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Os pontapés iniciais da temporada

Idealizamos um futebol melhor. Mais belo, mais ético, mais organizado, mais atrativo e mais profissional. O produto atual, no entanto, é um resultado global de como a modalidade tem sido gerenciada, pensada e, mais tecnicamente, treinada. Em síntese, distante do ideal.

Muitos queriam um tempo maior de preparação para a temporada, mas o fato é que a avalanche dos campeonatos estaduais já começou e a velocidade das informações noticiadas pela mídia esportiva nos configura um cenário pessimista, com retratos e ideias excessivamente presos ao passado; mas que gradativamente divide o espaço com outro cenário (desta vez otimista), com discursos relevantes, críticos e que permitem uma projeção de esperança ao futebol brasileiro.

Em relação ao primeiro cenário, podemos apontar os seguintes exemplos:

Na busca por uma visão mais complexa do jogo, ouvir de um técnico consagrado no futebol nacional que é mais fácil construir uma maneira “diferente” de jogar num clube sem expressão, pois a pressão é menor, conota-se um contrassenso. Nas grandes equipes do país, composta pelos melhores jogadores e melhores treinadores, não estão também os melhores recursos, aliados ao poder da marca e das imensas torcidas, para emergirem elementos e conceitos do futebol moderno?

Com cada vez mais informações relativas à análise global do desempenho, é inconcebível a justificativa de uma derrota à preparação física. Alguns dias depois, sem tempo para treinos e grandes mudanças, uma goleada facilmente apaga a derrota anterior e surpreendentemente a preparação física não é mais lembrada.

Recentemente, um defensor contratado por uma das principais equipes do país se caracterizou como um rebatedor. Um zagueiro-zagueiro. Esta definição ruma na contramão dos princípios do futebol total, da inteireza do jogo e do jogador quanto a sua participação individual e coletiva no sistema em todos os momentos do jogo.

Será impossível formar (já que é mais difícil contratar) um zagueiro-zagueiro que seja bom no 1×1 defensivo, em bolas aéreas, tenha boa recuperação, boa cobertura, boa antecipação, bom posicionamento, mas que, com bola, saiba fazer outra ação que não rebatê-la?

Paralelamente a estes discursos, surgem outros, como mencionado, mais otimistas:

Um grande técnico do nosso país afirma (não é o primeiro) que falta atualização aos nossos treinadores. Para ele, assim como o médico deve se atualizar para não ficar ultrapassado, o treinador deve fazer o mesmo para que suas equipes não fiquem para trás. Este mesmo treinador contou que, em visitas à Europa, teve ciência da necessidade (e importância) da formação para dirigir as principais equipes do futebol mundial.

Outro grande técnico do nosso futebol nos brindou com um ótimo ponto de vista: escreveu para a Universidade do Futebol e afirmou sobre a urgência dos treinadores brasileiros serem cobrados por parâmetros de jogo distintos dos apresentados atualmente. Para ele, esta é a saída para que observemos um jogo menos individualizado, de “correria” e com desespero mental.

Para concluir, com o término da Copa-SP tivemos a definição de melhor jogador do torneio: o volante-volante Lucas Otávio. Marcador, aguerrido, com bom desarme, cobertura e posicionamento. Com bola, Lucas Otávio pisa no campo de ataque, ultrapassa, lança, finaliza, troca de posição e joga numa velocidade complexa (física-técnica-tática-mental) acima da média dos jogadores de sua idade. A sua escolha como melhor jogador da competição dá mostras de que volantes não precisam ter mais de 1,80m e que a análise atual sobre o que é jogar bem futebol também chegou ao Brasil.

Os exemplos estão à nossa frente. Que saibamos quais iremos seguir…

Obrigado Nicolau e Bruno pelas sugestões!

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E vai rolar a festa?

Enfim, os campeonatos estaduais iniciaram-se e tem início um ano futebolístico ímpar. Ora, não é um ano qualquer. É ano de Copa do Mundo no Brasil.

Quem acompanha futebol desde a infância sabe o significado disso. Lembro-me de acompanhar Mundiais desde o México em 1986, quando tinha 6 anos. Como se fosse hoje me recordo da derrota para a França com direito a bola na trave, bola nas costas do goleiro Carlos e gol. Em 1990, Itália, irritei-me com o Cannigia no nosso melhor jogo na Copa.

Naquela época, nunca imaginaria que um dia teríamos uma Copa do Mundo aqui, no nosso Brasil Varonil. Teremos a chance de exorcizar o fantasma do Maracanazo de 1950 e deixar de ser a única grande Seleção a nunca vencer em casa.

Entretanto, nem tudo é festa. 2013 terminou com violência nos estádios de futebol, discussão sobre o calendário e, ainda, em meio a um imenso embate jusdesportivo envolvendo Portuguesa, Fluminense, Flamengo e STJD.

Todo esse imbróglio faz com que iniciemos o ano futebolístico mais esperado dos últimos tempo sob o ar da desconfiança e da dúvida. O campeonato brasileiro iniciar-se-á em abril e ainda não sabemos quais os participantes, pois uma guerra de liminares altera sua composição diuturnamente.

As jogadas, gols e craques deixaram de ser o centro dos debates e entraram em campos os tribunais, as leis e os advogados. De milhões de técnicos viramos especialistas em Lei Pelé, Estatuto do Torcedor e Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Independente do final dessa história, o ano começa melancolicamente. Ademais, se há campo para tanta discussão, talvez seja o momento de olharmos para dentro e refletirmos sobre nosso desporto.

Neste esteio, o Direito Desportivo é uma importante ferramenta de desenvolvimento do desporto nacional que deve ser cada vez mais estudado e ensinado nas Universidades Brasileiras.

Assim, ao mesmo tempo que damos as boas vindas ao futebol, fazemos votos que o ano termine melhor do que começou.

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Uma "nova" visão para o jogo

O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Este é um dilema que o futebol brasileiro não consegue resolver. Aliás, acho até que não sabemos se existe. A forma de ver o jogo de futebol é tão dependente do sistema tático e do jogador que não conseguimos perceber a existência de algo além disso. Estamos particularizando tanto as questões táticas de campo que mal conseguimos ver a aura de um jogo. No Brasil, é comum ouvir:

• O time não joga pela direita porque o lateral do lado não ataca;
• Hoje, a defesa não está bem devido às falhas dos zagueiros;
• O time não chuta a gol porque os atacantes são fracos;
• Vamos começar arrumar o time pela “cozinha”;
• Dentre outras.

Todas as análises acima estariam corretas se contextualizássemos o que significam a uma ideia tática de jogo, algo maior que as respostas individuais ou setorizadas no campo. Desde que abandonamos o “toque de bola” em favor do jogo ansioso e ou de correria, não sabemos mais o que é jogo. Um dia, um dirigente de um clube onde trabalhei me indagou: – Você fala muito em jogo da sua equipe, não é?! Como se isso fosse uma coisa estranha ao ambiente do futebol brasileiro. Nos acostumamos a seccionar o entendimento do jogo como forma de justificar todos os fenômenos táticos do campo.

Para inaugurar o meu momento de crônicas táticas no Universidade do Futebol é importante não abandonar a visão que concebo do jogo, pois tudo e ou todas as abordagens serão feitas a partir deste ponto de vista. Não consigo ver um lance descontextualizado do todo, de um jogo. Não consigo criar um treino sem inseri-lo na dinâmica das onze peças. Jogar pelos flancos, por exemplo, não se traduz em simplesmente treinar os lances de cruzamentos das beiradas. Todo mundo sabe disso, mas fazemos leitura equivocada do processo que desenvolve estas jogadas. Estamos culturalmente envolvidos com esta maneira de ver e ou conceber o jogo.

Como treinar o jogo pelos flancos, ou o hábito de se jogar por aquele setor do campo? Só jogando ou treinando um jogo com estas características dará condições ao meu time de fazer isso. Portanto, a montagem e o perfil dos treinos estão diretamente relacionados à forma de construir o jogo da minha equipe. Não me adiantará, ou adiantará muito pouco, pedir aos jogadores que façam isso ou aquilo. É importante induzi-los a fazer. O treinamento tem poderes para isso.

Permanecendo no exemplo anterior, sabemos ler que uma equipe não joga pelos flancos, mas não somos capazes de detectar as causas. Não nos resta outra saída senão responsabilizar os protagonistas das ações de campo: – “Não há cruzamentos vindos dos flancos porque os laterais não o fazem”. Até os jogadores, maiores alvos das críticas, acreditam nisso e reproduzem discursos confirmando suas falhas. Não consigo ver o fenômeno senão pela consequência da grande e prejudicial “miopia tática” da visão brasileira do jogo.

No início da nossa resenha há uma pergunta: – O jogo em relação ao jogador ou o jogador em relação ao jogo? Na questão, me refiro à avaliação das qualidades de um jogador para fazermos uma determinada opção. Para respondermos corretamente esta pergunta precisaríamos saber como vemos o jogo. Existe um jogo além do jogador? Todos nós sabemos que não há orquestra sem as individualidades musicais. Mas é verdade também que uma orquestra não existe somente com parte do som das individualidades.

No esporte coletivo e ou no futebol é da mesma forma. O jogador está em campo como grande protagonista das ações. Mas que tipo de ação? Ações que traduzem um jogo. Uma forma de jogar. Esta é a saída para uma “nova” visão do jogo brasileiro. Só devemos entender a importância do jogador no contexto de um jogo, ainda que suas habilidades lhe permita desempenhar papéis táticos com a plástica de um craque. Por isso, serão reconhecidos e valorizados com destaque em relação aos companheiros de profissão. Ter craques no time não trará nenhum prejuízo ao jogo se estes jogarem em função de uma ideia de jogo.

Quando falamos de jogo e ações táticas para o jogo queremos aclarar a mente dos leitores para a existência de princípios e ou conceitos táticos que são responsáveis pela construção do jogo. Assim como o bolo tem seus ingredientes e sua forma de fazer, o jogo tem os seus jogadores e forma de fazê-los jogar. Por isso, e nesta visão, é preciso pensar na importância do jogador relacionada a uma forma de jogar. A sutileza na diferença dessas visões táticas de jogo altera muito o processo da construção do próprio jogo.

Às vezes, o casual encaixe das características individuais faz brotar um jogo de qualidade mesmo que não tenhamos nos preocupado em treinar os conceitos táticos que dali brotaram. Às vezes também, alguns bolos saem gostosos mesmo não aplicando os segredos da receita proposta. Mas eu disse “às vezes”! Regra geral, as receitas consagradas costumam render dividendos interessantes aos seus detentores. O jogo pode e deve ser construído sob a orientação dos conceitos táticos que fazem um jogo eficiente e eficaz. Assim, tanto o jogo quanto o “bolo” terão padrões de qualidade consagrados.

Para o futebol brasileiro, que tem no poder das suas individualidades o grande marketing da qualidade, é preciso “reencontrar” sua antiga visão tática do jogo. Aquilo que faça o jogo ser visto como um todo que tem vida. O jogo do toque de bola, por exemplo, como era conhecido e ficou famoso em todo o mundo. Um time que joga compacto, ofensivamente, com posse de bola, atuando pelos flancos, dentre outros predicados táticos coletivos é facilmente percebido quando apresentado. Vide grandes equipes europeias e alguns poucos e efêmeros modelos sul-americanos.

Nós, treinadores brasileiros, só saberemos e ou teremos interesse em construir um jogo com estas características quando formos cobrados sobre estes parâmetros. Hoje, só sabemos jogar por vitórias e das formas mais diversas. Geralmente produzimos o “jogo” com muita correria, ações individualizadas e desespero mental, fruto da pressão do ambiente em que jogamos.

Há “receitas de bolos” excelentes para a construção do jogo inteligente. Não é preciso jogar ao acaso ou ao sabor do encaixe das individualidades. Tudo começa com o desenvolvimento de uma nova visão tática para o jogo!

Até a próxima resenha…

…e me desculpem pela distância entre as publicações. Vida de treinador não é fácil!
 

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Conteúdo e Contexto

Li recentemente em uma edição da Revista Sport Business International (Novembro de 2013) uma ampla reportagem que abordava a “Gestão de Grandes Eventos” e, no cerne de um dos temas apareceu uma citação que me chamou a atenção. Na tradução livre, é o que segue:

“Existe uma visão do público em geral de que as pessoas que entendem de esporte e, portanto, estão aptas a operar um evento esportivo, são ex-atletas. Eles não são! Na realidade, a compreensão de um ex-atleta é sobre o conteúdo e não sobre o contexto”. Will Glendinning.

Ótimo! Eis mais uma explicação plausível e interessante sobre o viés da profissionalização na gestão do esporte. Neste caso, é bom separar aqueles ex-atletas que buscaram uma formação adequada, seja ela antes, durante ou após sua carreira esportiva, e agora estão atuando competentemente no segmento.

O ambiente que circunda os projetos esportivos é amplamente complexo, não cabendo a restrição e o olhar único sobre a competição e/ou o jogo propriamente dito. O conhecimento tácito e prático é extremamente relevante, mas não suficiente.

Pensar e lembrar deste conceito é um importante passo à medida que se pretende debater e desenvolver o profissionalismo no esporte, seja na montagem de equipes multidisciplinares, seja na gestão propriamente dita.

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O centroavante matemático e o quarterback que ajuda o turismo

Não há comparação entre modalidades, funções em campo, histórias no esporte ou perfis. Ainda assim, o centroavante Rafael Moura, que defende o Internacional, e o quarterback Peyton Manning, do Denver Broncos, deram boas aulas de comunicação nos últimos dias.

A história começou com Manning. Na semifinal da conferência americana (AFC) da liga profissional de futebol americano (NFL), o camisa 18 do Denver Broncos gritou em vários momentos a palavra “Omaha”.

A palavra foi sempre dita nos momentos que precederam jogadas. Esse tipo de expressão é chamada na NFL de “audible”, algo que os times combinam e que o quarterback usa para mudar algo de última hora na movimentação de sua equipe.

No caso de Manning, a expressão “Omaha” criou algo diferente. Ao gritar isso antes do início das jogadas, o quarterback fez com que a defesa do San Diego Chargers se mexesse antes que fosse permitido, o que rendeu várias faltas. Esse tipo de infração assegura avanços de cinco jardas para o time que está com a bola.

Os “audibles” de Manning já viraram até produtos – vários foram reunidos em estampas de camisetas, por exemplo –, mas nenhuma dessas expressões chamou tanta atenção quanto “Omaha”. Na última semana, parte dos Estados Unidos passou um tempo investigando o que o quarterback queria com essa palavra.

Manning pode ter usado isso para acelerar jogadas, mudar o posicionamento dos recebedores ou simplesmente para atrair atenção da defesa dos Chargers. O fato é que o “Omaha” dele motivou as maiores discussões do país na semana que precedeu as partidas finais de conferências.

Recapitulando: quarterbacks costumam gritar palavras antes das jogadas. Fazem isso para alterar movimentações ou fazer ajustes no que havia sido combinado para o lance. Manning fez isso com várias outras expressões e em muitos outros momentos. E de repente, a tal “Omaha” virou notícia.

Alguns aspectos contribuíram para isso. O fato de a defesa dos Chargers ter cometido faltas quando ouviu a palavra, por exemplo. A frequência do uso de “Omaha” e o ineditismo – Manning não havia usado com tamanha incidência anteriormente.

O principal motivo para “Omaha” ter repercutido tanto nos Estados Unidos, contudo, é a curiosidade. Sobretudo porque Manning, questionado sobre o teor da expressão, contribuiu para o mistério.

Em entrevista coletiva, questionado sobre o assunto, o quarterback saiu com a seguinte explicação: “Omaha é uma jogada corrida. Mas também pode ser uma jogada de passe ou de play-action [movimento em que o quarterback ameaça deixar a bola com um corredor, se coloca em condição de carregar a bola e ainda pode fazer um lançamento]”.

E qual é a lição que Manning oferece? Toda a história de Omaha é uma demonstração clara do quanto o esporte pode criar conteúdo. Sobretudo se os protagonistas souberem contribuir para isso.

Na semana que precedeu um aguardado confronto entre Manning e Tom Brady, dois dos quarterbacks mais vitoriosos das últimas décadas, falou-se mais sobre Omaha. Até o departamento de turismo da cidade com esse nome, situada em Nebraska, agradeceu.

A comparação é cruel, mas houve um caso antagônico no mercado brasileiro. O protagonista foi o centroavante Rafael Moura, que defende o Internacional.

Questionado sobre o desempenho ruim no Internacional em 2013, o jogador tirou do bolso um pedaço de papel. Então, começou a empilhar números.

“Eu tenho 1667 minutos jogados pelo Inter e seis gols. Se eu fosse titular, jogando 90 minutos, seriam 17 partidas e meia. Em 17 jogos a média aumenta. Joguei 39 partidas pelo Inter. Dezenove como titular e 20 como reserva. Dez vezes como reserva eu entrei faltando menos de 10 minutos. Tenho 42 minutos por partida em média. O titular joga 90 ou 95 minutos. A média de gols é 277 minutos para cada gol. A cada quase três partidas. Ou seja, a cada três partidas o Rafael faz gol”, disse o atacante.

Depois das contas confusas, Rafael Moura ainda fez comparações com companheiros e criticou o desempenho de outros atletas do Internacional. Em duas respostas, portanto, ele foi tão confuso quanto indelicado.

Rafael Moura também criou conteúdo. Depois da entrevista coletiva, as explicações dele reverberaram mais do que se ele simplesmente tivesse tido uma reação mais amena. A questão é: qualquer tipo de conteúdo interessa?

Foi essa a principal dúvida suscitada por um texto de Cassio Politi, diretor de content marketing da agência Tracto. Ele publicou o conteúdo no dia 17 de janeiro, com o título “Se publicidade também é informação, velório também é evento”.

O texto de Politi foi motivado por essa frase, que foi dita por André Rosa, jornalista e referência profissional. Essa conclusão surgiu a partir de uma discussão dos dois sobre o slogan de uma rádio: “publicidade também é informação”.

Politi questiona essa ideia. Segundo ele, informação pressupõe aspectos como isenção e motivação noticiosa. Publicidade, por sua vez, é um conteúdo comercial e busca vender ideias, conceitos ou produtos.

O texto tem um exemplo oriundo do esporte. Em 2012, o atacante Wayne Rooney publicou na rede social Twitter uma resolução de ano novo. Ele enumerou objetivos para a temporada, e então encerrou a mensagem com a hashtag #makeitcount.

A tal hashtag era, na verdade, um selo de uma campanha da Nike, fornecedora de material esportivo do atacante. O caso repercutiu mal a ponto de a empresa ter sido denunciada e obrigada a banir a campanha da rede social.

Com exemplos como esse, Politi discute a relação entre publicidade e informação. A conclusão dele é que são conteúdos diferentes, que não podem sequer transitar em plataformas semelhantes. “Se você misturá-los, o público vai perceber. E não vai perdoar”, escreveu o executivo.

E o que isso tem a ver com Peyton Manning e Rafael Moura? Os dois mostraram, em diferentes caminhos e com visões absolutamente distintas, que é possível incutir conteúdo em um leque enorme de cenários.

Manning e Moura não fizeram publicidade. Eles só mostraram que as plataformas não têm de ser tão puras assim. Desde que isso seja transparente e que o público entenda, é claro.

Eu costumo citar sempre uma entrevista coletiva do ex-jogador Ronaldo “Fenômeno”. O maior artilheiro da história das Copas do Mundo, que na época defendia o Corinthians, tinha acabado de fechar um contrato com a empresa de telefonia Claro. Na conversa com jornalistas, trocou todas as respostas afirmativas por um “É claro”.

A ação de Ronaldo foi sutil. Provavelmente, ele e a empresa sequer discutiram isso. Mas o então atacante mostrou de forma precisa o quanto o esporte pode interligar as plataformas.

Esporte é conteúdo, e a comunicação precisa saber aproveitar isso. Sobretud
o porque esse ambiente tem capacidade de aproveitar o aspecto emocional dos consumidores.

Voltando ao futebol americano, um time campeão do Super Bowl, jogo que decide a NFL, costuma disponibilizar imediatamente um pacote com mais de 200 produtos alusivos ao título. Tudo isso no estádio.

Agora imagine: se você for a um estádio ver um jogo do seu time, acompanhar a conquista de um título e tiver 200 opções de produtos oficiais sobre a conquista, qual é a chance de você não comprar ao menos um chaveiro?

Publicidade pode ser informação, sim. Pode ser conteúdo. O futebol é um exemplo do quanto as boas histórias e a relação com o consumidor ajudam a vender.

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Muito além do futebol

O ano de 2014 será bastante simbólico para o futebol brasileiro. Em especial, por ser o ano de realização, pela segunda vez, da Copa do Mundo no país.

Nesse sentido, tudo aquilo que acontecer nas ruas na esteira do evento – como as manifestações ocorridas no ano passado, durante a Copa das Confederações – bem como o que não ocorrer – entrega das obras do PAC da Copa, por exemplo – será reflexo de nossas circunstâncias históricas, desenhadas desde o início da formação do nosso povo. O que nos define como Brasil e como brasileiros. Vai muito além de 2007, ano em que fomos escolhidos como sede pela Fifa. Não adianta transferirmos responsabilidades…

O próprio Bom Senso FC, movimento articulado por jogadores cujo protagonismo técnico-intelectual é marca registrada, assumiu a responsabilidade da categoria, e toda a carga associada a uma postura desafiadora, para apresentar uma pauta de discussão sobre o modelo de gestão do futebol brasileiro. Nela se encontra, dentre outros, o “fair play financeiro”, que sugere uma política austera de remuneração, que tocaria desde já nos bolsos de jogadores e técnicos, com a redução de seus altos salários, mas que visa o equilíbrio e a sustentabilidade dos clubes no longo prazo.

Esse contexto provoca, inegavelmente, em toda a indústria do futebol, uma visão crítica sobre o importante papel que cada profissional, cada clube, cada entidade, cada empresa, ocupa junto à sociedade. Junto. Não sozinho ou fora dela.

E começar 2014 com o lançamento, pelo Santos FC, do Programa “Muito Além do Futebol” é prova concreta de que a responsabilidade social corporativa (RSC) no futebol pode e deve fazer parte da visão estratégica dos clubes.

http://www.santosfc.com.br/muito-alem-do-futebol/

O clube se soma ao Coritiba FC, ao SC Internacional, ao Grêmio FBPA e ao Atlético Paranaense (que finaliza o projeto para instituir sua Fundação) na lista dos clubes cuja RSC está integrada ao planejamento estratégico.

No novo site oficial que acaba de ser lançado pelo Santos, o programa ganha destaque e possui vasto conteúdo audiovisual, identidade própria (logomarca).

Eis o que “pensa” o clube sobre RSC, nela imbutidos os conceitos de missão e visão:

“Muito Além do Futebol é a marca do SantosFC que traduz a sua filosofia de Responsabilidade Social. Promovemos ações especiais ao longo do ano, envolvendo nosso público interno e externo, em prol de crianças e jovens que se identificam com o futebol arte e carecem da sua atenção especial para viverem dias melhores. Na maioria das ocasiões, firmamos parcerias estratégicas com organizações do terceiro setor motivadas a fazer o mesmo!”

GRAAC, AACD, Happy Down, Criança Esperança, Unicef, são algumas das instituições parceiras do programa. Campanhas de Doação de Sangue, Arrecadação de Agasalhos e Alimentos, bem como Doação de Sangue, fazem parte do conjunto de iniciativas realizadas diretamente ou em apoio às instituições.

Além disso, o importante posicionamento institucional do programa junto à comunidade resta evidente no “Manifesto”, aqui transcrito:

“Somos Santistas, o time do Rei. Fabricamos sonhos e craques há mais de 100 anos. Com os pés no gramado, paramos uma guerra. Com ousadia e alegria, globalizamos moicanos. Por isso acreditamos que o futebol é um dos maiores veículos de comunicação do planeta, uma força que alcança as pessoas, inibe as barreiras e, além de incitar paixões, é capaz de sensibilizar e multiplicar posturas solidárias, voluntárias, do bem. Para retribuir o dom que nos foi dado, de transformar meninos em ídolos, queremos contribuir também com o futuro daqueles que estão fora das quatro linhas oficiais, mas dentro do dia a dia do mundo. Peixinhos e peixinhas que fazem parte do hoje e precisam ter condições e oportunidades para fabricar os sonhos de amanhã. Queremos inclusão, paz, saúde, família, bola, sorrisos diários, abraços fortes e datas especiais… Sim, sonhamos como meninos! Mas trabalhamos como potência. Santos FC, o time que vai #MuitoAlémdoFutebol”

O ano de 2014 começa bem. Que ele siga bem e vá muito além do futebol…
 

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O desafio dos alojamentos nas categorias de base – parte I

O Doutor Alcides Scaglia, colunista especial da Universidade do Futebol, escreveu metaforicamente, há mais de cinco anos, sobre a realidade dos alojamentos nas categorias de base do país.

Submissão aos atletas mais velhos, reprodução da linguagem corporal predominante e ambiente com nível intelectual baixo foram algumas das constatações apontadas pelo professor.

Como sabemos o período de especialização esportiva e dos primeiros anos de profissionalização, que se estende dos 14 aos 20 anos, é determinante não só para a formação esportiva, mas também para a formação social, moral e humana do atleta. Coordenar e atuar neste processo, em qualquer que seja o clube, é uma trabalhosa e complexa missão.

Num país que possui talentos brutos em larga escala e que mantém as categorias de base sempre abastecidas por milhares de jovens jogadores que compartilham do mesmo sonho, precisamos saber se o cenário retratado pelo Alcides anos atrás (e já vivenciado por ele nos tempos que atuava como goleiro e morava em alojamentos) se modificou.

Pois, se de um lado temos os jovens e seus sonhos similares de serem grandes jogadores de futebol a qualquer custo, do outro, num plano mais palpável, temos o compromisso pelo desenvolvimento para além do rendimento esportivo. Além disso, não podemos ignorar a realidade do estreitamento natural da pirâmide dos atletas que chegam ao alto rendimento (mesmo cientes de que este dado não pode minimizar nosso esforço de alargá-la).

Como os clubes brasileiros são corresponsáveis pela formação integral dos jovens atletas e têm boa parte de cada um de seus plantéis das categorias de base alojada no próprio clube, é momento de discutirmos cases positivos e soluções que maximizam o desenvolvimento dos jogadores.

Ir à escola (que é diferente de estudar), treinar, alimentar-se e comunicar-se pelas redes sociais não pode ser a rotina padrão dos nossos futuros jogadores. Este cotidiano limita, engessa e castra uma formação ampla do homem (que antecede o jogador).

Neste cenário, como você idealiza um ambiente favorável de formação do jovem futebolista brasileiro?

É possível criar um ambiente que estimule a reflexão?

É possível criar um ambiente que estimule a educação?

É dever do clube acompanhar a frequência escolar dos atletas?

Em sua opinião, é dever do clube acompanhar o desempenho escolar dos atletas?

Mau desempenho escolar deve tirar atleta de competições?

É possível criar um ambiente de lazer?

É possível criar um ambiente de aprendizagem ao convívio social?

Quais assessorias são indispensáveis à formação do atleta?

Até que ponto o clube deve “tampar buracos” socioeducacionais?

Quais as responsabilidades do clube uma vez que os jovens estão distantes da família?

Como temos acompanhado, o momento pede uma grande reforma em nosso futebol. As opiniões e manifestações por um futebol melhor estão cada vez mais frequentes e com maior adesão.

Quem está envolvido direta ou indiretamente com a modalidade deve se perguntar, todos os dias, se está fazendo a sua parte.

Não deixe que o ambiente alienador e improdutivo parta de você!

Aguardo sua opinião para, ao longo do ano, continuar escrevendo sobre o tema.

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Justiça Comum devolve os pontos à Lusa

O ano de 2014 começou e o Campeonato Brasileiro de 2013 está longe de terminar. Dentro do campo Fluminense, Vasco, Ponte Preta e Náutico foram rebaixados para a Série B.

Mas, a Portuguesa, punida pelo STJD com a perda de 4 pontos pela escalação de jogador suspenso acabou sendo rebaixada no lugar do Fluminense.

Entretanto, torcedores indignados foram à Justiça Comum e um deles conseguiu uma liminar para devolver os pontos à Lusa e rebaixar o Fluminense.

O STJD e a CBF rapidamente manifestaram-se indignadas com a interferência da Justiça Comum, já que entendem que a decisão desportiva deve prevalecer.

O fato é que independente de se concordar ou não com a possibilidade de se pleitear questões desportivas na Justiça Comum, o artigo 35 do Estatuto do Torcedor determina que as decisões da Justiça Desportiva sejam publicadas da mesma forma que faz a Justiça Federal.

E, enquanto a Justiça Federal publica suas decisões no Diário Oficial, a Justiça Desportiva intima os presentes, sem qualquer publicação.

Ou seja, o fato é que o requisito do Estatuto do Torcedor não foi observado.

Pode-se até discordar da Lei, mas ela existe e deve ser cumprida.

Eventual debate sobre sua aplicação ou não deveria ter sido travado no Congresso Nacional e não após vigência da norma.

Se a Lei exige a formalidade para um ato e ela não é atendida, há defeito e o ato é nulo.

Com toda a tristeza que possa causar a decisão de um campeonato fora dos gramados, o Estatuto do Torcedor existe e deve ser cumprido.

Tenho a certeza que esse embate está longe de terminar.

E temo pela não realização do Campeonato Brasileiro de Futebol justamente no ano da Copa do Mundo.

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos e que os Deuses do futebol olhem por nós!!!

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Construindo equipes de alto desempenho no futebol

Continuando o tema as semana passada sobre os trabalhos de um início de temporada trago mais uma importante questão em minha opinião: Como formar mais rapidamente times coesos e focados em resultados comuns?

Está com certeza é um a tarefa difícil para todos os clubes, ainda mais para aqueles que tenham promovido grandes modificações em sua comissão técnica e elenco de jogadores. Sabemos que é comum isso acontecer no futebol brasileiro e toda ajuda na formação de uma equipe de alto desempenho sempre é muito bem-vinda.

Por esse motivo, acredito que o trabalho de um Coach realizando um programa de Coaching de Time ou Team Coaching no elenco pode trazer inúmeros benefícios para a equipe já num curto prazo.

Para começarmos a entender o que isso pode significar precisamos compreender as diferenças entre grupos e times, fornecida por Maddux.
 

GRUPOS

TIMES

Indivíduos que trabalham independentemente

Membros que são interdependentes

Membros focados em si, agendas e responsabilidades ocultas

Metas comuns, propósito, missão e senso de unidade

Existem desconfiança e desentendimentos

Ambiente aberto e de confiança, desentendimentos vistos como positivos e geram aprendizado

Comunicação é obscura

Comunicação aberta e honesta

Conflito é evitado ou escalado

Reconhecimento do valor dos conflitos, com estratégias de resolução de problemas colocadas em ação

Membros conformados

Expressão livre entre os membros

Ao nos colocarmos atentos as diferenças apontadas acima, passamos a perceber o quanto de trabalho deve ser realizado para termos times verdadeiramente unidos e focados em metas comuns para todos. E para isso é importante realizar um trabalho sério de desenvolvimento de times e que possibilite a evolução e entrosamento de todos os atletas do elenco para formar uma verdadeira equipe.

Apenas para esclarecer o conceito de time (equipe) compartilho a definição elaborada por Smith e Katzancah (1993): “Um pequeno número de pessoas com habilidades complementares que estão comprometidos com um propósito comum, metas de desempenho e abordagens contabilizadas de forma mútua”.

Mas, você deve estar se perguntando, quais são os benefícios de um programa de Team Coaching (construção de equipes de alto desempenho)?

Principais benefícios do Team Coaching

• Desenvolvimento de propósito comum com foco em resultados;
• Desenvolvimento de habilidades;
• Desenvolvimento de competências de gerenciamento e liderança;
• Fortalecimento das habilidades interpessoais;
• Aumento no comprometimento dos resultados da equipe;
• Construção de lideranças eficazes com relações de confiança;
• Respeito e entendimento claro da missão e valores da empresa;
• Compreensão da necessidade de mudanças de processos e comportamentos visando o bem comum;
• Definição clara de papéis na geração de responsabilidades.

Como dica final, compartilho as características de bons times para orientar sua compreensão sobre quando um time está no caminho do alto desempenho:

• Propósito comum;
• Metas claras e específicas;
• Cada membro entende e é competente pela sua posição;
• Os canais de comunicação são abertos;
• Os membros se apoiam e se encorajam mutuamente;
• Existe flexibilidade;
• Existe o conhecimento e uso das forças de cada membro, bem como o conhecimento dos pontos de melhoria;
• A confiança é mútua;
• Existe a contabilização dos resultados da equipe.

E agora amigo leitor, acredita que um trabalho desse pode contribuir com as equipes de futebol?

Até a próxima.

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Mais do mesmo: o calendário e a gestão

Os desdobramentos do caso Portuguesa e Flamengo, ao perderem 4 pontos na última rodada do Campeonato Brasileiro, reativou alguns dos “eternos” debates e dilemas do futebol no nosso país.

Primeiro, que volto a frisar (como já fiz em outras colunas), vi pouca gente associar os “erros” a falhas de gestão. A grande maioria recai sobre as “leis das conspirações”, procurando justificar o consequente rebaixamento da Portuguesa como “algo de força maior”.

Poucos, reforço, poucos, levantaram a simples lógica de que a Lusa falhou em processos internos. O que estamos fazendo é o mesmo que colocarmos a culpa no Governo para o caso de a justiça punir uma Empresa X pela falta de pagamento de tributos – para um caso análogo ao exemplo, no ambiente corporativo, o contador da tal Empresa X seria imediatamente desligado e, conforme a gravidade, ser processado em outras esferas jurídicas por esta com a finalidade de reaver perdas financeiras. Tão simples quanto isso.

Voltando ao caso da Portuguesa (e do Flamengo), a previsão regulamentar por escalação de jogador irregular é a perda de pontos no Campeonato (e ponto final). Não vi nenhuma reportagem na mídia, até o momento, de uma ação proativa da Portuguesa interessada em fazer sindicância interna e responsabilizar Gestores, Diretores ou pessoas que deveriam cuidar do mais elementar processo de gestão no futebol: o controle e registro de jogadores.

Dito isso, e como pano de fundo tendo uma enxurrada de debates sem qualquer propósito, ressurgiu a questão do Calendário e a sugestão de se acabar com a disputa do Campeonato Brasileiro por pontos corridos. Primeiro, que quem pensa nisso é porque nunca leu um balanço de clube e sua evolução financeira no último decênio. Tampouco considera a taxa de aprendizagem do público em consumir uma competição neste formato – sim, mudança cultural não se resolve em uma década…

E em matéria de calendário, não há que se reinventar a roda. O modelo é o Europeu, que divide claramente o Campeonato nos finais de semana – momento para um lazer com a família, um hábito de consumo corriqueiro, que todos os torcedores sabem que irão ocorrer – e nos dias de semana as Copas e Taças, sejam elas de um torneio nacional ou continental.

É tão simples quanto isso: garante-se a receita e a confiabilidade em jogos nos finais de semana e a tão propalada “emoção” das disputas por sistema de eliminatória no meio da semana, preservando-se, naturalmente, a quantidade de jogos ao longo do ano para que se tenha qualidade em todas as disputas.

É isso. E que se pare a tomada de decisão pela emoção, sem uma análise lógica e coerente sobre o esporte (enquanto disputa) e os negócios que são gerados em torno dele…