Logo, lá aconteceu o primeiro jogo e o primeiro gol. Por que não lembrar-se deste primeiro gol e “materializá-lo” de alguma forma? Claro que sim! Entretanto, um problema: o estádio já não mais existe, o antigo campo de Pocitos, onde hoje é uma zona residencial.
No entanto, em um trabalho de pesquisa, as autoridades locais conseguiram localizar as ruas, exatamente onde ficava o campo de jogo. No local construíram um marco para o centro do campo e outro para a baliza onde saiu o primeiro zero do placar nos mundiais, com placas em alusão ao feito, ocasião com data e hora.
Para quem gosta de futebol, lembranças como estas possuem imenso valor. Não surpreendeu quando os moradores da rua disseram que os marcos lá instalados recebem turistas do mundo todo. De longe parecem simples referências, mas de perto percebe-se a grandeza desta lembrança e a importância que teve aquele fato para toda a história do futebol.
Lembrar o passado de uma instituição é, acima de tudo, respeito a um patrimônio (material ou imaterial, como no caso). O resgate da história gera cultura, cultura é intrínseca aos valores, que levam à tradição, que geram dedicação e empenho, fatores fundamentais para a vitória. Ou então para uma filosofia vencedora. Orgulho. E uma cidade, através do esporte, tem dado esse exemplo. Se eu fosse de lá, sentiria – bastante – orgulho disso.
Em tempo: o lugar do primeiro gol da história das Copas do Mundo é na rua Coronel Alegre, entre Silvestre Blanco e Charrua, no bairro de Pocitos, em Montevidéu.
Dia: 14 de fevereiro de 2018
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Olá a todos, neste artigo iremos refletir sobre uma questão que está na base de qualquer microciclo do treinamento de futebol. Que são os treinos de técnica analítica e situacional. Utilizaremos a condução como exemplo de gesto técnico para analisar o modo e o porque treinamos (ou não) nestes dois modos.
Para se treinar o futebol se pensa que descompor o jogo possa enfatizar um determinado princípio, conceito ou gesto técnico podendo chegar até o máximo da previsibilidade de um exercício que é o de técnica analítica.
Dentre os modelos de aprendizagem do futebol é muito comum dividir por faixa etária os gestos técnicos, que devem ser “ensinados” aos garotos até sua fase adulta com a crença que realizando o gesto técnico isso “automaticamente” possa ser reconhecido e realizado em uma situação de jogo.
Tendo como exemplo a condução como gesto técnico, vamos analisar o treinamento analítico como instrumento para apreendê-lo ou aperfeiçoa-lo. A ideia é que se possa isolar as demais variáveis do jogo como: companheiro, adversário, posição no campo, fase de jogo, gestão emotiva, capacidade de escolha, entre outros, para se ter o foco quantitativo nos componentes técnicos para realizar uma boa condução; com diferentes partes do pé, em diferentes velocidades, número de toques, mudanças de direção, etc.
A reflexão que devemos fazer é se estamos seguros que isolando qualquer tipo de gesto técnico no futebol, o próprio jogador conseguirá transferi-lo em partida. Um jogador que sabe realizar a condução com boa técnica, saberá reconhecer quando e o porque realmente serve durante a partida?! Exemplos: para conquistar espaço, para atrair adversários ou para realizar um dribbling. Como diz Julio Velasco: “Nós devemos partir do jogo com a ideia de ensinar a jogar. Muitas vezes não ensinamos a jogar, mas ensinamos a fazer um exercício. Não se usam exercícios como instrumento para jogar, senão treinamos jogadores a fazerem bem um exercício, pensando que o “tranfert” ao jogo seja algo simples e não é, por nada! (Julio Velasco – ex treinador de vôlei da seleção italiana).
Quando realizamos o treinamento situacional esperamos rever os gestos técnicos treinados de forma analítica sendo aplicada. Ao analisarmos os gestos técnicos estamos observando na perspectiva de tempo e espaço?! Quando se faz treinamentos de jogos reduzidos serve ter regras de número máximo de toques? Como o jogador pode reconhecer a importância da condução como resolução de problemas? Quantas vezes um jogador tem espaço para conduzir a bola e quase que automaticamente procura um companheiro a quem passar?! Como a questão é sobre quando conduzir, não podemos limitar os toques em exercícios situacionais e sim corrigi-los durante sobre o porque e quando realiza-los.
Podemos ver neste vídeo o jogador Frenkie de Jong (20 anos) do Ajax, da Holanda, que parece ter bem claro os princípios e a importância da condução.
Estes pontos de reflexão têm como base entender que o jogador, assim como o jogo, é uma unidade. Tudo o que o jogador precisa para melhorar em qualquer aspecto (também físico) já está dentro do jogo.
Temos a ideia de se treinar tudo aquilo que é necessário para jogar futebol tirando do próprio jogo para depois “recoloca-lo” dentro. Quando se realiza a condução (como qualquer outro gesto técnico) em um determinado momento da partida, temos de compreender mais o “porque” que o “como”. Esta perspectiva pode mudar o modo na qual analisamos o todo e, principalmente, o modo que pensamos à um exercício seja analítico que situacional. O exercício não deve ser simplificador, mas facilitador da compreensão do jogo. Como diz Oscar Cano: “O primeiro erro é chamar treinamento no momento que pressupõe que devemos jogar. Treinar é reproduzir e o futebol não se presta, pela sua natureza, a ser reproduzido as ações específicas. Se deve ir a jogar, não a treinar”. (Oscar Cano – Treinador de futebol; especialista em jogos posicionais).
Abraço a todos!