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Comissão aprova regras para federação de atletas

A Comissão de Turismo e Desporto aprovou na quarta-feira (22), com emendas, o Projeto de Lei 6403/02, que obriga a Federação das Associações de Atletas Profissionais a prestar contas semestralmente ao Ministério do Esporte dos recursos recolhidos para assistência social e educacional dos atletas profissionais, ex-atletas e daqueles em formação. O projeto muda a Lei Pelé (Lei 9615/98) e é de autoria da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Futebol, que funcionou no Senado entre dezembro de 2000 e maio de 2001.
 
O relator, deputado Deley (PSC-RJ), votou favoravelmente à proposta por considerá-la uma contribuição para que o Poder Público acompanhe a aplicação dos recursos. Ele retificou a referência original à secretaria nacional dos esportes, remetendo-a ao atual Ministério do Esporte.
 
Deley lembra que após a aprovação desse projeto no Senado, em março de 2002, foi promulgada a Lei 10672/03, que fez uma série de modificações na Lei Pelé, contemplando inclusive alguns itens previstos na proposta, razão pela qual ele apresentou emendas supressivas para não repetir a lei.
 
Penas pecuniárias
 
Por considerá-la "muito confusa", o relator rejeitou a parte do texto que visava evitar que entidades de prática desportiva recebam penas pecuniárias por infrações cometidas em jogos das categorias amadoras. Para ele, "tal dispositivo é muito específico e deve ser tratado nos códigos desportivos disciplinares, e não na lei de normas gerais".
 
O deputado acatou a determinação de que cópias do contrato de trabalho, da rescisão e do empréstimo de atletas profissionais devem ser enviadas para a Federação Nacional dos Atletas Profissionais, mediante protocolo, sob pena de nulidade contratual. No seu entender, essa medida deve ser apoiada, pois beneficia a transparência nas relações entre clubes e entidades representativas de atletas profissionais.
 
Multa rescisória
 
Também foi aprovada a distinção entre os institutos jurídicos da cláusula penal e da multa rescisória, que não estão claros na legislação atual. A cláusula penal é específica apenas para o caso de transferência do atleta para outra entidade de prática desportiva, nacional ou internacional.
 
A legislação em vigor já estabelece que o valor da cláusula penal poderá chegar ao limite de até 100 vezes o montante da remuneração anual pactuada. Já a multa rescisória é relativa ao atraso no pagamento do atleta por até três meses, situação em que ele poderá rescindir o contrato unilateralmente, aplicando-se nesse caso o que determina a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
 
Segundo o relator, a Comissão de Trabalho, que analisou a proposta anteriormente, votou favoravelmente a essa mudança, cujo teor está no âmbito de apreciação daquela comissão e com a qual ele concorda.
 
Supressões
 
O projeto previa a admissão de um representante das Federações de Atletas Profissionais no Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro, órgão que foi substituído pelo Conselho Nacional do Esporte. Esse novo conselho não mais discrimina a sua composição, cabendo ao ministro do Esporte indicar seus membros. Por isso, o relator concordou com emenda supressiva da Comissão de Trabalho.
 
Por já terem sido incorporados à legislação, o relator também suprimiu o item que tratava do impedimento do uso das marcas de empresas de TV e de radiodifusão em publicidade nos uniformes dos jogadores.
 
Tramitação
 

O projeto será votado em plenário após análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Ele tramita em regime de prioridade.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Sistema de jogo: os gols que Deus não fez

Será que Deus joga dados? Esse é o título de um belíssimo livro de Ian Stewart que me fez e me faz muitas e muitas vezes refletir sobre futebol.
 
A cada novo nascer do Sol fico pensando nas maravilhas da natureza, tão bem encaixadas, que é possível tirar dela (a natureza) construtos que nos ajudam a explicar a complexidade do mundo através da complexidade de cada um dos seus detalhes, de cada um dos seus elementos (da lógica que explicita o funcionamento de um rio até a lógica que rege o vôo de um bando de pássaros em migração).
 
O mais interessante é notar que todos esses elementos (e qualquer outro) estão em constante interação, buscando ordem e organização, formando um grande conjunto de variáveis; um belo e complexo sistema (e isso quer dizer que qualquer variação, qualquer mudança em pequenos detalhes, em pequenas variáveis desse sistema podem desencadear grandes e amplificadas transformações em outros elementos que o compõe).
 
Em outras palavras, se decidirmos ficar cinco minutos a mais no banho ou deixar a torneira aberta enquanto cuidamos dos dentes, poderemos desencadear em alguma faixa temporal uma amplificada catástrofe como a falta de água. Isso se aplica aos recursos naturais, a sua vida em família, aos deveres do trabalho, aos desafios da faculdade, ao “eu te amo” que não foi dito, e não com menos filosofia ou poesia ao jogo de futebol.
 
Então vejamos.
 
Já discutimos o que significa uma “plataforma de jogo” (vide texto da semana passada – “Os esquemas táticos, as plataformas de jogo e a amplitude como princípio de ataque”). Já sabemos que são as dinâmicas e as estratégias elaboradas a partir dela que determinam a competência ofensiva e/ou defensiva de uma equipe, e que plataformas, estratégias e dinâmicas de jogo são elementos de um sistema: o sistema de jogo.
 
Para entendermos o que significa sistema de jogo, busquemos compreender primeiro o significado do conceito de “sistema”. Não da palavra “sistema”, mas da construção teórica que a envolve.
 
Toda vez que temos um conjunto de elementos que se relacionam e se ajustam formando um “todo organizado” podemos dizer que temos um sistema. Assim temos o sistema solar, o sistema econômico, o sistema operacional, o sistema nervoso e qualquer outro que seja possível lembrar.
 
No futebol, temos o “sistema de jogo”. Não se trata do impregnado conceito “futeboleirista” que o toma como sinônimo de “esquema tático”. Trata-se aqui de um elemento que descreve o jogo em sua totalidade, compreendendo toda sua complexidade.
 
Imaginemos o jogo de futebol como um grande número de equações que têm afinidades entre si e que se juntam formando grupos de afinidades. Assim como as equações de um mesmo grupo interagem entre si, os grupos também se relacionam. Então teremos grupos de equações relativas à organização defensiva, grupos de equações relativas à organização ofensiva, às transições do jogo; grupos relativos às dimensões do campo, ao tipo de gramado, ao estado nutricional, mental, físico, social da equipe e do atleta… Poderíamos descrever uma infinidade desses grupos, de tal forma que ao se ir mais a fundo, mais distante se vai ficando do jogo propriamente dito; e quanto mais distante se parece estar, mais perto do jogo pode-se chegar!
 
Qualquer variação em uma equação de qualquer um dos grupos pode gerar, com maior ou menor intensidade, reflexos em equações de outros grupos; o que numa visão total do sistema poderia alterar o resultado final.
Por mais didático que seja entender a existência de grupos de equações (sub-sistemas) dentro de um sistema, é mais do que importante compreender que todos os grupos e equações estão interligados, interagindo em todas as direções, harmonicamente, em conjunto.
 
É claro que o raio de ação do treinador de futebol, nos moldes que conhecemos, fica limitado ao grupo de equações referentes às variáveis técnicas e táticas do jogo (e, portanto, talvez isso que escrevo soe como um “monte de bla-bla-blás” dispensável). Mas em pleno século XXI, sabendo que cada vez mais são os detalhes que podem levar uma equipe de futebol à derrota ou à vitória, vislumbro outro tipo de treinador. Não mais aquele que compreenda as equações de um grupo do sistema, mas aquele capaz de visualizar o “sistema” em sua totalidade, em sua complexidade, em sua essência (e aí quero destacar que não é por acaso que alguns treinadores têm conseguido melhores resultados do que outros – e que tantos outros quando ganham não sabem exatamente o porquê, por isso não conseguem continuar ganhando).
 
Como disse dia desses um pesquisador profissional do futebol, esse é um esporte bom para pessoas “não tão competentes e nem tão bem preparadas” trabalhar, porque se faz um mau trabalho, tudo errado, e eis que surge um lance duvidoso, um pênalti no fim do jogo a favor da equipe, e aí pronto… Mas ele mesmo lembrou que uma hora a “casa cai”.
 
A reflexão sobre o conceito de sistema de jogo me faz lembrar um exemplo interessante. Na Copa do Mundo de Futebol de 2006 a seleção brasileira jogou contra a seleção francesa numa partida que mais uma vez fez apaixonados e especialistas divagarem semanas e mais semanas sobre uma derrota do Brasil para a França. Naquele jogo, por diversas vezes os franceses pressionaram a saída de bola da seleção brasileira. Pela TV fora mostrada a dificuldade dos jogadores brasileiros em sair jogando. A solução: o “chutão”.
 
Interessante que pelos campos do mundo, em diferentes línguas, algo muito comum de se escutar na beira dos gramados é a “proclama” do treinador ecoando: “faz quebrar (chutar), faz quebrar” (traduzindo: o treinador está pedindo para sua equipe pressionar invariavelmente os zagueiros ou goleiro adversário, para que eles dêem um “chutão”, se livrem da bola ?³ traduzindo a tradução: como não compreendemos dinâmicas para roubar a bola do adversário o mais próximo possível do seu gol – e ele, o adversário, não compreende dinâmicas para sair jogando – vamos forçar o chutão pra tentarmos recuperar a bola numa assídua disputa “aérea” no meio-campo).
 
Mais interessante é vermos os jogadores brasileiros “sofrendo” com isso. Mas como, jogadores selecionáveis, nascidos no “país do futebol”, podem ter tamanha dificuldade?
 
Não é obra do acaso, nem seleção natural (“afinal são zagueiros” – NÃO!). É só olharmos alguns jogos de competições de categorias de base. O sub-13, 15, 17 e as mesmas estratégias: chutão, chutão, chutão! E não só o chutão como forma de se livrar da bola. Podemos ver a todo tempo equipes e mais equipes fazendo do chutão a melhor ferramenta para se chegar à vitória (um jogador mais forte fisicamente chuta a bola para outro jogador forte fisicamente no ataque para que ele tente chegar ao gol – e os outros menos fortes, assistindo de dentro do campo a mais uma partida de futebol). Isso acontece no sub-13, ganha força no sub-15, e aí… Aí vai parar na Copa do Mundo de Futebol!
 
Surpreso fiquei ao presenciar uma partida entre jogadores em formação, entre uma equipe brasileira e uma equipe “árabe” que tinha uma estratégia bem “original” de jogo: entre provocações e divididas mais fortes, muitos “chutões” buscando um jogador de ataque. “Original”!? A c
omissão técnica árabe era brasileira (“eu sou brasileiro, com muito orgulho, muito amor e muito preocupado!”).
 
Esse é só um exemplo, das pequenas coisas que se amplificam e ganham proporções “gigantescas” dentro do futebol. É assim na formação de um atleta, é assim nas estratégias elaboradas a partir de uma plataforma, é assim numa jogada que desencadeia um gol.
 
Se Deus não joga dados como dissera Einstein, também não faz gols; nem explica vitórias e derrotas. Se não compreendermos o “sistema de jogo de futebol” é possível que muitos jogos sejam perdidos antes que Ele resolva dar alguma explicação.

Para interagir com o colunista: rodrigo@universidadedofutebol.com.br