Dias atrás a Confederação Brasileira de Futebol elegeu um novo presidente, Rogério Caboclo. O antigo, Marco Polo del Nero, foi banido da modalidade pela Federação Internacional de Futebol. Até que se prove o contrário, nada vai mudar no futebol do Brasil. Haja vista o cenário de como se deu a eleição, e todo o tempo que houve na preparação dos bastidores para que Del Nero pudesse fazer seu sucessor. Cumpre-se o ditado: “Tudo como d’antes, quartel-general de Abrantes”.
Já diz o Professor e Filósofo Manuel Sérgio: “o futebol é um serviço público”. É notável a exigência, por parte da opinião pública, por mudanças na entidade máxima do futebol do Brasil. Torcedores, imprensa e formadores de opinião. Entretanto, é preciso saber de maneira bem clara qual é a mudança que se quer para o futebol do Brasil. Depois disso, exigi-la.
Transparência no processo decisório é um item bastante questionado. Por mais que a confederação e as federações sejam entidades de direito privado, suas atividades comunicadas de maneira clara e acessível são capazes de aproximá-las e conectá-las ainda mais aos torcedores e formadores de opinião. Tomadas de decisão não são simples, levam tempo, e requerem, sobretudo, viés estratégico (o porquê de se decidir por algo, como e com que recursos), além de método e capacidade de execução. Observam-se estas características nas instituições voltadas para o mercado. Orientadas pelo lucro.
As entidades de administração do esporte, sobretudo as do futebol, foram construídas ao longo da história com base no favorecimento de um determinado grupo político, para fortalecimento dele e manutenção do poder. Apoiado pelos resultados dentro de campo (um pentacampeonato mundial, por exemplo), esses grupos ficaram fortes e criou-se uma cultura de poder difícil de erradicar. Toda a mudança que se propõe pode vir de baixo e emanar do movimento entre os clubes. No entanto, qual é o clube forte o suficiente para “comprar uma briga” com a federação estadual? E qual a federação que “compraria uma briga” com a confederação? Ao se colocar em uma balança, o prejuízo político deste clube ou da federação que “briga” pode ser bem alto e, por isso, não valer a pena.
Então quer dizer que as entidades de administração do esporte, especificamente neste caso, do futebol, devem visar sempre o lucro, como capitalistas “famintos” por resultado financeiro? Sim! Agir como “famintos” é apenas como figura de linguagem. Acima de tudo, é preciso respeitar os dois elementos mais importantes do esporte: o atleta e o torcedor, que é o público-alvo. Ademais, fazer cumprir seus papéis que são de difundir e proteger o esporte.
Ao fechar-se em pequenos e restritos grupos, os dirigentes afastam cada vez mais torcida e opinião pública. Não agir de maneira transparente coloca em xeque todo o processo decisório das instituições e permite o levantamento de suspeitas acerca do favorecimento pessoal dos seus membros. A gestão se torna ineficiente, uma vez que tem como base o clientelismo e tráfico de influência. Não o mercado. A prazo, caem em descrédito, perdem a base de torcedores (que vão ver mais jogos de ligas estrangeiras) e a fuga de patrocinadores, que também exigem esta transparência e têm se organizado para apoiar as entidades que cumpram uma série de requisitos, dentre eles, a governança.
Portanto, a mudança acerca do processo decisório é apenas uma característica que a opinião pública exige das entidades de administração do esporte no Brasil. Mudar de presidente e banir o antigo não vai mudar muita coisa. Os problemas não acabarão em curto prazo. É preciso saber, antes de tudo, o que se quer mudar e exigir isso. O futebol mais acessível e ao alcance de todos, dentro e fora de campo. Por que é interesse público.