A violência que sofreu a delegação da Sociedade Esportiva Palmeiras há uns dias, quando teve o ônibus atacado por pedras atiradas por torcedores instantes antes do jogo contra o Atlético Junior/COL é de deixar qualquer um incrédulo. As pedras poderiam ter acertado um atleta, provocado lesões – irreversíveis, inclusive. É inexplicável. Não é normal.
Há os que dizem: “ah, mas são torcedores mais exaltados”. Ora, isso não é torcer. Não é normal aceitar estes episódios de violência. Não há motivos, não há razões. Colocar em risco a vida de uma pessoa por questões fúteis, por mais importante que seja o esporte e especificamente o futebol, é injustificável. Há dias bons e há dias não tão bons. Uma hora se ganha, outra se perde. E há outros atletas e equipes em dias melhores que os da equipe que você torce. Qual o problema em não entender que a dinâmica do esporte e da vida passam por isso? Em outras palavras, a vida do torcedor não muda.
É a organização, a instituição, no caso o clube, a equipe – e somente – que deve refletir sobre os resultados obtidos dentro e fora de campo. Eles sim precisam dos resultados e o ambiente em que trabalham já há uma natural pressão que coloca os atletas à prova o tempo todo: quer seja no treino, quer seja no jogo, quer seja com a família, com os amigos e fora de campo, afinal são pessoas públicas e estão sob constante vigilância. Há quem goste disso, mas há os que não. Gostando, ou não, o monitoramento muitas vezes ultrapassa a intimidade e é capaz de incomodar e afeta o trabalho. Coloque-se no lugar deles ou imagine o seu trabalho tendo a projeção pública como a que eles têm.
No entanto, existem hipóteses em que é possível entender uma das origens desta violência. Uma delas é a gestão amadora de outrora, cuja conivência e o compromisso com pessoas com o objetivo de desestabilizar e causar situações – como a que a delegação alviverde passou – acabam por colocam o clube no limite. Essa desestabilização é capaz de gerar desconforto e, a prazo, mudar o rumo da instituição a fim de favorecer certos grupos. Típico de uma administração voltada para “dentro” e não para o mercado, para de fato todos os torcedores do clube. A impunidade, a conivência e o histórico de convívio com este tipo de situação ainda favorecem a existência deste comportamento em muitos clubes em todo o país.
Comportamentos como este apenas destroem. Não constroem, não agregam, não geram valor. Afastam os torcedores, afastam o público, sobretudo as crianças, que vão buscar outras opções de paixão (sim, paixão) e entretenimento. É questão de tempo as grandes indústrias de entretenimento esportivo do planeta (Manchester City, Liverpool) terem unidades de negócios (leia-se equipes esportivas) no Brasil. O mercado consumidor é vasto e com bom poder aquisitivo.
Portanto, é preciso romper com o que é anormal, com o que é imoral. Deixar de ser conivente com práticas do passado, como a violência (que nunca foi mesmo normal). Respeitar o próximo (neste caso o atleta profissional) em todos os setores da sociedade para que passo a passo possamos construir um país melhor, mais justo e decente. Que não tolere o que não é normal não apenas no universo do futebol.
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Em tempo mais uma frase desta coluna:
“Os cartolas pecam por ação, omissão ou comissão.”
Armando Nogueira (1927-2010)