Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

Posse de bola ou “toque de bola”?

As primeiras três resenhas apresentadas à Universidade do Futebol abordaram alguns temas que, juntos, formatam uma linha filosófica de trabalho no campo. As ideias discutidas representam parte da vertente metodológica do meu novo momento como treinador. A partir de agora, mencionarei mais detalhadamente sobre pontos táticos importantes do jogo.

O jogo brasileiro já foi recheado de troca de passes e por se acreditar tanto no “poder do toque de bola”, hoje mais comum e tecnicamente denominado “posse de bola”, o nosso futebol tinha ideia tática de jogo para os seus times. É incrível como a predominância de um grande conceito tático teve o poder de transformar e estigmatizar um jogo a ponto de fazer escola. Esse comportamento virou chancela brasileira no futebol internacional. Corria e encantava o mundo a fama do toque de bola do futebol brasileiro. Falava-se muito do jogador canarinho, mas também da “cadência” do nosso jogo.

Hoje isso se perdeu. Não temos toque de bola, ou posse de bola, e o jogo brasileiro se descaracterizou. Onde foi que erramos se é que podemos considerar que erramos?

Ao contrário do que muita gente pensa, a posse de bola eficiente e eficaz que alguns treinadores querem reimplantar ao jogo brasileiro não é a simples troca de passes sem objetivos e ou ofensividade. Tem de haver profundidade em suas intenções ainda que se comece e ou passe pelos lados do campo.

A posse de bola de valor que o futebol moderno já conhece e aplaude era o “toque de bola genuíno” que o jogo brasileiro praticava na época que não havia o êxodo dos grandes craques e nem a “ansiedade burra” imposta ao jogo de hoje. Agora, nossos jovens saem cedo do Brasil para dar qualidade ao jogo dos grandes clubes europeus.

Enquanto isso, a era do computador trouxe a exigência das respostas rápidas a tudo em nosso mundo. Inclusive no trânsito da bola em campo. O jogo que antes era articulado, agora é apavorado. Tudo em nome da velocidade e ou vitória. A bola que antes era trabalhada para chegar ao gol adversário agora deve estar lá de qualquer jeito, pois o importante é ganhar.

Efeito colateral disso: o jogo se perdeu, ou não existe mais jogo. Perdemos jogadores e o jogo! Aquele toque de bola que o técnico Pep Guardiola, então comandante do Barcelona, falou ter “copiado” para formar, talvez, o melhor jogo que o mundo já viu se perdeu para dar lugar a esse “jogo moderno” dos brasileiros.

Para resgatarmos o toque de bola canarinho será preciso alguns sacrifícios e ou sacrificados. É filosófico e verdadeiro. Algo muito forte terá de acontecer para mudarmos a mentalidade da comunidade da bola no Brasil e fazermos cultura de um novo e melhor jogo.

Pois bem, posse de bola é troca de passes sim: com qualidade; velocidade; de flanco a flanco às vezes, mas com profundidade, em direção ao gol adversário e com finalizações; etc. Só que hoje, para se alcançar esse nível de posse de bola é preciso resgatar no jogo brasileiro alguns conceitos perdidos: a técnica, a organização posicional que é base para o conjunto, o prazer pela troca de passes…

Perdemos a confiança e ou a necessidade de jogar com os companheiros. O “entorno” do jogo pressionou os jogadores e as equipes a jogar pra frente de tal forma que a “vitória é sempre o mais importante”, custe o que custar.

Talvez, por isso, estamos tendo mais derrotas que antigamente. Não encantamos mais o mundo, apesar dos ótimos jogadores que ainda temos. Não tenho dúvidas, nossa escola de talentos, a “escola de rua”, continua produzindo jovens habilidosos que se adequam perfeitamente aos padrões atuais do futebol. A escola brasileira de futebol, a que fomenta o jogo, é que precisa se modernizar e transformar o seu toque de bola em posse de bola.

É a mesma coisa, mas, é diferente. Assista aos jogos das seleções de 70 e 82, dois grandes ícones da qualidade do jogo mundial e o Barcelona de hoje. Causam o mesmo prazer, mas são diferentes. O “jogo brasileiro” caiu de moda. Somos uma “grande colcha de retalhos” quando o assunto são as táticas coletivas. Estamos nos emendando em verdades e mitos retrógrados que estacionaram o desenvolvimento na qualidade de treinos e jogo.

Sempre procuro oferecer os dois lados à discussão. Esse é o meu lado professor, que a cada ano que passa me faz acreditar que realmente escolhi a profissão que me cabe. Por isso, devo ser justo dizer que existe uma fatia considerável no mercado de treinadores brasileiros que está procurando mudar o estado de coisa em treinamentos e concepção de jogo.

Infelizmente, ainda não temos nossa profissão de treinador regulamentada, no país do futebol, e tudo é muito difícil para fazer valer algumas posições. Como vamos provar aos dirigentes, mídia e torcedores, por exemplo, que é preciso tempo para implantar um modelo de jogo em uma equipe de futebol profissional? Alguém tem a resposta? Se conseguíssemos resolver esta questão poderíamos eliminar muitos problemas do jogo brasileiro.

Mas, vamos falar do que interessa… O Barcelona da posse de bola e ou toque de bola ganha quase tudo com eficiência e eficácia. Mesmo com o “entorno” que cerca um clube e um time dessa envergadura. Reconheço que o perfil de jogo do Barcelona é cultura estabelecida com trabalho de mais de 20 anos. Desde os tempos de Cruiff e Rechack, seu auxiliar, além de alguns outros profissionais que lá se mantém desenvolvendo a metodologia de trabalho vigente.

Mas, será que existe mesmo um método de treinos que facilite esse processo? Que desenvolveu e continua desenvolvendo o jogo deles? Que seria capaz de ser transportado para o futebol brasileiro para colocá-lo de novo em sua direção? Posso garantir que há.

Existe uma metodologia de treinos afeita às características e necessidades do futebol brasileiro que está lá e pronta para ser usada. Trata-se da ampla abordagem da “metodologia sistêmica” de conceber e treinar o jogo. É entender e trabalhar o jogo como jogo evitando dissecá-lo para encontrar respostas aos fenômenos que só existem na complexidade do próprio jogo.

Êta coisa complicada!! Não há nada complicado! Essa metodologia é tão simples que permitiu aos teóricos complicá-la e a colocarem numa redoma de acesso limitado e aos práticos se assustarem e a rejeitarem.

Voltando mais uma vez ao toque de bola, convido a comunidade futebolística brasileira a começar reaprender a usar esta metodologia organizando o jogo pelo poder da posse de bola.

Vamos resgatar o toque de bola brasileiro. Não haverá “extracampo” que seja capaz de atrapalhar. Ainda que demoremos um pouco, vamos pegar o caminho certo e que já conhecemos: o caminho do toque de bola!!

Mudando o assunto sem sair dele… Em dezembro de 2012 tive a oportunidade de interagir com o alto nível de competência dos professores João Paulo Medina e José Guilherme de Oliveira. Assisti às suas aulas no Programa de Qualificação de Treinadores de Futebol – Licença A – da CBF-PUC-Minas.

Foram trinta saborosas horas e de muito ganho. Fui privilegiado ao curtir esses momentos. Quantas dúvidas puderam ser desfeitas a cerca da “periodização tática” no futebol, pano de fundo das explanações do Prof. Medina e tema central do Prof. José Guilherme.

Fui atraído ainda mais pelo tema, e só para deixar registrado, deixo aos leitores a impressão do Prof. José Guilherme, com a qual compartilho sem pestanejar: “Escola Brasileira de Futebol e Periodização Tática são um casamento perfeito. Nasceram uma para a outra.”

Estive na Espanha com o Atlético-PR disputando um torneio contra grandes equipes do Leste Europeu. As boas respostas que a nossa equipe deu em campo me fazem acreditar ainda mais nesta verdade. O futebol brasileiro é um gigante adormecido que precisa despertar para um jogo tático mais bem jogado.

Até a próxima resenha.

Para interagir com o autor: ricardo@149.28.100.147

 

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

Projeto ‘Por um futebol melhor’: avanço no tratamento aos torcedores

Em 1990, foi promulgada a lei 8.078, denominada “Código de Defesa do Consumidor”, com o intuito de assegurar os direitos dos consumidores, o que, nos termos da Lei Pelé, assegurava os direitos de quem adquirisse ingressos.

Treze anos depois, em 2003 foi promulgada a lei 10.671, o “Estatuto do Torcedor”, com o objetivo de proteger especificamente os consumidores do esporte, ante as suas necessidades específicas, ampliando o conceito de consumidor, passando a considerar torcedor todo indivíduo que aprecie ou acompanhe eventos esportivos.

A referida norma foi um verdadeiro marco na história do desporto brasileiro, especialmente do futebol. Os ingressos (bilhetes) e assentos passaram a ser numerados e os torcedores a ter o direito ao seguro por danos sofridos no evento esportivo.

As competições passaram a ser transparentes, instituindo-se um ouvidor para receber críticas, sugestões e observações acerca da tabela e regulamento das competições.

Apesar dos consideráveis avanços, para efetivação dos direitos e do respeito aos torcedores, é imprescindível uma mudança de paradigma dos clubes o que iniciou-se com o programas “sócio-torcedor”.

Neste aspecto, o ano de 2013 começou de forma fantástica com o projeto “por um futebol melhor” encabeçado pela Ambev com Ronaldo ‘Fenômeno’ como embaixador, que tem como base mostrar ao torcedor que o dinheiro que ele investir para ser sócio do clube voltará para ele, muitas vezes até mais, com descontos em produtos e serviços das empresas parceiras (os preços dos sócios-torcedores são variados).

Assim, os sócios-torcedores de 15 times brasileiros contarão com descontos em produtos e serviços de diversas marcas. Inicialmente, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Ponte Preta, Portuguesa, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Atlético-MG, Cruzeiro, América-MG, Vitória e Bahia aderiram ao projeto. Em março, Internacional, Grêmio, Santa Cruz, Náutico e Sport também estarão dentro dos clubes participantes do movimento.

As primeiras empresas a oferecerem benefícios aos sócios-torcedores são Ambev, Seara, PepsiCo, Unilever e Danone. Elas já estão à disposição dos associados. A partir de fevereiro, os produtos e serviços das outras quatro empresas entram no movimento: Netshoes, Sky, Burger King e Bradesco.

A intenção é alcançar os torcedores que não vão aos estádios, pois os programas de “sócio-torcedor”, em regra, trazem como atrativo principal o direito a ingressos e, atualmente, possuem adesão de somente 0,2% das pessoas que acompanham futebol. A meta é erguer esse percentual para 2%, com 3,5 milhões de pessoas envolvidas. Isso geraria uma receita superior a R$ 1 bilhão anuais aos clubes.

Nessa primeira fase do movimento, os torcedores terão desconto em aproximadamente 300 produtos, como alimentos, bebidas, itens de higiene pessoal, limpeza e material esportivo.

Inicialmente, duas redes varejistas são as parceiras: Carrefour e Extra. Os locais terão um selo identificando que participam da promoção e para ter o desconto, o torcedor precisa apenas informar seu CPF na hora do pagamento, já que os sistemas das lojas estarão integrados aos clubes.

Caso os clubes se adequem e organizem seus programas de “sócio-torcedor” ao “por um futebol melhor, o projeto, além de trazer ao consumidor do evento esportivo uma série de benefícios, trarão aos clubes e ao evento maior atratividade e fidelidade e corresponde a um avanço significativo na relação clube/fornecedor – torcedor/consumidor.

Para interagir com o autor: gustavo@149.28.100.147

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

O ‘titês’ e a comunicação

O título conquistado pelo Corinthians no último domingo, no Japão, tem um personagem especial. Cássio foi eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de clubes da Fifa, Guerrero anotou o gol que definiu a vitória e muitos outros atletas tiveram participações relevantes, mas ninguém foi mais determinante para toda a trajetória do que o técnico Tite. E a comunicação tem grande participação nisso.

Tite soube ler as virtudes táticas e técnicas de adversários e soube montar o time de acordo com esses atributos. Contudo, há um episódio que resume bem o grande mérito dele à frente do Corinthians: a mudança que o comandante efetuou no time titular.

Porque Douglas, o camisa 10, líder de assistências na temporadas, foi preterido no jogo que definiria o título mundial. Na semifinal do torneio da Fifa, o meia havia dado um passe para Guerrero anotar o gol da vitória. Ainda assim, perdeu o lugar no time.

Aí começa a história que explica com perfeição a personalidade de Tite. O técnico estava preocupado com Hazard, jogador mais agudo da linha de armadores do Chelsea, sobretudo porque o belga é driblador e incisivo. Ele bateria de frente com o lateral-direito Alessandro, capitão e um dos jogadores mais experientes do elenco corintiano.

A decisão de Tite foi dar proteção a Alessandro. O técnico queria evitar que Hazard ficasse diante de apenas um marcador (mano a mano, para usar a expressão mais comum no futebol para designar esse tipo de situação). Esse tipo de confronto é a situação favorita do belga. O Chelsea trabalha para propiciar a ele situações assim.

Depois de cogitar escalar Romarinho, Tite escolheu Jorge Henrique. O camisa 23 foi eleito exatamente pela dedicação tática. A ordem passada a ele foi dar sustentação a Alessandro. Ele não podia deixar que o lateral ficasse mano a mano com Hazard.

Esse raciocínio mostra que a decisão de Tite é totalmente compreensível. Ainda assim, o técnico tirou do time o camisa 10. Esse é o tipo de alteração que pode demolir a relação entre um chefe e um comandado.

Para tentar amenizar o problema, Tite usou comunicação. Decidiu que Douglas seria o primeiro a saber da decisão. Contou ao camisa 10 antes mesmo de dar a boa notícia a Jorge Henrique.

Tite relatou a conversa antes mesmo de o Corinthians encarar o Chelsea. Disse que Douglas reagiu. O camisa 10 admitiu que estava chateado. “E tem de ser assim, mesmo. Mas eu preciso saber se você vai estar pronto se eu precisar”, respondeu o técnico.

É evidente que o resultado do Mundial deu sustentação à decisão de Tite. No entanto, o técnico não esperou a vitória. Antes de mostrar que estava certo, preocupou-se com os danos, mostrou o porquê de ter adotado um caminho e se esforçou para não comprometer o ânimo de nenhum dos comandados.

Nenhuma dessas atitudes foi planejada por alguém da diretoria. Tite tem uma habilidade inata para lidar com gente, e a base desse talento é a honestidade. Honestidade deveria ser requisito básico, mas o mundo atual transformou esse atributo em virtude.

Alguém que demonstra preocupação e que fala com honestidade pode até gerar animosidade. Contudo, não vai perder o respeito das pessoas que participam do ambiente.

Tite usou estratégias básicas de comunicação, ainda que tenha feito isso de forma natural. E graças à comunicação, uma alteração que tinha potencial para um trauma contundente pode ser contornada com mais facilidade.

Foi isso que faltou, em episódios da semana anterior, a Grêmio e São Paulo. Ambos realizaram jogos internacionais em seus estádios, e os dois casos geraram repercussão negativa.

O Grêmio fez um amistoso para inaugurar uma nova arena. O jogo foi contra o Hamburgo, rival dos gaúchos no Mundial de 1983. Porém, os alemães saíram de Porto Alegre com uma extensa lista de reclamações.

Os problemas relatados pelos alemães vão de buracos no gramado a falta de água para banho no vestiário. Essa é a versão deles, evidentemente, e a versão deles não é necessariamente a verdade. Mas a comunicação podia ter minimizado as reações.

Se tivesse agido como Tite, o Grêmio teria interpelado os alemães antes do jogo. Teria explicado que o estádio é novo, e que toda obra nova sempre carece de pequenos ajustes. Teria explicado caminhos para resolver pequenos incidentes.

Não sei se isso foi feito, mas a reação dos alemães faz pensar que não. A ordem dos fatos também leva a crer que não houve réplica do Grêmio, e isso é outro erro. Para a mídia e para os convidados, o time tricolor precisava ter mostrado que os problemas eram casos isolados e que não têm a ver com a qualidade do estádio.

Vale a lógica de lojas ou restaurantes: o cliente sempre tem razão. O clube adversário pode ter exagerado em algumas reclamações ou pode até ter inventado problemas, mas o Grêmio tinha de se posicionar. Só vi uma nota oficial sobre o gramado, mas não achei nada sobre as outras críticas.

A lógica de tratamento a clientes também vale para o São Paulo. Não estou comparando nenhum caso, até porque faltam informações concretas sobre o que aconteceu nos vestiários do Morumbi. Só faço um alerta: o risco que o time paulista corre é transformar um episódio em uma rusga do clube com o mercado argentino.

Basta ver a repercussão que o caso teve na mídia argentina. Muitos veículos de lá “compraram” a versão do Tigre – jogadores disseram que foram agredidos por seguranças do São Paulo durante o intervalo, e por isso se recusaram a voltar para o segundo tempo da decisão da Copa Bridgestone Sul-Americana. A parcialidade ficou clara, por exemplo, na transmissão do canal “Fox Sports” portenho, cujas imagens abasteceram a cobertura do homônimo brasileiro.

Repito: nos dois casos, não há discussões sobre responsáveis, erros ou versões contraditórias. A questão é sobre comunicação e posicionamento. O São Paulo tinha de ter feito ações direcionadas ao povo argentino – uma nota oficial e peças de publicidade, por exemplo – para mostrar que o clube não é o que os jogadores do Tigre tentam construir. A reação não podia ser simplesmente contestar a versão dos atletas.

Aí entra outro aspecto fundamental: já que tudo comunica, a comunicação não pode ser isolada. Grêmio e São Paulo precisavam ter feito ações emergenciais que unissem assessoria de imprensa, publicidade e até iniciativas de marketing.

Tite devia dar aulas de comunicação, e não apenas porque sabe interagir com jornalistas e porque dá entrevistas saborosíssimas. Devia ser professor porque entende a necessidade de estratégia e de comunicação. E isso vale para qualquer realidade.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@149.28.100.147

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

Conclusões sobre infraestrutura e ações governamentais expostas durante o “Seminário de Seguridad en Escenarios Deportivos” (Quito/Equador)

Como mencionado na coluna da última semana, estive em Quito, no Equador, debatendo a segurança nos cenários esportivos.

Na última quinta-feira, realizei duas palestras. Uma pela manhã, sobre a infraestrutura dos estádios de futebol, e outra à tarde, sobre Governo, Segurança nos Estádios e Direito Comparado.

Na primeira intervenção destaquei a importância da infraestrutura nos cenários esportivos para brindar maior segurança aos torcedores.

Com base nas instruções da Fifa, no Relatório Taylor e nas Recomendações da Uefa, bem como nas experiências ruins que tem ocorrido ao longo da história ao longo do mundo e nos estudos realizados, conclui-se que a segurança pode ser alcançada como comodidade e respeito aos direitos do consumidor de eventos esportivos.

Recordei que a prioridade da Fifa é proporcionar segurança aos espectadores, princípio a ser seguido e superior à necessidade de faturamento.

Repassamos o caderno de encargos que a Fifa impõe para todos os cenários que recebam eventos esportivos. Trata-se de um manual bastante completo que trata além das questões do jogo de futebol, de transporte, logística, ecologia, segurança, comodidade, controle, etc; tudo focado no melhor funcionamento do cenário esportivo e do cuidado de todos os atores que participam do espetáculo.

Para trazer exemplos, foram trazidas recomendações para se analisar:

– Haver uma porta de entrada e uma de saída para cada mil pessoas. As portas de acesso e evacuação devem ser independentes e seu “hall” não pode ser compartido
– Contar como, no mínimo, para cada mil homens: três banheiros, seis mictórios e dois lavabos; e a cada mil mulheres: três banheiros e um lavabo
– Instalar assentos individuais e fixos com largura mínima de 50 cm e um encosto de 30 cm, e com separação de 85 cm entre a parte posterior do assento e o início do assento da fila imediatamente posterior
– Dispor de pontos de venda separadas das portas de acesso e que estejam disponíveis com antecedência mínima de 72 horas em, pelo menos, cinco pontos de venda espalhados pela cidade
– Dispor de sistema eletrônico para venda de ingressos e controle de acesso
– Em dia de partida, colocar dois filtros no perímetro do estádio. O primeiro mais distante, onde se realize um primeiro controle, com acesso exclusivo para dessoar com ingresso. Um segundo, com um controle mais cuidadoso de armas e objetos proibidos
– Contar com transporte público massivo que permita chegar às imediações do estádio
– Solicitar às autoridades locais manejo diferenciado do trânsito nas horas prévias dos espetáculos
– Promover a criação de unidade de polícia especializada no manejo de multidões em cenários esportivos
– Designar um médico, dois enfermeiros e uma ambulância a cada 10 mil pessoas presentes no estádio. Na medida do possível deve-se contar com heliporto para evacuação de feridos em caso de emergência
– Exigir dos organizadores a contratação de seguro para os espectadores

A exposição encerrou-se com a proposta de um princípio fundamental ampliado na segunda palestra e que foi complementado nas exposições de Catharine Ann Long -Premier League de Inglaterra- que é o paralelismo entre torcedor em um estádio e consumidor de outros serviços.

O organizador está obrigado a garantir respeito, comodidade, bons tratos aos seus clientes, pois, quem compra um ingresso o faz para viver uma festa e divertir-se.

Na segunda exposição destaquei que os governos nacionais e locais existem com o fim único de conferir bem-estar, segurança e comodidade aos cidadãos.

Ademais, a Constituição da República do Equador reconhece estes princípios pelo qual estão obrigados a gerar políticas e leis que assegurem tais ideais e também aos espetáculos esportivos.

Para deslinde, cita-se o Lord Taylor: “Há que humanizar e respeitar os torcedores, compartilhar as responsabilidades, criar a infraestrutura física e humana realmente capazes de receber multidões”.

Para interagir com o autor: gustavo@149.28.100.147

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

Reflexões: as faltas de jogo (táticas!?), o Campeonato Brasileiro e novamente o Barcelona da “era” Guardiola

Nas últimas duas semanas, assisti a programas esportivos da TV a cabo, debates interessantes a respeito do elevado número de faltas cometidas, nos jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol.

Na 19º rodada da competição, por exemplo, segundo texto de Mauro Cezar Pereira, (publicado em http://espn.estadao.com.br), foram 395 faltas em 10 partidas.

A média elevada não é privilégio do Campeonato Brasileiro de 2012. Conforme publicou o ex-árbitro Leonardo Gaciba em seu blog (disponível no www.sportv.globo.com), a média de faltas por jogo vem sendo alta, pelo menos, desde 2008. Os números realmente impressionam:

– Em 2008 = 38,76 faltas por jogo (uma falta a cada 2,32 minutos);
– Em 2009 = 37,22 faltas por jogo (uma falta a cada 2,42 minutos);
– Em 2010 = 35,42 faltas por jogo (uma falta a cada 2,54 minutos);
– Em 2011 = 35,93 faltas por jogo (uma falta a cada 2,50 minutos).

Pois bem. Com números tão marcantes, muitas das discussões sobre o assunto passaram a permear comparações entre o futebol brasileiro e o europeu (no qual, em tese, e de fato, o número de faltas por partida tem sido menor).

Postura e qualidade da arbitragem, conduta e ética dos jogadores, cultura de jogo, formação dos treinadores, atuação da mídia e perfil dos torcedores foram algumas das “variáveis” mais presentes nos debates sobre essas comparações.

Em geral, dados sobre o futebol da Inglaterra, Espanha, Portugal e França, mostraram que a principal competição de clubes profissionais do Brasil tem uma média superior de faltas por jogo quando comparada aos campeonatos nacionais destes países – e também, quando os jogos comparados são os da UEFA Champions League (Liga dos Campeões).

O FC Barcelona, por exemplo, vem apresentando uma média baixíssima de faltas. Na “era” Guardiola então, nem se fale (para que se tenha uma ideia, nas últimas seis partidas disputadas pela equipe na Liga dos Campeões 2011/12, a sua média de faltas por jogo foi de 8,67).

Parece realmente muito baixa certo? (principalmente se comparada com as 39,5 faltas por jogo cometidas na 19º rodada do Campeonato Brasileiro deste ano).

Uma falta a cada 2,28 minutos de jogo, como tem acontecido no campeonato nacional, é muita coisa para um esporte disputado em terreno de área tão grande (aproximadamente de 7000 m2 – 318 m2 por jogador).

Pois bem, voltemos então ao FC Barcelona e façamos agora, antes de prosseguir, um exercício de imaginação.

A equipe catalã, na “era” Guardiola teve no tempo de posse de bola (sempre superior aos dos adversários), uma marca mais do que registrada. Nas últimas seis partidas que disputou na Champions League 2011/12, por exemplo, teve em média, impressionantes 73,5%.

Imaginemos que em um jogo a maior parte das faltas cometidas por uma equipe sejam faltas de defesa e não de ataque. Ou seja, as equipes fazem mais faltas (senão, quase todas) quando estão se defendendo.

Para efeito didático, tentemos aceitar, que aproximadamente 100% das faltas cometidas por um time, ocorrem quando esse time está tentando se defender (protegendo o gol, impedindo progressão do adversário, ou tentando recuperar a bola).

Para efeito didático também, imaginemos que quando é contabilizada a porcentagem de tempo, que se refere à posse de bola de uma equipe em um jogo, estará contido nele, tanto, o tempo que a equipe tem a posse da bola efetivamente com ela em jogo, quanto o tempo, quando a tem (a bola) fora dele (do jogo) em reposições e/ou reinícios.

Isso quer dizer em outras palavras, que devemos imaginar o tempo total de posse de bola de uma equipe, como a soma do tempo de posse, com a bola em jogo e com a bola fora de jogo (em arremessos laterais, tiros de meta, escanteios, faltas, etc.).

Aceitemos ainda, que quanto mais tempo com a posse da bola, menos chances uma equipe tem de cometer faltas (e menos tempo para isso).

E é aí que emerge um dado bem interessante. Se o FC Barcelona teve em média 73,5% de posse de bola nos jogos eliminatórios da Liga dos Campeões 11/12 (como mencionado anteriormente), então esteve com ela em seu domínio por 66,1 minutos, em média, por partida.

Com esse tempo, deu aos seus adversários 23,9 minutos, também em média, de posse da bola.

Então, por jogo, o FC Barcelona teve aproximadamente 23,9 minutos para fazer faltas (contra 66,1 minutos dos adversários).

Com uma média de 8,67 faltas cometidas nessas mesmas partidas, podemos dizer que a equipe catalã, fez, nos seus seis últimos jogos da Liga dos Campeões 11/12, uma falta a cada 2,75 minutos (no último jogo, por exemplo, contra o Chelsea, chegou a uma falta a cada 1,91 minutos).

Impressionante o elevado número de faltas por minuto do time catalão, não?

Mais impressionante ainda, saber que seus adversários nesses jogos cometeram uma falta a cada 5,27 minutos (ou seja, bem menos faltas que o FC Barcelona).

Não quero com esses números, defender as faltas. Claro que não!
O que estou tentando mostrar é que a taxa de faltas da equipe sensação do futebol mundial dos últimos dois ou três anos é bastante alta (é comparável a do Campeonato Brasileiro).

Porém, o fato de ficar muito tempo com a bola sob seu domínio acabou por mascarar essa característica.

Claro, com a bola por muito tempo nos pés, com um grande número de jogadores no campo de ataque, e com muita agressividade nas suas transições defensivas, o FC Barcelona de Guardiola sempre administrou bem os riscos de sofrer contra-ataques, utilizando-se inclusive de faltas.

Mas faltas são faltas, seja no nosso atual “brigado” futebol brasileiro, seja no vistoso futebol catalão.

Não quero com isso, comparar a forma de jogar do time espanhol, com as equipes brasileiras (especialmente tendo a “falta” como variável dependente); e nem tão pouco, justificar as faltas – principalmente porque, excetuando-se a “taxa de faltas”, uma infinidade de outras variáveis pesará a favor da dinâmica de jogo dos catalães.

O que precisamos fazer, efetivamente, nós todos do futebol, independente da área de atuação, é entender pontualmente o que esse número elevado de falta realmente significa para a dinâmica do nosso jogo, para nossa cultura futebolística, para nossa escola, e finalmente, seu significado dentro da nossa história.

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

A desconfiguração tática do jogo brasileiro

Salta aos olhos: o futebol brasileiro carece de táticas que organizem o seu jogo!

Há alguns anos estamos praticando um futebol ansioso, solto e amorfo. Em um jogo, essencialmente coletivo, costumamos responsabilizar individualmente cada jogador por todas as consequências do campo. O protagonista do jogo coletivo, que deveria ser o conjunto das táticas, passou a ser a cabeça e os pés das individualidades.

Não há sincronia de ações coletivas regida por uma ideia de jogo. Somos mais uma soma de individualidades em campo, o que é muito diferente.

Os jogadores, responsáveis pelas tarefas em campo, deveriam ter as responsabilidades que lhes cabem, em espaços e funções de um modelo de jogo que transcende a importância das individualidades. A qualidade com que cada jogador executar suas tarefas dará o destaque individual que merece. Os craques serão sempre craques, mesmo jogando taticamente o jogo.

Na forma de jogar do brasileiro assistimos a um constante empurrar de bola para frente na expectativa de que o homem que a recebe resolva os problemas da equipe. Quando se tenta fazer posse de bola, lateralizando o jogo em busca de melhores caminhos para o ataque, achamos que estamos fazendo um jogo sem objetividade. E tome vaias e críticas!

Se assim continuar, quando aprenderemos as lições do Barcelona? Esta pergunta sempre terá de vir às nossas mentes para que nos atentemos às necessidades do nosso jogo.

É incrível como adormecemos quanto às demandas táticas do jogo! O processo foi se desencadeando de tal forma que hoje é preciso retomar as lições lá do começo. As individualidades brasileiras foram assumindo importância singular num jogo que deveria primar pelas ações coletivas.

Nós nos perdemos na paixão pela plástica dos lances individuais e ansiedade pelo jogo ofensivo, o que nos afastou da essência do jogo. Talvez, não sei se estou certo, o desdenho às táticas tenha se assumido quando o Brasil começou a entender e aplicar táticas com o intuito de marcar o jogo. O fenômeno “enfeiou” e burocratizou tanto o jogo brasileiro que o repúdio às táticas foi geral.

O contraveneno que apresentamos foi, aos poucos, dar liberdade irresponsável ao jogo e aos jogadores. Os treinadores, pressionados cada vez mais, optaram por “soltar suas equipes” ao ataque. Aos poucos, estes mesmos treinadores foram perdendo o “controle” do jogo e a responsabilidade em construí-lo. Nós nos limitamos a escalar nossas equipes em sistemas táticos temporões – às vezes dura um jogo, às vezes meio tempo, em busca do encaixe do “onze”. Se não der certo a culpa é do sistema ou dos jogadores.

E a dinâmica do jogo? Quem constrói? Não seria o treinador? Talvez, por isso mesmo, as táticas coletivas aparecem muito superficialmente em nosso jogo.

O interessante nesse estado de coisas é que os treinadores, a crítica e toda a comunidade da bola em geral sabem idealizar um jogo de qualidade. O pior é que ainda não conseguimos transformar este ideal em realidade. O peso cultural que este vício adquiriu é muito grande. Não está sendo fácil sair desta fase, mesmo porque existem fatores extracampo muito particulares que também interferem no nosso jogo.

Por tudo isso, uma importante alternativa de qualidade para o jogo brasileiro pode ser começar a dar crédito às táticas que o constroem com a certeza que o jogo com elas é mais eficiente (bem jogado) e eficaz (com resultado).

Precisamos desmistificar a importância das táticas como sendo só argumento de marcação para o jogo. São tão ricas para defender quanto para atacar. Posse de bola ofensiva, ataque com as linhas compactadas, triangulações, ultrapassagens, ações de contra-ataque, dentre muitos outros, são argumentos táticos ofensivos treináveis e que devem fazer parte de um jogo organizado. Vide o Barcelona e outras grandes equipes mundiais que empregam muito bem estes conceitos de ataque. A Eurocopa nos deu ótimas mostras destes argumentos.

Organizar as táticas do jogo não significa negligenciar os outros conteúdos que o compõem. Para que isso não ocorra, basta que tenhamos a verdadeira dimensão do que demanda o desenvolvimento do talento e do jogo nas várias categorias de competição.

A partir dos 12 anos de idade em média, até os 18 anos, também limite médio, o desenvolvimento do jogo e dos jogadores requisitam um foco de conteúdos. A partir dos 18 anos o foco é outro. Enquanto para a primeira faixa etária as táticas individuais e de grupo são prioridade, para a segunda as táticas coletivas são as mais necessárias. Todas, em conjunto, compõem grande parte das exigências táticas do jogo, mas quanto ao foco de desenvolvimento é importante e necessário haver esta distinção. Jogadores e equipes se completarão em suas necessidades de formação ao final do processo.

Mas o que seriam táticas individuais, de grupo e coletivas? Sintetizando neste pequeno espaço, eu poderia dizer que seriam as “tomadas de decisões” individuais, em grupo e coletivas (acima da relação do 3X3 – convenção) que os jogadores e ou equipes assumem nas situações que o jogo oferece.

Nos vários espaços do campo e circunstâncias do jogo: o que fazer? Como fazer? Quando fazer? Por que fazer? Estas são tarefas sistematizáveis e desenvolvidas em treinamentos inteligentemente programados. Todas fazendo parte de um modelo de jogo especificamente.

Assim como para fazer um bolo existe a receita, para jogar o jogo é preciso regras. Quais seriam os princípios e ou conceitos táticos que regem o jogo de futebol? Jogar compacto, abrir espaços para atacar, agrupar para defender, usar os flancos, explorar a troca de passes, dentre muitos outros, são regras e ou leis que constroem o jogo de futebol. Portanto, é óbvio que os conteúdos e métodos de treinamentos deverão ser norteados por estes conceitos.

E será que somente os conteúdos táticos desenvolveriam o jogo de futebol? Eu diria que sim! Se o fizermos sob a metodologia do treinamento global, já falamos nisso em resenhas anteriores, o “pacote do desenvolvimento das táticas” trabalhará também os conteúdos físico, técnico e psicológico. O treinar em forma de jogo tem este poder.

Atenção: não vamos encher a semana com “joguinhos” em forma de treino, que não resolve muita coisa. É preciso haver sintonia entre o treino e a “coisa” a ser desenvolvida, relacionando os dois com o jogo (11X11) propriamente dito. Quando se fala em treinamento, não sei dizer o que seria mais importante: o conteúdo tático a ser treinado ou a forma com que o desenvolvemos!

O assunto é muito vasto e conectado a várias circunstâncias, por isso a cada encontro abordaremos detalhes diferentes. Não abro mão das táticas no jogo das equipes que dirijo. Ao contrário do que muita gente pensa e fala, isso só facilita o trabalho e a fluência do jogo. As táticas, quando bem aplicadas, transmitem inteligência e organização ao jogo. O futebol brasileiro precisa aprender isso, com urgência!

Nós, treinadores, temos a importante missão de começar a fazer as coisas acontecerem em campo para disseminá-las à comunidade esportiva. Nossa principal função, no quesito armação das equipes adultas, é dar sincronia às ações de campo com o emprego, principalmente, das táticas coletivas. Nossos times têm de agir coletivamente e não dependentes única e exclusivamente das individualidades.

Nas categorias de base, as táticas individuais e de grupo prepararão os jogadores e setores do time para o jogo coletivo inteligente e eficaz no futuro. Assim fazendo, nossos craques estarão mais seguros para aflorarem seus talentos. E pode parecer contraditório, mas o jogo jogado coletivamente faz brilhar a luz do talento individual com mais intensidade!

Até a próxima resenha.

Para interagir com o autor: ricardo@149.28.100.147
 

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

O “Futebol Total” e o jogo brasileiro

Há quase dois anos voltei à minha original carreira de treinador de futebol, com uma linha bastante arrojada de trabalho de campo. Nunca deixei de estudar e ou me interessar pelos fenômenos táticos do campo, mesmo estando durante oito anos em cargos de gestão de departamentos de base e profissionais em grandes clubes brasileiros. Agora, nesta nova fase, estou praticando esse vasto conteúdo de estudo aliado aos anos de experiência e também estudos que tive como treinador em momentos anteriores à minha carreira de gestor.

Inauguro a partir de agora, e com muito prazer, a minha participação na seleta equipe de colunistas do Universidade do Futebol. Muito me orgulha ocupar espaço neste conceituado veículo de produção e divulgação científica do futebol brasileiro. Duas valorosas e recentes amizades me abriram essa porta e a oportunidade de manter viva a chama da produção literária que carrego há alguns anos: o professor João Paulo Medina e o seu colaborador Eduardo Tega são os grandes responsáveis. O meu muito obrigado aos dois amigos. Espero não decepcioná-los.

Aproveito o momento também para dividir com eles a responsabilidade pela qualidade dos textos produzidos neste espaço. Aos leitores, reclamem antes deles por qualquer insatisfação.

A ideia será escrever principalmente sobre as questões táticas do jogo de futebol, o esporte coletivo que mais encanta o mundo. É claro que falar sobre táticas e ou do jogo nos obriga dividir espaços entre os conteúdos do campo e aqueles que fazem o seu entorno. É impossível dissociá-los. Darei foco às questões do “jogo brasileiro” pelo carinho que tenho com esse universo e por considerar que temos muito a aprender nesta área.

Convoco os leitores a discutir as questões aqui levantadas para encontrarmos juntos as soluções dos seus problemas.

Há muitos anos idealizo o futebol brasileiro praticado e conduzido, dentro e fora do campo, respectivamente, com organização e competência técnica. Muita coisa já evoluiu, mas pontos importantes ainda estão por desenvolver, sem os quais vejo dificuldades para que o meu ideal se realize.

Não quero passar por um rebelde sem causa, mesmo porque não tenho mais idade para isso. Ilustrando parte das minhas preocupações, sou contra alguns formatos dos nossos Campeonatos Estaduais, mas não contra a permanência dos Estaduais. As fórmulas de disputa é que cada vez mais conspiram contra a qualidade dos campeonatos. Como podemos ter regulamentos que obrigam equipes que se mostram melhores durante dois ou três meses de competição, 15 a 20 jogos em média, fazer jogos eliminatórios contra quartos ou oitavos classificados para provarem que “realmente” são bons. É ou não é andar para trás em termos de organização?

Este é apenas um dos absurdos que continuamos produzindo na confecção dos nossos campeonatos. Queremos acreditar, é o que nos obrigam algumas forças político-financeiras do nosso futebol, que os jogos de “mata-mata” dão mais público e ou audiência. Não concordo com essa crença.

Já temos a Copa do Brasil, modelo de uma linda festa da democracia do futebol. Acho até que podemos estendê-la em tempo de competição e número de participantes. Não vai prejudicar em nada o nosso calendário. Agora, campeonato é campeonato. O critério técnico da competência em campo deve prevalecer sempre, pois essa é a mola mestra que move milhões de aficionados e cifras pelo mundo.

Como disse anteriormente, vou focar meu texto em questões táticas do jogo propriamente dito, mas nunca deixarei de contextualizá-lo à realidade em que é produzido. Alguém tem dúvidas que quando se disputam três pontos que se somam à conquista de um título o jogo é diferente daqueles que fazem parte de uma fase classificatória sem grande apelo técnico?

Hoje tenho tido respostas maravilhosas a muitas questões táticas do jogo que sempre foram “pesadelos” em minhas noites de jovem treinador. Quero dividir com o leitor do Universidade do Futebol algumas das ideias que norteiam a minha “nova maneira” de pensar e trabalhar o fantástico jogo do futebol.

Como parte desse novo momento, venho adotando a visão e construção do jogo de forma sistêmica procurando aceitá-lo e entendê-lo segundo a sua complexidade tática.

Há vários anos temos uma linha metodológica de treinos, a Periodização Tática, sendo desenvolvida nos bastidores do futebol, mas só recentemente ela vem sendo exposta de forma escancarada. O “Futebol Total” da Holanda 1974 voltou ao foco com uma roupagem moderna. O Barcelona é o clube que está capitaneando a reedição dessa moda. Não por acaso, há muitos anos, os catalães acolhem grandes profissionais holandeses, treinadores e jogadores, em seu futebol.

Depois disso, muitos treinadores e/ou times vêm tentando entender e desenvolver os conceitos táticos responsáveis pela construção do jogo mais qualificado no momento atual do futebol. Vamos também dissecar um pouco desse fenômeno.

Será que tem razão o treinador do Barça, Pep Guardiola, quando diz que sua inspiração está no Brasil de 82? Acho que ele foi gentil com os brasileiros na sua colocação, apesar de achar que se a seleção de Telê praticasse o jogo do Barcelona de hoje seria ainda melhor.

Na verdade o jogo do Barcelona é a reedição qualificada do “Futebol Total” da Holanda de Rinus Michael.

“Precisamos aprender com eles” foi o que disseram Robinho e Neymar, em momentos distintos, quando enfrentaram a equipe catalã em 2011. Não será fácil aprender e desenvolver as lições do Barcelona no futebol brasileiro de hoje.

Falaremos um pouco sobre isso apresentando argumentos técnicos às nossas colocações sem, no entanto, perder de vista o ideal de tentarmos desenvolver a escola do “Futebol Total” no maior celeiro de craques do futebol mundial!

Até a próxima resenha!

Para interagir com o autor: ricardo@149.28.100.147
 

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

O futebol “invisível”

Alguns jogos precisam ser guardados para serem revistos ao longo do tempo. Ver uma partida diversas vezes, podendo pará-la, estudá-la, analisá-la, enfim, ser crítico sobre as inúmeras ações que ocorreram no confronto e que permitiram que uma equipe levasse vantagem sobre a outra, é tarefa necessária para quem pretende aperfeiçoar a sua leitura do jogo de futebol.

E, para aperfeiçoar a sua leitura do jogo, “enxergar” o futebol aparentemente “invisível” será determinante na composição de uma opinião sistêmica da modalidade.

O trecho abaixo, retirado do penúltimo clássico Real Madrid x Barcelona, válido pelo 1º turno do Campeonato Espanhol e que a equipe catalã venceu por 3 a 1, é parte de um destes jogos que devem ser vistos repetidas vezes. De acordo com o tema da semana, a preocupação da edição das imagens deu-se exclusivamente com o referido futebol “invisível”, mais especificamente com um único jogador:
 


 

Grande parcela da mídia, dos torcedores e até dos próprios treinadores, tende a analisar um jogo e/ou um jogador exageradamente pela “qualidade técnica”. Atributos como passe, cabeceio, finalização, desarme, são as características observadas para a definição do nível do atleta.

Porém, quem é leitor assíduo da Universidade do Futebol, seguramente, já observou que ter simplesmente as informações técnicas de determinado jogo ou jogador, desconectadas do Modelo de Jogo da equipe, dirá muito pouco desta equipe e do próprio jogador.

No jogo identificado acima, o atleta analisado realizou nove passes horizontais, seis passes verticais no sentido da própria meta, 12 passes verticais no sentido da meta adversária, errou dois passes, fez sete interceptações completas, oito interceptações incompletas, dois desarmes completos e perdeu a posse de bola uma vez, totalizando 47 ações.

Esta análise pode ser feita por um software quantitativo de análise de jogo, ou então, manualmente (o meu caso) para quem não dispõe deste recurso tecnológico. Estas 47 ações, facilmente visíveis, são somente uma pequena parte dos 90 minutos do jogo de futebol que, no plano individual, é jogado a maioria do tempo sem a bola.

(Em tempos de Copa-SP e exacerbação de comentários sobre bons jogadores de futebol, respeito a importância da análise técnica de um atleta, porém, é incompreensível que uma análise se reduza a esta vertente).

Após um parêntese necessário, retornemos ao vídeo e ao futebol invisível que, jogado sem bola durante quase todo o jogo, infelizmente, poucos enxergam.

Para cada lance, o que poucos enxergam:

1-A velocidade (de decisão) em abrir linha de passe;
2-A diagonal para evitar a penetração;
3-A recomposição para evitar a penetração;
4-O posicionamento com nítida atenção às referências do jogo (alvo, bola, companheiros adversários);
5-O atraso da ação adversária com nítida atenção às referências do jogo (alvo, bola, companheiros adversários);
6-A cobertura defensiva e a proteção do alvo;
7-O posicionamento com nítida atenção às referências do jogo (alvo, bola, companheiros adversários);
8-A ampliação do campo efetivo de jogo com a equipe em posse de bola;
9-A recomposição e o posicionamento para cortar um possível cruzamento;
10-O atraso da ação adversária para posicionamento dos companheiros;
11-A rápida recomposição mesmo quando é ultrapassado;
12-O atraso da ação adversária para posicionamento dos companheiros;
13-A velocidade (de decisão) em abrir linha de passe mesmo que não receba a bola;
14-A rápida diagonal para posicionar-se entre bola e alvo;
15-A diagonal para evitar a penetração;
16-O equilíbrio defensivo, a eficiente diagonal e o foco na trajetória da bola, e não no corpo do adversário;
17-O bom posicionamento defensivo quando distante da bola;
18-A rápida recomposição mesmo quando é ultrapassado;

A partida só não foi perfeita para este jogador, pois em duas situações do jogo errou a decisão (e a ação), como pode ser observado no pequeno trecho abaixo:
 


 

Na primeira imagem, opta pelo combate em detrimento à recomposição e cobertura, permitindo o passe adversário para um setor desprotegido. Na sequência, passa da bola e não prevê o corte para dentro; quando resolve voltar, é tarde demais.

Quanto mais pessoas enxergarem o futebol sem bola, mais rapidamente acontecerão as urgentes transformações do futebol brasileiro. Na perspectiva administrativa, contratações mais assertivas poderão ser realizadas; na perspectiva técnica, principalmente em relação à metodologia de treinamento, será compreendido que cada ação de um jogador no jogo, como bem diz o Dr. Alcides Scaglia, é pautada por uma intenção, portanto, carregada de significado. E este significado (indispensavelmente correlacionado ao futebol) deve ser buscado em cada sessão de treinamento.

Já num plano comercial, se mídia e torcedores brasileiros um dia enxergarem o futebol “invisível”, serão mais críticos na análise do que deveria ser um espetáculo.

Sem dúvida, ganhariam todos! Hoje, quem mais ganha é o futebol europeu! Representado na coluna por Carles Puyol que, ao contrário de muitos defensores brasileiros com mais de 30 anos de idade, sobe o bloco quando sua equipe tem a posse de bola, pressiona constantemente em espaço e tempo seus adversários, sai jogando predominantemente com passes curtos, além dos comportamentos que puderam ser observados no vídeo. Tudo isso com uma altura (1,80m), para muitos, inapropriada para zagueiros.

Uns dizem que os jogadores do Barcelona se entregam ao jogo, outros que treinam muito passe, outros ainda que tudo que aconteceu foi obra do acaso: “você junta os jogadores e as coisas acontecem naturalmente”.

Prefiro dizer que eles dominam o futebol invisível. Visto nesta coluna no plano individual e que deve ser feito no jogo, por todos, no plano coletivo.

Para interagir com o autor: eduardo@149.28.100.147
 

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

Entrevista Tática: Dante, zagueiro do Borussia M’Gladbach-ALE

Com grande colaboração dos jornalistas Bruno Camarão e Guilherme Yoshida, que estabeleceram o contato para a entrevista, a coluna desta semana traz a opinião de Dante sobre diversos aspectos referentes ao jogo de futebol que de alguma forma se relacionam com a vertente tática da modalidade.

Dante, zagueiro do Borussia M’Gladbach e único brasileiro no atual elenco, é peça importante na surpreendente campanha da equipe na Bundesliga 2011/2012, com 33 pontos em 17 rodadas e ocupando a 4ª colocação. Distante quatro pontos do líder, sua equipe encontra-se atrás apenas de Bayern de Munique, Borussia Dortmund e Schalke 04.

O defensor de 28 anos é um dos três jogadores da equipe que mais atuou na competição, 1530 minutos. Abaixo, a entrevista com ele:

1-Quais os clubes que você jogou a partir dos 12 anos de idade? Além do clube, indique quantos anos tinha quando atuou por ele.

Em 1998 na Catuense, em 1999 no Galícia, em 2000 no Capivariano, entre 2001 a 2004 no Juventude, de 2004 a 2006 no Lille-FRA, em 2007 no Charleroi-BEL, de 2007 a 2009 no Standard Liège-ALE e de 2009 em diante no Borussia M’gladbach-ALE.

2-Para você, o que é um atleta inteligente?

Podemos abordar muitos pontos dentro disso. Acredito que inteligência tem a ver, além da qualidade técnica, com a capacidade de fazer bem uma leitura de jogo, de entender estrategicamente o futebol, compreender as propostas de jogo da sua equipe e também do adversário e, também, saber usar sua qualidade técnica de um modo que possa se diferenciar.

3-Você saberia descrever o quanto o futebol de rua, o futsal ou o futebol de areia contribuiu para a sua formação até chegar ao profissional?

Praticamente em tudo. Meu amor por futebol surgiu justamente nas brincadeiras de rua e no colégio. Tudo isso faz parte do que eu sou hoje e eu não seria o que sou se não fosse essa etapa da minha vida.

4-Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?

Foco, concentração, respeito e determinação. Acredito que são regras básicas para se ter uma equipe vencedora em qualquer jogo.

5-Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?

Normalmente o que se faz no clube, o treino diário, é o ideal. Obviamente uma boa pré-temporada é muito importante. Quando estamos treinando na pré-temporada ou nos treinamentos diários e importante um mix de trabalhos físicos, técnicos e táticos.

6-Para ser um dos melhores jogadores de sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?

Acho que não precisa ter uma característica própria. Muitas vezes jogadores totalmente diferentes acabam se completando, um com mais capacidade de marcação, outro com mais capacidade de saída de bola. Então, varia muito isso e vai muito de acordo com a característica do jogador e do elenco que ele compõe.

7-Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.

Eu me considero um jogador com uma boa impulsão, boa estatura para jogadas aéreas e finalização de cabeça também. Sou um jogador tranquilo, também, com uma boa saída de bola e sempre tento aliar tudo isso para me tornar um jogador sempre mais completo.

8-Pense no melhor treinador que você já teve. Por que ele foi o melhor?

Sem demagogia, acredito que o Lucien Favre, que está conosco no Borussia M’gladbach, é um dos grandes com quem já trabalhei e vi. Ele pegou este grupo desacreditado, praticamente rebaixado e foi responsável pela recuperação e pela consolidação da confiança desse grupo, que agora está lutando pela liderança na Bundesliga.

9-Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.

Isso acontece sempre. O jogador sempre tem uma convicção, mas temos de ter a consciência de que o treinador muitas vezes acaba tendo uma visão melhor e muitas vezes vai o próprio jogador que tem qualidade para jogar numa determinada posição que ele achava que não lidava bem. Acredito que, nestes casos, é preciso ter calma, pois às vezes as coisas podem ser boas para o jogador.

10-Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?

A preleção aqui na Europa é um pouco diferente do Brasil. No Brasil ela é mais motivacional, aqui na Europa é apenas uma resenha de tudo que treinamos e do que temos pela frente. É sempre importante para entrarmos ainda mais concentrados em campo.

11-Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo? Qual você prefere e por quê?

O 3-5-2 é bem menos usual hoje e acabamos sempre jogando com uma linha de quatro na maioria das vezes ou com mais um jogador ali para auxiliar. Para nós, que somos zagueiros, independentemente da formação, é sempre bom ter alguém a mais ali para compor a marcação e dificultar a vida do adversário. Nós jogamos muito assim, com mais proteção atrás e apostando no contra-ataque ou tentando valorizar a posse.

12-Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:

Com a posse de bola:
Valorizando a posse e buscando alternativas, evitando ao máximo o erro de passe.

Assim que perde a posse de bola: recomposição rápida para não deixar espaços.

Sem a posse de bola: equipe compacta, evitando ao máximo deixar buracos e oportunidades para os adversários.

Assim que recupera a posse de bola: buscar atacar com velocidade para surpreender o adversário e aproveitar os espaços.

Bolas paradas ofensivas e defensivas: atenção no posicionamento. Este é um ponto forte da nossa equipe.

Existe alguma mudança de comportamento previamente treinada para jogos fora de casa? E com a vantagem no placar? Explique.

A gente busca sempre jogar da mesma maneira fora de casa, porém, é sempre necessário lembrar que há um adversário e que as equipes jogando em casa sempre tendem a jogar mais para o ataque e tentar se impor. Nossa postura é sempre de tranquilidade, esperando a hora certa para dar o bote, em qualquer situação.

13-O que você conversa dentro de campo com os demais jogadores, quando algo não está dando certo?

Todos nós vamos nos falando, ouvindo orientações do banco e tentando nos ajeitar para que as coisas melhorem. Nunca é uma situação muito fácil de se resolver, mas, às vezes, acaba funcionando, principalmente quando se tem uma equipe entrosada.

14-Como você avalia seu desempenho após os jogos? Faz alguma reflexão para entender melhor os erros que cometeu? Espera a comissão técnica lhe dar um retorno?

É sempre bom ter um retorno da comissão e das pessoas que estão conosco. Eu busco assistir ao jogo e ser muito crítico em relação ao que eu faço, justamente para melhorar sempre.

15-Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?

Eu acho que uma característica básica de diferença é o ritmo de jogo. Na Europa a bola corre mais, a grama é mais baixa, o jogo é mais rápido. Acredito que esta seja a principal diferença.

16-Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma comissão técnica, qual seria?

Buscar sempre a união da equipe, integração de todos, para criar um ambiente saudável e propício para que seja realizado um grande trabalho.

Para finalizar, dê sua opinião sobre o que achou da entrevista e como, na sua visão, a mesma pode contribuir com o futebol brasileiro.

Gostei muito, pois fugiu bastante do que as pessoas costumam perguntar e foi mais a fundo em alguns pontos. Espero que seja interessante para quem trabalha, para quem pensa em trabalhar com futebol e espero também que vocês tenham gostado.

Para interagir com o autor: eduardo@149.28.100.147

Leia mais:
Entrevista Tática: Nei, lateral-direito do Internacional

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

Férias do futebol e as “peladas” de fim de ano. E o descanso, onde fica?

Em meio à inter-temporada 2011/2012 ocorre pelo mundo afora as famosas “peladas” de fim de ano. Com cunho beneficente, muitas delas contam com a participação de ex-atletas e atletas atuais que se reúnem para ajudar ao próximo ao mesmo tempo em que se divertem.

Mas, apesar de toda boa intenção e legitimidade desses encontros futebolísticos, não podemos esquecer que muitos jogadores reclamam o ano todo do calendário exagerado e do excesso de jogos ao longo da temporada, porém, quando têm a oportunidade de permanecerem longe da bola e dos gramados, fazem questão de participar desses jogos.

Então, será que em época de férias, ao invés de descansarem, esses atletas continuam se desgastando e prejudicando seu preparo para a próxima temporada?

A resposta é não se pensarmos no cunho amistoso desses jogos. Pelo nível técnico, provavelmente essas partidas não acarretam sobrecarga emocional nem física para nenhum atleta. Pelo contrário. Ao participar de um evento beneficente, o jogador é capaz de sentir-se bem por ajudar outras pessoas e pelo fato de encontrar muitos amigos e se divertir ao invés competir – esse evento poderá até auxiliar no seu descanso e no seu relaxamento, especialmente no aspecto mental.

Isso porque ao serem expostos a um ambiente de descontração e livre de cobranças, mesmo que se estejam executando um esforço físico, a intensidade é mais baixa e do ponto de vista mental isso serve como alívio, pois muitos estão fazendo o que mais gostam, porém sem a pressão do dia a dia.


 

Mas se pensarmos no ambiente extra-jogo a resposta será sim, pois entre as coisas que poderão atrapalhar as férias desses atletas estão as viagens, o tipo e o tempo de hospedagem, as atividades pós-partida (como excesso de comida e/ou bebida que eles serão submetidos) e especialmente se conseguirão dormir bem ou mal.

Pelo exposto até aqui vemos que a decisão de aceitar ou recusar o convite para uma dessas peladas deverá ser de cada atleta. Para isso se faz necessário que o mesmo avalie todas as condições do evento e calcule se no final da festa ele estará se sentindo mais disposto ou mais cansado.

Em suma, se não houver exageros, esse período de relaxamento será extremamente benéfico para a recuperação, porque nessa época é desejável que haja uma alteração do balanço autonômico desse atleta em que o mesmo deverá sofrer uma diminuição da modulação autonômica simpática e um aumento da modulação autonômica parassimpática.

Por outro lado, se houver abuso, o sistema nervoso autônomo terá um comportamento antagônico ao desejado e ao invés do aumento da modulação parassimpática, haverá um aumento da modulação simpática. Isso poderá indicar piora da condição física e mental do atleta e, sem dúvida, o mesmo iniciará a próxima temporada já bastante prejudicado.

Portanto, para não começar 2012 dando bola fora, é importante lembrar que mesmo não havendo nada proibido, todo exagero pode ser maléfico.

Feliz 2012 para todos!

Para interagir com o autor: cavinato@149.28.100.147