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O Futebol como prática educativa

Crédito imagem: Marcelo Gonçalves/FFC

Semanas atrás o futebol profissional brasileiro nos trouxe duas notícias que merecem, ao menos, uma breve análise. Ambas envolvem jovens treinadores que atuam em grandes equipes, mas que ainda são pouco compreendidos por aqueles que gerenciam os clubes e por parte da mídia esportiva, que, de resto, pouco compreendem o que quer que não seja simplesmente negócio.  

A primeira destas notícias trouxe o anúncio feito pelo Fluminense do retorno do treinador Fernando Diniz, que, apesar de ainda não ter conquistado títulos expressivos, é alguém que nos enche de expectativas positivas. Sobre ele, em texto anterior, já o apontamos como uma de nossas esperanças para efetivação de algumas boas mudanças, entre tantas que o futebol profissional precisa. 

Vale ressaltar que Fernando Diniz levou ao Fluminense como seu assistente técnico, outro jovem profissional de extrema competência, e pelo qual também nutrimos grandes esperanças, por sua visão humana e pedagógica: Eduardo Barros. Com ambos, certamente o Fluminense ganhou, além de dois grandes treinadores, ótimos educadores.

E por qual motivo valorizamos a atuação deles enquanto educadores? Porque o futebol é, entre outras coisas, uma prática educativa! E como prática educativa, pode contribuir com a formação humana dos nossos atletas e alunos. Entretanto, se defendemos aqui a ideia de que o futebol educa, é preciso destacarmos que ele pode educar tanto para o bem, quanto para o mal. Se olhássemos os jogadores de futebol apenas como máquinas que devem render a qualquer preço e mercadorias produtoras de lucro para investidores, talvez nos bastasse um treinador tecnicamente bom. Mas se os entendermos, acima de tudo, como pessoas, como seres humanos, ainda, em constante formação, é fundamental que tenhamos bons educadores.    

Quando dizemos que o futebol profissional é educativo, referimo-nos a uma educação que não é formal, que não está registrada nos processos oficiais regulares de ensino. O futebol é educacional no sentido de que atinge profundamente as populações com ele envolvidas, toca no fundo de suas emoções, altera seus comportamentos, orienta suas atitudes.

O que dizem os técnicos em suas entrevistas, o que dizem os jogadores e o que fazem em campo, as decisões dos dirigentes, as opiniões dos jornalistas, são acontecimentos que educam, para o bem ou para o mal. A questão é: uma vez que sabemos do enorme poder de educar que o futebol possui, os envolvidos diretamente com ele têm o direito de se eximir de responsabilidade com o público que pratica e acompanha essa modalidade esportiva? Público esse, vale destacar, que envolve de crianças a idosos, homens e mulheres, das mais diversas regiões do nosso país e do mundo.

Dias após o anúncio da contratação de Fernando Diniz e Eduardo Barros, um clube visto com bons olhos pelos projetos construídos e pelos bons resultados obtidos recentemente, o Atlhético Paranaense, demitiu o treinador Fábio Carille, apenas 21 dias após sua contratação. Isso mesmo… foram somente 7 dias de treino com a sua equipe. Apesar de tão pouco tempo de trabalho, após uma derrota por goleada na Taça Libertadores, foi demitido. Contando Paulo Souza, último demitido, 7 equipes já realizaram 8 demissões de treinadores somente nas 10 primeiras rodadas da série A do Campeonato Brasileiro.  

Não se dá a um treinador um mês para preparar sua equipe. Cobra-se dele resultados que só viriam por passes de mágica ou por obra do acaso. Imaginem, então, se esse treinador tiver o compromisso educacional com seus jogadores, se pensar neles antes como seres humanos que como jogadores.

O futebol, como prática social dentre as mais usufruídas pelo povo brasileiro, nos permite compreender, ao menos parcialmente, a sociedade em que vivemos. E mais, nos permite transformar, também parcialmente, a sociedade em que vivemos! Há um considerável esforço por parte da sociedade, sobretudo por aqueles que lucram com o futebol, em desvinculá-lo da política e das demais esferas da vida em sociedade. Como abordar o futebol sem problematizarmos o preconceito de gênero? Como admirar o futebol diante de tantos casos de racismo? Como pensar em acesso à prática com tanta segregação e seletividade? Como defender direitos sociais básicos com tanto abuso sexual que acomete meninos e meninas que praticam o futebol?

Não obstante, se defendemos a tese do futebol como prática educativa, não podemos deixar de frisar e valorizar os princípios do esporte educacional, defendidos pelo Instituto Esporte Educação (IEE).  Ou seja, independentemente do local de prática (rua, clubes e escolas de esporte) ou da forma como nos apropriamos desta prática social (como praticante, torcedor ou profissional) é fundamental que ele, conforme preconiza o IEE:

  • Seja inclusivo: Temos que garantir a possibilidade de prática a todos e todas. E, estar no jogo, não significa que esteja jogando. Portanto, é preciso criar condições de prática efetiva para todos, ou seja, todos devem brincar, se divertir e jogar juntos.  
  • Seja uma prática coletiva: O futebol, como qualquer outra modalidade, vive em constante transformação. É preciso, então, que todos participem das construções que lhe dizem respeito (suas regras e decisões relacionadas ao jogo, por exemplo).
  • Respeite e valorize a diversidade: Princípio diretamente relacionado ao da inclusão. Devemos respeitar e acolher todas e todos que queiram praticar e admirar o futebol, independente da raça, gênero, nível de habilidade, biotipo, etnia, classe social etc.
  • Promova a autonomia: Praticantes do futebol devem ser capazes de discernir o que envolve sua realização, desde como, quando e qual gesto técnico realizar, até por qual clube torcer ou qual equipe defender, por exemplo. Devem decidir com responsabilidade individual e social.  
  • Contribua com a formação integral do sujeito: Não basta que nosso aluno(a) ou atleta seja tecnicamente um(a) bom/boa jogador(a). Ele ou ela, seja uma criança ou um adulto, precisam se desenvolver como um todo, abarcando seu conhecimento cognitivo, intelectual, físico, emocional, dentre outros.  

Sustentar o futebol como uma prática educativa não é tarefa fácil, sobretudo quando o futebol profissional se apresenta, majoritariamente, de modo conservador, machista, cada vez mais elitista e, também cada vez mais, como uma mercadoria lucrativa e que busca resultados imediatistas. Mas se somos educadores e não abdicamos do papel de contribuir com a transformação do futebol e da nossa sociedade, nossa atuação deve passar, sempre, pela defesa do futebol como prática educativa.

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Dificuldade em renovar o Flamengo

Crédito imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Juro que a ideia deste texto pairava sobre a minha mente há um certo tempo. Não quero parecer oportunista. Se defendo análises contextuais e sistêmicas não posso me basear “só” no resultado. O Flamengo vencendo o campeonato carioca garanto que o que vem abaixo seria escrito da mesma maneira. Sem tirar nem pôr uma vírgula diferente.

O problema flamenguista pós Jorge Jesus não está no banco de reservas. Não está em quem escala. Não está em quem comanda os treinamentos. E sim dentro das quatro linhas. Quem joga. Isso mesmo, o problema não é treinador e sim jogador(es). A necessária renovação no elenco de 2019 para cá não aconteceu. Você pode contra-argumentar que muitos jogadores saíram e outros tantos chegaram de lá para cá. Sim, é verdade. Mas poucas estrelas deixaram o clube. Poucos protagonistas foram trocados. A espinha dorsal é praticamente a mesma. E isso é péssimo! 

Que fique bem claro: o Flamengo tem vários craques no elenco: Gabigol, Bruno Henrique, Arrascaeta, Everton Ribeiro e alguns outros que jogariam fácil em qualquer clube do Brasil e em vários clubes europeus. Mas a questão não é técnica. É de ambiente. É de ambição. Tenho certeza que todos esses atletas dão a vida em campo e fazem o máximo para vencer. Entretanto há ciclos que devem ser respeitados. Estímulos novos não vêm apenas com a chegada de um novo treinador. É necessário que o jogador se mova. Para o próprio crescimento dele. E também para o clube seguir em frente.

Com o vice-campeonato carioca, choverão críticas ao técnico Paulo Souza. Jogadores falarão nos bastidores que querem aprender, que gostariam de evoluir, mas que estão com dificuldades de compreensão dos conceitos do técnico português. Mais ou menos como foi com Domenec Torrent. Rogério Ceni e Renato Gaúcho tiveram argumentos contrários um pouco diferentes, mas também acabaram engolidos. E as lideranças do elenco continuam praticamente as mesmas… agora que chegou um goleiro para ser titular (Santos, ex-Athlético-PR), mas Diego Alves ainda está lá… 

Por questões culturais, os ciclos de elencos no Brasil são curtos. Não que tenha que trocar tudo quando perde. Mas também não pode haver uma espécie de gratidão com quem tem títulos conquistados. 

Esperar um novo 2019 é perda de tempo para o flamenguista. Mesmo com Jorge Jesus e todos aqueles jogadores hoje o rendimento não seria o mesmo de três anos atrás. As coisas mudam. Falta a diretoria e o torcedor do Flamengo compreender que homenagens a quem ganhou se faz com placas e afins e não com renovações de contrato.

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Estágio de evolução da equipe: a convicção no processo!

Crédito imagem: Robson Mafra/AGIF

A ideia de futebol coletivo ainda sofre resistência no Brasil. Há no inconsciente do torcedor uma certeza de que o melhor time é o que tem os melhores jogadores. Não que isso não possa acontecer. Mas não é regra.

Em um jogo disputado por vinte e dois atletas, com oposição, campo grande, alvo (gol) proporcionalmente pequeno, em que há momentos de ataque – com a bola – e de defesa – sem a bola – podemos até discutir quais de fato são os melhores jogadores. Os que atacam melhor? Ou os que sabem defender com mais eficiência? Por isso o conceito de equipe passa necessariamente pela junção de atletas que se complementem.

E formar um time eficiente e vencedor leva tempo. Há uma infinidade de variáveis. O que se sabe com certeza, porém, é que após essa análise inicial de características e perfis, vem as dinâmicas e os encaixes que dependem de repetição e de uma certa “química” que vem do campo, da bola, dos treinos e dos jogos.

E isso tende a não brotar do nada, da noite para o dia…

Diante disso, me incomoda as cobranças em cima do atual elenco do Corinthians, sobretudo após as derrotas para Atlético-MG e Flamengo. Ambas fora de casa!!! O técnico Sylvinho pode e deve ser criticado por algumas estratégias e escolhas. Afinal, qual técnico do mundo é perfeito e não comete falhas?! 

Mas aqui precisamos falar de processo. De tempo, de maturação. De conjunto! Como colocar os atuais times de Corinthians, Flamengo e Atlético-MG no mesmo estágio de evolução?! É impossível! Basta um recorte mínimo da temporada passada: Flamengo e Galo brigaram por conquistas e o Corinthians lutou contra o rebaixamento. E se for para individualizar, Willian, o melhor reforço corintiano, não joga há cerca de um mês.

Entendo a paixão do torcedor e não pretendo que quem está na arquibancada use a razão para interpretar o que se passa dentro de campo, analisando tudo de maneira contextual e sistêmica. Mas espero que quem esteja no comando não tenha essa mesma passionalidade e compreenda que nenhum grupo se torna vencedor sem um trabalho constante, coerente e perene.

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Estrutura ganha jogo?! Mas que estrutura?

Crédito imagem: Pedro Souza/Atlético

O resultado de uma equipe dentro de campo é fruto de tudo o que o clube produz na sua totalidade. Claro que alguns departamentos tem uma influência maior do que outros. Mas todos que trabalham em uma instituição esportiva tem a sua parcela de contribuição no que acontece dentro das quatro linhas.

Fixar os olhos apenas no campo e na bola pode ser perigoso. Principalmente se esse olhar for o do dirigente. Investir, por exemplo, quase que a totalidade do orçamento em salários para jogadores e desprezar outros profissionais que talvez não tenham a mesma visibilidade e relevância para o torcedor, mas que são fundamentais para potencializar a performance pode ser um erro fatal.

Vamos a uma situação hipotética, mas que é muito frequente no Brasil: um clube médio declara que ainda não tem verba para criar um departamento minimamente estruturado e aparelhado de Análise de Desempenho e Mercado. Esse mesmo clube, porém, gasta milhões para contratar um jogador baseando-se apenas no “olhar clínico” de algum dirigente estatutário “abnegado” e “apaixonado” pelo clube. E em muitos momentos esse mesmo caro jogador pode se machucar (o que faz parte) e demorar além do necessário para se recuperar. Se voltarmos o olhar para o departamento médico, talvez esse clube possa estar defasado em termos operacionais e estruturais. E quando esse jogador volta, mesmo que tardiamente, pode ser que ele fique um certo tempo sem jogar bem, apesar de estar clinicamente recuperado. Buscando o staff da instituição não encontramos um psicólogo, para auxiliar o jogador na parte mental. Mais alguns meses e esse clube começa a atrasar salários porque as despesas estão maiores do que as receitas…já viu um filme parecido?

Perceba que o analista, o médico e o psicólogo não são agentes famosos para o mundo externo do futebol, não podendo servir de muletas para alguns dirigentes no famigerado argumento de ‘dar uma resposta para a torcida’ na primeira crise, mas esses profissionais são extremamente importantes para a performance esportiva. E eu poderia citar inúmeros outros profissionais que não têm visibilidade, mas são pessoas fundamentais no sucesso esportivo. Ou se o advogado não for competente o clube não pode perder pontos por alguma irregularidade?! O gerente de logística não pode prejudicar a recuperação dos atletas escalonando mal voos, hotéis e campos para treinar em jogos fora de casa?!

Não estou aqui pregando que o torcedor conheça todos os funcionários do clube que ele torce. Meu foco está nos gestores. Nos tomadores de decisão. Esses têm que entender de todo o processo, entender da complexidade que é o jogo de futebol e saber que a vitória começa fora de campo. 

A torcida resta desconfiar do processo e da estrutura se na primeira crise for contratado um medalhão… a felicidade momentânea pelo reforço pode virar frustração lá na frente…

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Fluxos migratórios no futebol de base brasileiro

INTRODUÇÃO

Por que fluxos migratórios? 

O desrespeito aos direitos de crianças e adolescentes no processo de formação de jogadores e jogadoras é uma ocorrência bastante documentada por meio de produção acadêmica, jornalística e de estudos independentes. Entre as principais violações relatadas estão o distanciamento escolar e da família, a sobrecarga nos treinamentos e o abuso sexual.

Para aqueles que amam o futebol e mesmo para os que se preocupam com o futuro de nossa sociedade e país esse assunto merece atenção pois impacta um número significativo de jovens, sendo uma questão que extrapola a esfera do esporte, atingindo nossa sociedade como um todo. 

Mas afinal, qual o tamanho do futebol de base no Brasil?

Publicado em 2019, o relatório: educação e as categorias de base, mostrou que existiam no ano anterior 448 clubes em atividade nas categorias sub-15, primeira com competições oficiais em idade na qual é possível, legalmente, alojar jovens jogadores, ou superiores. Tal número equivale a cerca de 40 mil jovens, em uma estimativa bastante conservadora baseada em entrevistas com profissionais de 7 clubes profissionais de diferentes níveis esportivos do país. Destes, 35 mil, também de forma estimada* atuavam em clubes sem o Certificado de Clube Formador – CCF, sinal de alerta para a garantia dos direitos desses jovens, como aprofunda o referido documento. 

*As escolhas dessas estimativas estão explicadas de maneira detalhada no relatório.

No documento citado também são apresentadas estimativas, ainda de acordo com as entrevistas com os profissionais dos 7 clubes, sobre o número de jovens que transitam pelo país participando de processos seletivos in loco. Também de maneira conservadora e que vamos extrapolar no relatório de agora, o número encontrado foi de 13 mil jovens ao ano.

É em relação a esse contingente, em conjunto com os aprovados que passam a viver longe de suas cidades e estados de origem, que vamos direcionar nossas maiores atenções no presente estudo. 

Distanciamento escolar 

Mencionamos nos primeiros parágrafos outros tipos de violações frequentemente citadas em estudos sobre as categorias de base do futebol. Entre eles, o distanciamento escolar talvez seja o mais fácil de se observar e mensurar, por isso escolhemos nos debruçar sobre ele, especificamente, para ilustrar como o regime de albergamento, os alojamentos, podem ser prejudiciais para o desenvolvimento de jovens jogadores e jogadoras, lembrando que todas as outras violações listadas podem vir a reboque, estando menos documentadas ou recebendo menos atenção dos envolvidos no processo de formação. 

Quando estudados os centros de treinamento e formação de jogadores e o distanciamento do ensino formal o que se percebe é que ele acontece tanto literalmente, com a não presença nas aulas, quanto de uma forma menos objetiva. Estudos publicados por Melo e colaboradores em 2010 apontam que jovens jogadores provenientes de outras cidades e estados que vivem em regime de albergamento em clubes do Rio de Janeiro são os que detêm maior número de reprovações e de atraso escolar quando comparados aos futebolistas em formação que vivem com a família. Também segundo os pesquisadores, quanto maior a faixa etária, mais os jovens são levados a estudar no período noturno. Em outro estudo, realizado por Marques e Samulski em 2009, com 186 jogadores de 18 anos, também é apontado o atraso escolar e dificuldades para conciliar a escola e a carreira esportiva, sendo que mais da metade da amostra parou de estudar em algum momento para se dedicar ao futebol.

Desde então, algumas melhorias, como a própria regulamentação do CCF, vêm sendo implementadas no processo de formação de jogadores, com destaque para o cada vez mais valorizado trabalho das, na maioria mulheres, profissionais do Serviço Social. De qualquer maneira, o tema continua merecendo nossa atenção. 

Tendo em vista a falta de dados sobre o tamanho do futebol de base no Brasil e a necessidade de especial atenção para os jogadores e jogadoras que deixam seus lares para buscar um espaço no futebol profissional, realizamos um levantamento sobre as cidades de origem de jogadores de 12 clubes das séries A e B do campeonato brasileiro de futebol masculino.

OS DADOS DO ESTUDO

O estudo tem dados enviados por 12 clubes das séries A e B do campeonato brasileiro de futebol masculino. Ao todo, foram coletadas as informações de 1680 jogadores nascidos entre 2000 e 2012, sendo 256 menores de 14 anos, ou seja, que não podem legalmente serem alojados. 

Em relação a seus estados de origem, dos 1680 jogadores listados, 718 são de estados distintos dos clubes de onde atuam, assim como 39 dos 256 menores de 13 anos.

Em relação aos fluxos migratórios, ou as origens e destinos dos jogadores temos os seguintes dados:

Origem dos jogadores 

Nascidos entre 2000 e 2007 – 12 clubes

SUL – 3 clubes

13 do norte (4,333333 por clube)

29 do nordeste (9,666667)

26 do centro oeste (8,666667)

85 do sudeste (28,33333)

33 do sul (11)

França 1 (0,33)

Namíbia 1 (0,33)

Portugal 1 (0,33)

Espanha 1 (0,33)

Paraguai 1 (0,33)

Equador 1 (0,33)

Camarões 1 (0,33)

SUDESTE – 5 clubes

14 do norte (2,8 por clube)

100 do nordeste (20)

53 do centro oeste (10,6)

110 do sudeste (22)

42 do sul (8,4)

3 dos Estados Unidos (0,6)

1 do Panamá (0,2)

1 da Bolívia (0,2)

1 da Colômbia (0,2)

CENTRO-OESTE – 1 clube

4 do norte

13 do nordeste

14 do centro oeste

14 do sudeste

2 do sul

NORDESTE – 3 clubes

4 do norte (1,333333)

27 do nordeste (9)

11 do centro oeste (3,666667)

51 do sudeste (17)

5 do sul (1,666667)

1 do Paraguai (0,3333)

Nascidos entre 2008 e 2012 – 5 clubes 

SUDESTE – 4 clubes

6 do norte (1,5 por clube)

17 do nordeste (4,25)

11 do centro oeste (2,75)

13 do sudeste (3,25)

3 do sul (0,75)

1 da Itália (0,25)

51(12,75 por clube) de fora do estado de origem/205 (51,25) no total

NORDESTE – 1 clube

6 do nordeste

1 do sul

7 de fora do seu estado de origem/51 no total

O funil

Os números do relatório: educação e as categorias de base com suas estimativas conservadoras apontam que temos:

40 mil jogadores de base no Brasil (1)

35 mil deles atuando em clubes sem CCF (0,875 para cada um do total da base)

10 mil alojados (0,25 para cada um do total da base) 

13 a 224 mil perambulantes que viajam realmente pelo país (0,325 a 5,6 para cada um do total da base) 🡪 30 a 500 jovens participando anualmente das semanas de avaliação para ingresso nos clubes brasileiros de variados níveis esportivos.

Com base nesses números temos, de acordo com o novo levantamento temos os seguintes dados:

Jogadores nascidos de 2000 a 2012

Total = 1680 (140 por clube) x 40 de série A e B = 5600 x 1000 tentando ingresso para cada um que tem êxito (Damo, 2005 e Toledo 2000) = 5,6 mi tentaram ingresso apenas nesses clubes.  

5600 x 0,25 = 1400 alojados nos 40 clubes das séries A e B

5600 x 5,6 perambulantes (escolhemos o máximo relatado nas entrevistas de 2019 por estarmos analisando clubes de elite, das séries A e B) = 31360 ao ano saem da sua cidade de origem anualmente para serem avaliados, ao menos uma vez em clubes.

Fora do seu estado de origem = 718 (59,83 por clube – 42,7%) x 40 de série A e B = 2393,2 x 1000 = 2,39 mi fora do seu estado de origem tentaram ingresso – Todos avaliados in loco? Não! Muitos são avaliados e sondados em seus estados e cidade de origem antes de viajarem de fato. 

Jogadores nascidos de 2008 a 2012 – jogadores com 13 anos (7º ao 8º ano do ensino fundamental) ou menos de 5 clubes das séries A e B masculinas, do nordeste e sudeste.

Total = 256 (51,2 por clube) x 40 de série A e B = 2048 x 1000 = 2,05 mi tentaram ingresso

51,2 por clube x 40 clubes = 2048 x 5,6 perambulantes por jogador a base = 11469

Fora do estado = 39 (7,8 por clube – 15,2%) x 40 de série A e B = 312 x 1000 = 312 mil fora do estado tentaram ingresso. Todos in loco? Não! 

Observações e discussões

– Estudo publicado em janeiro de 2021 de autoria de Israel Teoldo e Felippe Cardoso demonstra que o número de habitantes e o IDH da cidade de origem dos jovens jogadores impactam na identificação e desenvolvimento de jogadores no Brasil, o que pode ajudar a explicar o maior número de jovens originários do sudeste fora de seus estados nas categorias de base dos clubes estudados. 

– Em relação aos números do presente relatório um ponto de destaque é que estamos falando de um topo de pirâmide em relação ao “mercado de jogadores mirins”. Tendo CCF ou não – a maioria dos clubes que participaram desse levantamento possui o documento, independentemente da estrutura e condições de vida que os clubes oferecem aos integrantes de suas categorias de base, o grande ponto de preocupação é o que se passa com a vida dos perambulantes, principalmente os não aprovados. Essa preocupação deve ser extrapolada para aqueles que perambulam em busca de oportunidades em toda a cadeia produtiva do futebol brasileiro. Ou seja, para além dos mais de 31 mil – 11 mil menores de 13 anos – que viajam em busca de oportunidades nos 40 clubes das séries A e B, quantos outros são avaliados pelos mais de 400 clubes que mantém categorias de base ativas no Brasil? A quais tipos de violações de direitos tais crianças e jovens estão expostas? De quem é essa responsabilidade?

– Com o aumento exponencial da circulação de recursos no futebol feminino, é uma tendência que essa rede de captação tenha cada vez mais uma maior intensidade, aumentando o fluxo de meninas por conta do futebol pelo Brasil e, possivelmente, expondo essas crianças e jovens às violações de direitos já observadas no caso do futebol masculino. 

Como discutido ao longo do seminário “O ensino do futebol – Uma alternativa à captação”, existem caminhos que podem ajudar a diminuir esse fluxo de menores pelo país, com uma gestão mais humanizada das categorias de base, priorizando a Pedagogia de Futebol e não a captação de talentos.

Referências

Análise da carreira esportiva de jovens atletas de futebol na transição da fase amadora para a fase profissional: escolaridade, iniciação, contexto sócio-familiar e planejamento da carreira. Marques, M. P. Samulski, D. M.

Do dom a profissão: uma etnografia do futebol de espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França 2005. Doutorado na UFRGS. Arlei Sander Damo, 2005.

Lógicas no futebol. Luiz Henrique de Toledo, 2000

Onde há fogo, há fumaça. Indústria de Base, 2019.

Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro. Leonardo Bernardes Silva de Melo e colaboradores, 2010

Relatório: educação e as categorias de base. Universidade do Futebol, 2019.

Talent map: how demographic rate, human development index and birthdate can be decisive for the identification and development of soccer players in Brazil. Israel Teoldo e Felippe Cardoso, 2021.

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Um momento de liberdade: o jogo

Dando continuidade ao texto publicado em 24 de setembro 2020 sobre coisas que aprendi na rua Pernambuco, tenho me questionado sobre a infância, sobre o brincar e o jogar nessa época da vida. Aqui vou utilizar o termo brincar com referência ao momento lúdico e livre vivido pelas crianças, e quando me refiro ao jogo, quero tratar das atividades que tem regras como premissa para a prática. Comecei uma breve pesquisa no campo dos estudos culturais e percebi que pode ser possível fazer uma aproximação dessa base teórica com o que tem sido debatido sobre a pedagogia da rua, o brincar e o jogar na infância.

As relações de poder que perpassam a sociedade cooptaram a educação, utilizando a pedagogia como ferramenta na conformação do sujeito idealizado. “A pedagogia vai corresponder ao conjunto de saberes e práticas postas em funcionamento para produzir determinadas formas de sujeito” (CAMOZZATO; COSTA, 2013, p. 26). A educação contaminada por essa lógica está presente nos mais diversos âmbitos da vida, desde a família, até à mídia.

A relação de domínio se dá na disputa de interesses diversos que atravessam o âmbito social. Buscando dar essa ou aquela direção às pessoas, esse jogo de poder opera por meio de uma determinada pedagogia, em especial, a institucionalizada. Nesse sentido, o que Camozzato e Costa (2013) buscam, é revelar que existe uma “vontade de pedagogia”, ou seja, o motor de uma pedagogia que atravessa, entre outros espaços, as instituições educativas, ainda com objetivo de manter a relação de domínio. Nas palavras das autoras conceito que se torna “dizível” se considerarmos que as condições culturais contemporâneas erigem constantemente pedagogias que cruzam a esfera social e acionam um conjunto de forças para intensificar e refinar, por via das pedagogias, as aprendizagens necessárias a tornar-nos governáveis. (CAMOZZATO; COSTA, 2013, p. 23).

Nesse sentido, seria a pedagogia da rua uma possibilidade de resistir a essa “vontade de pedagogia” que perpassa as relações sociais? Uma tentativa de resposta ao questionamento surge da observação de que quando uma criança brinca com outras, relações e aprendizagens se estabelecem ali, de forma pouco ou nada controlada e com a mínima ou nenhuma interferência externa (de adultos).

Entrar nesse estado de jogo pode abrir espaço para a construção de mecanismos de problematização do modelo de controle fomentado pela “vontade de pedagogia”. É que a lógica interna de algumas modalidades como o futebol, por si, são fonte de desafio e prazer, o que parece ser fator determinante para motivar uma criança a participar daquele momento e adentrar nesse mundo outro, como uma espécie de realidade paralela que acontece naquele instante e ao longo da disputa do jogo.

Esses portais que levam a “realidades paralelas”, simbolizam passagens da criança por momentos únicos na vida, em que cada brincadeira e cada jogo possibilita esse tempo outro, deixando marcas que se manifestarão ao longo da trajetória individual, como as estratégias de negociação de regras e de punições em caso de seu descumprimento. Em especial, a disponibilidade de entrar em relação com o outro em benefício do prazer da brincadeira e/ou do jogo.

O fomento a esse(s) espaço(s) do brincar nos proporciona pensar que é necessária a preservação da infância, em especial daquela que tem o brincar como elemento central, e que os(as) adultos(as) possam proteger e também usufruir desse(s) espaço(s), buscando refúgio nesse mundo outro, onde prevalece a possibilidade de construção coletiva em prol do desejo comum.

Assim, o esporte como fenômeno social, principalmente na pedagogia da rua e pela prática lúdica na infância, assume uma condição de potencial fomento de sociabilidade e construção subjetiva que não se pauta pelo modelo de controle da “vontade de pedagogia”, mas, pelo contrário, promove e incentiva a prática esportiva livre de objetivos docilizantes.

Referência

CAMOZZATO, Viviane Castro; COSTA, Marisa Vorraber. Vontade de pedagogia: pluralização das pedagogias e condução de sujeitos. Cadernos de Educação. UFPel. n.44, jan-ab. 2013. Disponível em http://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/2737. Acesso em: 18 jan. 2021.

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Saiba o que é a marcação por zona e veja como funciona

“A organização defensiva é, acima de tudo, uma questão de defender com lucidez. Aquilo que se deve fundamentalmente procurar é fechar os espaços e assim condicionar os adversários.” (FRADE, 2002).

Nas últimas semanas, recebi vários e-mails sobre questões relacionadas à marcação por zona. Por isso, resolvi antecipar a discussão sobre essa temática.

Antes mesmo de iniciarmos a reflexão acerca da marcação zonal, precisamos discutir o que é a marcação por zona aplicada ao futebol e destacar que ela é parte fractal da organização defensiva da equipe.

Marcação no futebol: conheça 5 formas básicas

A marcação pode ser definida como o ato ou resultado de marcar um espaço e/ou um adversário direto (adaptado de AMIEIRO, 2005).

Partindo dessa definição, podemos discutir cinco formas básicas de marcação em relação ao espaço e ao adversário:

  1. Marcação zonal: age sobre o espaço.
  2. Marcação individual: age sobre o jogador adversário.
  3. Marcação individual por setor: cada jogador é responsável por um espaço e pelo jogador adversário que estiver dentro do local.
  4. Marcação mista: utiliza tanto a marcação zonal quanto a individual, que se alternam em circunstâncias específicas do jogo.
  5. Marcação híbrida: apresenta características da marcação zonal e individual, ao mesmo tempo que estas se manifestam em decorrência da estratégia da equipe.

Cada um desses tipos de marcação tem inúmeras outras referências que a orientam, mas não vamos discuti-las neste momento.

Nosso foco agora é: o que é marcação por zona. Nesta, cada jogador administra um espaço do campo que se modifica em função da bola, de seus companheiros e dos gols.

Marcação por zona: entenda como funciona

O objetivo da marcação é otimizar a ocupação espacial da equipe, deixando o “campo pequeno” para o adversário que ataca.

Na região onde a bola se encontra, a busca é pela criação da superioridade numérica, sem desguarnecer o lado oposto do campo que deve permanecer “vigiado” pelos jogadores mais próximos deste setor.

A região onde a bola se encontra é chamada por alguns autores de “lado forte”, e a região oposta é chamada de “lado fraco”. Em cada uma dessas regiões há uma preocupação diferente por parte da equipe e varia conforme o modelo de jogo de cada uma delas.

É imprescindível conquistar os espaços do jogo de forma estratégica

Para Nuno Amieiro, em seu livro “Defesa à zona no futebol”, ocupar os espaços do jogo de forma inteligente criando superioridade numérica na região da bola é um dos fatores fundamentais para “controlar” os adversários.

Além de criar superioridade numérica na região da bola e “vigiar” o lado oposto a ela, na marcação por zona se preconiza a presença de linhas escalonadas que servem como coberturas e visam, com isso, “aumentar” o caminho entre a bola e o gol.

Vale destacar ainda que na marcação por zona a atenção do jogador não deve ser apenas na ocupação do seu espaço mas também no desenvolvimento de seu jogo como um todo, levando em conta as demais referências do modelo de jogo.

Na marcação por zona, o que se busca é uma marcação coesa, dinâmica, homogênea com o intuito de fornecer uma referência coletiva comum aos jogadores dentro da organização defensiva da equipe.

Por fim, não trago nenhuma atividade prática para vocês, mas venho propor que me enviem sugestões para o desenvolvimento desse conceito.

Na próxima coluna, vou apresentar alguns desses exercícios propostos por vocês a fim de trocarmos informações sobre nossos treinos: acredito que essa troca é fundamental para todos nós.

Perto de finalizar, eu trouxe uma frase de Ayrton Senna, grafada em seu capacete histórico, diante do qual passo todos os dias quando vou para o campo de treino:

“Há um grande desejo em mim de sempre melhorar. Melhorar é o que me faz feliz. E sempre que sinto que estou aprendendo menos, que a curva de aprendizado está nivelando, ou seja, o que for, então não fico muito contente. E isso se aplica não só profissionalmente, como piloto, mas como pessoa.”

Conheça o curso “Mapa de jogo” da Universidade do Futebol

O curso “Mapa de jogo: desvende a complexidade do jogo de futebol”, da Universidade do Futebol, mostra a importância de enxergar o jogo com um fenômeno multidimensional e como essa visão implica os ambientes de treino e jogo.

São abordados tanto aspectos macro, como a lógica e as competências básicas do jogo, quanto os aspectos micro, como as regras de ação para cada posição dos jogadores de futebol.

Para mais informações, entre em contato conosco agora mesmo.

Até a próxima!

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Esquema tático: saiba como estruturar a linha defensiva

O modelo de jogo, como sabemos, é o norte que orienta as ações dos jogadores nos diferentes momentos da partida.

Esse norte é balizado por inúmeras referências que se integram e se relacionam complexamente. Dessa forma, o esquema tático é uma das referências e não a única dentro do modelo.

Esquema tático: é preciso ter estratégia para ser efetivo

Sendo uma das referências, o esquema tático de futebol não garante por si só a “ofensividade” ou a “defensividade” de uma equipe, ou seja, jogar com três atacantes não quer dizer que minha equipe é ofensiva, ou jogar com cinco na linha de defesa quer dizer que estou na retranca.

Isso tudo depende de como o esquema tático está se relacionando e sendo utilizado para o cumprimento do modelo e dos objetivos dentro do jogo.

Contudo, não podemos negar que essa referência é fundamental (será? Podemos jogar sem um esquema tático?) para a estruturação do espaço do jogo e precisa ser desenvolvida no dia a dia de treino.

Estratégias do futebol: como implementar um esquema tático?

Para que o esquema seja treinado é preciso antes de tudo que ele seja definido com o modelo de jogo da equipe.

Não vamos definir aqui todo o modelo de jogo e apresentar um processo completo para o desenvolvimento do esquema tático em especial.

Vou definir a dinâmica que envolve a linha defensiva dentro do 1-4-4-2 em linha e apresentar três atividades para o seu desenvolvimento.

Volto a destacar que dentro do 1-4-4-2 existem diversas possibilidades e vou explorar uma delas.

Modelo de jogo hipotético: entenda como funciona

Em meu modelo de jogo hipotético, pensando na “linha de 4” defensiva, minha equipe irá se comportar a partir de uma marcação zonal com a participação do goleiro como um elemento que fará a cobertura dos defensores.

Além disso, a linha defensiva terá como princípio operacional de defesa a recuperação da posse de bola nas laterais do campo e impedir progressão na região central, onde os jogadores devem direcionar a jogada para as laterais.

Quando a bola entrar nos corredores do campo, os laterais devem pressionar a bola e os demais jogadores da linha devem se movimentar, a fim de criar uma linha de três jogadores atrás do atleta que realiza a pressão.

(Vejam que um modelo de jogo contém muito mais conteúdos, mas utilizarei apenas esses dentro da organização defensiva, para fins didáticos.)

Sendo assim, posso elaborar algumas atividades para desenvolver o modo de jogar específico de minha linha defensiva.

Vale a pena destacar que essa linha não deve ser confundida com linha de impedimento, pois sua dinâmica não busca deixar o adversário nessa condição, mas sim neutralizar o ataque adversário.

Atividade 1

Descrição

  • Atividade de 4 x 4 + coringa, em que o objetivo das equipes é fazer o gol nos golzinhos adversários.

Regras e pontuação

  • Região central do campo: dois toques na bola;                    
  • Gol nos golzinhos vale 1.

Atividade 2

Descrição

  • Atividade de 4 + goleiro + coringa x 5, em que o objetivo da defesa é recuperar a bola nas laterais do campo e fazer um passe para o coringa posicionado no meio-campo. O ataque deve fazer o gol.

Regras e pontuação

  • A linha defensiva não pode realizar desarmes na região central do campo, enquanto os jogadores do ataque só podem dar dois toques na bola nesse espaço. Dentro da área e nas laterais do campo é livre.
  • O gol vale 3.
  • Fazer o passe para o coringa vale 1.

Atividade 3

Descrição

  • Atividade de 4 + goleiro x 6.

Regras e pontuação

  • Defesa marca ponto quando recuperar a bola nas faixas laterais do campo (1 ponto) ou quando trocar cinco passes (1 ponto).
  • Ataque marca ponto quando fizer o gol no gol oficial (3 pontos) ou nos golzinhos (1 ponto).

Defender é mais do que correr atrás do seu adversário.

Por conta disso, o curso Tática no Futebol da Universidade do Futebol é uma excelente oportunidade para quem deseja ficar por dentro de conceitos fundamentais, como a estratégia, a tática e o modelo de jogo.

No curso, além de você ser apresentado aos princípios de defesa e ataque, os conteúdos da formação são exibidos de forma didática e bem fundamentada.

Para mais informações, entre em contato conosco agora mesmo.

Até a próxima!

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Princípios Pedagógicos – Quero ensinar futebol a todas e todos

Crédito imagem – Jogos estudantis da Bahia/Divulgação

No texto da semana passada escrevi uma frase, que se não lembrar de nada dele, lembre-se disso: todos podem ser felizes jogando futebol. Esta frase refere-se à vasta possibilidade de o futebol incluir as pessoas, de diferentes características, de forma funcional ao jogo, proporcionando prazer em jogar e se sentir parte de um grupo. Nesta semana, vamos utilizar esse mesmo raciocínio, mas buscando avançar ainda mais. Para além da natureza do jogo, vamos abordar a capacidade de um(a) professor(a) ou treinador(a) de incluir todas e todos do seu grupo, de maneira funcional, nas suas aulas ou treinos.

Não é raro, em escolas de futebol, encontrarmos turmas heterogêneas, em que convivem meninos e meninas, alguns mais habilidosos, outros menos, outras gordinhas, magrinhas, altos, baixas, de famílias com maior poder aquisitivo, outras de menor, de diferentes culturas, origens, credos etc. Os professores e professoras dessas escolas recebem tamanha diversidade para dar sua aula ou treino de 1h a 2h, aproximadamente, tendo ainda o desafio de fazer com que todos participem plenamente.

Se trocarmos o foco das escolas de futebol e formos para as aulas de educação física escolar ou para os projetos sociais, encontraremos o mesmo cenário de diversidade. Diante dessa realidade, temos ao menos duas posturas opostas. A primeira do(a) professor(a) que não acredita que todos têm a capacidade e o direito de aprender futebol (ou qualquer modalidade esportiva). E a segunda em que o(a) professor(a) não só acredita que todos têm a capacidade e o direito de aprender futebol, mas também encara como o seu dever fazer com que todos se insiram plenamente na aula, sendo estimulados a se desenvolverem de maneira equivalente.

Quando o(a) profissional escolhe o primeiro caminho, subjetivamente ou declaradamente, separa a turma entre os seus preferidos, aqueles com maiores conhecimentos prévios para a prática do futebol, e o restante da turma, que recebe o papel de coadjuvantes naquele ambiente de aprendizagem. A consequência dessa escolha é uma menor quantidade e qualidade de estímulos e feedbacks de apoio, instrução ou correção àqueles do grupo preterido. Essa postura, certamente, prejudicará a potencialidade desse grupo de se desenvolver com as aulas ou treinos, tanto para o futebol, quanto para a vida fora dele. Ela pode ter impactos negativos sérios para essas crianças e adolescentes, já que se sentirão menos capazes, rejeitados e desrespeitados. Por outro lado, esse(a) profissional, ao olhar apenas para o grupo de alunos(as) “talentosos(as)”, pode sobrecarregá-los(as) com uma carga excessiva de cobrança por desempenho, ignorando uma série de outros conteúdos importantes para a formação humana integral.

No entanto, se o(a) professor(a) decidir pelo segundo caminho, possivelmente ele(a) terá mais trabalho e terá que ser um(a) melhor profissional, pois olhará para todos igualmente, cada um com suas potencialidades e limitações, sempre buscando dar os estímulos e feedbacks necessários para que todos consigam se desenvolver. Essa é postura que busco aplicar em minhas aulas e treinos. Ao lado do Princípio Pedagógico de “ensinar a gostar de futebol”, discorrido na semana passada, há outro de “ensinar futebol a todos”*, que ecoa em minha consciência sempre que me levanto para trabalhar.

Desafio aceito! Quero ensinar futebol a todas e todos! Mas e agora? Que estratégias posso utilizar para conseguir fazer com que as diferenças sejam aceitas e complementares ao ambiente de aprendizagem de minha aula ou treino? O pilar básico que tento construir é criar uma cultura de colaboração e respeito às diferenças. Isso será importante para todas as atividades e para a vida das crianças e adolescentes. Vivemos em uma sociedade diversa. Se os meus alunos e alunas aprenderem a respeitar essa diversidade dentro do nosso ambiente de aprendizagem, eles e elas terão mais condições de transferir esse comportamento para além desse ambiente. Essa cultura, para ser fortalecida, deve ser alimentada em todas as oportunidades, com o diálogo e atitudes que demonstrem a importância de se respeitar o outro com as características que tiver, da mesma forma como os outros devem respeito a você, com as características que que lhe são próprias. 

Em paralelo a essa intervenção mais direta ao objetivo da inclusão e respeito às diferenças, existem outras estratégias eficazes para se garantir que todos(as) os(as) alunos(as) recebam estímulos adequados aos seus respectivos desenvolvimentos. Um dos caminhos pedagógicos interessantes para isso é dar problemas possíveis de serem solucionados por eles. Costuma funcionar fazer com que a criança sinta, rapidamente, que é capaz de fazer coisas que não sabia que era. Desta forma, ela aprende a sensação de sucesso relacionada ao futebol. No entanto, sabemos que o esporte não se faz apenas de experiências de sucesso. Nem toda hora ela irá conseguir alcançar o objetivo traçado. Há tarefas que são mais desafiadoras, ou mesmo em atividades competitivas, ela pode perder para a outra equipe ou criança adversária. O que fazer para a criança não perder o seu interesse em continuar naquele ambiente de aprendizagem, mesmo quando se depara com derrotas e fracassos?

É preciso que ao longo da aula ou treino haja uma enorme possibilidade e variedade de sucesso. Jogos e brincadeiras variadas, individuais e coletivas, com diferentes objetivos e funções para ela exercer, com revezamento de funções, demandas motoras etc. Enfim, são estratégias necessárias para que todos vivenciem diversas experiências, entre elas algumas exitosas, outras não. Essa pluralidade de experiências lúdicas facilita à criança e ao adolescente se inserirem de maneira funcional no ambiente de aprendizagem. Além de promover um fator determinante para a aprendizagem, que é o volume de repetições de movimentos em contextos variados, você também estará proporcionando, se trabalhar com jogos e brincadeiras, a experiência de aprendizagem integral à criança e ao adolescente, que irão lidar com as emoções, com situações-problemas, com as relações interpessoais etc.

Soluções para superar o problema de incluir a todas e todos na aula ou treino não faltam. Você deve saber várias delas, se compartilha desse mesmo princípio pedagógico. Portanto, é uma questão de querer, se preparar e exercer o direito de todos(as) os(as) alunos(as) e atletas de participarem plenamente do ambiente de aprendizagem liderado por você. Mas antes de encerrar este texto, gostaria de deixar a seguinte reflexão: o Princípio Pedagógico de “ensinar futebol a todos” se aplica apenas às turmas de iniciação que normalmente há grupos heterogêneos? Em categorias de base também não há diversidade? Como proporcionar que todos se sintam parte importante do grupo em uma equipe principal do futebol de alto rendimento? Quais são as estratégias para esses ambientes?

Penso que esse princípio pedagógico deve ecoar na consciência de todos os educadores que levantam para trabalham com futebol! Qual a sua opinião?

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Intensidade no futebol é isso mesmo?

Crédito imagem – Site oficial UEFA

O termo intensidade tem sido muito usado nas análises de jogos e equipes do futebol brasileiro. Se cobra um time para ser intenso ou se elogia um treinador por fazer seus jogadores serem intensos dentro das quatro linhas. Reconheço que reduzir assuntos complexos e traduzi-los em termos simples e de fácil entendimento é mais do que uma virtude e sim uma obrigação em qualquer processo de comunicação. Porém isso não pode ser suplantado pelo correto entendimento e a consequente assertiva exposição do tema. E a intensidade tem sido definida de maneira muito equivocada nas discussões por aqui.

Ainda se fala que uma equipe é intensa quando ela corre muito em campo. Jogadores que correm (!) são taxados como intensos.

Há uma herança, aqui, dos brilhantes preparados físicos da nossa história que foram os primeiros a estudar e documentar o que acontecia dentro das quatro linhas. Porém, esses estudos sempre vieram com um viés físico. Nada mais natural já que eram os preparadores quem colhiam os dados e conseguiam as conclusões. 

Mas ao falar de futebol dentro de um sistema complexo precisamos entender que a parte física é uma das vertentes do jogo. Temos ainda a técnica, a tática, a emocional, a cognitiva e poderíamos expandir para o social, filosófico, antropológico e etc. O jogo é tudo isso junto e ao mesmo tempo. Então como podemos classificar uma equipe e um jogador como intensos apenas ao olhar o desempenho físico?

Acredito que uma equipe intensa seja aquela que resolva os problemas do jogo da forma mais eficaz e com o menor gasto de energia possível. Quando um time está bem treinado e os setores estão bem ajustados o desgaste é menor para atingir a eficácia. É necessário correr mais quando não se sabe nem o que, nem onde e nem como fazer dentro de campo. Não à toa, José Mourinho disse que um dos jogadores mais intensos com quem ele trabalhou foi Deco. E venhamos e convenhamos, Deco nunca foi um jogador fisicamente acima da média. Mas a capacidade de pensar e executar acertadamente as ações do jogo em um curto espaço e em pouco tempo faziam dele um jogador intenso.

Por tudo isso, ao ver um jogador correndo muito e se desgastando mais do que o necessário não vamos mais chamá-lo de intenso. Há nessa situação tudo, menos essa intensidade complexa que me refiro…