Categorias
Sem categoria

Luciano do Valle

Fim de tarde à beira da praia em Porto de Galinhas. As pessoas reconhecem Luciano e acenam. Tiram fotos. Ele olha para mim com aquela piscada de olho longa que era toda dele. Responde assim à minha pergunta se não estava com saudade da correria paulistana:

– Toda vez que me bate uma vontade de voltar, penso neste horário, quase seis da tarde, na Marginal Tietê… Aí eu fico aqui mesmo, em Porto de Galinhas.

2003. Estávamos na TV Record. Já tinha trabalhado com Luciano de 1997 a 2001 na Band. Ele e Juca Silveira tinham me levado para lá. Onde estreei em Araçatuba. Corinthians em campo no SP-97. Depois da transmissão, me disse que narraria a Copa da França, em 1998. A Olimpíada de Sydney, em 2000. E penduraria o microfone que desde moleque era dele. E foi de poucos com tamanha qualidade, intensidade, paixão.

Eu tinha um tipo assim em casa. Eu sabia que agora tinha mais um ídolo. Mestre. Colega. Amigo. Do mesmo jeito.

Apenas ri do comentário do Luciano. Eu e Osvaldo Pascoal já tínhamos ouvido isso. Ouviríamos algumas vezes em Copas do Mundo e América. Do Brasil. Brasileiro. Série A e B. Estaduais. De todas as divisões. Libertadores. Mercosul. Sul-Americana. Campeonato Italiano. Espanhol. Liga dos Campeões. Mundial de Clubes. Futebol feminino.

Tudo isso eu comentei ao lado dele. Muito, mas muito mais ele fez. Pelo vôlei. Basquete. Indy. Tantos esportes. Esporte total. Narrador total. Empresário total. Apaixonado total. Brasileiro total. Aquele cara que um dia narrou numa noite de sábado, 21h45, em Porto Alegre, um jogo de série A e, logo depois, madrugada adentro na churrascaria de POA, mal dormiu e, 11 da manhã de domingo, depois de pouso em Araraquara, narrou segunda divisão paulista em Matão. Com o pique que o comentarista dele (eu) não tinha.

Coloco aqui algumas das tantas lembranças pessoais por ser Luciano aquele sujeito que há mais de 40 anos frequenta nossa casa na hora do lazer e prazer. Todos têm momentos de alegria e tristeza trazidos pela linda voz de Luciano. Ele é da família. Ele nos contou quando fomos campeões. Ele narrou quando perdemos. Ele nos confortou quando apenas empatamos nesta vida que ele tanto venceu. Também por saber virar algumas derrotas.

Ele não parou em 2000. Não parou naquela tarde de 2003. Nem quando voltou para a Band, em 2006. Quando mal conseguia superar problemas de saúde para levantar da cama. E ainda assim levantava a audiência só de falar gol. Cesta. Ponto. Recorde. Record. Band. Bandsports. Globo. SBT. As rádios onde começou. As televisões onde implantou equipes de esporte. Onde criou ou recriou esportes. Onde inventou narradores, comentaristas, apresentadores, repórteres. Onde foi tão generoso com quem começava. Onde foi tão competitivo com quem tentava ser igual a ele.
 

 

Não conseguiram.

Ou, se dessem certo, ouviriam dele o respeitoso silêncio. Luciano era elegante. Quando discordava, silenciava. Quando gostava, gritava como se fosse gol.

Por isso ele é e será sempre referência. Merece ter toda transmissão da Band a ele dedicada. Ao menos um gol de Luciano por jornada esportiva. Um dos estúdios da Band em SP merece o nome dele. O do Show do Esporte, por exemplo, precisa ser chamado estúdio Luciano do Valle. Para não dizer ao menos um estádio. Um ginásio. Uma praça esportiva.

Luciano era o esporte. Qualquer esporte. Ele conseguiria inventar o Beach Basket. Ele narraria futebol de botão na TV. Ele faria qualquer coisa. Por saber fazer de qualquer coisa algo.

Sem bordão. Apenas emoção.

A mesma que, depois daquela conversa em Porto de Galinhas, por outros tantos motivos, o levou de volta aos centros mais agitados. Luciano não conseguia viver pelos ares.

Foi nos ares que sentiu o coração de tantas paixões. Pouco antes da Copa que tanto ele queria ver no Brasil. Não do jeito que será. Até por ter perdido muito da graça sem Luciano. Outro craque que deixa um mundial órfão. Como foi a Copa-06 sem Fiori, que foi dias antes. Como Pedro Luiz, mestre e descobridor de Luciano, nos deixou horas depois da final de 1998.

Como Luciano do Valle deixa órfão o microfone da Band. Ainda bem que os queridos Teo José, Nivaldo Prieto, Ulisses Costa, Oliveira Andrade, Carlos Fernando, Heverton Guimarães podem dar conta do recado.

Mas é claro que Luciano é o primeiro e único. Foi ele que fez da emissora o que ela é até quando ela não quis ser.

Bandeirantes, o Canal do Esporte. Tudo na conta de Luciano.

Esporte, o Canal de Luciano do Valle.

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

Categorias
Sem categoria

Os conteúdos de formação – parte I

É consenso que a boa formação é uma das soluções para o desenvolvimento do futebol brasileiro nos próximos anos. Para isso, investir nas Categorias de Base em todos os âmbitos, da capacitação profissional às melhorias de infraestrutura, do trabalho interdisciplinar às ricas experiências competitivas, é a opção que os clubes têm encontrado para valorizar seus atletas, agregar valor à marca e se destacar no cenário nacional.

Sob o viés da componente técnica da modalidade os avanços são cada vez mais significativos. Se há cerca de 10 ou 15 anos, as competências trabalhadas na formação centravam-se no desenvolvimento dos diferentes fundamentos técnicos do jogo, atualmente, clubes de ponta do futebol brasileiro têm currículos de formação bem definidos com conteúdos específicos a serem ensinados nas diferentes categorias.

Neste espaço, em outras publicações, foi discutida uma proposta curricular com Conteúdos e Temas relativos ao desenvolvimento de jogadores mais completos, inteligentes e que atendam às demandas do futebol moderno. Para lembrá-los, os Conteúdos são os seguintes: Lógica do Jogo, Competências Essenciais do Jogo, Referências do Jogo, Nível Estratégico-Tático do Jogo, Funções no Jogo e Relação com Companheiros. Além disso, é válido mencionar também que o Jogo (em sua essência e complexidade) é o método de ensino utilizado em todas as sessões de treino.

Nesta semana, a proposta da vez consiste na distribuição destes conteúdos com algumas especificações em relação aos temas e sub-temas nas diferentes faixas etárias e categorias.

Fase de Transição Esportiva / Categorias Sub 11, 12 e 13
Por se tratar das categorias iniciais do trabalho de formação, as atividades nas equipes de transição esportiva podem fugir à lógica do jogo de futebol (sem alvos, com excesso de alvos, com regras “anti-lógicas”, com exclusividade de uso do membro não dominante).

Nestas categorias os atletas precisam aprender alguns conceitos gerais sobre o que é jogar bem a modalidade. Para isso, vivenciar em ambiente de jogo as competências essenciais (relação com a bola, estruturação do espaço e leitura de jogo) é fundamental. Então, nos diferentes jogos que os atletas estiverem submetidos, recorrentemente eles deverão ser questionados se estão aplicando bem as competências essenciais do jogo. Em caso de resposta negativa, provavelmente, o jogo aplicado estará num nível anárquico, correspondente a um baixo entendimento coletivo, natural para estas categorias.

Conceitos como aprender a jogar longe da bola, procurar por espaços vazios e ter a própria meta como referência defensiva precisam ser amplamente estimulados. Espera-se que quanto melhores os estímulos, mais qualificadas fiquem as escolhas e antecipações das ações para as diferentes situações-problema.

Nesta faixa etária, julga-se importante o conhecimento de algumas referências do jogo de futebol. Sendo assim, a vivência das plataformas de jogo básicas, 1-4-4-2, 1-3-5-2 e 1-4-3-3, a aprendizagem das zonas de risco (favoráveis às finalizações e cruzamentos), das faixas e linhas do terreno de jogo, o mecanismo de abertura do campo quando em posse e fechamento quando sem bola, devem ser competências adquiridas no treino. É necessário também fazer reconhecer e estimular, didaticamente, que o jogo de futebol possui dois momentos que, estatisticamente, definem os jogos: os contra-ataques (ou transições se optarmos por dificultar a linguagem).

Nestas idades, os meios táticos devem ser vivenciados progressivamente com a ciência de que alguns deles (pressing, ultrapassagem, mobilidade com trocas de posição,) ainda não conseguem ser aplicados em ambiente específico devido ao nível de desenvolvimento dos jogadores e a compreensão que têm do jogo. Ainda assim, os jogos conceituais devem ser utilizados para o aprendizado dos diferentes meios táticos ofensivos, defensivos e de transição. Ênfase aos meios táticos apoio, desmarque, mobilidade sem trocas, fintas e dribles, equilíbrio, compactação, recomposição, flutuação. No período final da transição esportiva, já na categoria sub 13, tabelas, amplitude, profundidade, penetração, retardamento, balanços defensivo e ofensivo devem ser aprendidos.

É tema de trabalho neste período da formação a aprendizagem defensiva a partir de múltiplas referências. O fato de jogadores chegarem ao início da especialização sem conceitos básicos de defesa como a organização coletiva para a marcação a partir da bola, dos adversários, do local do terreno e dos companheiros, justifica a necessidade da compreensão (e aplicação) destes conceitos.

As bolas paradas decidem jogos. Ainda mais nas categorias de base em que, infelizmente, disputam-se partidas em dimensões oficiais. Como o cumprimento da lógica do jogo de futebol é o norte de todo o processo de formação, criar maneiras de manter ou recuperar a posse, proteger ou atacar o alvo a partir das diferentes situações de bola parada e reposições são temas a serem treinados. Jogadas ensaiadas e possibilidades de reposição de acordo com as diferentes circunstâncias do jogo devem ser estimuladas para evitar situações de perigo do adversário e potencializar as da própria equipe.

Ainda nesta fase um tema que não pode ser esquecido é a aprendizagem de uma posição. Detectar o perfil do jogador que está inserido no processo de formação do clube e estimulá-lo principalmente em uma função não significa que o mesmo estará submetido à especialização precoce.

Neste período, enquanto o atleta aprende a fazer uma função e é estimulado numa gama de regras de ação que amplie seus recursos individuais de participação no jogo, detecta-se o potencial de desenvolvimento do atleta para o exercício de outras funções, cobradas num outro momento ao longo do processo.

Para concluir, o último conteúdo preconiza uma ampla utilização de jogos em pequenos grupos, de até 3 vs 3 jogadores. Somente na categoria sub-13, as situações de treinamentos devem proporcionar uma maior utilização de jogos em médios grupos, até 7 vs 7 jogadores. Quanto menos elementos, menos imprevisibilidade e complexidade no sistema. Como todos os jogadores estão em níveis iniciais de aprendizagem da modalidade, jogar em menor complexidade facilita a compreensão além de aumentar a densidade de ações técnicas, que estão em período sensível para serem aperfeiçoadas em especificidade.

Na próxima coluna que trate o tema, a proposta de conteúdos para a Especialização Esportiva, do sub-14 ao sub-17.
Agu
ardo sugestões, críticas e comentários. Abraços e até a próxima semana. 

Categorias
Sem categoria

Marketing irregular na Copa pode dar cadeia

Circulou o mundo a imagem de Neymar após a partida contra o Atlético de Madrid pelas semi finais da Champions League exibindo elástico de sua cueca com a marca Lupo. Tal atitude trouxe imensa publicidade gratuita para a marca brasileira.

Há algumas décadas os organizadores dos grandes eventos esportivos tem buscado privilegiar seus patrocinadores oficiais coibindo o chamado marketing de emboscada.

Marketing de emboscada consiste em estratégia publicitária para divulgar a marca de uma empresa em um evento não patrocinado por ela.

Para a Copa do Mundo de 2014 uma das exigências da FIFA é a proteção aos seus parceiros comerciais.

Diante disso, a Lei Geral da Copa criminaliza durante o evento ações de marketing de emboscada, conforme se apreende pela leitura dos artigos abaixo:

Marketing de Emboscada por Associação

Art. 32. Divulgar marcas, produtos ou serviços, com o fim de alcançar vantagem econômica ou publicitária, por meio de associação direta ou indireta com os Eventos ou Símbolos Oficiais, sem autorização da FIFA ou de pessoa por ela indicada, induzindo terceiros a acreditar que tais marcas, produtos ou serviços são aprovados, autorizados ou endossados pela FIFA:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa.

Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, sem autorização da FIFA ou de pessoa por ela indicada, vincular o uso de Ingressos, convites ou qualquer espécie de autorização de acesso aos Eventos a ações de publicidade ou atividade comerciais, com o intuito de obter vantagem econômica.

Marketing de Emboscada por Intrusão

Art. 33. Expor marcas, negócios, estabelecimentos, produtos, serviços ou praticar atividade promocional, não autorizados pela FIFA ou por pessoa por ela indicada, atraindo de qualquer forma a atenção pública nos locais da ocorrência dos Eventos, com o fim de obter vantagem econômica ou publicitária:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa.
Diante disso, eventual atitude semelhante à do Neymar em partida válida pela Copa do Mundo poderá levar o atleta à prisão, sem prejuízo a eventuais punições disciplinares.

Diante disso, eventual atitude semelhante à do Neymar em partida válida pela Copa do Mundo poderá levar o atleta à prisão, sem prejuízo a eventuais punições disciplinares.

Portanto, torcedores, atletas e publicitários devem ficar bastante atentos para que eventual ato promocional não termine na justiça criminal.

Categorias
Sem categoria

Melhorando o aprendizado no futebol

Numa coluna anterior eu abordei a questão do feedback e sua importância para os treinadores dentro do futebol.

Hoje quero compartilhar com vocês uma questão relacionada a como melhorar o aprendizado ou como conseguir promover o ciclo do aprendizado no futebol. Os treinadores passam a utilizar o feedback como forma de reforçar o comportamento positivo do atleta ou para orientar na melhoria do comportamento apresentado pelo atleta em determinada situação presenciada.

Mas, isso de maneira isolada ou esporádica não garante e nem contribui para o alto rendimento. Acompanhar o desempenho do atleta, com o reforço de comportamentos positivos e orientação de comportamentos que necessitam melhorar, são ações cotidianas do líder e que constroem uma relação de confiança com os atletas.

Para se conseguir melhorar de maneira contínua e consistente, faz-se necessário que o treinador perceba o comportamento e tenha interesse genuíno pelo desempenho atleta, com isso pode-se promover nele reflexão sobre sua expectativa, ou estado futuro desejado, e sua situação real no momento.

Quando o atleta está numa situação em que sua realidade não é igual a sua expectativa, caracteriza-se um problema ou uma diferença de estado percebida para qual o atleta pode elaborar, com o apoio de um coach ou um treinador com essa competência, um plano de desenvolvimento para atingir a equivalência entre a sua expectativa e a sua realidade. Nos momentos em que isso acontece, o feedback deve ser de orientação para promover a mudança de comportamento, que gera aprendizado e evolução do atleta.

Complementando este ponto, devemos ter em mente que é importante trazer à superfície o propósito real do atleta em relação a esta expectativa, pois com propósito genuíno o atleta se prontificará a iniciar o movimento de mudança em direção aos seus objetivos.

Na mesma medida, quando a realidade do atleta corresponde de maneira equivalente a sua expectativa o treinador, atento aos comportamento positivos apresentador pelo atleta, deve promover o feedback positivo, reforçando tal comportamento e dessa maneira contribuindo com a manutenção de seu estado de evolução.

Agora, para que este ciclo de aprendizado aconteça é necessário que se estabeleça um ambiente de confiança entre o treinador e os atletas para que as orientações e os reforços positivos sejam eficazes junto aos atletas. Aos treinadores que chegam em suas novas equipes (isso mesmo novas equipes pois mesmo ainda estando no mês de abril muitos clubes do futebol brasileiro andam em suas rotinas de trocas de comando técnico) compartilho que para se construir um relacionamento de confiança um bom começo é conseguir promover ao menos três feedbacks positivos ou seja reforçar três comportamentos positivos de seus atletas, para somente depois promover um feedback de orientação. Isso contribuirá na construção do ambiente de confiança adequado que possibilitará desenvolver um eficaz ciclo de aprendizagem nos atletas.

Até a próxima!

Categorias
Sem categoria

Filosofia e Futebol: troca de passes – um livro de grande atualidade

Quero crer que, escondida no meio dos meus inúmeros defeitos, se encontra em mim uma virtude: dá-me prazer o ato de admirar o que verdadeiramente deve ser admirado, por outras palavras: o que é mesmo admirável. Entre o pouco que sou ou valho, deixem-me então distinguir uma qualidade: na minha indispensável atitude judicativa de “aprendiz de filosofia”, de tudo o que me parece um trabalho honesto e competente me aproximo, com a boa fé suficiente, para aplaudir, para julgar, para aprender. Este sentimento de admiração o senti diante do livro Filosofia e Futebol: troca de passes (Editora Sulina, Porto Alegre, 2012) da autoria de Luiz Rohden, Marco Antonio Azevedo, Celso Cândido de Azambuja e outros.

É um livro de prosa pujante e significativa cujo colorido e graça, bem brasileiros, dão uma agradável tonalidade de originalidade e frescura ao aparato das ideias. Trata- se, portanto, de uma obra de intelectuais brasileiros, simultaneamente “torcedores” do futebol. E assim o seu estilo vivo e castiço é um nítido espelho onde se reflete o que o futebol (nomeadamente o brasileiro) é e o que vale. Nela se descobre uma citação de Hilário Franco Júnior, a qual sublinha que, no Brasil, o “futebol é bastante jogado e insuficientemente pensado”. Mas o mal, que os autores e o Hilário Franco Júnior lastimam, não o surpreendemos tão-só no Brasil. Por esse mundo fora, há muita gente, estudiosa e imaginosa, que se ocupa do futebol, espiolhando até o que de mais escondido tem a sua originalidade. Mas muitas vezes o seu pessimismo demolidor e negativista não é acompanhado do realce das enormes virtualidades em que o futebol (no meu entender: o fenómeno cultural de maior magia, no mundo contemporâneo) se desentranha, na sociedade hodierna. Os agentes do futebol têm defeitos? É evidente, pois são seres humanos! Por isso, os defeitos do futebol estão nele… por contágio de cada um de nós!

No futebol, como em qualquer atividade humana, assoma uma primeira constatação: ele não encontra em si mesmo a sua plena inteligibilidade, porque não pode conceber-se fora da totalidade social e cultural que o sustenta. Não há futebolistas, porque há futebol, mas há futebol, porque há futebolistas. Lá volto eu a uma ideia que defendo, há 40 anos: o futebol não é só uma atividade física, mas uma atividade humana. Com as qualidades e os defeitos de qualquer atividade humana! Ruy Carlos Osterman assinala o futebol como modelo de solidariedade. “A sociedade é muito mais individualista, é muito mais fechada em si mesma e nos seus valores de consumo do que gregária, unida, solícita, colaboradora (…). O futebol não é apenas uma metáfora da vida real. Ele é, na verdade, a reprodução idealizada da vida real, embora em outros termos – o que é diferente de uma metáfora.

A metáfora é uma ideia no lugar de outra ideia. Mas aqui é um fato no lugar de outro fato” (p. 123). Luiz Rohden, associando, com mestria, a filosofia ao futebol, escreve: “A filosofia precisa ser posta em jogo sempre, faz parte da sua natureza estar em jogo, jogar com o real. Disso decorre o pressuposto segundo o qual ela vive do diálogo incessante com outras áreas do conhecimento e nisso ela tem sua razão plena de ser” (p. 181). No entanto, “há alguns povoados e vilarejos do Brasil que não têm igreja, mas não existe nenhum sem campo de futebol” (Alex Bellos, Futebol, o Brasil em campo, Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2003, p. 10). Ou seja, no Brasil, o futebol é filosofia e a filosofia é futebol. Neste caso (e no meu modesto entender) o futebol de Pelé e Garrincha e Didi e Sócrates e Tostão e Zico e Ronaldo, o fenómeno, e Romário e Ronaldinho Gaúcho e Neymar, etc., etc. diz respeito a uma atitude filosófica brasileira resultante do modo-de-ser do homem brasileiro.

O sentimentalismo incontido, a sensibilidade ardente, a emotividade, de preferência à frieza e ao intelectualismo e racionalismo doutras culturas formam um corpo de doutrina que os futebolistas e os filósofos traduzem, cada um à maneira que lhes é própria. Há uma filosofia brasileira, como há um futebol brasileiro. A filosofia é um conhecimento apátrida, pela sua metafísica, pelo plano lógico em que se coloca. Mas, enquanto pesquisa, num lugar e num tempo, ela nacionaliza-se, espacializa-se, temporaliza-se. Do futebol poderíamos dizer outro tanto: pelas instituições e pelas regras, não tem pátria; pelo caráter, personalidade e linguagem corporal dos jogadores, o futebol tem alma. Há pois um laço profundo entre o futebol e a filosofia e uma reciprocidade tão profunda que uma rutura entre ambos é absolutamente impossível. Recordo as minhas conversas, na Unicamp, com o João Batista Freire, naqueles irrequietos anos de 1987 e 1988, onde tudo se discutia, do futebol à filosofia e à política. Era ele, um homem de ternura e de bondade incomparáveis, acudindo de pronto às minhas dúvidas, que me dizia: “O futebol brasileiro é também a consciência da nossa historicidade como povo, com alma própria. Por isso, o nosso estilo de jogar futebol é inconfundível. É artístico, como nenhum outro o é”. Para Luiz Rohden, com o extenso horizonte dos seus olhos fascinados pelo futebol, “a produção do jogo belo fascina e continuará a cativar os amantes do futebol. Garrincha é exemplo eterno disso; é a encarnação do paradoxo segundo o qual é possível jogar a sério, visto que jogar é caçoar, é gracejar (…). Enfim, no futebol-arte estão conjugados dois elementos básicos: por um lado, possui regras e requer técnicas repetitivas, aplicáveis universalmente, que são produtivas e eficientes; por outro lado, participam dele a criação, a improvisação e também a beleza” (p. 189). Do futebolista de recursos técnicos e físicos e táticos invulgares, emerge quase sempre trabalho e beleza, há portanto muito para uma objetiva análise de índole filosófica e futebolística.

Celso Cândido de Azambuja (mais um dos autores deste magnífico livro) afaga, com deslumbramento, o futebol brasileiro e sustenta que “no Brasil, o futebol não é simplesmente uma alienação, como pretendem alguns críticos de estirpe (…). Para outros, muitos, o futebol é uma verdadeira benção, um caminho, uma esperança, uma salvação (…). Faz parte da saúde física e mental do povo brasileiro” (p. 261).

O livro Filosofia e Futebol: troca de passes é uma oportuna chamada de atenção para o respeito que o futebol, como atividade humana, nos merece – atitude de respeito tantas vezes substituída pela absolutização do mercado e pela ditadura do lucro. O ser humano ocupa uma posição privilegiada, pois que é nele que a natureza se faz consciência. Parece-me, por isso, imperioso e urgente uma reflexão antropológica, no futebol, como treino e como competição e como espet&aa
cute;culo. O futebol, pela sua inigualável popularidade e até pela sua atitude normativa, tem condições únicas de assumir a tarefa específica de apontar caminhos para uma organização solidária e fraterna das relações sociais. O futebol tem de viver-se como valor, como experiência de comunhão e de humanização. É isto, no meu pensar, o que o futebol tem o dever de cultivar. O perigo que nos espreita, no futebol e no mais, não é o choque de civilizações, mas a ausência de valores compartilhados. Parabéns aos autores e ao editor deste livro – que vai ser, tenho a certeza, um ponto de partida, para novas reflexões filosóficas, sobre o futebol, se possível mais atuais e mais atuantes.

 

*Manuel Sérgio é antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Categorias
Sem categoria

Entre o céu e o inferno

O técnico Luiz Felipe Scolari já disse em várias ocasiões que o título é o único caminho possível para a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2014. Para José Maria Marin, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a campanha da equipe nacional será o diferencial entre “céu” e “inferno”. No entanto, jogos realizados nos últimos dias contrariaram radicalmente essas teses deterministas.

No último domingo, por exemplo, o futebol brasileiro conheceu nove campeões estaduais. Um deles foi o Ituano, que venceu o Campeonato Paulista após bater o Santos nos pênaltis por 7 a 6.

O Ituano acabou o Campeonato Paulista com a defesa menos vazada e com uma perspectiva nada positiva: o elenco, cuja folha salarial gira em torno de R$ 350 mil mensais, deve ser inteiramente desfeito. A campanha no torneio regional rendeu uma vaga na Série D do Brasileiro.

Além da quarta divisão, o Ituano jogará a Copa Paulista em 2014. O título estadual representa muito para a história do clube, mas pouco para o momento. A maior surpresa do ano no futebol de São Paulo é um exemplo do quanto o atual formato do futebol brasileiro distorce rapidamente conceitos como céu e inferno.

“Ah, mas o Estadual não vale mais nada”, alguém pode argumentar. Veja então as consequências dessas competições no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul – Flamengo e Internacional, respectivamente, foram os campeões desses Estados.

O Flamengo precisava de um empate com o Vasco, mas perdia por 1 a 0 até os 46min do segundo tempo. O volante Márcio Araújo, impedido, anotou o gol do título rubro-negro.

A taça manteve um tabu de 26 anos e seis decisões. O Flamengo não perde um título para o Vasco desde 1988. A derrota ainda serviu para uma série de provocações: o zagueiro Chicão debochou de funcionários do rival, e o goleiro Felipe chegou a dizer que “roubado é mais gostoso”.

A decisão do Rio Grande do Sul também teve muito significado. O Internacional, que já havia batido o Grêmio fora de casa no primeiro jogo, fez 4 a 1 na segunda partida e ficou com a taça.

Certamente, jogos assim ainda vão reverberar. No fim, vitórias e derrotas são lados indissociáveis do jogo. O que marca é a jornada.

O torcedor do Grêmio não ficará triste apenas por ter perdido o título, mas pela superioridade do Internacional. O vascaíno não lamenta apenas a derrota, mas o histórico de frustrações contra o Flamengo.

E o santista? O time da Vila Belmiro não venceu o Campeonato Paulista, a despeito de ter enfrentado na decisão um rival com potencial econômico infinitamente menor. Ainda assim, foi a equipe que mais encantou em vários momentos da competição.

A campanha do Santos incluiu goleadas, bons jogos e a afirmação de garotos como Gabriel e Geuvânio no time profissional. No fim, é o caso de o torcedor olhar para a derrota como “apenas uma derrota”. Nem céu, nem inferno.

Uma das seleções brasileiras mais lembradas na história das Copas é a de 1982, que não venceu. Em compensação, o Brasil foi campeão com times pragmáticos e deterministas (em 1994 e 2002). Foram títulos que marcaram pelos feitos, não pelas campanhas.

O futebol, no fim, é um instrumento para criar momentos emocionantes. O torcedor guarda os instantes em que perdeu o ar: um gol decisivo ou uma vitória encantadora, por exemplo.

É essa crise de identidade que o Barcelona tem vivido. O time catalão não deixou de tocar a bola ou de pressionar a saída do adversário. Contudo, deixou de encantar.

Na última quarta-feira, o Barcelona foi eliminado da Liga dos Campeões da Uefa pelo Atlético de Madri. O time catalão teve mais de 60% de posse de bola, mas finalizou pouco.

Em outro jogo das quartas de final do torneio, o Bayern de Munique passou pelo Manchester United. O time alemão é comandado por PepGuardiola, ex-técnico do Barcelona, e também teve mais de 60% de posse de bola. Mas foram quase 20 conclusões.

A diferença entre Barcelona e Bayern não é apenas a quantidade de chutes a gol. O time espanhol enfrenta problemas de postura e de posicionamento, e isso o transformou numa versão estéril de um futebol que já chamou atenção do planeta. No sábado, os catalães perderam por 1 a 0 para o Granada.

O que Granada e Atlético de Madri fizeram para bater o Barcelona não foi muito diferente do que outros times adotaram como prática nos últimos anos: um jogo truncado, com muitas faltas no campo de ataque, forte marcação e rápida transição.

O Atlético de Madri, aliás, é um caso especial. Há um encaixe entre time, técnico e torcida. Há um clima favorável em uma equipe que reconhece suas limitações, pratica um futebol simples e prioriza a intensidade.

Na reta final da temporada, o Atlético de Madri ainda pode vencer o Campeoanto Espanhol e a Liga dos Campeões da Uefa. Se nenhuma dessas coisas acontecer, porém, o orgulho do torcedor não será abalado. Pelo estilo de jogo e pela dedicação, já é possível ter certeza de que o time da capital espanhola “cairá de pé”.

Vitórias e derrotas determinam o rumo de livros de história. No futebol, porém, há muita emoção que independe do resultado de um jogo ou de um campeonato. Entre o céu e o inferno, o que vale é o caminho.

Categorias
Sem categoria

Semifinais da Champions League 2013/2014: quem vai chegar?

Na última semana a Champions League 2013/2014 definiu seus semifinalistas.

Duas equipes espanholas, uma inglesa e uma alemã.

Mais uma vez o Bayern e mais uma vez o Real Madrid.

Mais uma vez Josep Guardiola e José Mourinho.

O espanhol Atletico de Madrid chega as semifinais com seu “super” sistema defensivo – concentrado, consistente, eficaz, maleável – como grande trunfo. Seu ataque funciona bem, sem desperdícios…

O também espanhol Real Madrid, bem diferente da gestão Mourinho na maneira de jogar o jogo, tem tirado proveito de conceitos trazidos pelo seu treinador italiano Carlo Ancelotti, e ainda que menos consistente sob certos aspectos que o concorrente Atlético de Madrid, parece apresentar melhor controle do jogo com bola do que esse último, maior número de opções de ataque e mais variações ofensivas.

Já o inglês Chelsea tem sido um “time de Mourinho” – algo que parecia ter sido perdido pelo português em seu trabalho no Real Madrid. E ser um time de Mourinho significa ser um time com um pragmatismo dominante, que faz emergir até nos momentos mais improváveis a demonstração de que o jogo está sob controle.

O alemão Bayern de Munique tem sido cada vez mais Guardiola. E ainda que insistam em dizer que o treinador espanhol é avesso a centroavantes, jogadores de área e cruzamentos, ele mesmo já fez questão de desmentir em uma de suas coletivas de imprensa, acrescentando algo assim: “minha equipe deve ter obsessão por possuir a bola e controlar o jogo a partir dela. Devo aproveitar as características dos jogadores que tenho para compor o jogo da minha equipe. O jogo que preciso que ela saiba jogar. É uma troca do que a equipe em sua maneira de jogar pode oferecer aos jogadores, e o que eles com suas características podem oferecer a ela. E dentro disso nada deve ser descartado”.

Quatro equipes, três países, quatro estilos diferentes de proposição do jogo. Em comum, talvez cinco aspectos:

a) alta intensidade de jogo (física, cognitiva, técnica, etc.),

b) maneira de jogar bem definida,

c) grande capacidade dos jogadores para executarem estratégias coletivas,

d) jogadores com grande eficiência em suas ações,

e) gestores de campo (treinadores) que são profundos estudiosos do jogo.

De “estranho” nisso tudo, a ausência do FC Barcelona – que rompeu com o processo que modelava a construção do seu jogar – e que agora precisa definir qual caminho deve ser seguido – o atual ou o anterior.

Quem vai chegar às finais e conquistar o título?

Ainda que as apostas estejam maiores em cima de Bayern e Chelsea, é difícil dizer.

De certo mesmo, é que poderemos saborear grandes jogos e aprendermos um pouco mais sobre o futebol de dentro do campo…

Por hoje é isso…

Categorias
Sem categoria

Enfim, temos o campeão brasileiro de 1987 (!)

A fim de impedirem o vexame da não realização do campeonato brasileiro, em 1987 os grandes clubes brasileiros se reuniram e criaram a Copa União.

Assim, naquele ano, a maior competição de futebol do país foi organizada por uma associação de clubes, o Clube dos Treze, e teve dezesseis equipes.

A Copa União foi um marco, eis que correspondeu a uma verdadeira liga profissional de clubes com o patrocínio de grandes empresas, como a Coca-cola que patrocinou quase todas as equipes.

Entretanto, o sucesso da competição organizada sem a ingerência da CBF causou insatisfação na entidade que resolveu criar outro módulo com os clubes que não participaram da Copa União e estabeleceu que o campeão brasileiro deveria sair de um quadrangular entre os dois primeiros colocados de cada competição.

O Clube dos Treze negou-se a participar deste quadrangular e o Sport Recife, campeão do outro módulo foi declarado campeão brasileiro.

Inclusive, Sport Recife e Guarani foram os representantes brasileiros na Copa Libertadores de 1988, em detrimento de Flamengo e Internacional, respectivamente, campeão e vice da Copa União.

Desde então, Sport, Flamengo e CPF travam batalha judicial para definir o campeão brasileiro de 1987.

A disputa se acirrou ainda mais quando o São Paulo conquistou o quinto campeonato brasileiro e pleiteou a posse definitiva da “taça de bolinhas”.

Enfim, após 27 anos, o Superior Tribunal de Justiça declarou o Sport Recife o único campeão brasileiro de 1987.

Todo esse imbróglio trouxe algumas considerações relevantes à comunidade jusdesportiva:

– A demora na sentença demonstra o quão é prejudicial a interferência da Justiça Comum no desporto.

– A CBF é uma entidade privada e tem o monopólio na organização de competições oficiais no Brasil.

– Independente da decisão judicial ou da chancela da CBF, para os amantes do futebol e para a história, o campeão da competição nacional mais importante de 1987 foi o Flamengo.

Por fim, imprescindível destacar a grande lição que a Copa União deixou. Sim, é possível realizar um campeonato brasileiro com 16 clubes, calendário racional e organizado pelos protagonistas do espetáculo e toda a polêmica serviu, somente, para enfraquecer o projeto e fortalecer a CBF.

Categorias
Sem categoria

Blindagem do atleta

Quando a maior competição do mundo de futebol se aproxima, muitas são as situações que podem prejudicar o desempenho dos atletas antes de uma Copa do Mundo de Futebol.

Desde publicações de cunho particular da vida dos atletas, até críticas indevidas sobre os desempenhos recentes dos atletas que disputarão esta competição. Isso acontece em maior escala com os melhores do mundo, aqueles que possuem a capacidade de decidir ou desequilibrar dentro de uma competição deste valor.

Por isso é importante estarmos atentos e utilizar algumas ferramentas que possibilitem uma blindagem eficaz para o atleta. O processo de coaching pode contribuir de maneira objetiva promovendo uma adequada especificação de objetivos, caso o atleta já tenha feito uma esta pode ser revista e caso ele ainda não tenha realizado nenhuma especificação de seus objetivos, é momento para isso. A elaboração dos objetivos contribui de forma eficaz para evitar a distração e o desequilíbrio que o mundo exterior pode exercer sobre o atleta.

Uma boa maneira para realizarmos esta definição de objetivos deve responder três perguntas:

O que se deseja?

Aqui é preciso o atleta descrever o objetivo de maneira contextualizada, específica, positiva, que seja iniciada e mantida pelo atleta, alcançável e com uma data projetada para sua realização. Este é o próprio OBJETIVO declarado. Ainda, necessita-se estipular qual será a evidência que representará a realização do objetivo, que chamamos de EVIDÊNCIA.

Porque se deseja isto?

O POR QUE é uma etapa para descrever tudo que motiva o atleta, o que pode sabota-lo e em quais valores ele se baseia para buscar seu objetivo. Os MOTIVADORES representam os ganhos, ou seja, o que o atleta ganha se conquistar o objetivo. Os SABOTADORES, representam as perdas, ou seja, o que ele perde com a realização do objetivo e o que pode ser feito para minimizar as possíveis perdas. Já os VALORES, representam a razão pela qual seu objetivo é importante, o quanto ele é relevante para sua vida.

Como atingir este objetivo?

No COMO o atleta deve elaborar suas estratégias, descrever as ações e quais recursos ele necessitará para conquistar o seu objetivo. Em relação as ESTRATÉGIAS ele pode descrever de quais formas ele pretende conseguir seu objetivo. As AÇÕES representam os passos que ele precisará realizar para atingir o objetivo e os RECURSOS reúne tudo aquilo que ele necessitará para realizar seu grande objetivo.

Com a definição de um objetivo, o atleta se reconecta com algo interno e maior do que as situações criadas no mundo externo. O objetivo bem definido, com os passos para atingi-lo são um grande aliado para que o atleta mantenha o foco e a dedicação, sem abalar-se com problemas que muitas vezes são criados apenas com o intuito de enfraquecer sua capacidade mental e física de realizar sua profissão com altíssimo desempenho durante a maior competição de futebol que um atleta profissional pode estar, a Copa do Mundo de Futebol.

E você amigo leitor, o que pensa a respeito?

Até a próxima!.

Categorias
Sem categoria

Sobre credibilidade

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou na última semana o resultado de uma pesquisa sobre tolerância social à violência contra as mulheres. Segundo o levantamento, 65% dos homens concordam total ou parcialmente com a afirmação: “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.

A divulgação dos dados gerou enorme repercussão. E na última sexta-feira, depois de tudo isso, o instituto emitiu uma correção: na verdade, “apenas” 26% dos homens assentiram quando questionados sobre a tal afirmação.

“Foi um erro absolutamente bobo na parte mais fácil do processo, que é justamente trocar duas colunas do [programa de computador] Excel”, justificou Sergei Soares, chefe de gabinete da presidência do Ipea, em entrevista ao portal “G1”. “Espero que não [percamos a credibilidade] porque o que um instituto tem é a credibilidade”, continuou.

Polêmica sobre o resultado à parte, o que aconteceu no “caso Ipea” é uma demonstração perfeita do quanto a comunicação tem alcance e do quanto é importante a responsabilidade de quem a dissemina. É um exemplo que entra para uma longa lista de episódios emblemáticos no Brasil – alguém aí se lembra da história da escola Base?

Credibilidade é algo que facilita demais qualquer relação de consumo. No caso de comunicação, é um aspecto com potencial decisivo. Aliás, mais do que isso: é o item a ser vendido.

O advento das redes sociais transformou todo mundo em mídia e deixou isso mais claro. Qualquer um pode produzir e publicar conteúdo, funções que eram anteriormente limitadas a um pequeno grupo de pessoas.

O que diferencia um usuário qualquer de redes sociais de um profissional ou de um veículo de comunicação é justamente a credibilidade. As informações podem ser as mesmas, mas o consumidor da informação paga por algo em que ele pode confiar.

Mas essa não é uma discussão apenas para jornalistas. Entender a relevância da credibilidade é fundamental para qualquer profissional. No esporte, isso pode ter influência determinante em diferentes setores.

Um técnico, por exemplo, depende de credibilidade. Ele precisa que os atletas entendam conceitos e acreditem nisso. Só assim a aplicação será feita de forma consistente durante os jogos.

Não são raros os exemplos em que um atleta discorda do técnico. E durante o jogo, o responsável pela decisão é o atleta. Ainda que o técnico tenha uma visão diferente sobre um aspecto do jogo, a palavra final não é dele.

Credibilidade também é um item fundamental na relação entre os próprios atletas. No futebol, um jogador precisa confiar no que o companheiro pode produzir com ou sem a bola. Esse repertório depende de treinos e jogos anteriores.

A discussão sobre credibilidade está longe de ser pertinente apenas para jornalistas. Confiança, afinal, é o que baliza todas as relações humanas.

Independentemente do resultado e do saldo do evento, é isso que a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, tem negligenciado até o momento. Trata-se de um evento que já não conta com qualquer resquício de credibilidade.

Isso começa pelas obras: ninguém acredita em prazos ou orçamentos desde que começaram os prazos e orçamentos. Não há como acreditar.

E mesmo depois de inaugurações e estouros colossais nas contas, ninguém acredita no resultado. O estádio Mané Garrincha, em Brasília, tem acabamento ruim, goteiras e necessidade de intervenções antes da Copa. O custo total da arena chegará a R$ 1,9 bilhão.

Os estádios, contudo, ao menos ficarão prontos. É diferente do que acontece, por exemplo, com obras de mobilidade urbana e infraestrutura.

Quando o Brasil foi aclamado como sede da Copa do Mundo – o país articulou politicamente e foi candidato único –, dirigentes responsáveis pela candidatura venderam a ideia de que o evento seria um propulsor de mudanças no país. A pouco mais de dois meses do evento, já é possível dizer que essas mudanças não virão.

A Copa do Mundo tem sido um engodo. E essa percepção dificilmente será alterada pelo evento, ainda que tudo aconteça com perfeição durante o mês de jogos.

No fim, um evento com potencial gigantesco pode ser um golpe na credibilidade do esporte brasileiro. Como a pesquisa do Ipea mostrou, nem toda repercussão é uma boa repercussão.