Os simpatizantes do futebol e, particularmente, os que torcem para este ou aquele clube, costumam, muitas vezes, depreciar o valor de seus adversários ou oponentes. Alguns mais apaixonados chegam a torcer para que esses times se enfraqueçam cada vez mais. Não duvido que até comemorariam se vissem seus rivais caírem de divisão.
Em um desses arroubos de desprezo pelo oponente, geralmente chamado de inimigo, li certa vez em um pára-choque de caminhão a seguinte frase: “Não basta vencer o adversário, é preciso humilhá-lo”.
Alguns argumentariam, em defesa destes apaixonados, que esta é uma reação natural ao próprio significado do futebol e do esporte, de uma forma geral. Assim também é a própria vida. O desejo que o adversário perca é inseparável do desejo de que o seu time ganhe. Pode ser, mas cabem aqui algumas reflexões em torno desta questão.
Numa outra perspectiva, mais oriental, mais holística talvez, a abordagem deveria ser diferente. E pensando nisso fico imaginando um outro cenário para o esporte e, em especial para o futebol, esta modalidade esportiva que tanto significado tem em nossa cultura. A competição é, via de regra, uma luta de oponentes em busca da vitória. Quanto a isso creio que estamos todos de acordo.
Entretanto não podemos negar que é a força do adversário que nos fortalece. Quanto mais poderosos nossos oponentes mais iremos precisar de força, técnica, estratégia, inteligência para superá-los. Um pensamento zen-budista chega a afirmar que em uma competição você e o seu oponente são um só. Há uma relação de coexistência entre um e outro. Eles se completam.
Por outro lado precisamos saber que, para sermos vencedores, temos que entender não só as forças e fraquezas do nosso oponente, mas, fundamentalmente, as forças e fraquezas que estão instaladas dentro de nós mesmos. Este é o ensinamento que nos dá o mestre em artes marciais, o japonês Hidetaka Nishiama: “O oponente mais poderoso está dentro de nós mesmos”.
E para completar esta pequena reflexão sobre o real valor dos nossos adversários, deixo-os com o pensamento do grande líder político indiano Mahatma Gandhi que costuma nos inspirar com suas idéias. Mas que também na prática provou ser possível vencer de uma forma diferente. Ele nos dizia: “Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio”.
Será que a humanidade chegará a este grau de desenvolvimento espiritual capaz de levar estes conceitos para a prática do futebol?
Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br