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Quem treina o treinador de futebol no Brasil?

Salve, salve amantes do futebol! O que é possível responder para alguém que deseja tornar-se treinador de futebol no Brasil, e quer saber por onde começar? Que deveria cursar Educação Física? Que deveria ter sido atleta de futebol? Que deve realizar os cursos da CBF Academy ou ABTF? Ou realizar os diferentes cursos de sindicatos de treinadores regionais ofertados no país? Qual trajetória sugerir?

Os cursos de bacharelado no Brasil possuem caráter generalista, com menos de 1/5 de carga horária voltada a treinadores esportivos. A experiência como atleta de futebol contribui para um conhecimento contextual da modalidade, mas não prepara o profissional para exercer a função de treinador, já que são exigidas diferentes competências. Já os cursos não-formais, de curta duração, podem agregar valor e até licenciar para atuar, mas também não asseguram uma formação profissional completa. Desse modo, não existe uma “escola de treinadores brasileiros” formalizada e esses, para se tornarem treinadores, precisam construir o seu próprio caminho,  o que acaba sendo prejudicial a sua formação

Alguns estudos apontam que a fase inicial de alguém que deseja se tornar treinador deve ser MEDIADA/FORMAL. Isto é, um mestre/professor deve mediar o conhecimento do aprendiz que ainda é inexperiente e necessita de competências básicas. Entretanto, os mesmos estudos evidenciam que quanto mais experiente é o treinador, melhor é a sua aprendizagem NÃO MEDIADA. É o momento para aprender “por conta própria”.

Portanto, quem deseja se tornar um treinador deve: a) praticar ser treinador, afinal a prática é o que mais evolui o profissional; b) no início da carreira, buscar uma aprendizagem formal/mediada simultânea à prática; c) procurar licenciar-se para estar apto pela lei; d) realizar uma formação continuada, seja mediado por um professor, seja uma aprendizagem não mediada (autodidata). Afinal, nunca paramos de aprender.

Quer saber mais dicas? Encontre-me na coluna da semana que vem. Grande abraço e até lá!

Gabriel Bussinger é treinador e instrutor da CBF academy. Mestre em Educação Física pela UFSC, com 3 pós graduações na área. Já atuou em categorias de base e profissional, no Brasil e Dinamarca. Possui as licenças C e B da CBF e é parceiro de conteúdo da Universidade do Futebol.

Acompanhe as redes sociais do Gabriel Bussinger: YouTube ; Linked In; Telegram; Podcast – Diário do treinador; Instagram

Referências 

Michel Milistetd, Vitor Ciampolini, William Das Neves Salles, Valmor Ramos, Larissa Rafaela Galatti & Juarez Vieira do Nascimento (2016) Coaches’ development in Brazil: structure of sports organizational programmes, Sports Coaching Review, 5:2, 138-152, DOI: 10.1080/21640629.2016.1201356

Trudel, P., Culver, D., & Werthner, P. (2013). Looking at coach development from the
coachlearner‟s perspective: Consideration for coach development administrators. In P. Potrac,
W. Gilbert, & J. Denison (Eds.), Routledge Handbook of Sports Coaching (pp. 375–387).
London: Routledge.

CÔTÉ, J.; GILBERT, W. An Integrative Definition of Coaching Effectiveness and Expertise. International Journal of Sports Science and Coaching. v. 4, n. 3, p. 307-323, 2009.

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Carta a um jovem atleta

Prezado atleta,

São grandes as chances de não nos conhecermos pessoalmente. Na verdade, talvez você nem saiba da minha existência, como eu posso não saber da sua. Mas de um ponto de vista prático, isso não faz muita diferença. O bom leitor sabe que um pingo é letra. O fato de não sabermos um do outro com detalhes não impede que saibamos um do outro. Lembre-se disso no futuro.

Você ainda é muito jovem, embora não tenha a exata noção do que significa a juventude. Na verdade, a própria noção da juventude só vem com o tempo. E tempo é aquilo que, hoje, você tem e não tem: por um lado, você não tem tempo porque de fato ainda viveu muito pouco, juntou poucos anos no quebra-cabeças da vida e ainda está grávido ou grávida da vida adulta – e talvez nem saiba disso. Por outro lado, ainda te resta demasiado tempo de vida: a vida que ainda não veio é muito grande e comprida, de modo que, sim, você tem muito tempo. Isso é motivo de alegria! Mas também deve ser motivo de cuidado.

Talvez você já tenha ouvido, aqui e ali, alguém dizendo que o atleta morre duas vezes. O atleta morre quando deixa de ser atleta e morre quando deixa de viver. Às vezes, uma coisa é igual a outra. Mas às vezes não, e quero que você repare nas diferenças entre os dois casos: a morte do atleta, salvo uma lesão grave ou algum outro problema extraordinário, geralmente é uma escolha: um acordo com o próprio corpo ou com a própria vida em que os dois, enviando sinais recíprocos, decidem que aquele tempo, o tempo de atleta, acabou (esse tempo, aliás, geralmente acaba rápido). No caso da morte de uma pessoa, infelizmente não se trata de uma escolha: da mesma forma como não se escolhe nascer, também não se pode escolher o contrário. É justamente por isso, pela sua responsabilidade enquanto atleta, que você não pode ser cúmplice do arrependimento: enquanto atleta, faça tudo o que puder. O depois é uma ilusão, o antes também. O tempo que te existe é o tempo do agora.

Pode ser que você se ache muito bom – talvez até muito melhor do que os outros. Ou pode ser que não, que você não se ache tão bom assim – talvez pense ser muito pior do que todos os outros. Nos dois casos, você provavelmente está errado. Se não se acha tão bom assim, você certamente não se conhece o suficiente: veja bem, não existe outro exemplar seu no mundo. Por isso, não te cabe ser igual aos outros – é preciso ser quem você é. Aquilo que te falta geralmente serve para esconder as coisas que te sobram: se te falta o drible, talvez te sobre o passe. Se te falta o passe, talvez te sobre potência. Se te falta potência, talvez você seja um líder. E se não for um líder, você pode se preparar para sê-lo. O que você não pode é acreditar no mundo quando ele disser que você não é nada: o mundo é especialista nisso, ele fará o possível para te afastar de quem você realmente é, mas cabe a você escolher entre acreditar consistentemente nele ou não. Por outro lado, se você estiver no primeiro grupo, dos que se acham bons demais, saiba que você está em desvantagem: comparado aos outros, o seu tombo pode ser muito maior. Para saber se você é realmente especial, trabalhe muito. Ninguém se torna especial de véspera.

Da mesma forma, não se esqueça dos porquês que te fazem ser atleta e seja honesto consigo mesmo. Você quer ser atleta ou quer apenas os holofotes? Você quer ser atleta ou quer apenas enriquecer (não se esqueça, aliás, que é possível ter muito dinheiro e não ser rico)? Você está disposto a eventualmente ganhar pouco, não ganhar nada? Ser rejeitado uma, duas, três, dez vezes? Trabalhar eventualmente nas piores condições possíveis? Você se importaria em passar toda uma carreira como anônimo, finanças moderadas, motivado especialmente pelo coração? Se não, veja bem, não se sinta mal: apenas lembre-se de que, infelizmente, há poucos ingressos para as melhores festas – e sim, muita gente boa não costuma frequentá-las. O peso que a vida faz sobre a gente é maior do que o peso que a gente faz sobre a vida. E o bom marinheiro, você sabe, não reclama do mar – ele apenas navega. O esforço não é dispensável, mas mesmo o maior dos esforços pode ser insuficiente. E isso não deve ser motivo de lamento, mas de orgulho.
Aliás, muita gente dirá que tudo só depende de você. Não é verdade.

Depende uma parte de você e outra parte do mundo. Não é por acaso que existem companheiros, existem adversários, existe uma equipe de arbitragem, existem os outros profissionais de um clube, existe a imprensa, existe a sua família e existem os seus amigos, existem pessoas que gostam de você e torcerão incansavelmente pelo seu trabalho, assim como existem pessoas que não gostam de você e, saiba disso, não torcerão nem um pouco pelo seu trabalho. Você percebe que, exceção feita a você mesmo, não te cabe controlar nada do resto? Não brinque de fantoches com a vida e não tente ser mais, nem menos: de novo, seja exatamente quem é. Assim, te será possível separar o que deve e o que não deve ser feito, o que merece e o que não merece a sua atenção (e quem a merece ou não), saberá jogar o jogo de abrir mão.

Isso fará toda a diferença na sua vida enquanto atleta. Não se trata de ser mais, mas de ser melhor. O excesso (inclusive de ambição) é perda.
E talvez agora, depois dessas linhas, você perceba que não, de fato nós não nos conhecemos, mas que sim, nós sabemos algumas coisas. O fato de não sabermos um do outro com detalhes não impede que saibamos um do outro.

Lembre-se bem disso no futuro.

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Pioneiro: Bahia adere ao programa “Jogue Limpo, Jogue Bem” do UNICEF e Universidade do Futebol

O presidente do Bahia, Marcelo Sant’Ana, participou na manhã desta sexta, 28, na Arena Fonte Nova, de um evento no qual oficializou a adesão do Bahia no programa “Jogue Limpo, Jogue Bem”, que pertence ao UNICEF/Universidade do Futebol. O clube é o primeiro a fazer parte da ação.

“Mais uma iniciativa do nosso clube referente à responsabilidade social. Demos o primeiro passo em outubro de 2015 com as Obras Sociais Irmã Dulce, que tem nos dado muitas alegrias de retribuir o carinho dos baianos. Com o programa “Jogue Limpo, Jogue Bem”, daremos uma atenção aos nossos garotos da divisão de base, melhorar a formação enquanto cidadão. É a minoria desses jogadores que vão chegar na equipe profissional”, disse o presidente.

De acordo com o presidente, o objetivo do programa ultrapassa o limite do campo, indo para o lado humano e social. “É ter esse trabalho para nos desenvolver como clube e instituição. Não adianta apenas se preocupar com o time profissional, que são os onze que entram em campo. Temos que nos preocupar com o clube e o clube envolve todos os jogadores que a gente sabe que na formação não vão chegar. No elenco profissional do Bahia, hoje temos Jean, Rodrigo, Eder, Feijão, Juninho, Douglas e Júnior Brumado. Nenhum desses chegou ao Bahia com 14 anos, talvez Feijão. Esses são os que chegaram ao profissional. E, os outros? Como preparamos para uma vida fora do futebol? É essa preocupação que a gente tem”, comentou.

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Fonte: www.bahianoar.com

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Não resistiu e o técnico caiu, e agora?

Comentei na coluna passada sobre alguns pontos importantes que podem contribuir para um clube de futebol superar uma crise de temporada. Mas, como sabemos, muitas vezes esses pontos importantes de atuação não são suficientes para uma melhor orquestra do futebol e a direção dos clubes acabam por demitirem seus técnicos.

Bom, infelizmente isso não é nenhuma novidade, certo? Nem a dificuldade de reposição do técnico tão pouco também é novidade. Mas tem surgido com frequência uma tendência em promover os técnicos, enquanto auxiliares, para assumirem o posto de técnico efetivo do clube.

Às vezes essa alternativa dá certo e outras vezes não, porque será?

Particularmente, penso que existem características que podem nos ajudar a compreender os possíveis motivos pelos quais essas apostas se traduzem em ações bem ou mal sucedidas.

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Uma das situações em que podemos perceber aspectos positivos nessa efetivação, acontece quando são aproveitados técnicos que dirigiam as equipes sub-20 dos clubes. Isso pode estar relacionado com toda a preparação profissional e emocional que este técnico vivencia enquanto respondia por essa posição no clube. Associado a isso, geralmente os clubes têm procurado promover uma maior integração entre a base e o profissional, compartilhando conceitos técnicos e táticos que favorecem o aproveitamento tanto dos atletas quanto dos técnicos na categoria profissional.

Parece até uma grande coincidência, não é mesmo? Mas, ao observarmos os casos em que esta aposta acaba sendo mais promissora do que a tradicional circulação dos técnicos de mercado, estes correspondem justamente ao contexto comentado acima, onde seus técnicos já trabalhavam no clube, desde o sub-20 até a posição de auxiliar.

Um fator positivo nessa alternativa, ainda mais dependendo do momento do campeonato e do número de rodadas que faltam para acabar a competição, é o fato do “novo” técnico já conhecer a cultura do clube, enquanto organização esportiva. Ele provavelmente já conhece não só a estrutura do clube, como também parte dos atletas que compõem o elenco profissional. Parece uma constatação simples, mas no fundo não é bem assim. Desconhecer a cultura de uma organização esportiva, pode custar caro e a baixa capacidade emocional para enfrentar um período de adaptação em meio a cobranças, pode pesar negativamente para um técnico que vem de outra realidade.

Então, para os clubes que não conseguem tempo para empreender na jornada, muitas vezes inconstante da busca por resultados sustentáveis dentro e fora de campo, vale a pena avaliar bem a sua ação em momentos de troca de comando em campo.

Essa reflexão pode render bons resultados em campo e no caixa do clube, caso ele avalie que possui um cenário favorável para efetivar sua aposta, que provavelmente tem experiência de bons resultados em sua jornada profissional na base do clube.

E você o que acha amigo leitor? Se fosse um gestor, contrataria um técnico de mercado ou apostaria no resultado de base e na aderência de cultura que já possui dentro do clube?

Até a próxima!

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Presidente da Universidade do Futebol diz que ‘cadeia produtiva’ precisa entender complexidade da modalidade

João Paulo Medina, presidente da Universidade do Futebol, esteve no programa Bate Bola Bom Dia da ESPN, na última quarta feira, 13 de Julho, para falar sobre a classificação geral do Ranking dos Treinadores, junto com o coordenador de pesquisas, Iago Cambre.

A seguir você confere as duas reportagens com o Prof. abordando temas como a liderança dos treinadores frente suas equipes, e como é importante que a ‘cadeia produtiva’ entenda a complexidade do futebol.

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Qual a velocidade da mudança?

É inegável que o 7 a 1 é um marco importantíssimo no processo de transformação do futebol brasileiro. Não são poucas as análises que discorrem sobre o assunto e o necessário início de ciclos de mudanças para voltar a colocar o país em uma posição de destaque global para além dos jogadores de futebol.
Mas qual é efetivamente a velocidade de uma mudança plena? Quanto tempo leva para colhermos os frutos de um trabalho se ele for iniciado de uma maneira positiva e consistente?
Dependendo do tempo de letargia e da dificuldade de implementar a inovação ante concorrentes mais fortes e melhor preparados, pode ser que a eternidade seja a resposta (não são poucos os exemplos na indústria de casos em que um grande líder foi simplesmente aniquilado por novos entrantes que apresentaram inovações… quando se tentou recuperar o terreno perdido já era tarde!). Mas não vamos aqui pensar no pior.
Acredito que é possível, sim, recuperar o tempo perdido se o trabalho for bem feito em virtude do tamanho do país e da sua representatividade global em relação ao futebol. Mas o processo de mudança deve ser coordenado e orquestrado coletivamente!
Começam a aparecer histórias positivas de mudanças no Brasil justamente impulsionadas por pressões externas ou por uma conscientização sobre a sua necessidade desde o fatídico jogo da semifinal da Copa de 2014. Mas ainda estão demasiadamente isoladas!
A velocidade da mudança – e, para processos análogos ao caso brasileiro, o curto prazo é algo como 8 a 10 anos – depende, sim, de uma mudança coletiva. Para que possamos contar boas histórias a partir de 2023, a transformação construída em 2014/15 ainda é muito tímida e permanece concentrada em poucos exemplos, que não sobreviverão se o todo não fizer a sua parte. Precisamos construir agora o nosso futuro!

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O Campeonato Brasileiro e a não-promoção

Não existe espetáculo sem promoção. Por mais que o público seja fiel ou que o conteúdo seja popular, o sucesso de um evento está necessariamente ligado à capacidade que a organização tem de criar mobilização em torno disso. No esporte ou em outras searas, o mundo está cheio de exemplos que ilustram esse raciocínio. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), contudo, parece ignorar todos.
O Campeonato Brasileiro de 2015 é um exemplo perfeitamente conduzido de promoção deficiente. Não houve, desde o início do ano, qualquer esforço para que o público se aproximasse da competição. Ainda que a média de pessoas presentes nos estádios tenha crescido e que a taxa de ocupação seja uma das mais altas da história do torneio, e organização não tem mérito nisso. A rodada do último fim de semana é apenas o ápice dessa cultura deficiente.
O líder Corinthians chegou à 34ª rodada em condições de garantir o título do Brasileiro. Para isso, a equipe paulista precisava vencer o Coritiba às 19h30 de sábado (07), em São Paulo, e torcer para o Atlético-MG não bater o Figueirense às 17h de domingo (08), em Florianópolis.
A situação é tão absurda que é até difícil admitir que aconteceu. A CBF ignorou a chance de seu principal campeonato ser definido e permitiu a possibilidade de o título ser resolvido com o campeão em casa, no avesso perfeito da festa que a competição deveria ter.
Não é apenas uma questão de lisura: em casos assim, com dois jogos que definem um mesmo aspecto na tabela, o organizador de um campeonato precisa zelar por aspectos como o ambiente das partidas e a promoção. Se o Corinthians tivesse sido campeão, que cena de festa seria retratada em todo o mundo?
Uma alteração nos jogos demandaria acertos com a Polícia Militar e com os parceiros de transmissão do Campeonato Brasileiro. A CBF alegou que não houve pedido de nenhum dos clubes e que não teve tempo suficiente para reformular a tabela do fim de semana.
Entretanto, não faz sentido que uma alteração assim tenha de ser sugerida. A CBF deveria ter um olhar sistêmico para suas competições, preocupada com o macro e com questões pontuais. Se fosse assim, teria notado semanas antes que a possibilidade de o campeonato ser resolvido no último fim de semana existia.
Por mérito do Atlético-MG, a CBF escapou de um dos momentos mais vexatórios da história do Campeonato Brasileiro e não viu um campeão sem festa. A próxima chance do Corinthians é a partida contra o Vasco, na quinta-feira (19), no Rio de Janeiro. Vale a pergunta, então: em dez dias, o que a entidade que comanda o futebol brasileiro vai fazer para a possibilidade de seu principal torneio ser resolvido? Que festa será montada e que ações serão promovidas para fazer com que essa partida seja especial?
E se houver uma virada, o que ainda é possível? Que tipo de coisa a CBF tem feito para mostrar que o campeonato ainda está aberto e que é interessante? Quais são as ações institucionais voltadas a atrair mais gente para estádios, TVs ou simplesmente para o consumo? Que esforço é feito para mostrar qualidades dos atletas além do que fica claro no tempo em que eles estão com a bola nos pés?
A popularidade do futebol talvez contribua negativamente nesse caso. Outras confederações esportivas brasileiras, mais carentes e com menos espaço na mídia, fazem melhor o trabalho de promoção de evento e de seus protagonistas. A CBF simplesmente ignora esses assuntos.
Essa discussão pode parecer simples e pequena, mas existem componentes infinitamente maiores. O esporte de altíssimo nível competitivo, afinal, é um agente de mobilização social. E mobilização social só acontece com aproximação e humanização. Não há envolvimento se o público não compreender em que o ídolo é maior do que seus feitos esportivos.
A transformação de atletas em heróis modernos tem uma série de implicações comerciais (é mais fácil ditar tendências de consumo a partir disso), mas também contém um viés social. Tudo isso acontece para criar uma empatia maior e aproximar esportista e público por causa do lado humano.
É fácil listar aqui histórias humanas de atletas de qualquer outra modalidade no Brasil. Com a aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016, aliás, esse filão será ainda mais explorado. E no futebol? Qual é o repertório que os jogadores brasileiros têm a contar? Como isso é trabalhado pelos organizadores dos campeonatos?
As questões são tão simples que é até absurdo que a CBF nunca tenha feito. Tudo isso revela um dos problemas mais contundentes da administração da entidade em termos de comunicação, e isso afeta diretamente o futebol brasileiro como um todo. A venda internacional também padece por causa da falta de identidade do produto.
O futebol brasileiro precisa urgentemente de um plano de promoção e comunicação. Para a CBF, porém, a prioridade talvez seja o planejamento de crise. Antes de vender o futebol nacional ou aproximá-lo de um número maior de consumidores, a entidade deve estar preocupada é com a salvação de seus próprios dirigentes – o presidente Marco Polo del Nero, por exemplo, não sai do Brasil desde que uma operação liderada pelo FBI ocasionou prisões de sete executivos ligados à Fifa, incluindo José Maria Marin, antecessor dele no cargo.
Numa entidade em que proteção é a palavra de ordem, faz até algum sentido que a promoção seja ignorada. Ter mais gente interessada no Campeonato Brasileiro agora pode ser sinônimo de jogar luz numa administração que tem muito a esconder.

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Mata-mata ou pontos corridos?

Restando cinco rodadas para o final do Campeonato Brasileiro, o título já está praticamente definido, já que o Corinthians abriu 11 pontos sobre o Atlético Mineiro e restam somente 15 em disputa.

Apesar de ainda haver algumas disputas contra o rebaixamento e para acessar o G-4, a definição do título reacende o debate acerca da fórmula de disputa.

Entre 1971 e 2002, o Campeonato Brasileiro nunca repetiu uma fórmula e sempre teve fases de mata-mata. Após 2003, a fórmula sempre foi a de pontos corridos e, desde então, instaurou-se o debate acerca da emoção (ou falta dela) no modelo atual de competição.

O torneio por pontos corridos faz justiça à equipe mais regular e que se planeja melhor. À exceção do Flamengo em 2009, que conquistou o título embalado na reta final, todos os demais campeões foram clubes que montaram um elenco mais amplo e com uma estrutura mais sólida.

Ademais, estatísticas mostraram que o torcedor brasileiro se acostumou a comparecer aos estádios em competições que não possuam fases finais, eis que os três últimos campeonatos de “mata-mata”, em 2000, 2001 e 2002, tiveram médias de 11.546, 11.400 e 12.886 pagantes, respectivamente, e em 2014 a média foi de 16.555 torcedores.

Por outro lado, nas competições “mata-mata”, a imprevisibilidade em se garantir um título ou uma classificação em um único lance é extremamente emocionante, o que acaba por criar lances lendários e jogadores míticos.

Outrossim, apesar de possuir uma média de público menor, os jogos das fases decisivas têm estádios lotados e atraem toda a atenção da mídia.

Paralelamente à discussão sobre a melhor fórmula de competição, há uma questão jurídica relevante, pois o artigo 8º, II, do Estatuto do Torcedor, estabelece que pelo menos uma competição de âmbito nacional tem que ser em sistema de disputa que as equipes participantes conheçam, previamente ao seu início, a quantidade de partidas que disputarão, bem como seus adversários, o que, a priori, define o sistema de pontos corridos.

Caso prevaleça esta interpretação, o Estatuto do Torcedor proíbe a volta do “mata-mata” e sedimenta o debate.

Doutro giro, em uma competição “mata-mata” se sabe exatamente os adversários de 90% da competição e tem conhecimento dos restante que estariam, apenas, pendentes de confirmação desportiva.

O sistema de disputa por pontos corridos tem sua origem na Europa, onde os países possuem dimensões bem menores. O Brasil tem uma vastidão continental. Equipes como o Sport Recife, por exemplo, possuem um desgaste com viagem incrível, pois todos os demais clubes da Série A estão nas regiões Sul, Sudeste e o Goiás, na Centro-Oeste. Será que o Sport que começou também a competição não teria perdido fôlego pelo cansaço com as viagens?

O futebol brasileiro precisa se reinventar dentro de suas peculiaridades geográficas e culturais. O Campeonato Brasileiro precisa ser, de fato, Nacional. O modelo norte-americano (outro país de dimensões continentais) viabiliza a participação no certame nacional de equipes de leste a oeste.

O futebol brasileiro precisa se unir de Norte a Sul. Todas as cores, todas as torcidas. Todos os Brasis. Fomos os melhores do mundo atentos às nossas peculiaridades regionais. Enquanto o mundo se preocupava com competições nacionais (e internacionais), o brasileiro se preocupava com a rivalidade local, com os estaduais.

É fato que hoje não haja mais espaço para grandes campeonatos estaduais, mas há espaço para o futebol brasileiro se reinventar e criar sua própria identidade. Só assim,voltaremos ao topo do mundo.

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Gerindo o hoje e o amanhã no futebol

No momento em que faltam poucas rodadas para terminar o Campeonato Brasileiro, uma questão que se faz presente em praticamente todos os clubes: como ter foco para obter o melhor desempenho possível nas últimas rodadas e ao mesmo tempo já executar ações de planejamento para a próxima temporada?

Realmente, não é tarefa simples, ainda mais quando se necessita fortemente de ótimos resultados, seja para conseguir uma vaga na próxima Copa Libertadores da América ou para conseguir evitar o descenso e se manter na série A. Isso requer um esforço intenso e habilidades de gestão e liderança dos atuais gestores e comissão técnica, pois ao mesmo tempo em que se precisa manter o foco no agora, se faz igualmente necessário pensar em como será a execução do próximo ano.

Para tal, os profissionais envolvidos no esporte podem aliar duas estratégias para conseguir controlar e balancear a sua atuação em momentos como esse: administrar o tempo para se poder executar uma boa rotina de planejamento estratégico, visando a próxima temporada, e desenvolver uma inteligência emocional adequada para lidar com o processo de liderar o momento atual.

A capacidade de orquestrar essas questões pode ser a alavanca para ultrapassar momentos como este, onde o hoje e o amanhã estão sensivelmente envolvidos e impactando tudo ao redor dentro de um clube de futebol.

Sobre o simples fato de administrar bem o tempo dos gestores esportivos, isso parece uma demanda até certo ponto simplista e cotidiana, mas em geral todos nós somos ineficientes nesta gestão do tempo. Os gestores podem ter uma maior compreensão sobre como utilizar melhor as 24h que se possui do dia, pois no fundo não controlamos o tempo, mas sim as atividades e ações que podemos executar com o tempo que temos disponível.

Sendo assim, como dica para uma melhor gestão das atividades no tempo, algumas atividades são importantes:

  • Priorizar a execução das ações de grande importância e impacto em relação aos objetivos que deseja conquistar;

  • Procurar executar aquelas que geram impacto mínimo aos objetivos, mas que podem causar inconvenientes;

  • Em última ordem de prioridade, ter consciência sobre aquelas que caso não sejam efetuadas, não existirão impactos em relação aos objetivos, sendo que para estas duas tratativas podem ser efetuadas:

    • Avaliar aquelas que são possíveis serem delegadas à outra pessoa;

    • Eliminar temporariamente as atividades que não trazem nenhum benefício aos objetivos atuais.

Assim, todo gestor tem a possibilidade de realizar uma boa gestão do tempo e conseguir atender aos desafios em momentos em que se exige cuidado e atenção com o momento atual do clube e a próxima temporada.

Até a próxima.

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Novas mídias

Nas últimas duas colunas, abordei a questão da distribuição dos direitos de transmissão, apresentando uma nova (ou nem tão nova assim) proposta que levasse em conta uma divisão mais justa e equilibrada da verba de TV entre todas as equipes participantes do Campeonato Brasileiro da Série A. Encerrei com uma breve reflexão sobre o quão atrasado estávamos neste debate, uma vez que o mundo já está, há algum tempo, reinventando a forma como as pessoas acessam conteúdo esportivo. E a cada dia encontro novidades neste sentido…

Muito mais do que uma negociação por valores ou disputa de quem deve receber mais ou menos pelo pay-per-view, a reflexão deveria ser, especialmente, sobre o que realmente representa as novas mídias para o futuro e a consolidação do produto futebol brasileiro no Brasil para alcançar o público daqui… especialmente o público jovem, cada vez mais distante dos principais emblemas do nosso futebol.

A ocupação do território brasileiro por conteúdo esportivo estrangeiro é latente e tem se consolidado de forma assustadora. Enquanto isso, seguimos debatendo, de forma equivocada, se “a Globo deveria ou não transmitir mais jogos de outros times em detrimento a Flamengo e Corinthians”. Esse tipo de debate já foi superado no mundo no final da década de 1990/ início dos anos 2000. Já foi!

O grande dilema para o futebol no Brasil é sair da zona de conforto. Investir em tecnologia e equipe para a apropriação do seu próprio conteúdo (a redundância é proposital!) exige uma visão de futuro que ainda não aterrissou nos principais clubes do país. Investimento ainda parece uma palavra pouco usual no vocabulário da cúpula dos principais clubes do país.

Contudo, se não foi planejado um crescimento adequado num passado mais recente para se ter uma posição diferenciada na negociação dos direitos de transmissão com o maior grupo de mídia do país nos dias de hoje, a mudança, a partir de agora, deve ser quase que pautada a partir de um plano emergencial.

É preciso trabalhar em um formato daqueles da indústria ou do varejo, que define algo como “5 anos em 1” ou coisa análoga para a questão das novas tecnologias e acesso a novos públicos.

Ou viramos a página de um debate cujo prazo de validade venceu, ou seguimos construindo e contribuindo com a organização do clássico Real Madri x Barcelona no Maracanã em 2017…