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O mito do patrocínio político

 Tem sido pauta recorrente de debates o chamado “Patrocínio Político”, que é aquele feito por uma empresa (estatal ou privada) tão somente por uma sinergia e afinidades políticas a um determinado clube ou federação esportiva.

Aí é que começa o campo das ilusões…

Não nos iludamos, ele existe sim!!! A utilização política do esporte como meio para se aproximar do povo ou fazer favores (trocas) para parceiros e apadrinhados não é novidade. E o esporte acaba se tornando um campo fértil para este tipo de ação.

E fica ainda menos complicada e mais fácil de justificar a transferência de alguns milhões a título de patrocínio para algumas entidades em um momento em que o esporte é capa de praticamente todos os jornais.

Não nos iludamos, ele não é sustentável!!! Eis a grande armadilha de processos “TOP-DOWN”. Funciona apenas pontualmente (e, por vezes, de maneira conturbada). A falta de diálogo com o 2º e 3º escalão das empresas fere qualquer projeto que se pense para mais de um ano.

E importa esclarecer: não é raro encontrar grandes empresas que substituem com frequência os principais cargos, mantendo a base de conhecimento (ou os cargos executivos) por muito mais tempo. Neste sentido, se o patrocínio não é construído como uma ação estratégica da empresa, ele tende a se esfacelar a uma velocidade tão grande quanto o primeiro aporte feito na organização esportiva.

Em suma: apesar de todo o alvoroço que se criou (e se cria) em torno de alguns projetos de patrocínio que supostamente tem cunho político, que não se perca de vista o próximo contrato tão logo se assine o primeiro…

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Questão de postura

 As últimas rodadas do Campeonato Brasileiro deflagraram uma série de discussões sobre estratégias. Uma rápida olhada pela tabela é suficiente para entender que há grandes degraus de motivação em brigas por título, classificação para torneios internacionais ou para evitar o rebaixamento.

Antes de qualquer análise aprofundada, é importante pontuar que isso não se deve à fórmula de disputa. Se o Nacional fosse disputado em fase de classificação e mata-mata, como funcionava até 2002, haveria debates semelhantes no término da primeira etapa ou entre os times que caíssem na fase eliminatória.

A questão não é de modelo, mas de postura. No atual modelo, haveria debate sobre diferença de motivação e entrega de resultados mesmo se o Campeonato Brasileiro fosse disputado em fases eliminatórias desde o início da temporada.

Aqui cabe um parênteses do parênteses: não é um problema os clubes preservarem titulares ou escalarem formações mistas. Aliás, isso é extremamente comum em torneios de outras regiões – no futebol europeu, por exemplo.

Outra questão é o calendário. É difícil cobrar regularidade de jogadores que são submetidos a esforços superiores ao que eles podem entregar. A temporada do futebol no Brasil é extenuante e sequer considera aspectos como recuperação, desgaste físico e nível do jogo.

Com tudo isso em mente, é fundamental que o futebol brasileiro tenha um debate sobre postura. As conversas pontuais oferecem poucos efeitos práticos e são extremamente danosas para o espetáculo.

Nesse ponto, a questão técnica vira um problema de comunicação. O campeonato tem rodadas com lances bonitos e jogos decisivos, mas o assunto é sempre a postura de um time ou a falta de compromisso de outro.

O futebol brasileiro precisa urgentemente deixar de ser visto como um assunto individual. Enquanto os times brigarem apenas por suas aldeias, a guerra estará sempre perdida.

De vez em quando eu acho que exagero ao usar o mercado dos Estados Unidos como contraponto, mas é necessário nesse caso: as grandes ligas esportivas norte-americanas fomentam estratégias individuais de comunicação para o mercado interno, mas você raramente vê algo fora de lá qualquer ação que seja focada em apenas um time.

As ligas norte-americanas têm um senso coletivo de venda. Para o mercado externo, o que vale é o campeonato.

A liga profissional de basquete dos Estados Unidos (NBA) tem mais de 80 jogos na fase inicial. É um calendário arrastado, com uma série de rodadas que decidem pouco. Lá também há discussões sobre times que preferem perder para fecharem o ano com piores campanhas e terem vantagem na escolha de atletas da temporada seguinte.

A diferença é: nos Estados Unidos a discussão sobre motivação e entrega de jogos não prejudica o espetáculo. A visão que se tem do que acontece em quadra é absolutamente diferente do que existe aqui.

O futebol brasileiro tem vários problemas, mas no fim todos desembocam em uma discussão muito semelhante. Não há como tratar o esporte aqui como um produto e vender de forma adequada se o pensamento for individualizado.

A visão individualizada foi ratificada nos últimos anos pela distribuição de direitos de mídia, que é negociada separadamente, mas esse está longe de ser o ponto precursor do debate.

Na última semana, Coritiba, Fluminense e Vasco começaram a vasculhar súmulas do Campeonato Brasileiro a fim de encontrar pontos que pudessem gerar punições a outros times e mudar a briga contra o descenso. Os três pensaram em seus interesses e recorreram a ações lícitas. E o campeonato, como fica?

O futebol no país não vai evoluir como produto enquanto olhar apenas para o próprio umbigo. A CBF administra a seleção, os clubes cuidam de suas marcas e ninguém se preocupa com o que une essa cadeia. E aí eu não falo do Campeonato Brasileiro, mas de todos os pontos coletivos – competições, espaço na mídia, venda comercial e eventos, por exemplo.

O futebol brasileiro, assim como outros setores do país, tem um problema de postura. Isso não é uma exclusividade local, tampouco um fator que inviabiliza totalmente a sobrevivência do esporte. Mas é fato que o tratamento dado ao mercado somente potencializa o defeito.

Nesse sentido, o Bom Senso F.C. é uma demonstração do quanto os clubes brasileiros estão atrasados. Os jogadores se uniram para discutir soluções coletivas e que sejam pertinentes para todo o futebol. Quando os times tiveram qualquer articulação parecida?

Até o Clube dos 13, que foi fundado em 1987 com a incumbência de ser o embrião de uma liga esportiva, foi frustrante nesse aspecto. O grupo reuniu apenas a elite do futebol nacional e limitou a discussão a ponto de se transformar em um balcão de negociação com a TV.

Dirigentes que olham para o Bom Senso F.C. como uma manifestação pelo bem dos atletas apenas ratificam a limitação de visão do futebol brasileiro. Já passou da hora de todas as instituições envolvidas no esporte sentarem para pensar no bem coletivo. O futebol precisa disso.

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Pedro Rocha

Wembley. Estreia da Inglaterra na Copa de 1966. Pedro Rocha recebe um balão de costas para a meta de Banks. Dá um chapéu em Bobby Moore sem ver às costas dele um dos maiores zagueiros da história, e emenda de sem-pulo. Foi o único aplauso do estádio no chocho empate sem gols. Que ainda veria outro chapéu de El Verdugo em Jack Charlton.

Muito mais de bola não se viu naquela Copa. Mas em outras três, jogando bem ou mal o Uruguai, o que se viu de bom futebol se viu pela cabeça privilegiada para jogar, cabecear e falar. Foi visto pelo peito de raça e classe de quem vestiu camisas como se fossem a própria pele. Quem podia jogar e ganhar de times com Pelé. Ademir da Guia. Rivellino. Tostão. Gérson. Companheiro de São Paulo no no bi paulista de 70-71.

O Canhota foi mais um craque que foi ainda melhor por atuar ao lado de um dos grandes. Grandíssimos. Rocha que cortava e construía. Pedro pedreiro de grandes times como o Peñarol e o São Paulo. Pedro Rocha que sabia se posicionar em campo e fora dele.

Craque uruguaio que brilhou no Brasil. O que é para poucos. Craque que jogava com e pelo time. O que é pedra ainda mais bruta. Pedro Rocha que lutou bravamente contra longa doença que hoje nos deixou.

Partida que deixa o legado do bom futebol. De quem hoje se irritava com jogador que celebra gol tirando a camiseta. “Para quê? Para mostrar o peito musculoso?”

Era disso que ele também se queixava há alguns anos quando assistia a um futebol diferente do dele. Onde ele admitia ser difícil se encaixar. Embora todo o talento que tivesse o escalava em muitos dos melhores times de todos os campos e tempos.

Pedro Rocha fez do pavor de tomar gols dele e do time dele uma arte. Doía perder para o São Paulo com ele nos anos 70. Mas confortava saber que não era para um time qualquer. Muito menos para um camisa dez comum.

Viejo Verdugo, uma vítima mais uma vez se curva. Eternamente em sua homenagem


*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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Uma questão de bom senso

“Muito futebol mata o futebol.”

Essa é uma frase um tanto já repetida por aí. Vale dizer, tudo o que é feito em demasia acaba sobrecarregando os fundamentos em que se escora qualquer atividade humana.

Não à toa, o Bom Senso FC tem como principal ponto de discussão sadia a adequação do calendário às diferentes realidades pelas quais passa nosso futebol.

Com todas as ressalvas e proporções feitas à parte do que os atletas vivenciam, também reconheço que vinha sentindo o peso do calendário junto às minhas obrigações como colunista semanal.

Embora jamais tenha tido a pretensão de ser um virtuose das linhas e entrelinhas que aqui percorri ao longo dos últimos anos, ter inspiração, foco e disciplina, non-stop, mantendo a qualidade do “toque de bola” não me estava sendo mais tão simples.

Portanto, resolvi invocar um período breve de afastamento da Universidade do Futebol, por duas razões: pela intensidade de atribuições profissionais que me impedem acumular esta função na reta final de ano; pela necessidade de reflexão e redefinição estratégica da abordagem que pretendo adotar em meus textos a partir de janeiro de 2014.

Nos últimos tempos, tenho dedicado trabalho e estudos ao que poderia ser traduzido como responsabilidade social no futebol.

Seja atuando junto ao Programa Gols pela Vida, do Complexo Pequeno Príncipe; seja contribuindo, menos do que gostaria, com a própria UdoF nesta temática; seja junto ao MBA finalizado, recentemente, pela George Washington University, meu olhar está atento ao papel transformador e desenvolvimentista do futebol em nossa sociedade.

Assim sendo, pretendo, quando da retomada das colunas no ano que vem, aproveitar todo esse conjunto de experiências acumuladas, para aprofundar ainda mais as reflexões a respeito e compartilhar com nossos leitores, ao mesmo tempo em que sei que, seguramente, isso criará um canal de diálogo valioso com os que se interessam sobre responsabilidade social no futebol.

Acredito que o ano de 2014 e o contexto da Copa do Mundo no Brasil favorecerão o debate sobre nosso futebol num amplo sentido: aquilo que acontece dentro dele e aquilo que pode ocorrer a partir dele.

Bom Senso FC e sua pauta, manifestações sociais durante a Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, eleições majoritárias no país e na CBF, são catalisadores e ótimo meio de cultura para nos debruçarmos sobre.

A reassunção de fé no papel que o futebol ocupa na nossa sociedade e, principalmente, naquilo que ele ainda pode desempenhar num país como o Brasil – inclusivo e responsável – serve de conteúdo riquíssimo para, de certa forma, aportarmos pequena contribuição ao que o movimento vem defendendo, com o endosso, ressonância e prestígio da Universidade do Futebol:

Por um futebol melhor
para quem joga,
para quem torce,
para quem apita,
para quem transmite,
para quem patrocina.
Por um futebol melhor para todos.

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Os chutões, o português José Mourinho, a beleza de jogar futebol e a lógica do jogo

Na próxima semana, vou inaugurar nesse espaço a publicação de textos (pelo menos dois de cada quatro no mês) que tentarão responder a determinado tipo de questão temática enviada a mim pelos leitores, a partir do email da Universidade do Futebol (rodrigo@universidadedofutebol.com.br).

Então, qualquer questão que envolva o jogo de futebol e ideias que incorporem conceitos como “tática”, “fisiologia e/ou bioquímica do jogo”, “teoria do jogo”, “complexidade”, “organização sistêmica”, e temas relacionados, será muito bem-vinda.

Os emails deverão chegar até quarta-feira de cada semana, e após análise das questões, uma será escolhida para dissertação e debate.

Hoje, ainda sem a inauguração do mencionado acima, quero chamar a atenção para um ponto de vista que, estou certo, deve gerar alguma polêmica. Por isso, tentarei ter todo o cuidado possível – sem deixar de dizer aquilo que quero efetivamente dizer.

Faz poucos anos, em um memorável jogo de Uefa Champions League, a Internazionale de Milão vencia, na Itália, já na fase de “mata-mata”, o jogo de ida contra o FC Barcelona (que era na época a grande equipe europeia a ser batida).

O time italiano, dirigido por José Mourinho, conseguia naquele momento o que parecia impossível para a maior parte das equipes, jogadores e treinadores da competição – levar vantagem sobre o time catalão.

Na época escrevi dois textos a respeito do confronto; um sobre o jogo na Itália e um sobre o jogo na Espanha (na Espanha a Internazionale, com um jogador a menos em boa parte da partida acabou sendo derrotada, mas por um placar que eliminou o FC Barcelona).

Pois bem.

Muitas foram as críticas ao treinador português naquele momento. Da Espanha, Holanda e França, um grande número de matérias contestavam a maneira de jogar do time italiano para vencer o jogo.

Tudo porque a Inter abdicou da bola. Quando a tinha sob sua posse efetiva, tentava rapidamente com dois ou três passes chegar ao ataque. Quando isso não era possível, ela (a bola) era lançada nas “costas” da linha de defesa do time catalão, em uma tentativa de subir a marcação e recuperá-la nas proximidades da sua meta ofensiva.

Na maior parte do jogo, mais vezes a bola foi lançada ao espaço descrito, do que foram construídas sequências ofensivas rápidas e apoiadas para se chegar ao campo de ataque.

Aos olhares treinados para ver a beleza do jogo apoiado, com passes rápidos e muita mobilidade em todas as direções do campo, o jogo apresentado pelo time de Mourinho não possuía nada de belo.

Para a imprensa portuguesa em geral e para os torcedores da equipe italiana, ao contrário, foi um belíssimo e estratégico jogo. Muitas vezes. o resultado final de uma partida parece dizer muito pouco a respeito daquilo que foi (e é) o jogo. Mas só parece!!!

Como já mencionei outrora, o futebol é mais um jogo de como aproveitar chances do que um jogo de como criar oportunidades. Há beleza nisso… Mas tudo depende de como olhamos para essa “beleza”.

E, além de beleza, há muito, mas muito conteúdo de jogo nisso!!!
Isso é um fato tão concreto como o de que a maior parte das análises de jogo, por exemplo, quando percebem a posse de bola, a percebem apenas quando ela é efetiva (e por que não quando ela é a “posse a distância”, ou a “posse sem bola”?)…

Outro fato concreto, também como exemplo, é a percepção de que as bolas lançadas (ou por que não, chutadas) à frente são uma “aberração” do jogo…

Não estou defendendo uma concepção “A” ou “B” de se jogar (e nem tão pouco os “chutões”)… Não, não é isso!!!

Estou querendo, mais uma vez (a terceira nesse ano!) chamar a atenção para o fato de que sob o ponto de vista da lógica do jogo, a beleza, os conteúdos, e a inteligência para jogar não estão subordinados as estratégias de jogo, modelos de jogo, ou ao que intimamente ou culturalmente achamos bonito – estão subordinados sim, ao JOGO propriamente dito, no cerne, na sua essência!

O ambiente, a cultura, os modelos (e outras coisas mais) são caminhos (alguns dos inúmeros) para chegar ao jogo – eles não têm fim neles mesmos e, portanto, não é para nenhum deles que devemos perguntar o que é o JOGO.

Devemos perguntar sobre o jogo ao próprio JOGO!

E ainda que isso pareça abstrato ou filosófico demais, convido a todos que estão lendo esse texto a refletirem sobre o assunto…

Por hoje é isso!!!

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A vertente física do jogo de futebol no treinamento com Jogos – parte III

Dando continuidade ao tema da vertente física do futebol sob a ótica da Periodização de Jogo, esta semana serão discutidas algumas possibilidades de treinamento com tempos superiores a 30 segundos e com até 5 minutos de duração por série.

Conforme pode ser visto nas colunas iniciais que abordaram o tema (parte I e parte II), para esta faixa de tempo os jogos assumem, se corretamente aplicados, um caráter glicolítico.

Em linhas gerais, todas as atividades que podem ser trabalhadas por até 30 segundos de duração por série e que foram apresentadas no texto anterior (finalização, reposições, cruzamentos, penetrações, ultrapassagem, mobilidade, 1×1, desarme, pressão, recuperação imediata) também podem ser realizadas para esta faixa de tempo.

Exceção feita ao jogo de bolas paradas que, pela sucessão repetitiva de pausas e cobranças (de faltas, escanteios e laterais), inviabiliza o caráter glicolítico da atividade. Se após as cobranças o treinador optar por estender as transições para se aproximar do estímulo glicolítico, pode diminuir a densidade das ações de bola parada e, consequentemente, fugir do objetivo inicial.

Para esta faixa de tempo, outras ações táticas intensas podem ser estimuladas, como: ataque rápido, zona pressionante, bloco alto, flutuação, compactação. Em termos ofensivos, orientam-se atividades relacionadas à progressão ao alvo adversário e à finalização; já em termos defensivos, orienta-se atividades relacionadas à recuperação da posse de bola.

Em espaços menores, de até ¼ das dimensões oficiais, as atividades devem envolver pequenos e médios grupos com, no máximo, 6 x 6 jogadores. Neste formato, encontram-se atividades com um nível de complexidade inferior ao jogo formal. Estas dimensões, além de permitirem a abordagem ideal de diversos conteúdos nas categorias de formação, são também uma boa alternativa para um grupo de jogadores que não está participando da parte principal do treino, ou então, um pequeno grupo de atletas que não foi convocado para uma determinada partida e precisa treinar em especificidade.

Nos espaços maiores e também com mais elementos, de 7×7 a 11×11, os jogos criados devem adquirir maior semelhança com o futebol. Sendo assim, eleva-se o grau de complexidade e diminui-se a quantidade de ações técnicas para cada jogador.

Para garantir o estímulo predominante do metabolismo pretendido é indispensável a utilização de regras que acelerem o jogo, por exemplo: restrição do número de toques, limitação de toques para trás, retirada dos arremessos laterais, tempo para recuperar a posse, tempo para finalizar, tempo para chegar ao campo de ataque. Logicamente, as regras devem ser estabelecidas em função do que precisa ser trabalhado (já vi casos em que primeiro se definem as regras para depois o objetivo do treino).

O tempo de pausa utilizado é de, aproximadamente, 50% do tempo de estímulo. Então, para um esforço de 4 minutos, com muitas acelerações, mudanças de direção, alguns saltos, alguns sprints, algumas ações técnicas, recupera-se por cerca de 2 minutos. O tempo de pausa, inclusive, é o momento ideal para os ajustes e intervenções para manter a qualidade do treino e direcioná-lo para o cumprimento do seu objetivo. Como pretende-se uma velocidade de jogo aumentada, intervenções diretas durante o tempo de estímulo podem limitar a intensidade do exercício.

Após a publicação da próxima coluna sobre o tema, referente às atividades com mais de 5 minutos de duração, será apresentado uma proposta de microciclo de uma Periodização de Jogo, aplicada na equipe que trabalho atualmente.

Enquanto isso, como de costume, aguardo críticas, opiniões e sugestões para enriquecermos as discussões.

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Júlio Baptista e a polêmica da leitura labial: aspectos jurídicos

Durante toda a semana, o principal assunto não foi os resultados dentro das quatro linhas, mas as palavras do atleta Júlio Baptista flagradas pela transmissão de TV na partida entre Vasco e Cruzeiro, dizendo para o zagueiro vascaíno Cris “faz logo outro gol”, quando o jogo estava 2 a 0 para o Vasco.

A polêmica difundida foi de de que o Cruzeiro poderia ter “facilitado” a vitória do Vasco, que luta para não ser rebaixado à Série B.

Doutro giro, Júlio Baptista e Cris asseguraram que a discussão girou em torno de um pedido do zagueiro para o Cruzeiro parar de pressionar. Como resposta, o armador do clube mineiro teria dito para o Vasco fazer o terceiro gol, se quisesse tranquilidade na partida.

Sem entrar no mérito, aproveita-se o ensejo para indicar repercussões jurídicas de eventual facilitação de resultado.

Há duas repercussões possíveis. Uma na esfera desportiva e outra na esfera criminal, nos termos do Estatuto do Torcedor.

Na esfera desportiva seria configurada infração aos artigos 243 e 243-A do CBJD:

Art. 243. Atuar, deliberadamente, de modo prejudicial à equipe que defende.

PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000, 00 (cem mil reais), e suspensão de cento e oitenta a trezentos e sessenta dias. (NR).
§ 1º Se a infração for cometida mediante pagamento ou promessa de qualquer vantagem, a pena será de suspensão de trezentos e sessenta a setecentos e vinte dias e eliminação no caso de reincidência, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).(NR).
§ 2º O autor da promessa ou da vantagem será punido com pena de eliminação, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.00 0,00 (cem mil reais). (NR).

Art. 243-A. Atuar, de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida, prova ou equivalente. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009).

PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e suspensão de seis a doze partidas, provas ou equivalentes, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, ou pelo prazo de cento e oitenta a trezentos e sessenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código; no caso de reincidência, a pena será de eliminação. (Incluído pela Resolução
CNE nº 29 de 2009).

Parágrafo único. Se do procedimento atingir-se o resultado pretendido, o órgão judicante poderá anular a partida, prova ou equivalente, e as penas serão de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e suspensão de doze a vinte e quatro partidas, provas ou equivalentes, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, ou pelo prazo de trezentos e sessenta a setecentos e vinte dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código; no caso de reincidência, a pena será de eliminação. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009)

Portanto, o atleta estaria sujeito à multa, suspensão e até mesmo eliminação.

Já no âmbito criminal, o Estatuto do Torcedor assim dispõe:

Art. 41-C. Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

Art. 41-D. Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

Art. 41-E. Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de qualquer forma, o resultado de competição esportiva: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

Ou seja, o além das penas desportivas, o atleta estaria sujeito à penas de reclusão.

Conforme bem salientou o procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, é improvável que tenha havido alguma manipulação ou facilitação.

Outrossim, é imprescindível alertar todos os protagonistas dos eventos esportivos que, quaisquer atos não desportivos que busquem influenciar nos resultados das competições, além de poderem eliminá-los, podem levá-los à cadeia, eis que constituem crime.

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A estrela solitária chegou ao céu como Santos

O futebol emburreceu um pouco mais na quarta-feira.

A eterna Enciclopédia eternizada em General Severiano e Maracanã agora é estrela entre Santos.

Nilton.

Lateral-esquerdo que era atacante. Quarto-zagueiro que jogou pelos outro três.

Campeão do mundo em 1958.

Bi mundial em 1962

Eterno botafoguense que virou estátua e estádio.

Eterno alvinegro que não era Botafogo. Mas virou o jogo, o coração e a estrela desde a estreia.

Que poderia ter sido nas Laranjeiras. Quando o moço já velho para o futebol da Ilha do Governador se sentiu ilhado e isolado na suntuosa sede do Fluminense. Quando viu ídolos que tiraram a fala e a coragem dele de atuar ao lado.

Quando ele voltou de chuteiras embrulhadas nas mãos para casa.

De onde só saiu para fazer história e dar aula no Botafogo. Iluminado letrado que foi o primeiro João do compadre Mané.

Quiseram os deuses da bola que o maior ponta-direita não jogasse jamais contra o maior lateral-esquerdo.

Certíssimas coisas aconteceram com o Botafogo.

Coisa de Santos.

Lei de Nilton.

O homem que não precisou jamais beijar o escudo para ser Botafogo.

O craque que não sujava uniforme.

O moço que chamava a bola e ela entendia.

Velho que nos deixa as memórias que ele perdeu nos últimos anos e que nós ainda assim não vamos entender.

Mais de Nilton você lê na obra do amigo dele Maneco Muller. Que agora está puxando a cadeira ao lado de Sandro Moreyra, João Saldanha e Armando Nogueira para saudar a chegada da sabedoria entre os Santos.

No ano em que perdemos Djalma e Nilton. Todos os Santos.

No ano em que o futebol brasileiro perdeu os laterais que iam a fundo e ao fundo.

No ano em que devemos celebrar sempre a honra e o privilégio de torcer por todos os Santos.


*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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Que tipo de líder eu sou?

 Os atuais e futuros líderes no ambiente esportivo, seja na área de gestão do negócio ou na área técnica precisam começar a responder a pergunta título da coluna desta semana:

• Que líder eu sou?
• Qual o meu tipo de liderança e como eu posso aumentar minha capacidade de transformar o negócio sob minha responsabilidade?

Ok, você deve estar pensando, mas primeiro como descobrir meu perfil de liderança e a partir daí poder me desenvolver para me tornar este líder que o esporte necessita?

Vou aqui sugerir uma abordagem na utilização do Eneagrama, já comentado em colunas anteriores, para responder tal questionamento. O Eneagrama é originário da Ásia e do Oriente Médio e este termo é uma combinação das palavras de origem grega ennea (“nove”) e gram (“algo que é escrito ou desenhado”) e refere-se ao sistema de nove pontos ou números que se encontra no seu símbolo gráfico conforme figura abaixo.

Apenas para conhecimento, os 9 tipos do Eneagrama são:

• Tipo 1 – Perfeccionista
• Tipo 2 – Prestativo
• Tipo 3 – Realizador
• Tipo 4 – Romântico
• Tipo 5 – Observador
• Tipo 6 – Questionador
• Tipo 7 – Entusiasta
• Tipo 8 – Desafiador
• Tipo 9 – Pacifista

Mas, quanto a questão da liderança como o Eneagrama pode nos ajudar? Aqui está a resposta para a questão inicial da coluna de hoje, pois o Eneagrama fornece condições para que possamos conhecer o paradigma de liderança e características relacionadas a cada tipo de personalidade e com isso todos podem ter clarificados seus pontos fortes e os aspectos necessários de desenvolvimento no caminho rumo à excelência como líder.

A partir deste conhecimento sobre seu tipo de personalidade e suas características de liderança é possível desenvolver seu foco na obtenção de resultados, desenvolver o autodomínio, elevar sua capacidade de comunicação, elevar sua capacidade de liderar equipes altamente produtivas e assumir o comando das mudanças.

Adicionalmente ao tema abordado quero compartilhar contigo algumas questões, elaboradas por uma grande coach e desenvolvedora do ser humano chamada Flávia Lippi, que lhe ajudarão a refletir se você atua com um líder transformador atualmente:

1. Qual legado que você vai deixar para sua equipe? Como isso será feito e como será medido?

2. O que você pode fazer para que sua equipe dependa cada vez menos de sua presença para obter resultados consistentes?

3. Você se considera um criador do futuro?

Então, responda as questões acima e pense sobre como sua liderança tem a capacidade de transformar o negócio do futebol. As ferramentas para o seu desenvolvimento como líder estão disponíveis, basta uma nova atitude em busca de evolução.

Até a próxima.

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Leitura labial

O jogo valia pouco para o Cruzeiro, que já tinha assegurado com antecedência o título do Campeonato Brasileiro de 2013. Valia muito para o Vasco, cada vez mais ameaçado de rebaixamento.
 
Entre perspectivas dicotômicas, uma cena chamou atenção: no segundo tempo, durante uma conversa entre o meia cruzeirense Júlio Baptista e o zagueiro vascaíno Cris, as câmeras de TV flagraram o representante da equipe mineira dizer: “Faz logo o terceiro gol!”.
 
O que existe de história é isso. É óbvio que uma cena assim dá margem a uma série de interpretações, mas são apenas ilações. A imagem da TV é insuficiente para discernir o contexto ou construir absoluta certeza sobre o que aconteceu ali.
 
Ainda assim, a cena entre Baptista e Cris foi dissecada. Houve discussões sobre o Cruzeiro ter “entregado” o jogo para o Vasco, sobretudo porque o goleiro Fábio e o zagueiro Dedé, torcedores da equipe carioca, terem pedido para não atuar. Pesou também a evidente – e natural, aliás – diferença de motivação entre as equipes.
 
No domingo, outra cena do Campeonato Brasileiro chamou atenção. Durante o segundo tempo do jogo entre Flamengo e Corinthians, o zagueiro flamenguista Wallace e o atacante corintiano Emerson conversaram. Enquanto falava, o defensor cobriu a boca com as mãos para impedir que as câmeras identificassem o teor da conversa.
 
A estratégia de Wallace não é nova, mas é curioso que ela tenha acontecido imediatamente após a polêmica do jogo entre Cruzeiro e Vasco. Trata-se a consequência (a polêmica gerada pelas gravações), mas preserva-se a causa (a conversa entre os atletas no meio do campo).
 
Nesse caso, porém, o problema não é um desvio de conduta de cruzeirenses ou vascaínos. O que motivou toda a celeuma do fim de semana foi uma interpretação fundamentada em argumentos débeis, desprovida de uma noção exata do contexto.
 
O desafio de qualquer profissional que trabalha com comunicação é transmitir mensagens. A conversa entre Júlio Baptista e Cris é um exemplo de que até conteúdos aparentemente simples, se forem deslocados do contexto, podem gerar reações totalmente diferentes.
 
Esse caso escancara um dos problemas do modelo de venda de direitos de mídia no esporte brasileiro. Enquanto a geração do conteúdo for responsabilidade dos parceiros de transmissão, a preocupação maior será sempre a informação.
 
Em grandes campeonatos – a Copa do Mundo e a Liga dos Campeões da Uefa, por exemplo – as imagens de torcedores que entram no campo não são mostradas. As entidades que organizam esses certames entendem que a veiculação disso apenas daria notoriedade aos invasores, que buscam exatamente isso quando ultrapassam o limite das arquibancadas.
 
O Campeonato Brasileiro não tem margem para impor essa determinação. Quem gera o conteúdo e distribui para as emissoras é a própria Globo, e a Globo, como empresa de mídia, tem a informação como preocupação anterior à competição.
 
A polêmica criada sobre o diálogo entre Júlio Baptista e Cris é pobre, rasa e clubista. É um debate baseado em uma imagem deslocada, sem contexto, sem informações claras. Ainda assim, essa discussão absurda roubou exposição que poderia ter sido dada ao que aconteceu em campo no Brasileirão. Para isso, bastava a CBF controlar as imagens geradas da competição.
 
Ter nas mãos o que é veiculado é um caminho extremamente pertinente para os donos de eventos esportivos. Esse controle também possibilita, por exemplo, uma padronização na exposição de parceiros e patrocinadores. As TVs podem cortar marcas que estão em backdrops de entrevistas porque são elas que gravam e transmitem. Não há uma padronização do vídeo.
 
Outro caminho possível nesse caso é um acordo com a mídia. Acordo, contudo, pressupõe que as duas partes abram mão de algo. O cenário ideal para o dono do evento é tomar frente na discussão. Há vários caminhos para isso.
 
Parceiros de mídia devem ter privilégios na cobertura. Eles pagam por isso. Deixar nas mãos deles a geração do conteúdo, porém, é ser suscetível a coisas que podem denegrir a imagem de um evento. O dono da competição precisa ter isso sempre em mente.
 
A geração do conteúdo também tem uma clara influência na questão técnica. Ver jogos pelo canal Premiere FC é suficiente para saber que não existe uma padronização de qualidade nas exibições do Campeonato Brasileiro. O que é mostrado muitas vezes não condiz com o status da principal competição do esporte mais popular do país.
 
A transmissão é uma operação cara. Se o dono do evento não assumir isso ou não estipular parâmetros em contrato, é natural que o parceiro adote medidas para reduzir as despesas. Qualquer parceiro. Em qualquer evento.
 
A Globo tem uma visão de negócios. O futebol é transmitido às 22h das quartas-feiras porque dá menos audiência do que a novela, que ocupa a faixa anterior na programação, e perde para atrações do mesmo horário em outros dias.
 
A visão de negócios também é uma das justificativas para o atual calendário do futebol brasileiro. A Globo gosta do formato vigente porque ele permite que a emissora tenha um número maior de jogos do Corinthians, time que registra índices mais altos de audiência na Grande São Paulo, região de referência para o mercado publicitário.
 
Um dos itens mais recorrentes nas propostas do Bom Senso F.C., grupo formado por jogadores de futebol para discutir o futuro da modalidade, é o desmembramento de rodadas. Os atletas defendem que o número de jogos no ano seja reduzido, mas que isso não altere o volume de partidas na TV.
 
Para aceitar isso, a Globo teria de abrir mão de exibir um contingente tão grande de jogos do Corinthians. Teria de mostrar jogos de times cujos resultados nos últimos anos estiveram distantes da audiência que a emissora almeja com o futebol.
 
Como negociante, a Globo está no papel dela ao brigar pelo que é melhor para a empresa. O melhor cenário para ela é encaixar o futebol nos locais ideais da grade e limitar as exibições ao que dá mais audiência.
 
Aí é que precisa entrar o detentor dos direitos. Essa é mais uma das consequências nefastas do atual modelo de negociação de mídi
a no Brasil, que é totalmente individual. A margem dos clubes para conversar com a TV é muito diferente do que eles teriam se pensassem de forma coletiva.
 
Recentemente, em evento realizado em São Paulo, Luis Paulo Rosenberg, vice-presidente licenciado do Corinthians, deu uma demonstração de como isso funciona. Questionado sobre a divisão desigual das receitas de mídia no futebol brasileiro, o dirigente contestou essa ideia.
 
“Se vocês considerarem a quantidade de jogos do Corinthians que a TV exibe, o atual cenário é até uma concessão que nós fazemos. O clube podia faturar muito mais se nós exigíssemos um valor proporcional ao que ocupamos na grade anual”, teorizou.
 
A lógica de Rosenberg é clubista a ponto de ser distorcida. O problema não é apenas a divisão do dinheiro, mas exatamente o quanto o Corinthians domina a grade. Isso só é bom para o clube e para a TV, mas tem efeito prejudicial para o futebol como um todo.
 
A leitura labial, a geração das imagens e a distribuição das grades de TV são assuntos que necessariamente devem pautar discussões dos donos de um evento. Em outros países, isso é padronizado em reuniões das ligas que organizam as competições.
 
Mas quem é o dono do Campeonato Brasileiro, mesmo?