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A questão dos ‘home-grown playersé na Europa

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Todos nós sabemos que o mercado Europa infesta-se de jogadores de futebol brasileiros. E não é à toa. Nossos jogadores, via de regra, mostram no Velho Continente que possuem uma qualidade técnica que em média é muito superior aos demais jogadores, eu diria, do mundo (exceção talvez feita aos jogadores argentinos).
 
De toda forma, o que temos notado é que aqueles jogadores formados fora da Europa terão, a cada dia, maior dificuldade de atuar em clubes europeus.
 
A Uefa (confederação continental européia) tem grande preocupação com a formação de jogadores europeus (os chamados “home-grown players”). Para se ter uma idéia, durante a temporada 08/09 nas suas principais competições de clubes (Liga dos Campeões e Taça Uefa), adotar-se-á a regra de que, do limite de 25 jogadores que podem ser inscritos, oito obrigatoriamente devem ser formados na Europa (entenda-se formado na Europa, em linhas gerais, o jogador que tenha sido registrado por um clube europeu durante três temporadas no período entre seus 15 e 21 anos).
 
O número parece pequeno de home-grown players, porém tem sido gradualmente elevado. Na temporada 06/07 eram quatro. Na temporada 07/08, foi aumentado para seis.
 
A Fifa também apóia essa iniciativa. Vimos o Presidente Blatter dizer na cerimônia de entrega de da Copa de 2014 ao Brasil: “Jogadores brasileiros, fiquem em seu país.”. A grande justificativa é o receio de que se perda a identidade local dos clubes, com o excesso de jogadores que, por terem sido formados fora daquele país, não colaborariam para manter viva a cultura local através do futebol.
 
Interessante notar que essa regra nada diz respeito com relação à questão da cidadania do jogador. Ou seja, o que importa é que a quota mínima de jogadores tenha sido treinada na Europa, podendo ser de outra nacionalidade. Brasileiros poderiam “driblar” essa regra caso tenham sido treinados pelo menos três temporadas nas suas formações em clubes europeus.
 
Para a questão da cidadania, lembramos que existe outra regra que limita o número de estrangeiros dentro das quatro linhas, dependendo da competição.
 
A questão interessante a se pensar é até que ponto chegará esse limite mínimo de home-grown players que vem crescendo a cada temporada? Poderá um dia haver uma tentativa de não se admitir jogadores formados no exterior? Além disso, questões de ordem legal saltam aos nossos olhos: não seria uma regra que limitaria o direito de trabalhar dos jogadores? E o direito a livre concorrência? Ou essas questões estariam cobertas pela especificidade do esporte?
 
E não seriam apenas os jogadores os prejudicados. Do outro lado da balança temos os clubes e as ligas européias, que obviamente querem times mais competitivos, e, portanto, recheados de estrangeiros de qualidade. Essas partes igualmente se oporiam a uma limitação exagerada de jogadores formados no exterior.
 
Até onde temos notícia, não há julgados nas Cortes européias sobre essa matéria. Mas, certamente, caso o limite mínimo de home-grown players continue a subir, muitos casos deverão surgir.
 
Vendo a questão pelo lado do mercado brasileiro, essa potencial confusão jurídica pode dar mais uma deixa para que os clubes e federações aproveitem para manter bons jogadores por maior período no Brasil, e assim colaborar para o desenvolvimento do futebol pátrio.

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O trabalho integrado e a mensagem escondida do ‘Eu-Bola João 8:32’

Poderíamos destrinchar os fundamentos técnicos de futebol e um sem número de divisões e subdivisões. Para tornar clara a minha linha de raciocínio me aterei aos “principais” (ou conceitualmente mais conhecidos pelas pessoas em geral).
 
Em um jogo temos, para os jogadores de linha, o passe, o cruzamento e o lançamento (que são formas de passe), o desarme, a interceptação, o cabeceio, o controle, o domínio de bola, a condução, o drible e o chute.
 
Segundo Júlio Garganta (1998), no capítulo “Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos” do livro “O ensino dos jogos desportivos coletivos”, o jogo coletivo, e aqui especificamente o futebol, sob o ponto de vista didático, apresenta diversos níveis de relação entre jogadores da mesma equipe, adversários, bola e alvo. De forma hierárquica essas relações respeitariam a seguinte ordem acumulativa:
 
1 – Eu-bola: atenção e controle sobre a bola.
2 – Eu-bola-alvo: atenção sobre o objetivo do jogo.
3 – Eu-bola-adversário: combinação de habilidades, conservação da posse da bola e busca da finalização.
4 – Eu-bola-colega-adversário: combinação de habilidades de desmarcação, apoio, contenção e coberturas.
5 – Eu-bola-colegas-adversários: desenvolvimento de conceitos de linhas de passe, penetração, coberturas ofensivas.
6 – Eu-bola-equipe-adversários: aplicação formal dos princípios do jogo ofensivos e defensivos.
 
Essas relações estão intimamente ligadas aos fundamentos técnicos do jogo. O eu-bola, especialmente ao controle e condução de bola. Ao eu-bola-alvo acrescentamos a finalização. O eu-bola-adversário, especialmente ao drible e o desarme. O eu-bola-colega-adversário, passes e interceptações. O eu-bola-colegas-adversários, formas mais elaboradas de passes (cruzamentos e lançamentos) e outros fundamentos. O eu-bola-equipe-adversários, a aplicação de todos os fundamentos dentro dos princípios do jogo de ataque, defesa e transição.
 
Então, a estruturação para ensino ou treinamento dos fundamentos pode passar por uma lógica que se constrói a partir do próprio jogo. Isso é vantajoso por diversos motivos. Um deles (talvez o menos pedagógico, porém mais “entendível”) é o fato de que no futebol profissional, com o excessivo número de jogos, faz-se necessário otimizar o tempo de treinos para que se alcance máximos ganhos com mínimos desgastes. Se assim o é, fica evidente a necessidade de se trabalhar valorizando o tempo.
 
Assim, conceber o desenvolvimento técnico, construído na lógica do jogo, permitirá ganhos táticos, que se periodizados, planejados e organizados podem estar integrados ao desenvolvimento físico específico para o tipo de jogo que se quer jogar.
 
E é aí que a vida de treinadores e comissões técnicas costuma emperrar. Para conseguir treinar o jogo que se quer jogar, nada menos trivial do que se refletir a partir das relações apresentadas, para poder alcançar aquilo que é concebido como modelo para o jogar. Em outras palavras, é difícil construir “jogos que treinem o modelo que se quer jogar”. Nem tanto porque a teoria é difícil (também não é fácil; mas é acessível); talvez mais porque não se busca conhecê-la realmente.
 
O que Burkina Faso pode ensinar ao futebol
 
Tenho um amigo Burquinabê (também conhecido como “O Burquina de Uagadugu”) do Café dos Notáveis. É daquelas pessoas apaixonantes que não se tem meio termo. Ou a gente gosta muito ou desgosta intensamente.
 
Trabalha com futebol já faz algum tempo. Conheceu o mundo. Aprendeu diferentes línguas. Um dia foi para a Nova Zelândia, levou junto consigo a felicidade.
 
Ah, felicidade… Que um dia lá lhe escapou e veio parar no Brasil (e aqui se diluiu na alma de amigos do peito, quase que se transformando em eterna tristeza).
 
O Burquina acredita em honra, ética, lealdade, respeito e coragem, coisas que trouxe consigo quando saiu de casa para viajar o mundo “em busca das coisas de dentro de si”.
 
Estranhou o nosso futebol, no qual como se não bastasse jogadores tecnicamente capazes e treinadores conhecedores das táticas, estratégias (enfim do jogo), também notou a necessidade de se re-ensinar valores perdidos, que de condição básica da vida moral e cívica acabaram se tornando adjetivos diferenciais do ser humano.
 
Nem sei se em Burkina Faso tem futebol (que o Burquina me perdoe a ignorância). O que sei é que lá tem uma coisa de sobra, que falta muito aqui (e não são os burquinenses!).
 
Mas vou contar em uma próxima, porque hoje tenho alguns livros de futebol (em russo) para ler. Como meu russo não é muito bom, vou parando por aqui.
 
E como aquilo que não me mata me faz mais forte (Nietzsche), estou certo de que dia desses fico mais forte e consigo transformar esse futebol.
 
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É possível hoje jogar no 4-3-3? Reflexões sobre os “antigos pós-modernismos”

Ao longo da história do futebol, muitos “modismos” tomaram frente na crença de torcedores e especialistas. Sobre os aspectos táticos do jogo, a imprevisibilidade que lhe é característica associada a inteligência e criatividade humana possibilitou transformações interessantes na forma de se jogar.
Se num primeiro momento a evolução teve, pelo surgimento de novas situações-problema e estratégias de jogo, uma migração continuada de jogadores das linhas mais avançadas para linhas médias do campo (onde a ação especializada característica de uma posição qualquer fora dando lugar a competências mais amplas – exigindo do atleta capacidade para atuar de forma mais “completa”), hoje a evolução tem gerado respostas que seguem outra direção.
Na década de 60 e 70, especialmente no Brasil, causou grande repercussão o fato de equipes que não mais atuavam no conhecido 4-2-4 estarem a levar vantagem nos jogos e competições sobre as equipes que o faziam. A mudança era sutil, mas parecia, se credenciar como grande possibilidade para se jogar futebol. Solidificava-se então o 4-3-3.
Os anos foram se passando e a resposta mais comum para as novas situações que iam surgindo caminhava sempre na mesma direção. Se um dia houve o 1-1-8 e bem mais a frente o 4-2-4, o processo evolutivo (cruel ou não) em sua constante “movimentação” continuava com a migração de jogadores das linhas mais adiantadas para linhas mais “defensivas”. Então, o 1-1-8 que um dia tornou-se 4-2-4, passara pelo 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2, 3-6-1, etc e tal e parecia dar sinais claros de que ele, o 1-1-8 corria o risco, de já tão “vivido e transformado” acabar em um 5-5-0 (melhor do que um 8-1-1!?).
Mas as direções mudaram. O que parecia ser uma tendência (receio que ainda pareça) começou a competir com uma sinalização de novas perspectivas.

Pois bem, o 4-3-3, tradicionalmente conhecido por ter em sua composição quatros jogadores na linha defensiva (composta por dois zagueiros e dois laterais), três no meio-campo (com dois meias de marcação e uma mais avançado, ou um meia defensivo e dois mais ofensivos, etc) e três na linha de ataque (com dois rápidos pontas avançados e um atacante centralizado) reapareceu transformado, com ares de inteligência e modernidade.

Ele que ainda hoje é símbolo do futebol holandês, tenha talvez tido na gerência de um português uma das mais estruturadas formas de se jogar (José Mourinho em épocas determinadas no Porto e no Chelsea).
A idéia tradicional do 4-3-3, certamente seria vulnerável e pouco eficaz se fosse inserida nos novos paradigmas que hoje vive o futebol (e sendo vulnerável, remeteria a idéia de que jogar em tal plataforma não seria bom).
Porém, a questão aí não é se ele (o 4-3-3) é ou não bom, eficiente e consistente, mas sim qual a lógica que o conduz dentro de campo. Se a lógica for equivocada, não será a plataforma de jogo a responsável pela derrota ou vitória.

O Barcelona, por exemplo, que hoje tem dificuldades jogando no 4-3-3 também já foi quase imbatível em anos anteriores jogando no mesmo “esquema tático”. Em uma reflexão simplista e ansiosa é possível que, sem pestanejar, atribuamos as dificuldades atuais do Barcelona às mudanças de alguns jogadores em determinadas posições. Isso também é variável interferente, mas não é a única. Fato mesmo é que a “culpa” não é do ex-herói, o 4-3-3.

No caso do Chelsea (nos primórdios da “fase Mourinho”), que apresentava um 4-3-3 diferente do Barcelona, também muitas conquistas (e como a derrota não pode ser atribuída somente e imprudentemente a plataforma de jogo, também não pode e não deve, à vitória).

Tanto Barcelona, quanto Chelsea apresentaram modelos de jogo potencializados pelo moderno 4-3-3 que levavam a campo.
O 4-3-3 é, na perspectiva da estruturação e ocupação do espaço de jogo (vide texto sobre esse tema em colunas anteriores) a plataforma que proporciona, “estaticamente” a melhor distribuição geométrica dos jogadores em campo, e isso é uma grande vantagem. A questão é como dimensionar uma dinâmica de movimentação de jogo que possibilite a potencialização dessa vantagem, no sistema defensivo, ofensivo e de transições, integralmente, sem distinções ou fragmentações.
Obviamente é mais fácil seguir o “ritmo evolutivo” e rechear o meio campo com o maior número de jogadores possível. Então para quê pensar no 4-3-3, se podemos formar um 4-5-1?
O fato é que, quebrando paradigmas e refletindo sobre a lógica do jogo de futebol, nada poderá impedir que essa ou aquela plataforma de jogo torne-se frágil ou ultrapassada.
Se tradicionalmente os atacantes no 4-3-3 tinham que fazer gol e esquecer o jogo defensivo, hoje ganharam novos atributos. Isso não quer dizer que precisem voltar atrás da linha da bola ou acompanhar volantes, zagueiros e/ou alas que partem para o campo de ataque – porque aí também estaríamos reforçando um raciocínio atrasado preso no passado.
Hoje, seja o 4-3-3, o 4-4-2 ou qualquer outra a plataforma que se deseje utilizar é prudente notar que não se pode jogar no século 21 com paradigmas e idéias de jogo do século 20.
Como ainda não inventaram a máquina do tempo (pelo menos ninguém do futuro veio nos avisar e também nenhum homem das cavernas fora trazido para nos contar histórias), talvez o “gosto” de se aprisionar ao passado seja uma forma poética ou filosófica de fazer viagens a tempos de glórias; glórias essas que não voltam pela simples reprodução das “receitas de bolo”.

Porém podemos, no presente, escolher se vamos seguir em frente com mais ou com menos velocidade. Então, se o século 21 é um “tempo” que ainda não chegou para muitos no nosso futebol, “nós outros” devemos mesmo é acelerar. Quem quer ficar para trás, que fique…

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Trabalhos táticos ‘inteligentes’

Vejamos a seguinte passagem do livro “Liderança: as lições de Mourinho”, de Luís Lourenço e Fernando Ilharco (página 37):
 
“O trabalho tático que promovo não é um trabalho em que de um lado está o emissor e do outro o receptor. Eu chamo-lhe a “descoberta guiada”, ou seja, eles descobrem segundo as minhas pistas. Construo situações de treino para os levar por um determinado caminho. Eles começam a sentir isso, falamos, discutimos e chegamos a conclusões”.
 
Durante uma partida de futebol ocorrem inúmeras situações de confronto. O ataque buscando desequilibrar a defesa, a defesa tentando se manter em equilíbrio e desequilibrar o ataque. As possibilidades táticas e estratégicas dentro do jogo são inúmeras.
 
Preparar uma equipe de futebol no nível em que se joga futebol hoje é desenvolver e trabalhar a complexidade do jogo detalhadamente em sua totalidade. Isso significa que dentro de um esporte em que é infinito o número de situações possíveis no jogo, torna-se necessário que uma organização científica inteligente norteie o treinamento.
 
Vejamos um trecho de um texto que escrevi em 2002: “O jogo de futebol, antes de ser futebol é jogo. E por ser jogo é imprevisível. Ainda que se controlasse a maior parte das variáveis que estruturam a lógica do jogo, seria impossível apontar no início de uma partida o vencedor. Se a imprevisibilidade é “princípio” do jogo, há tempos tornou-se necessário estruturar o treinamento de equipes de futebol no contexto da imprevisibilidade. E como treinar algo que não se sabe o que vai ser? Criando estratégias que garantam um diversificado número de possibilidades imprevisíveis, através de situações-problema que estimulem o jogador a compreender o jogo no contexto do próprio jogo. Então, ao se aumentar as possibilidades de respostas às situações-problema, aumenta-se também a possibilidade de se ter uma solução adequada ou próxima dela a uma situação nova e desconhecida”.
 
O treinamento técnico-tático a partir da perspectiva da “complexidade do imprevisível” resolve-se na medida em que treinadores tornem-se capazes de estruturar práticas de treinamentos que contemplem desafios mais próximos possíveis do jogo.
 
Daí, chegamos às situações-problema.
 
As situações-problema são situações que ocorrem no jogo, que desafiam o equilíbrio técnico-tático de uma equipe e que requerem resposta individual-coletiva imediata, exata e precisa.
 
Como estão presentes nas partidas de futebol, podem ser trabalhadas técnica e taticamente nos treinos a partir de jogos com regras adaptadas e orientadas para gerar situações-problemas específicas.
 
No trecho do livro sobre a liderança de José Mourinho, o próprio aponta a “descoberta guiada” (termo utilizado pelo treinador) em que cria situações no treino que apontam caminhos para serem discutidos e apreendidos pelos jogadores da equipe.
 
Vamos à uma história sobre um outro esporte que pode nos ajudar na compreensão das situações-problema no futebol:
 
“Um grande “levantador” que jogou Vôlei por muitos anos pela seleção do seu país, certa vez teve todas as suas ações mapeadas por uma equipe adversária com a qual jogaria em uma final de torneio. Buscavam identificar um padrão de jogo para poderem marcá-lo. Depois de várias análises, constataram que o tal “padrão” que buscavam não existia. Era um grande número de ações que não seguiam uma ordem aparentemente definida, e que pior (para eles), tinha um maciço número de sucessos (acertos). As bolas eram levantadas de vários pontos da quadra para vários pontos da rede (ou fora dela), e ainda às vezes com “viradas” de segunda bola. Realmente, um repertório imenso que deixava o bloqueio e defesa adversária atordoados”.
 
O nosso “levantador” possuía uma habilidade imensa de solucionar “problemas de jogo”. Todas as vezes em que a bola chegava às suas mãos, uma análise rápida da situação (posicionamento e movimentação do adversário e da sua equipe) e pronto; solução pontual.
 
Se transferirmos a analogia do levantador do jogo de vôlei para o jogo de futebol, compreenderemos, por exemplo, que os treinos de futebol de finalização em que o jogador passa a bola para o treinador, recebe na entrada da área e depois de driblar um cone chuta a gol (faz isso pelo menos dez vezes) não estão em nada colaborando para a finalização como ela é no contexto do jogo (uma situação-problema a ser resolvida).
 
Trabalhar utilizando nos treinamentos “situações-problema” significa criar atividades que desafiem os atletas a compreender o jogo de futebol, em toda sua complexidade, de tal forma que a equipe seja capaz de desempenhar estratégias e táticas de jogo, resolvendo problemas táticos “propostos” pelos adversários, mantendo-se em grande nível de competitividade.
 
Como compreender isso não é trivial, muitos de nossos treinadores vão continuar acreditando que os jogadores de futebol precisam mecanizar as ações táticas da equipe, de forma automática, para que não precisem pensar naquilo que devem fazer!
 
Então, para terminar, continuemos a seguir em frente. Como cantaria Caetano Veloso: “caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento, no sol de quase dezembro, eu vou…”
 
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O Serviço de “Inteli-tátic-gência” atuando no futebol

Um “Serviço de Inteligência” é em geral um departamento de governo voltado para a defesa do “Estado” (de sua sociedade, poder e soberania). Seu trabalho se dá através da captação, interceptação e aquisição de informações que podem auxiliar em ações inteligentes que garantam maior eficácia e sucesso na atuação do próprio “Estado”. Alguns Serviços de Inteligência ficaram muito famosos através da indústria do cinema (exemplos disso são o Serviço de Inteligência dos Estados Unidos (a CIA) e o da antiga União Soviética (a KGB)).
 
Ter posse de certas informações é privilégio e obrigação que nenhuma nação pode abrir mão. Por isso, seja a Abin no Brasil, a CIA nos Estados Unidos, a Mossad em Israel, ou MI6 no Reino Unido, não há nos dias de hoje “Estado”, que ao buscar soberania, autonomia e ordem possa abrir mão de estruturar um Serviço de Inteligência.
 
E se a informação é importante aos Estados, também é para qualquer instituição em diversos e diferentes níveis de operação. E como não poderia deixar de ser, é crucial e determinante também no futebol (necessidade máxima!).
 
Mas será que as equipes, em especial no Brasil, estão preparadas para tal necessidade?
 
Será que estão estruturadas para coletar, interceptar e adquirir informações? (e mais: será que, antes mesmo de ter a informações, as equipes de futebol estão preparadas para receber tais informações?)
 
Bom, existe no futebol um discurso de que não mais é possível preparar estratégias para surpreender os adversários, pois “nesse mundo globalizado, com internet e transmissões de jogos e treinos ao vivo tudo se sabe”. No máximo um “treininho a portas fechadas” para ensaiar jogadas secretas.
 
É por isso que no futebol, antes mesmo de se pensar em um “Serviço Futebolístico de Inteligência” é preciso encontrar pessoas inteligentes (que vão atuar no campo, nos vestiários, no departamento de finanças, marketing, etc.) para saber quais informações buscar e como aproveitá-las de maneira, digamos, inteligente (e como a inteligência é algo circunstancial, ainda tenho esperanças…).
 
Não adianta ter a CIA a disposição se não houver capacidade de entender que informação é “inteligência” e não “produção de relatórios coloridos impressos para serem deixados sobre a mesa” – algo comum, e que talvez só perca para a pequena confusão que se faz entre serviço de inteligência (ou informação) com serviço de informática – fico só imaginando; ao invés de Agência Central de Inteligência (CIA), “Agência Central de Informática”, ou ao invés de Agência Brasileira de Inteligência (Abin), “Agência Brasileira de Informática”. É só ter alguns computadores sobre a mesa, uma impressora e telefone que logo o que deveria ser serviço de inteligência e informação se transforma, aos olhares desavisados, em serviço de informática.
 
Nada contra a informática, pelo contrário, mas confundir uma coisa com a outra é a mesma coisa de apertar parafuso com o dedo e rosquear botão de “power” com chave de fenda.
 
Interessante como o mundo evolui e o futebol, sob algumas perspectivas, teima em não acompanhar (“a gente tá na lanterna, do tempo que virá”). É claro que isso não cabe para todo mundo. Mas como poucos entendem realmente porque essa ou aquela equipe vence, ou porque esse ou aquele projeto dá certo, cada vez mais quem vence e dá certo vencerá mais e dará mais certo. Quando os outros acordarem, já terão levado embora a mesa do café da manhã e do almoço.
 
Muitas são as informações que em diversas esferas podem colaborar para o sucesso de uma equipe dentro de campo (e fora também).
 
Imaginemos por exemplo, um treinador, que ao entrar em campo sabe detalhes longitudinais de avaliações físico-técnico-táticas-mentais dos jogadores adversários, seus históricos e características; imaginemos a possibilidade de que seus jogadores possam conhecer exatamente o perfil do árbitro responsável pela partida, suas características, comportamento e padrões, e a partir disso definir certas estratégias de atuação; imaginemos que ele (o treinador) possa quase que prever quais serão as condutas do treinador adversário de acordo com cada situação do jogo, decisões e alterações; e que ele (o treinador) ainda conheça tudo sobre o ambiente do jogo e saiba exatamente o que dizer nas entrevistas pré e pós partida, de maneira planejada, e de forma que isso possa se reverter a favor de sua equipe. Quanto amplificadas ficariam as chances de vencer?
 
Seja qual for a esfera; do Gerente Executivo na sala de administração de um departamento profissional ao jogador de futebol dentro do campo, a informação privilegiada é fator determinante do êxito ou do fracasso.
 
Hoje, o VENCER o jogo dentro de campo taticamente começa fora do campo, com inteligência, com informações que “evitem tiros e economizem balas pegando o bandido antes dele agir”.
 
E para não parecer apenas um devaneio, posso dizer que os Serviços de Inteligência no futebol já existem (ainda que sejam pouquíssimos). E com maior ou menor competência e “inteligência” têm colaborado para que os êxitos de algumas equipes nas competições e na sua saúde financeira não sejam “anarquias do acaso”.
 
UMA DEIXA
 
Tive o privilégio de acompanhar de perto o trabalho do mais competente, inteligente e criativo Serviço de Inteligência voltado para o futebol que existe no Brasil (não tenho dúvidas que em breve será o mais completo e inteligente dentre todos de todos os continentes, com um banco de informações fabuloso – não estou exagerando – será o MI6 do futebol). Logo vamos ouvir falar dele.
 
Porém, por enquanto, como todo Serviço de Inteligência que se preze, faz um trabalho quase secreto (e também por enquanto, vai ficar assim).
 
Como está no futebol, obviamente, com freqüência é confundido com serviço de informática. Mas como ressaltam os “agentes” “Dyandrady”, “O Bald” e “Sugarfree” (do mencionado Serviço de Inteligência), faz parte da estratégia permitir essa “confusão”.
 
É que no final eles sabem que o que precisam mesmo, é repassar a informação para quem pode recebê-la. E quem pode sabe bem a diferença entre o que é importante e o que é relevante, entre o que é prioridade e o que é emergencial, entre inteligência e informática.
 
Então como canta Lulu Santos; “Olha meu bem o céu; Vê quanta luz, quanta estrela; Quase todas mortas; Só não é chegado para nós o tempo que se apagarão; A gente tá na lanterna, do tempo que virá”.
 

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O mito dos laterais que não “sobem” ao mesmo tempo e o balanço defensivo – A culpa é do 4-4-2 ou de quem disse isso?

Autores e pesquisadores que estudam e escrevem sobre algumas vertentes das ciências exatas e outros tantos cientistas do esporte apontam para um raciocínio didático bastante interessante sobre o jogo. Eles exploram a idéia de que existem jogos que podem ser caracterizados por “Estratégias Seqüenciais” e jogos caracterizados por “Estratégias Simultâneas”.
 
Os jogos com estratégias seqüenciais são aqueles onde as ações dos jogadores ocorrem em seqüência e que, portanto, cada jogador tem consciência das ações anteriores dos outros jogadores (por exemplo jogo de Damas, Xadrez, etc). Os jogos com estratégias simultâneas são aqueles em que os jogadores agem ao mesmo tempo “desconhecendo” as ações dos demais; tentando deduzir e prever dentro de uma lógica as ações de um jogador baseando-se nas ações dos outros (por exemplo jogo de basquete, futsal, futebol, etc).
 
No caso do futebol, jogo de estratégia simultânea, o problema central está em antever estruturalmente, geometricamente e taticamente o conjunto de ações desencadeadas a partir da ação, por exemplo, do jogador que está com a bola, e buscar uma reorganização que permita dentro do imprevisível, possíveis previsíveis. Em outras palavras, partindo-se do raciocínio de que há uma linha lógica que orienta as movimentações ofensivas e defensivas de uma equipe, poder-se-ia buscar para cada ação-problema de um jogador, soluções rápidas compartilhadas coletivamente pela equipe sem que haja uma comunicação formal explícita.
 
Norteados por essa idéia, façamos uma reflexão sobre uma questão importante para o jogo de futebol. Estudiosos das ciências do desporto apontam para o fato de que, o que caracteriza se uma equipe está atacando ou defendendo é sua condição de estar com ou sem a posse da bola. Ou seja, se a equipe está de posse da bola, está atacando; se está sem a posse, está defendendo.
 
Certamente essa idéia já fora debatida em grande volume em muitas “Academias de Conhecimento” mundo a fora, e talvez esteja sendo tratada hoje como obviedade. Mas estou aqui para contestar tal idéia. Não por capricho ou falta do que escrever. A questão é que sob o ponto de vista científico (pedagógico) aplicado, se eu enquanto técnico de futebol convencer meus atletas de que todos (jogadores, estruturas e sub-sistemas) estão atacando quando a equipe está com a posse da bola, ou o contrário (se defendendo) quando está sem ela; tornarei ineficazes, inconsistentes e quase virtuais as transições ataque-defesa e defesa-ataque, bem como não possibilitarei a eles (meus atletas) um raciocínio inteligente sobre situações-problema que aparecerão no jogo.
 
Aí corremos o risco de solidificar paradigmas que deveriam ser quebrados – por exemplo: “quando se joga no 4-4-2 é importante que os laterais não “subam” ao mesmo tempo, se não a equipe fica exposta ao contra-ataque”. – Por quê? Quem foi que disse? O problema é a subida dos dois laterais ou da estrutura criada para se defender quando a equipe está com a posse da bola?
 
Senhores, o problema é da estrutura. E se é da estrutura não há motivos para insistir na não subida simultânea dos dois laterais.
 
Vamos tentar visualizar a “tese” que estou defendendo. Existe um conceito no futebol, também conhecido como “Balanço Defensivo”. Esse conceito reflete a estruturação geométrico-estratégica dentro do jogo que permite aos jogadores raciocinarem defensivamente quando estão atacando. Então enquanto um grupo de jogadores foca na construção ofensiva de uma jogada sem deixar de considerar a organização defensiva, outros jogadores da mesma equipe focam na organização defensiva sem deixar de considerar a estruturação da construção ofensiva.
 
Apresento a seguir alguns exemplos de estruturas de “balanço defensivo”, para tornar meus argumentos mais reflexivos. Na figura “A” apresento um conservador e freqüente balanço defensivo em losango estruturado pela equipe vermelha. Na figura “B” desenho um tipo de balanço defensivo menos usual e mais ousado; o balanço em diagonal defensiva. Na figura “C”, o balanço e “T” invertido e na figura “D” o balanço em “T” convencional (poderíamos explorar tantos outros, mas creio já ser possível construir as idéias a partir dos citados).
 
 
Cada um deles concebe um raciocínio defensivo quando uma equipe está de posse da bola. Então enquanto alguns jogadores “atacam” outros, da mesma equipe, “defendem”. Se voltarmos a questão do 4-4-2, e a subida dos laterais, notaríamos que, a questão não é quem sobe ou quem não sobe, quem ataca ou que defende. A questão é que ao se buscar o ataque uma equipe precisa se orientar defensivamente a partir de uma estrutura qualquer, onde jogadores, simultaneamente se orientam, alternando funções (com maior ou menor freqüência).
 
Em outras palavras, se eu quero que os dois laterais subam ao mesmo tempo ocupando regiões de ataque, independente da plataforma de jogo (4-4-2, 4-3-3, ou qualquer outra) é necessário que se construa uma lógica para o “balanço defensivo” que estruture tal subida. E insisto, isso realmente independe da plataforma de jogo!
Então eu pergunto caros leitores: estamos preparados e dispostos a derrubar mitos ou estamos tão acostumados a nos acostumar que é mais cômodo acreditar neles? (Os laterais não sobem e a culpa é do 4-4-2).
 
Por isso vou terminar hoje com uma frase de uma conhecida música:
“Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação”… portanto tomemos cuidado com os monstros que andamos criando; um dia eles nos engolem e aí…
Bom, aí irão nos restar apenas os mitos (e “as noites inteiras imaginado uma solução”)!

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A discussão do “merchan”

Não, esta coluna não é mais uma daquelas críticas feroz ao jornalista que troca as bolas e decide fazer propaganda. Não acho que essa discussão ainda seja válida no meio do jornalismo, principalmente do jornalismo no esporte.
 
A questão é simples: na profissão de jornalista, o maior negócio é ter credibilidade. E isso, sem dúvida, o merchandising não assegura. No longo prazo, ele arranha a credibilidade de uma pessoa, que pode faturar alto no começo dessas ações, mas depois, sem dúvida, não ganha tanto quanto se estivesse no auge de sua carreira.
 
O questionamento é muito mais do lado da propaganda. Sinceramente, qual a eficácia do “merchan”, especialmente daquele praticado no meio dos programas de debates do domingo?
 
Na semana passada, na TV Gazeta, em São Paulo, o merchan deu o ar da graça justamente em meio a uma interessante discussão entre Vampeta, Caio Júnior e Marco Aurélio Cunha sobre o quanto a tecnologia tem atrapalhado as concentrações no futebol.
 
No meio de opiniões sérias, bem colocadas e informativas (especialmente aquelas trazidas pelos três convidados), eis que o âncora Flávio Prado interrompe a discussão para que o comentarista Chico Lang nos desse uma “importante mensagem”.
 
O ritmo da conversa foi quebrado para a propaganda de um “revolucionário” produto. Ninguém mais conseguiu retomar o debate no mesmo nível de antes. E o telespectador, muito provavelmente, voltou a usar o controle remoto para procurar uma “mensagem mais importante” em algum outro canal.
 
Mudando de canal, caindo na TV Record, felizmente não tive o mesmo problema. Nenhuma conversa foi brecada para que se passasse uma mensagem comercial. O único problema é que, pelo esquema do programa, o merchan é feito exatamente antes dos intervalos comerciais. Ou seja, o telespectador sabe que, quando vai começar o merchan, ele pode mudar de canal e voltar depois de uns cinco minutos.
 
E, nessa dança toda, como ficam os anunciantes? A média de investimento num merchan é de 3 a 10 mil reais por programa para as inserções. Mas será que ele, de fato, é prático? Sinceramente, cada vez menos o que conseguimos ver é o telespectador se lembrar da propaganda que é veiculada dentro do programa.
 

Do jeito que as coisas se encaminham, a discussão sobre o merchan deverá deixar as escolas de jornalismo e invadir as salas de aula de publicidade. Discutir se jornalista deve ou não fazer propaganda já ficou no passado…
 

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Parreira diz que ‘tsunami’ varreu seleção na Copa

“Foi um tsunami que passou”. Assim o técnico Carlos Alberto Parreira justificou a derrocada da seleção brasileira na Copa do Mundo. O treinador do Brasil na última Copa do Mundo disse que houve uma pressão sobre os jogadores brasileiros muito maior do que se poderia esperar durante a preparação e disputa do Mundial.
 
“Claro que a gente esperava um assédio grande. Mas foi muito maior do que a gente poderia esperar. Eram duas mil pessoas nos treinos da seleção, era até mesmo revista de cosméticos procurando o Ronaldinho para colocá-lo na capa”, afirmou o treinador no Rio de Janeiro, onde esteve como ouvinte do II Fórum Internacional Marketing Esportivos de Resultados, organizado pela Associação Brasileira de Anunciantes do Rio de Janeiro (ABA-Rio).
 
O treinador rechaçou a idéia de que faltou planejamento e foco para que o Brasil se sagrasse campeão na Alemanha. Segundo Parreira, a condição de favoritismo da seleção foi algo até certo ponto natural, dados os resultados obtidos.
 
“Não tinha como não admitir o favoritismo. Mas foi algo de fora para dentro muito grande”, disse o treinador, que ainda ressaltou ter havido uma “falta de química” dentro de campo para a seleção.
 
“Nos Estados Unidos fala-se muito em ter química para a coisa. E no momento da Copa, dentro de campo, não veio a química ideal. Dentro de campo não se traduzia o ambiente que havia fora dele”, disse.
 
Para o ex-comandante brasileiro, o maior problema para alguns jogadores foi a “overdose” de futebol. Segundo Parreira, houve um desgaste físico e emocional muito grande nos atletas por conta do calendário.
 
“Talvez isso tenha contribuído. O Ronaldinho, por exemplo, jogou no dia 17 de maio a final da Liga dos Campeões e no dia 22 já teve de se apresentar para jogar a Copa”.
 
Na próxima semana Parreira embarca para a África do Sul. O treinador foi contratado para coordenar a preparação da seleção local para a Copa de 2010, que pela primeira vez será realizada no continente africano.

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