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O trabalho integrado e a mensagem escondida do ‘Eu-Bola João 8:32’

Poderíamos destrinchar os fundamentos técnicos de futebol e um sem número de divisões e subdivisões. Para tornar clara a minha linha de raciocínio me aterei aos “principais” (ou conceitualmente mais conhecidos pelas pessoas em geral).
 
Em um jogo temos, para os jogadores de linha, o passe, o cruzamento e o lançamento (que são formas de passe), o desarme, a interceptação, o cabeceio, o controle, o domínio de bola, a condução, o drible e o chute.
 
Segundo Júlio Garganta (1998), no capítulo “Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos” do livro “O ensino dos jogos desportivos coletivos”, o jogo coletivo, e aqui especificamente o futebol, sob o ponto de vista didático, apresenta diversos níveis de relação entre jogadores da mesma equipe, adversários, bola e alvo. De forma hierárquica essas relações respeitariam a seguinte ordem acumulativa:
 
1 – Eu-bola: atenção e controle sobre a bola.
2 – Eu-bola-alvo: atenção sobre o objetivo do jogo.
3 – Eu-bola-adversário: combinação de habilidades, conservação da posse da bola e busca da finalização.
4 – Eu-bola-colega-adversário: combinação de habilidades de desmarcação, apoio, contenção e coberturas.
5 – Eu-bola-colegas-adversários: desenvolvimento de conceitos de linhas de passe, penetração, coberturas ofensivas.
6 – Eu-bola-equipe-adversários: aplicação formal dos princípios do jogo ofensivos e defensivos.
 
Essas relações estão intimamente ligadas aos fundamentos técnicos do jogo. O eu-bola, especialmente ao controle e condução de bola. Ao eu-bola-alvo acrescentamos a finalização. O eu-bola-adversário, especialmente ao drible e o desarme. O eu-bola-colega-adversário, passes e interceptações. O eu-bola-colegas-adversários, formas mais elaboradas de passes (cruzamentos e lançamentos) e outros fundamentos. O eu-bola-equipe-adversários, a aplicação de todos os fundamentos dentro dos princípios do jogo de ataque, defesa e transição.
 
Então, a estruturação para ensino ou treinamento dos fundamentos pode passar por uma lógica que se constrói a partir do próprio jogo. Isso é vantajoso por diversos motivos. Um deles (talvez o menos pedagógico, porém mais “entendível”) é o fato de que no futebol profissional, com o excessivo número de jogos, faz-se necessário otimizar o tempo de treinos para que se alcance máximos ganhos com mínimos desgastes. Se assim o é, fica evidente a necessidade de se trabalhar valorizando o tempo.
 
Assim, conceber o desenvolvimento técnico, construído na lógica do jogo, permitirá ganhos táticos, que se periodizados, planejados e organizados podem estar integrados ao desenvolvimento físico específico para o tipo de jogo que se quer jogar.
 
E é aí que a vida de treinadores e comissões técnicas costuma emperrar. Para conseguir treinar o jogo que se quer jogar, nada menos trivial do que se refletir a partir das relações apresentadas, para poder alcançar aquilo que é concebido como modelo para o jogar. Em outras palavras, é difícil construir “jogos que treinem o modelo que se quer jogar”. Nem tanto porque a teoria é difícil (também não é fácil; mas é acessível); talvez mais porque não se busca conhecê-la realmente.
 
O que Burkina Faso pode ensinar ao futebol
 
Tenho um amigo Burquinabê (também conhecido como “O Burquina de Uagadugu”) do Café dos Notáveis. É daquelas pessoas apaixonantes que não se tem meio termo. Ou a gente gosta muito ou desgosta intensamente.
 
Trabalha com futebol já faz algum tempo. Conheceu o mundo. Aprendeu diferentes línguas. Um dia foi para a Nova Zelândia, levou junto consigo a felicidade.
 
Ah, felicidade… Que um dia lá lhe escapou e veio parar no Brasil (e aqui se diluiu na alma de amigos do peito, quase que se transformando em eterna tristeza).
 
O Burquina acredita em honra, ética, lealdade, respeito e coragem, coisas que trouxe consigo quando saiu de casa para viajar o mundo “em busca das coisas de dentro de si”.
 
Estranhou o nosso futebol, no qual como se não bastasse jogadores tecnicamente capazes e treinadores conhecedores das táticas, estratégias (enfim do jogo), também notou a necessidade de se re-ensinar valores perdidos, que de condição básica da vida moral e cívica acabaram se tornando adjetivos diferenciais do ser humano.
 
Nem sei se em Burkina Faso tem futebol (que o Burquina me perdoe a ignorância). O que sei é que lá tem uma coisa de sobra, que falta muito aqui (e não são os burquinenses!).
 
Mas vou contar em uma próxima, porque hoje tenho alguns livros de futebol (em russo) para ler. Como meu russo não é muito bom, vou parando por aqui.
 
E como aquilo que não me mata me faz mais forte (Nietzsche), estou certo de que dia desses fico mais forte e consigo transformar esse futebol.
 
Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147
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O trabalho integrado e a mensagem escondida do 'Eu-Bola João 8:32'

Poderíamos destrinchar os fundamentos técnicos de futebol e um sem número de divisões e subdivisões. Para tornar clara a minha linha de raciocínio me aterei aos “principais” (ou conceitualmente mais conhecidos pelas pessoas em geral).
 
Em um jogo temos, para os jogadores de linha, o passe, o cruzamento e o lançamento (que são formas de passe), o desarme, a interceptação, o cabeceio, o controle, o domínio de bola, a condução, o drible e o chute.
 
Segundo Júlio Garganta (1998), no capítulo “Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos” do livro “O ensino dos jogos desportivos coletivos”, o jogo coletivo, e aqui especificamente o futebol, sob o ponto de vista didático, apresenta diversos níveis de relação entre jogadores da mesma equipe, adversários, bola e alvo. De forma hierárquica essas relações respeitariam a seguinte ordem acumulativa:
 
1 – Eu-bola: atenção e controle sobre a bola.
2 – Eu-bola-alvo: atenção sobre o objetivo do jogo.
3 – Eu-bola-adversário: combinação de habilidades, conservação da posse da bola e busca da finalização.
4 – Eu-bola-colega-adversário: combinação de habilidades de desmarcação, apoio, contenção e coberturas.
5 – Eu-bola-colegas-adversários: desenvolvimento de conceitos de linhas de passe, penetração, coberturas ofensivas.
6 – Eu-bola-equipe-adversários: aplicação formal dos princípios do jogo ofensivos e defensivos.
 
Essas relações estão intimamente ligadas aos fundamentos técnicos do jogo. O eu-bola, especialmente ao controle e condução de bola. Ao eu-bola-alvo acrescentamos a finalização. O eu-bola-adversário, especialmente ao drible e o desarme. O eu-bola-colega-adversário, passes e interceptações. O eu-bola-colegas-adversários, formas mais elaboradas de passes (cruzamentos e lançamentos) e outros fundamentos. O eu-bola-equipe-adversários, a aplicação de todos os fundamentos dentro dos princípios do jogo de ataque, defesa e transição.
 
Então, a estruturação para ensino ou treinamento dos fundamentos pode passar por uma lógica que se constrói a partir do próprio jogo. Isso é vantajoso por diversos motivos. Um deles (talvez o menos pedagógico, porém mais “entendível”) é o fato de que no futebol profissional, com o excessivo número de jogos, faz-se necessário otimizar o tempo de treinos para que se alcance máximos ganhos com mínimos desgastes. Se assim o é, fica evidente a necessidade de se trabalhar valorizando o tempo.
 
Assim, conceber o desenvolvimento técnico, construído na lógica do jogo, permitirá ganhos táticos, que se periodizados, planejados e organizados podem estar integrados ao desenvolvimento físico específico para o tipo de jogo que se quer jogar.
 
E é aí que a vida de treinadores e comissões técnicas costuma emperrar. Para conseguir treinar o jogo que se quer jogar, nada menos trivial do que se refletir a partir das relações apresentadas, para poder alcançar aquilo que é concebido como modelo para o jogar. Em outras palavras, é difícil construir “jogos que treinem o modelo que se quer jogar”. Nem tanto porque a teoria é difícil (também não é fácil; mas é acessível); talvez mais porque não se busca conhecê-la realmente.
 
O que Burkina Faso pode ensinar ao futebol
 
Tenho um amigo Burquinabê (também conhecido como “O Burquina de Uagadugu”) do Café dos Notáveis. É daquelas pessoas apaixonantes que não se tem meio termo. Ou a gente gosta muito ou desgosta intensamente.
 
Trabalha com futebol já faz algum tempo. Conheceu o mundo. Aprendeu diferentes línguas. Um dia foi para a Nova Zelândia, levou junto consigo a felicidade.
 
Ah, felicidade… Que um dia lá lhe escapou e veio parar no Brasil (e aqui se diluiu na alma de amigos do peito, quase que se transformando em eterna tristeza).
 
O Burquina acredita em honra, ética, lealdade, respeito e coragem, coisas que trouxe consigo quando saiu de casa para viajar o mundo “em busca das coisas de dentro de si”.
 
Estranhou o nosso futebol, no qual como se não bastasse jogadores tecnicamente capazes e treinadores conhecedores das táticas, estratégias (enfim do jogo), também notou a necessidade de se re-ensinar valores perdidos, que de condição básica da vida moral e cívica acabaram se tornando adjetivos diferenciais do ser humano.
 
Nem sei se em Burkina Faso tem futebol (que o Burquina me perdoe a ignorância). O que sei é que lá tem uma coisa de sobra, que falta muito aqui (e não são os burquinenses!).
 
Mas vou contar em uma próxima, porque hoje tenho alguns livros de futebol (em russo) para ler. Como meu russo não é muito bom, vou parando por aqui.
 
E como aquilo que não me mata me faz mais forte (Nietzsche), estou certo de que dia desses fico mais forte e consigo transformar esse futebol.
 
Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br