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O real valor do adversário

Os simpatizantes do futebol e, particularmente, os que torcem para este ou aquele clube, costumam, muitas vezes, depreciar o valor de seus adversários ou oponentes. Alguns mais apaixonados chegam a torcer para que esses times se enfraqueçam cada vez mais. Não duvido que até comemorariam se vissem seus rivais caírem de divisão.

 

Em um desses arroubos de desprezo pelo oponente, geralmente chamado de inimigo, li certa vez em um pára-choque de caminhão a seguinte frase: “Não basta vencer o adversário, é preciso humilhá-lo”.

 

Alguns argumentariam, em defesa destes apaixonados, que esta é uma reação natural ao próprio significado do futebol e do esporte, de uma forma geral. Assim também é a própria vida. O desejo que o adversário perca é inseparável do desejo de que o seu time ganhe. Pode ser, mas cabem aqui algumas reflexões em torno desta questão.

 

Numa outra perspectiva, mais oriental, mais holística talvez, a abordagem deveria ser diferente. E pensando nisso fico imaginando um outro cenário para o esporte e, em especial para o futebol, esta modalidade esportiva que tanto significado tem em nossa cultura. A competição é, via de regra, uma luta de oponentes em busca da vitória. Quanto a isso creio que estamos todos de acordo.

 

Entretanto não podemos negar que é a força do adversário que nos fortalece. Quanto mais poderosos nossos oponentes mais iremos precisar de força, técnica, estratégia, inteligência para superá-los. Um pensamento zen-budista chega a afirmar que em uma competição você e o seu oponente são um só. Há uma relação de coexistência entre um e outro. Eles se completam.

 

Por outro lado precisamos saber que, para sermos vencedores, temos que entender não só as forças e fraquezas do nosso oponente, mas, fundamentalmente, as forças e fraquezas que estão instaladas dentro de nós mesmos. Este é o ensinamento que nos dá o mestre em artes marciais, o japonês Hidetaka Nishiama: “O oponente mais poderoso está dentro de nós mesmos”.

 

E para completar esta pequena reflexão sobre o real valor dos nossos adversários, deixo-os com o pensamento do grande líder político indiano Mahatma Gandhi que costuma nos inspirar com suas idéias. Mas que também na prática provou ser possível vencer de uma forma diferente. Ele nos dizia: “Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio”.

 

Será que a humanidade chegará a este grau de desenvolvimento espiritual capaz de levar estes conceitos para a prática do futebol?

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

 

 

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As estratégias de Luxemburgo

Questionado por suas atitudes e também pelo seu alto salário, que segundo alguns chega perto dos R$ 500 mil por mês, Vanderlei Luxemburgo foi o grande personagem do último clássico entre Corinthians e Santos pelo Paulistão 2006.

 

Quem esperava pelo destaque de alguns jogadores presentes em campo, corintianos ou santistas, acabou vendo a astúcia do treinador prevalecer sobre o talento dos atletas.

 

Tudo começou a ser tramado bem antes do jogo. Durante a semana Luxemburgo já ensaiava as ações estratégicas que ajudaram a levar seu time à vitória contra o badalado e atual campeão brasileiro, o Corinthians.

 

Na hora do jogo, armou um cenário que surpreendeu a todos, atrapalhando completamente o trabalho da imprensa e confundindo a cabeça do experiente Antônio Lopes, treinador corintiano.

 

Luxemburgo não divulgou a escalação da equipe santista. O time entrou em campo com 12 jogadores e só permitiu revelar os 11 que começariam a partida dois ou três minutos antes do jogo começar. 

 

Tal procedimento obrigou o treinador corintiano a correr, na última hora, atrás de seus jogadores para dar as últimas orientações sobre o plano tático, comprometido pela ausência de informações sobre o seu oponente.

 

Claro que poderíamos argumentar: se o Corinthians tivesse aproveitado as chances que criou, se as bolas na trave tivessem entrado, se isso, se aquilo… Mas acontece que, como costumamos dizer no futebol, o “se” não joga. E como o “se” não jogou no domingo, o que conta é a vitória do time santista.

 

O resultado final, favorável ao Santos, queira ou não, consagrou as ações de Luxemburgo. Tivesse o time corintiano vencido o jogo, provavelmente o técnico teria sido duramente criticado por suas atitudes. Mas não aconteceu isso.

 

Assim é o futebol. Assim é nossa cultura. Só sabemos dar valor ao vencedor. É a versão do vencedor que vale. E se assim é, esta foi uma vitória de Vanderlei Luxemburgo.  

 

Infelizmente nossa cultura ainda não aprendeu a levar em conta os méritos do perdedor. Tanto é que o vencedor brasileiro de 2005, Antônio Lopes, dois meses após a conquista do campeonato brasileiro, já corre riscos de perder seu emprego.

 

Lamentável, mas é assim que funcionamos.

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Ronaldinho Gaúcho e seu personal trainer

Dias desses lendo as páginas esportivas dos jornais deparei com uma notícia interessante. O nosso craque Ronaldinho Gaúcho, jogador do Barcelona, possui um personal trainer que cuida dos detalhes de sua preparação como atleta.

 

A medida embora não seja pioneira, pode representar um marco em se tratando daquele que acaba de ser eleito pela segunda vez o melhor jogador de futebol do mundo.

 

Esta tendência de personalizar-se a preparação dos atletas de modalidades esportivas coletivas também não é nova, mas deve ser incentivada pela preocupação implícita de individualização do trabalho que carrega em si.

 

Duas coisas, entretanto, causaram-me preocupação na reportagem sobre o profissional que cuida da saúde e da forma física do atleta.

 

Primeiro, pelo que li na notícia, o Moraci Sant’Anna, competente e cuidadoso preparador da seleção brasileira de futebol, desconhecia a existência do Quim, que é primo e o personal trainer de Ronaldinho Gaúcho.

 

Em um trabalho que se caracteriza pelo detalhamento e sutiliza de suas intervenções, tal desconhecimento não pode ocorrer. Tudo que é feito pelo Ronaldinho, dentro e fora do campo, deveria ser discutido entre os responsáveis por sua preparação, no caso, entre os preparadores físicos do Barcelona, da seleção brasileira e o personal trainer.

 

Como cada um dos profissionais que trabalha com o atleta poderá dosar de forma equilibrada e adequada as atividades se um desconhece o trabalho do outro?

 

A segunda preocupação é em relação ao fato do personal trainer declarar que o Ronaldinho chega a praticar perto de três horas de futevôlei na areia, às vezes, altas horas da noite ou de manhã, bem cedo, para evitar o assédio de curiosos e fãs.

 

Qualquer preparador físico, minimamente competente, sabe a importância do trabalho na areia para melhorar força e velocidade, estes dois componentes fundamentais para a prática do futebol moderno. Mas praticar cerca de três horas desta modalidade em paralelo com a programação de treinamentos e jogos do clube e seleção é, sem sombra de dúvidas, preocupante.

 

Torço para que o personal trainer do Ronaldinho Gaúcho tenha exagerado nas declarações sobre as cargas de trabalho que está aplicando a um dos maiores talentos do futebol da atualidade. Mas se a informação for verdadeira, um dos nossos mais destacados craques corre sérios riscos de não poder mostrar todo o potencial de sua arte durante a próxima Copa do Mundo a ser realizada na Alemanha.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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Romário, futebol e envelhecimento

A vida de todo ser humano tem seu ciclo vital. Qualquer profissional, seja qual for a carreira escolhida, também terá os seus ciclos. Com o jogador de futebol não é diferente.

 

Todos sabemos que o futebol hoje em dia exige uma apurada condição física e fisiológica. O esporte é praticado em uma velocidade cada vez maior e este fato tende a eliminar aqueles que não conseguem acompanhar um ritmo tão intenso.

 

Após os 29, 30 anos, o corpo do atleta começa a perder a massa muscular e, conseqüentemente, a velocidade e a força, entre outros aspectos. Mudanças hormonais provocam o processo de deterioração das melhores condições atléticas necessárias à alta performance.

 

Nesta perspectiva um jogador como o Romário, com perfil de boêmio e que acaba de completar 40 anos pareceria, a um primeiro olhar, um exemplo típico de profissional em decadência, totalmente incapaz de acompanhar a dinâmica exigida pelo futebol atual.

 

De certa forma isto tem se dado, na prática. Visivelmente o jogador já não tem mais a mesma condição de 10 ou 20 anos atrás. Entretanto, e felizmente, o ser humano não é constituído apenas por aspectos puramente biológicos ou fisiológicos. 

 

O envelhecimento pode ser considerado como a perda das habilidades de adaptação ao meio e, portanto, pesam aqui os aspectos biológicos e funcionais.

 

Mas contrapondo-se aos aspectos biológicos, puramente físicos, existem outros elementos, como os psicológicos, sociais, culturais e espirituais que permitem aos mais tenazes, aqueles que amam a vida e aquilo que fazem, enfrentar o inexorável processo do envelhecimento.

 

Neste sentido, inteligência, maturidade, equilíbrio e autoconfiança são alguns dos ingredientes necessários para este embate. E é interessante ver como algumas pessoas conseguem fazer isso com graça e sabedoria.

 

Por outro lado, o desenvolvimento cultural e científico acelerado pelo qual estamos passando, cujo pano de fundo é a globalização, vai obrigar-nos a buscar novos conceitos em termos de idade e velhice.

O futebol também passará por processos profundos de mudanças. Uma delas será permitir que os atletas prolonguem sua vida útil como profissionais, apesar da velocidade crescente com que o jogo é jogado.

 

Concordando com esta tendência, e facilitado pelo fato de que o melhor do futebol brasileiro não está no Brasil, já podemos antever o ano que vem, quando Romário estiver completando 41 anos, o craque chamando a atenção do mundo todo para as partidas-exibição que estará realizando numa obstinada busca pelo seu milésimo gol, encerrando assim sua polêmica e brilhante carreira.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br