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Afinal, Esporte ou Desporto?

O artigo 217 de nossa Constituição Cidadã trata do Desporto. “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um…”, afirma ele de forma inconteste…

… O Ministério é do Esporte – assim mesmo, no singular, pois ele é uma prática social com origem moderna vinculada ao advento da sociedade industrial -, mas já tivemos há bem pouco tempo atrás, no Governo Itamar, o Ministério de Educação e Desporto e antes dele, no Brasil Novo de Collor, uma Secretária Especial do Desporto, que por sua vez veio no lugar da SEED, Secretaria de Educação Física e Desporto que, por dentro do Ministério da Educação e Cultura no final da década de 70 e toda de 80 do século passado, ditou os caminhos da política da área…

… A justiça (!) é Desportiva e ser esportivo é sinônimo de não levar as coisas a ferro e fogo e sim com fair play, para cuja expressão Galvão Bueno, por ocasião da mais recente versão da Copa do Mundo de Futebol, como se tivesse descoberto a pólvora, se valeu do termo desportividade… Tudo isso sem esquecer os desavisados que com trejeitos científicos relacionam o esporte às práticas corporais não competitivas e o desporto àquelas associadas ao alto rendimento, à performance…

Não é a primeira vez que trato deste assunto, e se resolvo fazê-lo agora é por falta de inspiração para voos maiores neste momento em que somos desmotivados a continuar acreditando na raça humana, dada a imbecilidade que imperou na campanha eleitoral, onde os candidatos teimaram em nos tratar como tolos… Sim, eu sei… O problema é da nossa democracia… Mas não de seu excesso e sim de sua ainda escassez, incipiência, fragilidade e imaturidade motivadas pelo pouco tempo que temos de aprendizado democrático, reiniciado depois de uma eternidade mergulhados nas trevas da ditadura militar… Sim, eu sei, perseverar é preciso…

De uma das vezes, me lembro, já se vão 10 anos, quando estávamos às voltas com as festividades patrocinadas pelo governo brasileiro alusivas aos 500 anos de descobrimento (sic) do Brasil pelos portugueses. Não por acaso, pois então suspeitava que a expressão desporto presente em nosso vocábulo tinha muito mais a ver com os portugueses do que com os ingleses ou nossos irmãos latinoamericanos ciosos no uso da expressão Deporte… Suspeitas essas que se demonstraram relativamente corretas, como veremos adiante…

Bem… Como comecei apontando neste artigo, a Constituição Federal Brasileira de 05/10/88 trata em seu Capítulo III, Seção III, do Desporto. Então, a expressão Esporte é errada? Possui outro significado? João Lyra Filho (mentor intelectual do Decreto-lei no 3.199/41, primeiro documento legal voltado para a normatização do esporte nacional), logo após o prefácio do Professor Gilberto de Macedo à 3a edição (1974) de seu livro Introdução à Sociologia do Desporto e antes do Preâmbulo, nos apresenta as seguintes considerações sobre o assunto:

“Desporto, Sport ou Esporte? Pedi uma resposta ao saudoso mestre Antenor Nascentes, que se manifestou assim: – ‘Nem desporto nem sport, esporte. Desporto é um arcaísmo que Coelho Neto procurou reviver quando se criou a respectiva Confederação. Coelho Neto era muito amante de neologismos. Haja vista o paredro. A palavra inglesa há muito tempo está aportuguesada e bem aportuguesada; é usada por toda a gente. Devemos usar a linguagem de todos, para não nos singularizarmos. Não está de acordo?

E continua João Lyra Filho: Respondi-lhe, com a vênia devida, que permaneço na dúvida. Não desconheço a influência do gosto popular e estimo deveras as dominantes da literatura oral. Mas indo às origens do nosso vernáculo, identifico o uso da palavra desporto nas letras e na boca de Portugal. Não só os quinhentistas, inclusive Sá de Miranda, empregavam desporto. Não tem havido outra opção no escrever e no falar dos portugueses. A palavra desport já era de uso no francês antigo, significando prazer, descanso, espairecimento, recreio; com este sentido, figura em poesias de Chaucer. Os ingleses a tomaram por empréstimo, convertendo-a, depois, no vocábulo sport. Uma nova razão faz-me permanecer adepto do vocábulo arcaico: ele foi atraído à própria Constituição desta nossa República Federativa. O artigo 8o, sobre a competência da União, dispõe na alínea q do item XVII: ‘legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional; normas gerais sobre desportos’. Não desejo ser denunciado como infrator da nossa Carta Magna… Mas a denúncia pode prosperar, com mudança de acusado, pois não são raras, na legislação do país, as vezes em que os autores dos respectivos textos oficializam o vocábulo esporte.”

Se já naquela época não eram poucas as ocasiões em que se optava pelo uso da expressão esporte no lugar da desporto, hoje em dia a opção por esporte é ainda mais evidente…Até nos arriscamos a criar neologismos! No meio acadêmico da área Educação Física é comum presenciarmos o uso de um: Esportivização, utilizado nas vezes – cada vez mais comum – em que assistimos o processo de submeter as práticas corporais aos ritos do esporte…

O professor Gaudêncio Frigotto, no seu escrito “A Formação e a profissionalização do educador: novos desafios” se reporta a Conceitos como sendo as “representações no plano do pensamento, do movimento da realidade”. Como tal, afirma não serem eles “alheios às relações de poder e às relações de classe presentes na sociedade. Pelo contrário, são mediações de sua explicitação ou de seu mascaramento”.

Pois me valendo da compreensão de Conceito atribuída por Frigotto, defendo o uso da nossa – brasileira – expressão Esporte, que não nega sua origem portuguesa nem tampouco nossa aproximação com o britânico Sport, mas expressa a vontade política de buscar suas próprias palavras para apontar o desejo de configuração de sua identidade… Pois não é o Futebol – e não o soccer ou football – que sinaliza ao mundo a identidade cultural esportiva do brasileiro?

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br  

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O legado

Muito já se discutiu no país sobre o legado que a Copa do Mundo e as Olimpíadas irão deixar. Comenta-se sobre a reforma generalizada na infraestrutura de transporte do país, com aeroportos maiores, melhores e mais acessíveis. Fala-se sobre a melhoria da estrutura urbana próxima aos estádios e da significativa ampliação da rede hoteleira nas cidades-sede. Discute-se os novos parâmetros de segurança da população dentro e fora dos estádios, que, por sua vez, são a herança mais visível daquilo que está por vir.

Tudo muito bonito, tudo muito legal. Mas tudo, ainda, bastante distante. Faltando um mês para faltar três anos e meio pra Copa acabar, pouca coisa foi feita ainda, como qualquer um pode ver. A maior parte das estruturas prometidas foi sequer iniciada. Aeroportos continuam congestionados, apertados e bagunçados. A segurança ainda necessita de respostas mais estruturadas do que o simples combate. E os estádios… bom. Você sabe bem.

Mas talvez a grande herança, o grande legado, que tanto a Copa quanto as Olimpíadas irá deixar para o esporte brasileiro, já se encontra em um estágio bastante avançado: a instalação de grandes players do mercado mundial no mercado esportivo brasileiro.

Se outrora as maiores agências de marketing esportivo do mundo ignoravam o mercado brasileiro, já que a desigualdade social é extremamente elevada, o gasto com lazer é pequeno, a informalidade é gigantesca, o isolamento geográfico é significativo e o fuso-horário é rebelde, agora elas estão com os olhos bem abertos para o mercado. E começam a criar suas bases no país. Afinal, apesar de todos os pesares, não dá pra ignorar um país com 190 milhões de habitantes que hospedará os dois maiores eventos esportivos existentes. Muitas agências virão. Algumas já chegaram. Outras estão a um passo daqui.

Alguns empecilhos surgem, porém. Primeiramente, no momento em que essas agências se instalam, elas não conseguem achar muito que fazer. Como o mercado de mídia é extremamente concentrado e a quantidade de eventos esportivos com apelo popular é bastante limitada, o grande filão das agências, a venda de direitos de transmissão, não serve pra muita coisa. Nesse cenário, o mercado de patrocínio não foge à regra e fica bastante engessado. Sem muitas alternativas, elas recaem no mercado de agenciamento de atletas, que passa por um momento de diversas incertezas.

Porém, apesar de não ter muitas alternativas para atuação no mercado de imediato, essas agências trazem consigo uma expertise de décadas de atuação nos mais diversos cenários mercadológicos. Ao abrir as portas no Brasil, elas trazem para o mercado brasileiro um mundo novo de processos, tecnologias, metodologias e ideias que têm o potencial de elevar consideravelmente o nível das práticas do marketing esportivo no país. Com o tempo, isso vai criando raízes na cultura do mercado local e vai invariavelmente aumentando o padrão de profissionalização dos players, o que tende a apresentar resultados bastante favoráveis para os envolvidos.

Isso já está acontecendo. O movimento ainda é tímido e pequeno. Mas a revolução já começou. Apesar de todas as nossas limitações, um dia ela certamente irá apresentar resultados. Se isso acontecer, pode ser o grande legado dos megaeventos para o mercado esportivo nacional.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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Novamente os stakeholders

Presenciamos neste último final de semana mais um exemplo da necessidade de se definir estratégias claras para administrar os anseios de todos aqueles que possuem algum interesse sobre as organizações – os stakeholders. O caso em voga foi o do Palmeiras, que viveu um dilema complicadíssimo, na linha tênue entre as questões éticas do esporte e os anseios de boa parte de sua torcida, que queria vê-lo perder para o Fluminense e assim evitar que o seu maior rival, o Corinthians, vencesse o Campeonato Brasileiro (ou facilitasse a vida do mesmo).

A torcida é apenas um exemplo, e talvez o mais emblemático, do conjunto de pessoas com determinado interesse sobre um clube de futebol, variando seu perfil de acordo com a cultura e a história inerente à entidade.

Para entender melhor, o diagrama abaixo, proposto por Mitchell, Agle e Wood (1997) e citado por Trentin (2010)*, expressa a combinação dos atributos poder, legitimidade e urgência, de acordo com as características de cada stakeholder ou grupo de stakeholders.


 

Este conjunto de stakeholders, em referência aos clubes de futebol, envolve todos os 19 clubes da Série A, o Clube dos 13, a empresa que detém os direitos de transmissão dos jogos, todos os outros veículos de comunicação, a CBF, a CONMEBOL, a FIFA, os associados, os dirigentes e diretores do clube, os funcionários do clube, a comissão técnica, os próprios jogadores, a família dessas pessoas que estão diretamente envolvidas com os dirigentes, diretores, funcionários, comissão técnica e jogadores, os fornecedores do clube, os patrocinadores e por aí segue uma lista enorme de pessoas, empresas e instituições com um elevado interesse sobre as decisões da entidade esportiva.

Apenas para tecer comentários sobre três dos supracitados exemplos e suas possíveis reações em detrimento deste caso Palmeiras-Fluminense-Corinthians:

1) Patrocinadores: como é que empresas do nível de Fiat, Coca-Cola e Adidas, patrocinadoras do Palmeiras, que publicam balanço social anualmente e levantam a bandeira da ética e da sustentabilidade, vão justificar que o seu investimento serviu para manipular determinado resultado esportivo? Lembrando que corintianos (além dos torcedores das outras equipes) também consomem seus produtos.

2) Família: imaginem a tensão na família dos jogadores, que são stakeholders adormecidos, podem se tornar do dia para a noite dominante ou definitivo, ao assistir a ameaça de terceiros a seus entes (inclusive de diretores do clube que os emprega). Como lidar com tal situação?

3) Jogadores: e aqui poderíamos incluir a comissão técnica que, por determinada circunstância do futebol, venha a defender as cores de algum destes rivais futuramente. Eles não deveriam ser ouvidos por uma lógica mais coerente?

Estas reflexões que foram deixadas nesta coluna, além de outras inerentes ao tema, devem ser objeto de estudos e análise em todas as organizações. Percebe-se a necessidade em se compreender sobre as influências diretas e os fatores de poder, legitimidade e urgência que afetam os clubes de futebol e, a partir daí, definir com detalhes as estratégias e ações a serem desenvolvidas em cada caso, seja ele positivo ou negativo, que a instituição é acometida para se posicionar e se comunicar com cada um desses stakeholders. Negligenciar tais pressupostos pode prejudicar sobremaneira a sustentabilidade no médio-longo prazo das organizações.

Bibliografia:

* TRENTIN, Mário Henrique. Gerenciamento de stakeholders: case BP – Golfo do México. Mundo Project Management, ago/set 2010.
 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

 

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Diálogo das máquinas II

– Ei! Ei! Tá me ouvindo?

– Opa! Tô sim. E aí o que conta de novo?

– É você tinha razão mesmo. Não fomos utilizados no dia do jogo. Para falar a verdade, ainda nem me utilizaram.

– Falei que seria assim. Para usar em dia de jogo é complicado.

– Mas por quê? Qual a dificuldade?

– Primeiro tem que ter gente que saiba mexer conosco.

– Isso é verdade.

– Depois, não adianta só ligar a gente e achar que a gente vai sair por aí fazendo qualquer coisa. Por um acaso você já viu algum computador bom de bola?

– Não, eu nunca vi um computador fazer um gol sequer.

– Então. É disso que eu to falando. Vem uns cara que nem sabe usar a gente. Aí eu fico com uma pulga atrás do meu processador viu. O cara vem, e acha que eu vou resolver o problema da zaga do time dele. Vou vestir meião, calção e a camisa e entrar em campo (interrompido por risos)… O que foi, porque tá rindo?

– É que achei engraçado, imagina você de meião… ia ficar esquisito.

– Ah, bobagem. Mas é isso que os caras não percebem, em vez de usar nossa capacidade de processamento, velocidade, armazenamento, agilidade de transformar dados, os caras só faltam por a gente para treinar cabeceio.

– Mas é uma pena mesmo. Ah… Na semana passada você disse que ia comentar da questão da infra-estrutura.

– É mesmo, lembra do HD que te comentei que eu conheço.

– Lembro.

– Então, ele rodou uns estádios por aí, mas disse que é muito precário. Tem lugar que nem fornecimento de energia nas cabines ou no banco tem. Imagina? Não dá para viver só com bateria né?

– Com certeza! Mas, nossa… Nem uma tomada?

– Nada. Os caras acham que não tem que ter instalação elétrica ali, afinal usariam para que?

– Helloooouuuu! O que mais que poderia ser ligado na tomada?

– Eu sei, concordo, mas já viu né? Quem cuida das coisas muitas vezes não pensa assim. A mesma coisa com internet.

– Vixi! Nem me fale, se nem tomada tem, imagina ponto de acesso à internet.

– Exatamente. Ponto de acesso é complicado. Isso que ainda às vezes o pessoal leva aqueles USB que consegue conectar, o tal de 3G.

– É, acho que não vou realizar meu sonho de ir a um estádio.

– Acho que as coisas estão mudando, quem sabe.

– É… Mas até lá não sei não, para gente as coisas mudam muito rápido. Até alguém perceber a importância e aprender a usar a gente no estádio eu já devo ter virado sucata.

– Infelizmente é verdade, mas quem sabe?

Esta semana um amigo perguntou quantos textos eu já tinha escrito e não posso deixar de comemorar e agradecer com os amigos leitores, sem esquecer dos editores que sempre nos apóiam mesmo quando não conseguimos manter a periodicidade. Esta coluna de hoje se não errei nas contas é a coluna de número 100 na Universidade do Futebol. Pode ser um número pequeno perto de pessoas que estão no projeto há tanto tempo, mas confesso que é um número importante e espero que desses 100 textos alguns possam ter tido alguma colaboração com a sua reflexão, pois com certeza para o amadurecimento desse autor que vos escreve teve. Abraços.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Perdas futuras

A paixão é cega, já dizia o ditado. E, por conta disso, muitas vezes a relação que as pessoas têm com o futebol, beira o irracional. O que se vê, hoje, na reta final de mais um Campeonato Brasilleiro é exatamente o quanto a paixão pode ser prejudicial para o futuro do esporte.

A entrega de jogos, ou a insistência de nós, jornalistas, em levantar essa bola nas rodadas finais do Brasileirão, fez com que o torcedor colocasse a paixão acima de tudo e, assim, prejudicasse no longo prazo a realização do próprio futebol no país.

Ao exigir a derrota de seu clube para prejudicar o rival, o torcedor não consegue perceber que prejudica a si mesmo. A felicidade da torcida corintiana em 2009 vendo que o time perdeu e com isso facilitou a vida do Flamengo e prejudicou o São Paulo se transformou rapidamente em pesadelo em 2010, quando uma derrota do rival para o Fluminense complicou a caminhada alvinegra rumo ao título.

Mas o problema maior não é nem aceitar que um time entregue o resultado num ano e no seguinte seja vítima do próprio veneno. A maior derrota que pode existir, nessa situação, é ver que isso só ajuda a tirar a credibilidade sobre a disputa do Brasileirão.

E o problema não é nem a fórmula de disputa da competição. Sim, obviamente que se tivéssemos a disputa de semifinais e finais na reta decisiva do campeonato não teríamos jogos com times interessados contra outros desinteressados.

Mas aí é que está o grande ponto.

Não pode haver desinteresse de um atleta em defender um clube. Querer atribuir ao formato da competição a entrega proposital de resultados é o mesmo que aceitar que só há pobreza porque as pessoas não se esforçam em sair dela, como se programas de governo para melhorar a vida da população não fossem absolutamente necessários para erradicar a pobreza.

A partir do momento em que o torcedor acredita ser correto ver seu time perder, ou então que o atleta não vê problema em fazer corpo mole para ver um colega de profissão prejudicado, a credibilidade do produto está perdida.

Os primeiros sinais de que a coisa não vai bem começam a ficar evidentes. Queda de público nos estádios, audiência mais baixa na TV. Se o futebol brasileiro não acordar, será impossível resgatar a sua imagem no futuro.

A vitória de hoje simboliza, claramente, a derrota mais para frente.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Pressionar a bola marcando por zona, individual por setor e individual homem a homem

Exercer algum tipo de pressão sobre a bola é fundamental para que se consiga desorganizar o sistema ofensivo adversário.

Essa pressão, obviamente, pode variar de equipe para equipe, e independe da região do campo que a bola ocupa. Isso quer dizer que o fato de uma equipe optar por atacar a bola a partir da linha “3” e outra já na linha “1” não descaracteriza o fato de que estejam exercendo pressão sobre ela – a bola (apenas adotam referências espaciais diferentes).

Uma questão importante, que tem relação com as estratégias para se pressionar a bola, diz respeito ao tipo de marcação que uma equipe adota para seu sistema defensivo.

Se a marcação for individual homem a homem, individual por setor, ou zonal, distintas implicações sistêmicas emergirão para manutenção de seu equilíbrio organizacional defensivo.

Para exemplificar com uma dessas implicações sistêmicas, vejamos como se daria a pressão sobre a bola em determinada região do campo, com a utilização de cada um desses tipos de marcação.

Vamos supor que determinada equipe tenha como referência de ação pressionar a bola sempre que ela atingir a região “A” (como podemos observar na figura abaixo).


 

Quando a marcação for individual homem a homem (aquela em que cada jogador deve marcar outro jogador previamente determinado e acompanhá-lo sempre), ao ter a bola penetrando na região “A” sob o domínio de algum adversário, o marcador correspondente a ele deverá imediatamente atacar a bola para tentar o desarme, enquanto seus companheiros encurtam a distância dos seus respectivos “marcados”.


 

Na marcação individual homem a homem, a pressão sobre a bola na região “A” poderá ocorrer a cada situação, com a ação de um diferente jogador e/ou sobre um diferente adversário.

Quando a marcação for individual por setor (aquela em que cada jogador é responsável por marcar o adversário que invade seu espaço), ao ter a bola penetrando na região “A” sob o domínio de algum adversário, o jogador (ou jogadores) responsável por ela (região “A”) deverá atacar a bola para tentar o desarme, enquanto seus companheiros encurtam a distância dos jogadores adversários que estão em seus respectivos setores.


 

Na marcação individual por setor, a pressão sobre a bola na região “A”, via de regra, ocorrerá a partir da ação de um mesmo jogador (ou jogadores) responsável pelo setor correspondente à região “A” – sobre um mesmo ou distinto adversário.

Quando a marcação for zonal (aquela em que o jogador é responsável por marcar o um espaço, e não um adversário), ao ter a bola penetrando na região “A” sob o domínio de algum adversário, os jogadores fecham os espaços para que a bola, ao ser atacada nesta região, não consiga sair dela, e possa ser recuperada através de um desarme ou interceptação.


 

Na marcação zonal, a pressão sobre a bola na região “A”, via de regra, ocorrerá a partir da ação de todos os jogadores que atuam diretamente ou indiretamente no espaço correspondente à região “A”, circunstancialmente – independentemente de ser o mesmo ou distinto adversário.

A relação do tipo de marcação com a ação de pressão sobre a bola ou sobre o adversário é apenas uma das variáveis que, quando manipuladas ou alteradas, acarretarão mudanças importantes no comportamento da equipe e na dinâmica do jogo.

Conhecer bem essas mudanças e a maneira como elas interagem é a única maneira de intervir precisamente na construção do processo de treinos de uma equipe de futebol (seja ela do alto nível competitivo profissional ou não) para alcançar os resultados de excelência desejados.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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O mundo do futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Com a grande profissionalização e comercialização do futebol, e também com os próximos grandes eventos esportivos a serem realizados no Brasil (Copa e Olimpíadas), os investimentos no futebol tem se intensificado.

Isso é, evidentemente, muito positivo, uma vez que ajuda a garantir a viabilidade financeira deste esporte. Por outro lado, é importante que esses investidores entendam perfeitamente a realidade do mundo do futebol, para que não tenham surpresas ao longo do período do investimento.

O futebol não é uma aplicação em renda variável como outra qualquer. É uma aplicação em renda muitíssimo variável! Sendo que essa variável se baseia em fatos absolutamente desassociados de qualquer racionalidade. Aliás, é justamente por conta desse fator totalmente imprevisível que o futebol é tão atraente e pode ser, por vezes, tão rentável.

Vejamos, por exemplo, o que ocorreu na SE Palmeiras. Tudo caminhava para um desfecho muito favorável (dentro de um ano não tão favorável assim). Os obstáculos mais complicados foram superados. E, quando vem o obstáculo em tese mais simples, o time perde do Goiás e todo o planejamento de receitas, despesas, contratações, patrocínios, etc, etc, vai por água abaixo. E o quase certo lucro vira prejuízo da noite para o dia (ou nem isso, vira prejuízo das nove horas para as onze horas daquela noite).

Isso se deve ao fato de que investimentos no futebol dependem muito do que ocorre dentro dos gramados que, claro, em muitos casos é reflexo de um bom planejamento, mas que em outros, por diversas razões de momento, não reflete o esforço extra-campo.

E é desta constatação que voltamos a uma discussão muito antiga, mas complexa no futebol. Vale a pena ter uma gestão profissional, sem gastos excessivos, e não ter bons resultados em campo? Ou a melhor administração é aquela que se endivida, contrata uma constelação de craques a qualquer custo?

Acho que a resposta é uma justa medida entre um e outro. É fundamental que os investidores do futebol trabalhem com quem conheça profundamente a modalidade (coisa que não se aprende exclusivamente em nenhuma faculdade ou em multinacionais de outros ramos de atividade).

De todas as maneiras, entendo que, por mais difícil que seja este caminho, o investimento no futebol pode ser muito positivo para todas as partes envolvidas, especialmente se o investimento ocorre com responsabilidade, ética e profissionalismo.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Gestão e marketing esportivo alinhado com as ciências do esporte

A relação entre gestão e marketing esportivo e as ciências do esporte aparece cada vez mais forte e consistente à medida que o mercado se profissionaliza e há a necessidade por conhecimentos múltiplos como fatores preponderantes de sobrevivência pessoal e organizacional das entidades esportivas.

Em artigo científico recentemente publicado, Schwarz (2010)* aborda e discute, a partir de uma revisão da literatura, alguns aspectos que chamam a atenção e dizem respeito às práticas dos profissionais de educação física contrárias a princípios que são facilmente observados nas áreas de conhecimento que compõe a gestão e o marketing e, por linhas gerais, estas com a dinâmica do setor esportivo.

Existe uma concepção de que há uma ligação bastante forte entre a excelência na performance física dos atletas com os negócios desempenhados pela organização. Fatores relacionados a indicadores organizacionais, stress, liderança, alto-rendimento das equipes e vínculo direto com a equipe técnica são os exemplos mais básicos.

Este conceito está muito próximo da ideia de eficiência organizacional, ou seja, empresas esportivas ineficientes possuem um elevado poder de comprometer a performance atlética de uma equipe como um todo ou um atleta em especial, dependendo da modalidade.

A história, a psicologia e a sociologia devem estar articuladas por meio de construções sociais, na mesma medida em que são estudadas nos campos das ciências humanas.

Schwarz (2010) discute, sobre esse enfoque, as colocações levantadas por Thomas e Dyall (1999) a respeito da relação entre gestão e marketing esportivo e o domínio da cultura social. Estas estão compreendidas:

  • No desenvolvimento de habilidades para a efetiva comunicação entre as pessoas em grupos de diferentes culturas;
  • Na comunicação intercultural nas configurações do esporte;
  • Nos recursos culturais chave e nas diferenças étnicas observadas entre os participantes;
  • Na gestão do esporte em caminhos que desenvolvam a cultura organizacional concernente a diversidade étnica.

Premissas dentro desta linha de raciocínio são recorrentes e já foram objeto de análise por autores como João Paulo Medina, no clássico “A Educação Física cuida do corpo… e ‘mente'” (1983), e tantos outros. Aqui neste portal também, com abordagens que enfatizam o ser social como um todo e não simplesmente um personagem físico e biológico.

O artigo em referência nesta coluna chama a atenção à medida que a discussão parte de outro campo de análise e de uma clemência para que os currículos escolares na área das ciências do esporte (no nosso caso a educação física) estudem com mais profundidade as relações com a gestão e o marketing esportivo como determinante para a sobrevivência dos profissionais no mercado.

E tal parte de uma reflexão das competências de treinadores americanos, tidos como os “modelos a seguir” por boa parte da comunidade esportiva de nosso país, o que mostra a necessidade de maiores reflexões sobre os nossos padrões de referência.

Cada vez mais o fator da multidisciplinaridade bate a nossa porta e fica evidente que não se trata mais apenas de “falácia de intelectuais”. Com elevada frequência observamos que pequenos detalhes fazem completamente a diferença no momento de se alcançar o sucesso em determinada competição – ou então de sucumbir a um fracasso retumbante para aqueles que preferem não enxergar.

* SCHWARZ, Eric C. The reciprocal and influential connection between sport marketing and management and the sport sciences. International Journal for Sport Management and Marketing, Vol. 7, Nos. 1/2, 2010.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Aprendendo a jogar

O futebol brasileiro está jogando pelo ralo a grande chance de entender que a fórmula de disputa por pontos corridos não é o problema para que, a todo final de ano, volte-se a discutir qual a melhor maneira de se fazer um campeonato que seja atrativo para o público.

Malas coloridas, erros de arbitragem e debates infindáveis sobre o nada compõem hoje um universo que só serve para denegrir a imagem do Brasileirão e afastar o foco do conjunto de problemas que faz com que ainda tenhamos um torneio nacional bem longe do ideal.

Erros decisivos de árbitro sempre acontecem e atrapalham, independentemente da forma de disputa do campeonato. Da mesma forma, times com diferentes interesses em fases distintas da competição sempre vão existir. A diferença é que, agora, isso pode deixar uma equipe mais próxima do título, enquanto que, antes, no máximo levava um clube para a fase final ou tirava do rebaixamento.

O fato é que, por incrível que pareça, após sete anos de disputa a maioria dos clubes ainda não aprendeu a jogar uma competição longa no Brasil. É preciso um trabalho de planejamento no longo prazo para um time ser campeão nos pontos corridos. Algo que, para a mentalidade europeia, é absolutamente comum, e que por aqui nos acostumamos com o mantra “no final dá certo”.

O que se vê hoje no Brasileirão é um reflexo da falta de preparo dos clubes para planejar uma competição com oito meses de duração e acontecendo paralelamente a outras disputas. Não se faz, dentro do clube, um planejamento para que o atleta entre no auge da forma na reta final de campeonato, para que o time tenha mais do que um jogador por posição, etc. Tudo é pensado para dali a dois, três meses, algo que realmente sempre foi a realidade do país até 2003.

É estranho pensar que os clubes ainda não tenham se dado conta de que não é o time de “chegada” que necessariamente será o campeão. Para vencer, é preciso ser constante, estar prepardo do começo ao fim, saber que esse fim parece distante, mas para ter uma história feliz depende igualmente do que é feito no início da competição.

Mesmo com os clubes sabendo com praticamente quatro meses de antecedência como será a rotina de jogos do campeonato seguinte, não é feito um trabalho para pensar onde o time vai querer estar em dezembro. Sim, porque já se vão sete anos que a história não muda. Na primeira, no máximo segunda semana de dezembro define-se o Campeonato Brasileiro.

Para complicar o cenário, temos um agravante no meio do ano, que é a saída de alguns jogadores importantes para os clubes. A bendita janela de transferências europeia, que tanto alivia as contas da temporada, tem a sua parte maldita dentro de campo, com o desmantelamento de equipes.

Esse talvez seja um dos gargalos a se resolver, além da óbvia necessidade de os clubes aprenderem que é necessário planejar o ano todo para que, em novembro, não tenhamos de novo a ladainha de que fulano decidiu não jogar para prejudicar o rival, de que o erro do árbitro mudou a sorte do time, etc.

A forma de disputa não é a vilã. Ou os clubes planejam 365 dias da temporada, ou então o chororô permanece. Como diz a música, “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”. É preciso aprender a jogar em pontos corridos. Urgentemente.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Espaço público, privado ou comunitário

Lendo trecho do livro do Prof. Dr. Luís Miguel Cunha*, da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, Portugal, me coloquei a refletir sobre a gestão dos espaços que serão construídos para os megaeventos esportivos no Brasil.

Reflexão que, aliás, não é nova. O que nos falta é profundidade e entendimento da razão a qual se leva a construí-la. Porque implantar uma instalação desportiva deve, neste engodo, ser a pergunta de partida. E não só isso, tratar com seriedade todas as informações que são pertinentes a existência de um novo espaço para a prática de esportes: para quem se destina? Quais as características sociais, econômicas e comportamentais dessas pessoas? Onde deve ser instalada? Para quê ela servirá?

O material do Prof. Cunha consegue analisar diversos pontos intervenientes a isso e não será possível tecer comentários sobre tudo nesta breve coluna. Mas gostaria de destacar a parte em que aborda as tipologias de espaços que implicam nas dinâmicas da gestão após a efetiva construção de uma instalação.

Melhor explicando, podemos considerar: (1) o espaço público – bem de usufruto ou de livre acesso a todos; (2) o espaço privado – onde estão localizados ou dispostos recursos organizados em função dos interesses do proprietário; (3) o espaço comunitário – destina-se a oferecer a possibilidade de dar um rendimento mínimo a comunidades.

Então, como serão definidos esses espaços no pós-Copa 2014, por exemplo? Sabemos que no pré-Copa e durante a competição as mesmas serão praticamente de propriedade da Fifa, uma vez que devem seguir rigorosamente os critérios exigidos pela entidade – que com razão o faz, uma vez que procura proteger o seu principal produto.

Por aqui, o pensamento deveria estar voltado para atender as exigências do caderno de encargos visando, sobretudo, a implantação de uma gestão compartilhada posteriormente.

Como fica a gestão dos estádios após meados de 2014? Se pública for, como as pessoas terão acesso a esse ambiente? Se uma concessão privada do espaço for dada a outrem, tal acordo comercial cobrirá o investimento público inicial? A amortização da dívida estatal será proporcional aos rendimentos aferidos por essa hipotética concessão? Há quem pague? Ou os espaços terão uma finalidade comunitária e, por assim dizer, servirão como importante elemento de desenvolvimento para a localidade que abriga a instalação?

Não sei se ainda temos tempo para responder a esses questionamentos, uma vez que isso tudo faz parte do período de planejamento e deveria estar previsto antes mesmo de se construir qualquer equipamento esportivo. Esse tipo de preocupação, quando colocada pela opinião pública, parece que é tratada como algo sobrenatural. Estamos nós dispostos então a pagar por mais uma conta de algo a ser subutilizado no futuro?

Perguntas, perguntas e mais perguntas que ficam no ar, com pouca ou nenhuma sinalização de resposta convincente para suprirmos de forma equilibrada toda a demanda afim de solucionar o desenvolvimento efetivo do esporte no país.

* CUNHA, Luís Miguel. Os espaços do desporto: uma Gestão para o desenvolvimento humano. Coimbra: Editora Almedina, 2007.

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